quinta-feira, 13 de junho de 2024

Saúde cardiovascular pode influenciar o desenvolvimento cerebral de adolescentes

Um novo estudo revelou que existe uma relação positiva entre a saúde cardiovascular e o desenvolvimento cerebral em adolescentes. De acordo com a pesquisa, comportamentos benéficos para a saúde do coração — como alimentação saudável, boa qualidade do sono e a prática de atividade física — são vantajosos para a função cognitiva e para a estrutura cerebral durante o início da adolescência.

estudo, liderado pelo pesquisador brasileiro Augusto César F. De Moraes, do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, foi publicada na revista Mental Health and Physical Activity. O trabalho analisou dados de 978 participantes do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo e Cerebral do Adolescente (ABCD), com foco no impacto de comportamentos de saúde cardiovascular no desenvolvimento neurocognitivo.

O estudo analisou dados de 978 participantes do estudo Adolescent Brain and Cognitive Development (ABCD), feito nos Estados Unidos desde 2016 com foco no impacto de comportamentos de saúde cardiovascular, como dietaatividade física, uso de nicotina e saúde do sono no desenvolvimento neurocognitivo. Anualmente, crianças e adolescentes respondem questionários e, a cada dois anos, passam por exames que avaliam desde peso e altura até o desenvolvimento do cérebro, por meio de ressonância magnética.

No recorte atual, o objetivo era verificar se a saúde cardiovascular nos adolescentes estava associada à saúde do cérebro.

“Em adultos, nós verificamos que o principal fator de risco para acidente vascular cerebral e para o desenvolvimento de demência é a pressão arterial elevada por longo tempo. Como nós sabemos, a hipertensão arterial pode se desenvolver desde a fase intrauterina, talvez, nessas crianças que tenham uma saúde cardiovascular melhor, elas tenham um melhor desenvolvimento do cérebro. Por isso, realizamos o estudo”, explica Moraes à CNN.

Para o trabalho, os pesquisadores analisaram o desenvolvimento cerebral por meio de ressonância magnética e as compararam com testes que avaliaram a saúde cardiovascular, como pressão arterial, hemoglobina glicada, glicemia, colesterol, índice de massa corporal (IMC), e fatores de estilo de vida, como sedentarismoqualidade do sono, alimentação e uso de nicotina.

Relação entre saúde cardiovascular e saúde cerebral

Os achados indicam que adolescentes com melhor perfil de saúde cardiovascular apresentam maior função cognitiva executiva e maior volume cortical cerebral total. “Nós descobrimos que quanto mais atividade física o adolescente faz, maior é o resultado no teste de função cognitiva-executiva. Também verificamos que a combinação de quatro comportamentos — não fumar, fazer atividade física, se alimentar bem e dormir bem — também está relacionada ao maior resultado no teste”, afirma Moraes.

Além disso, o estudo também observou que, quanto melhores os fatores de saúde cardiovascular — glicemia, colesterol, pressão arterial e peso corporal — melhores foram os resultados nos testes de função cognitiva-executiva, principalmente quando combinado com fatores comportamentais positivos.

“Isso é multifatorial, mas sabemos que para um desenvolvimento adequado das funções executivas e, obviamente, cerebrais, você deve dormir adequadamente. O sono está diretamente relacionado ao desenvolvimento de funções executivas, porque durante ele que as memórias e as aprendizagens se cristalizam. Isso também tem uma associação direta na maior plasticidade do cérebro”, esclarece o pesquisador.

·        Saúde cardiovascular e risco de demência

Segundo Moraes, algumas microlesões cerebrais que podem estar relacionadas à demência começam a ser desenvolvidas no início da vida, incluindo a infância e a adolescência. Esse é mais um dos motivos para investigar mais a fundo a relação entre saúde cardiovascular e cognitiva entre adolescentes.

“Isso está associado ao desenvolvimento do cérebro e a fatores de volume cortical total do cérebro”, diz o pesquisador. “No estudo, nós verificamos que o sono está diretamente relacionado com o volume total do cérebro. Então, quanto melhor o sono — e, para adolescentes, o ideal é dormir entre 8 e 10 horas por dia –, maior é o volume total do cérebro”, afirma.

Com essa descoberta, o estudo sugere que a prevenção da demência pode ser iniciada logo na infância e na adolescência. “Se conseguirmos prevenir a pressão arterial elevada ou promover uma melhor saúde cardiovascular, possivelmente teremos um melhor desenvolvimento neurocognitivo, que é o que estamos apresentar no estudo. Isso, futuramente, é um fator preventivo do desenvolvimento de Alzheimer e de outras demências”, afirma.

Desafios para promover a melhor saúde cardiovascular entre adolescentes

Na visão dos autores do estudo, as implicações desses achados são de longo alcance e enfatizam a necessidade de iniciativas de saúde pública que promovam comportamentos de estilo de vida saudável entre os jovens. No entanto, diante de uma infância e adolescência mais conectada a telas e tecnologias diversas, isso pode representar um desafio.

“É inevitável que as pessoas usem tecnologias, hoje em dia. Então, o que temos que tentar fazer é promover um consumo limitado”, comenta Moraes. “Em relação ao sono, especialistas recomendam fazer a higiene do sono, então, 30 minutos antes de dormir, diminuir as luzes, ter hora certa para dormir e para acordar. Em relação aos alimentos ultraprocessados, uma dica é ensinar as crianças e adolescentes a preparar alimentos saudáveis. E, obviamente, promover a atividade física”, sugere o pesquisador.

 

¨      Vício em internet pode afetar comportamento e desenvolvimento de adolescentes

Adolescentes viciados em internet passam por alterações cerebrais que podem levar a mudanças de comportamento e ao aumento nas tendências de dependência. Os achados são de um novo estudo publicado nesta terça-feira (4) na revista científica PLOS Mental Health.

pesquisa, realizada por cientistas da University College London (UCL), foi feita a partir da revisão de 12 artigos envolvendo 237 jovens de 10 a 19 anos com diagnóstico formal de dependência de internet entre 2013 e 2023. A “dependência” é definida como a incapacidade de uma pessoa resistir ao impulso de utilizar a internet, impactando negativamente seu bem-estar psicológico, bem como a sua

Para realizar o estudo, os pesquisadores usaram imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) para inspecionar a conectividade funcional — ou seja, como as regiões do cérebro interagem entre si — de participantes viciados na internet. Essas imagens foram colhidas tanto enquanto descansavam, quanto quando completavam uma tarefa.

Segundo o estudo, os efeitos da dependência de internet foram observados em múltiplas redes neurais no cérebro de adolescentes. Houve uma mistura de aumento e diminuição da atividade nas partes do cérebro que são ativadas durante o repouso (rede de modo padrão). Por outro lado, houve uma diminuição na conectividade funcional das regiões do cérebro envolvidas no pensamento ativo (rede de controle executivo).

Essas mudanças, segundo os pesquisadores, podem levar a um aumento da dependência em adolescentes e a mudanças de comportamento associadas à capacidade intelectual, coordenação física, saúde mental e desenvolvimento.

“A adolescência é um estágio crucial de desenvolvimento durante o qual as pessoas passam por mudanças significativas em sua biologia, cognição e personalidades. Como resultado, o cérebro fica particularmente vulnerável a impulsos relacionados ao vício em internet durante esse período, como uso compulsivo da internet, desejo pelo uso do mouse ou teclado e consumo de mídia”, explica Max Chang, estudante de mestrado na UCL Great Ormond Street Institute for Child Health e principal autor do estudo, em comunicado à imprensa.

“As descobertas do nosso estudo mostram que isso pode levar a mudanças comportamentais e de desenvolvimento potencialmente negativas que podem impactar a vida dos adolescentes. Por exemplo, eles podem ter dificuldades para manter relacionamentos e atividades sociais, mentir sobre atividades online e experimentar alimentação irregular e sono perturbado”, completa.

Possíveis soluções

vício em internet é um problema crescente em todo o mundo, principalmente diante do maior acesso a smartphones e outros dispositivos eletrônicos. No Reino Unido, onde o estudo foi realizado, dos 50 milhões de internautas, mais de 60% afirmaram que o uso de internet teve algum efeito negativo nas suas vidas, segundo a Ofcom (órgão de comunicação do Reino Unido). Além disso, pesquisas já mostraram que mais da metade dos entrevistados declarou ser viciada em internet.

No Brasil, 25,3% dos adolescentes entrevistados por um levantamento da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) afirmou ser dependentes moderados ou graves de internet.

“Não há dúvida de que a Internet tem certas vantagens. Porém, quando começa a afetar nosso dia a dia, é um problema”, comenta Irene Lee, da UCL Great Ormond Street Institute for Child Health e autora sênior do estudo. “Aconselhamos que os jovens imponham limites de tempo razoáveis ​​para a sua utilização diária da Internet e garantam que estão conscientes das implicações psicológicas e sociais de passar demasiado tempo online, completa.

Os pesquisadores esperam que o estudo ajude a demonstrar como o vício em internet altera a conexão entre as redes cerebrais na adolescência e a permitir que os médicos rastreiem e tratem o início do vício em internet de forma mais eficaz.

“Os médicos poderiam prescrever tratamento direcionado a certas regiões do cérebro ou sugerir psicoterapia, ou terapia familiar visando os principais sintomas do vício em internet”, sugere Chang.

“É importante ressaltar que a educação dos pais sobre o vício em internet é outra via possível de prevenção do ponto de vista da saúde pública. Os pais que estão cientes dos primeiros sinais e do início do vício em internet lidarão com mais eficácia com o tempo de tela, a impulsividade e minimizarão os fatores de risco que cercam o vício em internet”, finaliza.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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