quinta-feira, 20 de junho de 2024

Vieira critica intervenção ocidental em crises e defende neutralidade brasileira no conflito ucraniano

Em pronunciamento no Congresso nesta quarta-feira (19), o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reafirmou a posição brasileira em relação a conflitos internacionais. Ele enfatizou a diplomacia e criticou as intervenções ocidentais, que, segundo ele, só pioram as tensões globais.

O ministro diz ser necessária uma reforma da governança global, criticando a atual estrutura.

"Se não houvesse necessidade de reforma, não teríamos a situação que temos hoje na Ucrânia e em Gaza", afirma.

Ele destaca que a reforma deve se estender ao sistema financeiro internacional, o que inclui a paralisação da Organização Mundial do Comércio (OMC) como sinal claro dessa necessidade. "É muito importante que haja uma alternativa aos sistemas internacionais de pagamento."

Vieira também se pronunciou sobre as críticas ocidentais ao Brasil por não congelar bens russos. "A Rússia, sem dúvida nenhuma, é um país importante tradicionalmente, com comércio importante com o Brasil — nós temos cerca de US$ 11 bilhões [R$ 60,2 bilhões] ou US$ 12 bilhões [R$ 65,7 bilhões] de comércio."

"[A Rússia] é um importantíssimo fornecedor de fertilizantes para a indústria, para o agronegócio brasileiro, […] e vamos, dentro de três anos, comemorar também 200 anos de relações diplomáticas."

Segundo ele, é preciso uma abordagem equilibrada e multilateral. Ele diz que ações unilaterais são contraproducentes e que a diplomacia deve prevalecer. "Temos que envolver os dois lados, porque senão não vai haver de forma alguma uma negociação de paz, se só um lado está presente. Tem que ser os dois lados."

Sobre o conflito na Ucrânia, Vieira destacou a recusa do Brasil em enviar armas ou participar diretamente no conflito.

Ele afirmou que muitos países apoiam unilateralmente a Ucrânia, enviando recursos ou financiando a compra de material bélico, enquanto em outra frente, mencionou, Brasil e China promovem uma iniciativa conjunta para promover um espaço de negociação envolvendo todas as partes, rumo a um cessar-fogo para o conflito. O movimento vai na contramão da cúpula da Ucrânia na Suíça, da qual a Rússia não fez parte e que terminou no último final de semana sem uma proposta para a cessação das hostilidades.

Em relação à Palestina, Vieira relembra a resolução proposta pelo Brasil em outubro do ano passado, durante sua presidência no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), que foi vetada pelos Estados Unidos. "Foi lamentável. Depois demoramos muito tempo para termos uma resolução, que era muito mais fraca, muito menos impositiva do que aquela nossa […]", recordou o ministro.

Ele criticou a inação da comunidade internacional diante da crise humanitária e mencionou o papel de países como Emirados Árabes, Catar, Turquia e Egito nas negociações e nos esforços de cessar-fogo.

Os egípcios, em particular, foram essenciais na evacuação de mais de 100 brasileiros da Faixa de Gaza pela saída de Rafah, segundo ele.

Vieira descreve a situação em Gaza como um "massacre" e criticou a desproporcionalidade dos ataques a civis.

"É óbvio e evidente que o que está acontecendo [em Gaza] é um massacre. Uma desproporcionalidade; é um ataque a populações civis de forma indiscriminada", afirmou o ministro.

Respondendo a questionamentos sobre a continuidade das relações do Brasil com Israel no setor de defesa, Vieira explicou que a decisão de interromper acordos não cabe apenas ao Ministério das Relações Exteriores.

Para tanto, ele mencionou o uso de componentes israelenses por diversas indústrias brasileiras, incluindo a Embraer, destacando a complexidade de substituir esses fornecedores. "Isso, um pouco, escapa à área do MRE. São derivados de acordos de compra de equipamento militar, que é, portanto, com o Ministério da Defesa, e tem componentes importados de Israel, como de outros países. Portanto não é algo que se resolva instantaneamente."

•           Amorim: paz na Ucrânia só é possível com países 'autenticamente interessados' na solução do conflito

O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, declarou com exclusividade à Sputnik Brasil, nesta terça-feira (18), que o Brasil continua à disposição para contribuir para uma resolução pacífica do conflito na Ucrânia, destacando a necessidade de haja intermediação de países realmente interessados na paz.

A declaração foi dada após o encerramento da cúpula da Ucrânia, promovida por líderes ocidentais e Vladimir Zelensky na Suíça, que terminou neste final de semana sem apresentar propostas concretas para o encerramento das hostilidades.

O evento, que buscava promover a chamada "fórmula de paz" ucraniana no confronto com a Rússia, continha propostas que entabulavam apenas as condições de Zelensky para o estancamento do conflito. A Rússia não foi convidada para a conferência e a classificou como um movimento "sem sentido".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a reunião na Suíça, claramente, não era orientada para buscar resultados, uma vez que é impossível ter conversações eficazes sobre a Ucrânia sem a participação da Rússia.

Ao final do evento, Zelensky demonstrou irritação com a postura de neutralidade defendida pela política externa do Brasil e da China.

"Assim que o Brasil e a China aderirem ao princípios de todos nós aqui, países civilizados, ficaremos felizes em ouvir suas opiniões, mesmo que elas não coincidam com a da maioria do mundo", declarou.

Questionado a respeito da fala e se isso aparentava um recrudescimento da retórica do condutor do regime ucraniano em relação ao Brasil, Celso Amorim disse à Sputnik que o país segue trabalhando em prol da resolução pacífica do conflito.

"Não me cabe qualificar declaração de chefe de Estado de outros países. Continuaremos a trabalhar pela paz, que, como já ficou demonstrado, só será alcançada por meio de negociação entre as partes, possivelmente com o apoio de países autenticamente interessados no fim do conflito."

Na semana passada, o assessor especial da Presidência afirmou que as sanções contra Moscou "foram o maior tiro no pé que o Ocidente poderia dar".

"A Rússia aumentou sua autossuficiência em alimentos, que era uma área que o Brasil buscava muito. As sanções estão ajudando a formar um bloco, com China, Rússia e Índia", ponderou ele em entrevista ao UOL.

•           Cúpula na Suíça sobre a Ucrânia: Brasil se recusa a assinar declaração final

O Brasil, junto com outros países, recusou-se assinar a declaração final da conferência sobre a Ucrânia no resort de Burgenstock, perto da cidade suíça de Lucerna, por discordar das conclusões indicadas no documento.

O documento foi chancelado por 84 das mais de cem nações e organizações participantes do evento. Porém, África do Sul, Arábia Saudita, Armênia, Bahrein, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Líbia, México, Santa Sé e a Tailândia não o assinaram.

Na semana passada, durante uma coletiva de imprensa realizada ao fim de sua agenda de trabalho na Suíça e na Itália, na Cúpula do G7, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a posição do Brasil em relação ao conflito em curso na Ucrânia.

Lula destacou a importância de negociações de paz inclusivas e efetivas, envolvendo ambos os lados do conflito.

•           Após não atingir objetivo, Ucrânia admite querer convidar Rússia para próxima cúpula da paz

Kiev pode convidar Moscou para a próxima reunião com parceiros internacionais destinada a elaborar uma fórmula para futuros diálogos de paz, disse o chefe de gabinete de Vladimir Zelensky.

O principal conselheiro de Zelensky, Andrei Yermak, levantou a possibilidade enquanto os grupos de trabalho preparam os detalhes para uma reunião de acompanhamento após a cúpula da semana passada na Suíça, escreve a Bloomberg.

"Todas estas partes farão parte deste plano conjunto, que será apoiado por vários países […]. Achamos que será possível convidar um representante da Rússia", afirmou Yermak em uma teleconferência na noite de terça-feira (18), segundo a mídia.

A cúpula, ocorrida em 15 a 16 de junho na Suíça, contou com a participação de mais de 100 nações e organizações, mas ficou aquém do objetivo ucraniano de construir um apoio mundial mais amplo, principalmente entre os países do Sul Global, ressalta a agência.

Muitos não assinaram o texto final, incluindo o Brasil, ao argumentarem que "os dois atores do conflito" deveriam estar no evento.

Ainda assim, Yermak descreveu a reunião como um sucesso, mesmo sem ter a presença da China, sublinha a Bloomberg, apesar dos apelos de Zelensky.

O conselheiro também afirmou que a "segunda cúpula será mais representativa", acrescentando que pretende chegar a um acordo sobre algumas decisões para acabar com o conflito e resolver as crises que a acompanham.

Em maio, China e Brasil apresentaram um plano de paz que envolve a participação de ambas as partes para resolução do conflito.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, estabeleceu os termos para diálogos de paz na véspera da cúpula suíça, exigindo que a Ucrânia primeiro abdicasse dos territórios originários russos, ou seja, as regiões de Kherson e Zaporozhie e as repúblicas de Donetsk e Lugansk, bem como renunciasse à sua ambição de aderir à OTAN, conforme noticiado.

A Rússia já declarou não ser contra as negociações pela paz, mas mesmo que fosse convidada, não participaria da cúpula ocorrida neste mês porque não considera Berna um ator neutro, uma vez que o país se uniu ao esforço unilateral ocidental nas sanções contra o Estado russo, descredibilizando seu papel como mediador do conflito.

•           Putin saúda cooperação e posição equilibrada do Vietnã sobre crise na Ucrânia

A Rússia vai continuar desenvolvendo laços bilaterais e de cooperação com o Vietnã, disse o presidente Vladimir Putin em um artigo publicado pelo Nhan Dan, o jornal oficial do Partido Comunista do Vietnã, nesta quarta-feira (19).

"Juntamente com os amigos vietnamitas, continuaremos a construir laços bilaterais, a desenvolver a cooperação para o benefício dos nossos povos, para a estabilidade e a prosperidade na região e no mundo em geral", disse Putin.

Ambos os países partilham uma posição semelhante sobre a situação na região Ásia-Pacífico, disse o presidente russo, acrescentando que o Vietnã partilha o mesmo ponto de vista sobre a construção de uma nova estrutura de segurança eurasiana que será igual, indivisível, inclusiva e não discriminatória.

Ainda de acordo com as palavras do líder russo, Moscou está grata aos amigos vietnamitas pela posição equilibrada de Hanói sobre a situação na Ucrânia.

"Estamos gratos aos nossos amigos vietnamitas pela sua posição equilibrada sobre a crise ucraniana, pelo desejo de contribuir para a procura de formas reais de uma solução pacífica. Tudo isto está totalmente de acordo com o espírito e a natureza das nossas relações", disse Putin acrescentando que a Rússia vê o Vietnã como um parceiro com ideias semelhantes na definição da nova arquitetura de segurança igualitária e indivisível da Eurásia.

A Rússia e o Vietnã trabalham em estreita colaboração nas principais plataformas internacionais, incluindo as Nações Unidas, acrescentou Putin.

"Apreciamos que os nossos países tenham opiniões semelhantes ou próximas sobre questões atuais da agenda internacional", disse o presidente russo.

Putin também observou que a empresa russa Novatek planeja lançar projetos de gás natural liquefeito (GNL) no Vietnã, informou a mídia vietnamita, nesta quarta-feira.

Segundo o jornal, Putin disse ainda que a Rússia está trabalhando na criação de um centro de tecnologia nuclear no território do aliado do Sudeste Asiático. Além disso, o presidente mencionou que os pagamentos em moedas nacionais representaram 60% das transações comerciais entre a Rússia e o Vietnã no primeiro trimestre deste ano.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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