Fuga de cérebros: vistos para China são os mais
procurados por brasileiros, mostra levantamento
A redução dos
investimentos em ciência e pesquisa tem sido um obstáculo para a atuação de
profissionais altamente qualificados no país. Diante de um quadro de menos
recursos, pesquisadores de ponta têm saído em busca de oportunidades melhores
no exterior.
Este fenômeno é conhecido
como “fuga de cérebros” e não é exatamente inédito no Brasil ou em países em
desenvolvimento, mas tem se agravado nos últimos anos.
De acordo com dados da
Fragomen, maior empresa de imigração do mundo, no primeiro semestre de 2023, o
país que mais emitiu vistos de trabalho e estudo para brasileiros foi a China,
onde os números triplicaram em relação ao mesmo período do ano passado. A alta
foi de 321%.
“A China tem figurado
como um grande destino ligado ao comércio e a negócios, já que China e Brasil
são parceiros comerciais muito grandes. Além disso, houve a retomada de
negociação entre os países com o novo governo”, explica Diana Quintas, sócia da
Fragomen no Brasil.
Já o interesse pelo
Paraguai cresceu 175% no mesmo período. A oferta de cursos universitários
competitivos, além de incentivos fiscais para empresas, são fatores que atraem
estudantes e empreendedores do Brasil e de outros países do mundo.
“O Paraguai é um destino
muito ligado à educação. A gente tem dificuldade de alguns brasileiros em
ingressarem em um curso de medicina no Brasil, por exemplo, especialmente pelo
alto custo e alta concorrência. O país se torna uma opção com vestibulares
menos concorridos, e o valor é muito inferior”, acrescenta.
Segundo a Fragomen, os
países que mais se destacaram na variação de demanda de vistos de estudo e
trabalho entre o primeiro semestre de 2022 e o mesmo período deste ano foram:
• China: +321%
• Paraguai: +175%
• Colômbia: +162%
• Portugal: +100%
• Canadá: +39%
• Alemanha: -5%
• Estados Unidos: -14%
Apesar da chamada
mobilidade acadêmica — que contribui para pesquisadores terem contato com
diferentes linhas de estudo — ser
importante para a evolução profissional dos cientistas, a saída do país sem
perspectivas de retorno sinaliza uma preocupação para o futuro da ciência
brasileira.
A vice-presidente da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Francilene Procópio
Garcia, explica que a fuga de cérebro ocorre especialmente em países onde as
economias não conseguem fixar os talentos que são formados. Com isso, eles
migram para nações que oferecem maiores recursos e incentivos à pesquisa.
“A gente já foi um país
que era atrativo para imigração em 2013, quando o Brasil vivia aquela onda de
investimento e a gente tinha investimento em ciência e tecnologia. Se a gente
olhasse no âmbito dos Brics, éramos um dos países preferidos para imigração”,
afirma Francilene.
Nos últimos anos, passou
a ocorrer um movimento contrário, no qual os talentos brasileiros passaram a
optar por outros destinos. E isso poderia ser explicado, segundo a
especialista, principalmente por questões políticas e de baixos investimentos
em ciência.
“Um pesquisador,
principalmente os que estão em início de carreira, quer ter uma condição que
tenha minimamente acesso a recursos e infraestrutura”, acrescenta.
Este mês, o governo
federal bloqueou R$ 116 milhões do orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes) previstos para 2023.
De acordo com a
presidente do órgão, Mercedes Bustamante, a Capes passou por um
contingenciamento de verbas no valor de R$ 86 milhões em agosto. Outros R$ 30
milhões também foram cortados da pasta nos últimos meses.
O cenário de redução no
orçamento da Capes deve se acentuar no próximo ano. O Projeto de Lei
Orçamentária (PLOA) para o ano de 2024 prevê um corte de R$ 128 milhões em
relação ao orçamento deste ano.
• Impacto na demografia
O Censo Demográfico 2022,
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que a
população do Brasil tem uma proporção maior de mulheres, que somam 51,5% dos
brasileiros. No último Censo, de 2010, elas eram 51,03%. Em 1980, 50,23%.
Segundo o instituto, a
explicação está relacionada a maior mortalidade dos homens em todos os grupos
etários, em especial na juventude, devido a causas externas. Entre as razões
estão homicídios, acidentes de trânsito e afogamentos.
“A mortalidade masculina
é maior em todos os grupos etários. O que resulta em uma população sobrevivente
de mulheres. E temos uma alta mortalidade não natural em jovens adultos. Por
violência e acidentes”, disse Márcio Minamoguchi, demógrafo do IBGE.
Até os 23 anos, os homens
são a maioria da população. A partir dos 24 anos, as mulheres assumem a
liderança.
Apesar do aumento da fuga
de cérebros no Brasil, Minamoguchi afirma que, o fenômeno tem um efeito muito
pequeno em relação à pirâmide populacional, uma vez que pessoas altamente
qualificadas não seriam tão numerosas.
“O problema da fuga de
cérebros estaria mais na esfera da economia, desenvolvimento tecnológico,
inovação, e nem tanto como um redutor populacional”, acrescenta.
O professor de
Planejamento Territorial da Universidade Federal do ABC (UFABC) Leonardo Freire
de Melo concorda.
“Eu acho pouco provável
que a diminuição do número de homens no Brasil tenha a ver com fuga de cérebros
ou emigração, em uma primeira interpretação, até porque as mulheres são maioria
na área acadêmica. Se tivesse ligação com isso, seria tanto de homem quanto
mulheres”, avalia.
Apesar disso, segundo
dados da Fragomen, do total de brasileiros que foram para o exterior com vistos
de trabalho e estudo, 73% foram homens.
• O Brasil está envelhecendo
Pela primeira vez, a
população mais jovem, com idade entre zero e 14 anos, ficou abaixo dos 20%.
Segundo o Censo 2022, ela
agora representa 19,8% dos brasileiros. Em 1980, essa parcela da população era
de 38,3% do total.
Na análise do IBGE, isso
é reflexo da redução do número médio de filhos tidos por mulher: “Atualmente,
menos mulheres chegam à idade reprodutiva. E elas têm cada vez menos filhos”,
disse à CNN Márcio Mitsuo Minamiguchi, gerente de Estimativas e Projeções de
População do IBGE.
Outro ponto é que há uma redução
da mortalidade em todos os grupos etários, incluindo os idosos.
O grupo de pessoas com 65
anos ou mais no Brasil passou de 4% para 10,9%.
As regiões com maior
proporção de idosos são o Sudeste (12,2%) e o Sul (12,1%). Já as regiões com
maior porcentagem de crianças até 14 anos são o Norte (25,2% do total de
moradores) e o Nordeste (25,2%).
Fonte: CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário