Vieira
critica intervenção ocidental em crises e defende neutralidade brasileira no
conflito ucraniano
Em
pronunciamento no Congresso nesta quarta-feira (19), o ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reafirmou a posição brasileira em relação a
conflitos internacionais. Ele enfatizou a diplomacia e criticou as intervenções
ocidentais, que, segundo ele, só pioram as tensões globais.
O
ministro diz ser necessária uma reforma da governança global, criticando a
atual estrutura.
"Se
não houvesse necessidade de reforma, não teríamos a situação que temos hoje na
Ucrânia e em Gaza", afirma.
Ele
destaca que a reforma deve se estender ao sistema financeiro internacional, o
que inclui a paralisação da Organização Mundial do Comércio (OMC) como sinal
claro dessa necessidade. "É muito importante que haja uma alternativa aos
sistemas internacionais de pagamento."
Vieira
também se pronunciou sobre as críticas ocidentais ao Brasil por não congelar
bens russos. "A Rússia, sem dúvida nenhuma, é um país importante
tradicionalmente, com comércio importante com o Brasil — nós temos cerca de US$
11 bilhões [R$ 60,2 bilhões] ou US$ 12 bilhões [R$ 65,7 bilhões] de
comércio."
"[A
Rússia] é um importantíssimo fornecedor de fertilizantes para a indústria, para
o agronegócio brasileiro, […] e vamos, dentro de três anos, comemorar também
200 anos de relações diplomáticas."
Segundo
ele, é preciso uma abordagem equilibrada e multilateral. Ele diz que ações
unilaterais são contraproducentes e que a diplomacia deve prevalecer.
"Temos que envolver os dois lados, porque senão não vai haver de forma
alguma uma negociação de paz, se só um lado está presente. Tem que ser os dois
lados."
Sobre
o conflito na Ucrânia, Vieira destacou a recusa do Brasil em enviar armas ou
participar diretamente no conflito.
Ele
afirmou que muitos países apoiam unilateralmente a Ucrânia, enviando recursos
ou financiando a compra de material bélico, enquanto em outra frente,
mencionou, Brasil e China promovem uma iniciativa conjunta para promover um
espaço de negociação envolvendo todas as partes, rumo a um cessar-fogo para o
conflito. O movimento vai na contramão da cúpula da Ucrânia na Suíça, da qual a
Rússia não fez parte e que terminou no último final de semana sem uma proposta
para a cessação das hostilidades.
Em
relação à Palestina, Vieira relembra a resolução proposta pelo Brasil em
outubro do ano passado, durante sua presidência no Conselho de Segurança das
Nações Unidas (CSNU), que foi vetada pelos Estados Unidos. "Foi
lamentável. Depois demoramos muito tempo para termos uma resolução, que era
muito mais fraca, muito menos impositiva do que aquela nossa […]",
recordou o ministro.
Ele
criticou a inação da comunidade internacional diante da crise humanitária e
mencionou o papel de países como Emirados Árabes, Catar, Turquia e Egito nas
negociações e nos esforços de cessar-fogo.
Os
egípcios, em particular, foram essenciais na evacuação de mais de 100
brasileiros da Faixa de Gaza pela saída de Rafah, segundo ele.
Vieira
descreve a situação em Gaza como um "massacre" e criticou a
desproporcionalidade dos ataques a civis.
"É
óbvio e evidente que o que está acontecendo [em Gaza] é um massacre. Uma
desproporcionalidade; é um ataque a populações civis de forma
indiscriminada", afirmou o ministro.
Respondendo
a questionamentos sobre a continuidade das relações do Brasil com Israel no
setor de defesa, Vieira explicou que a decisão de interromper acordos não cabe
apenas ao Ministério das Relações Exteriores.
Para
tanto, ele mencionou o uso de componentes israelenses por diversas indústrias
brasileiras, incluindo a Embraer, destacando a complexidade de substituir esses
fornecedores. "Isso, um pouco, escapa à área do MRE. São derivados de
acordos de compra de equipamento militar, que é, portanto, com o Ministério da
Defesa, e tem componentes importados de Israel, como de outros países. Portanto
não é algo que se resolva instantaneamente."
• Amorim: paz na Ucrânia só é possível
com países 'autenticamente interessados' na solução do conflito
O
assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso
Amorim, declarou com exclusividade à Sputnik Brasil, nesta terça-feira (18),
que o Brasil continua à disposição para contribuir para uma resolução pacífica
do conflito na Ucrânia, destacando a necessidade de haja intermediação de
países realmente interessados na paz.
A
declaração foi dada após o encerramento da cúpula da Ucrânia, promovida por
líderes ocidentais e Vladimir Zelensky na Suíça, que terminou neste final de
semana sem apresentar propostas concretas para o encerramento das hostilidades.
O
evento, que buscava promover a chamada "fórmula de paz" ucraniana no
confronto com a Rússia, continha propostas que entabulavam apenas as condições
de Zelensky para o estancamento do conflito. A Rússia não foi convidada para a
conferência e a classificou como um movimento "sem sentido".
O
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a reunião na Suíça, claramente,
não era orientada para buscar resultados, uma vez que é impossível ter
conversações eficazes sobre a Ucrânia sem a participação da Rússia.
Ao
final do evento, Zelensky demonstrou irritação com a postura de neutralidade
defendida pela política externa do Brasil e da China.
"Assim
que o Brasil e a China aderirem ao princípios de todos nós aqui, países
civilizados, ficaremos felizes em ouvir suas opiniões, mesmo que elas não
coincidam com a da maioria do mundo", declarou.
Questionado
a respeito da fala e se isso aparentava um recrudescimento da retórica do
condutor do regime ucraniano em relação ao Brasil, Celso Amorim disse à Sputnik
que o país segue trabalhando em prol da resolução pacífica do conflito.
"Não
me cabe qualificar declaração de chefe de Estado de outros países.
Continuaremos a trabalhar pela paz, que, como já ficou demonstrado, só será alcançada
por meio de negociação entre as partes, possivelmente com o apoio de países
autenticamente interessados no fim do conflito."
Na
semana passada, o assessor especial da Presidência afirmou que as sanções
contra Moscou "foram o maior tiro no pé que o Ocidente poderia dar".
"A
Rússia aumentou sua autossuficiência em alimentos, que era uma área que o
Brasil buscava muito. As sanções estão ajudando a formar um bloco, com China,
Rússia e Índia", ponderou ele em entrevista ao UOL.
• Cúpula na Suíça sobre a Ucrânia:
Brasil se recusa a assinar declaração final
O
Brasil, junto com outros países, recusou-se assinar a declaração final da
conferência sobre a Ucrânia no resort de Burgenstock, perto da cidade suíça de
Lucerna, por discordar das conclusões indicadas no documento.
O
documento foi chancelado por 84 das mais de cem nações e organizações
participantes do evento. Porém, África do Sul, Arábia Saudita, Armênia,
Bahrein, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Líbia, México, Santa
Sé e a Tailândia não o assinaram.
Na
semana passada, durante uma coletiva de imprensa realizada ao fim de sua agenda
de trabalho na Suíça e na Itália, na Cúpula do G7, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva reafirmou a posição do Brasil em relação ao conflito em curso na
Ucrânia.
Lula
destacou a importância de negociações de paz inclusivas e efetivas, envolvendo
ambos os lados do conflito.
• Após não atingir objetivo, Ucrânia
admite querer convidar Rússia para próxima cúpula da paz
Kiev
pode convidar Moscou para a próxima reunião com parceiros internacionais
destinada a elaborar uma fórmula para futuros diálogos de paz, disse o chefe de
gabinete de Vladimir Zelensky.
O
principal conselheiro de Zelensky, Andrei Yermak, levantou a possibilidade
enquanto os grupos de trabalho preparam os detalhes para uma reunião de
acompanhamento após a cúpula da semana passada na Suíça, escreve a Bloomberg.
"Todas
estas partes farão parte deste plano conjunto, que será apoiado por vários
países […]. Achamos que será possível convidar um representante da
Rússia", afirmou Yermak em uma teleconferência na noite de terça-feira
(18), segundo a mídia.
A
cúpula, ocorrida em 15 a 16 de junho na Suíça, contou com a participação de
mais de 100 nações e organizações, mas ficou aquém do objetivo ucraniano de
construir um apoio mundial mais amplo, principalmente entre os países do Sul
Global, ressalta a agência.
Muitos
não assinaram o texto final, incluindo o Brasil, ao argumentarem que "os
dois atores do conflito" deveriam estar no evento.
Ainda
assim, Yermak descreveu a reunião como um sucesso, mesmo sem ter a presença da
China, sublinha a Bloomberg, apesar dos apelos de Zelensky.
O
conselheiro também afirmou que a "segunda cúpula será mais
representativa", acrescentando que pretende chegar a um acordo sobre
algumas decisões para acabar com o conflito e resolver as crises que a
acompanham.
Em
maio, China e Brasil apresentaram um plano de paz que envolve a participação de
ambas as partes para resolução do conflito.
O
presidente da Rússia, Vladimir Putin, estabeleceu os termos para diálogos de
paz na véspera da cúpula suíça, exigindo que a Ucrânia primeiro abdicasse dos
territórios originários russos, ou seja, as regiões de Kherson e Zaporozhie e
as repúblicas de Donetsk e Lugansk, bem como renunciasse à sua ambição de
aderir à OTAN, conforme noticiado.
A
Rússia já declarou não ser contra as negociações pela paz, mas mesmo que fosse
convidada, não participaria da cúpula ocorrida neste mês porque não considera
Berna um ator neutro, uma vez que o país se uniu ao esforço unilateral
ocidental nas sanções contra o Estado russo, descredibilizando seu papel como
mediador do conflito.
• Putin saúda cooperação e posição
equilibrada do Vietnã sobre crise na Ucrânia
A
Rússia vai continuar desenvolvendo laços bilaterais e de cooperação com o
Vietnã, disse o presidente Vladimir Putin em um artigo publicado pelo Nhan Dan,
o jornal oficial do Partido Comunista do Vietnã, nesta quarta-feira (19).
"Juntamente
com os amigos vietnamitas, continuaremos a construir laços bilaterais, a
desenvolver a cooperação para o benefício dos nossos povos, para a estabilidade
e a prosperidade na região e no mundo em geral", disse Putin.
Ambos
os países partilham uma posição semelhante sobre a situação na região
Ásia-Pacífico, disse o presidente russo, acrescentando que o Vietnã partilha o
mesmo ponto de vista sobre a construção de uma nova estrutura de segurança
eurasiana que será igual, indivisível, inclusiva e não discriminatória.
Ainda
de acordo com as palavras do líder russo, Moscou está grata aos amigos
vietnamitas pela posição equilibrada de Hanói sobre a situação na Ucrânia.
"Estamos
gratos aos nossos amigos vietnamitas pela sua posição equilibrada sobre a crise
ucraniana, pelo desejo de contribuir para a procura de formas reais de uma
solução pacífica. Tudo isto está totalmente de acordo com o espírito e a
natureza das nossas relações", disse Putin acrescentando que a Rússia vê o
Vietnã como um parceiro com ideias semelhantes na definição da nova arquitetura
de segurança igualitária e indivisível da Eurásia.
A
Rússia e o Vietnã trabalham em estreita colaboração nas principais plataformas
internacionais, incluindo as Nações Unidas, acrescentou Putin.
"Apreciamos
que os nossos países tenham opiniões semelhantes ou próximas sobre questões
atuais da agenda internacional", disse o presidente russo.
Putin
também observou que a empresa russa Novatek planeja lançar projetos de gás
natural liquefeito (GNL) no Vietnã, informou a mídia vietnamita, nesta
quarta-feira.
Segundo
o jornal, Putin disse ainda que a Rússia está trabalhando na criação de um
centro de tecnologia nuclear no território do aliado do Sudeste Asiático. Além
disso, o presidente mencionou que os pagamentos em moedas nacionais
representaram 60% das transações comerciais entre a Rússia e o Vietnã no
primeiro trimestre deste ano.
Fonte:
Sputnik Brasil
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