Rosana
Richtmann: Novas ferramentas no combate à infecção pulmonar grave
Com
o título desse artigo, estamos falando da chegada de duas novas vacinas contra
o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) – uma para população 60+ e outra que
atinge esse mesmo público, mas agrega também seu uso nas gestantes com a
finalidade de proteção do recém-nascido nos 6 primeiros meses de vida.
Mas,
afinal, o que é o VSR? O VSR é um vírus transmitido por secreções
respiratórias. É uma causa comum de infecção do trato respiratório superior e
inferior, especialmente a bronquiolite nas crianças pequenas e pneumonia nos
adultos e crianças. Infecções repetidas são comuns ao longo da vida porque a
infecção natural não confere imunidade. O VSR cocircula com outros vírus
respiratórios, como a Influenza e o Sars-CoV-2.
A
carga mais elevada da doença por VSR ocorre entre crianças muito pequenas e
idosos. As taxas de hospitalização diminuem com a idade após a primeira
infância, aumentando novamente a partir dos 60 anos de idade, sendo mais grave
a medida que envelhecemos.
Em
adultos, o VSR geralmente causa sintomas de infecção do trato respiratório
superior, como tosse, dor de garganta e dor nasal, congestão, semelhante a
outros vírus respiratórios.
Outro
aspecto importante é que cerca de 30% dos pacientes hospitalizados infectados
pelo VSR também apresentam coinfecção bacteriana, aumentado a gravidade e uso
de antibióticos.
·
“Você pode nunca ter
visto o VSR, mas certamente ele já te viu…”
Esta
é uma frase que costumo utilizar para agentes infecciosos comuns, mas de certa
forma desconhecidos.
É
um vírus comum e silencioso, transmitido principalmente por meio de gotículas
pela tosse/espirro de uma pessoa contaminada ou contato com uma superfície
contaminada. Embora cause sintomas leves e semelhantes aos do resfriado, o VSR
pode colocar adultos com 60+ sob riscos mais graves, como a pneumonia.
Entre
2020 e 2022, foram notificados mais de 30.000 casos de VSR-SRAG no Brasil.
Embora o impacto e a incidência do VSR em crianças sejam bem mais conhecidos, a
letalidade em adultos com 60+ (20,7%) pode ser até 19x maior do que em crianças
(0,96%).
·
A gravidade da
infecção: quem são os adultos 60+ mais vulneráveis?
Portadores
das seguintes condições médicas:
–
Doenças cardíacas: doença cardíaca congênita, insuficiência cardíaca
congestiva, artéria coronária
–
Doenças respiratórias crônicas: doença pulmonar supurativa, bronquiectasia,
fibrose cística, crônica doença pulmonar obstrutiva, enfisema crônico, asma
grave (exigindo consultas médicas frequentes ou o uso de múltiplas medicações)
–
Condição de imunocomprometimento como pacientes vivendo com HIV/aids,
malignidade ou câncer, imunocomprometimento devido a doença ou tratamento,
asplenia ou disfunção esplênica, transplante de órgãos sólidos, transplante de
células-tronco hematopoiéticas, terapia com células CAR-T
–
Distúrbio metabólico crônico como o diabetes tipo 1 ou 2
–
Doença renal crônica
–
Condições neurológicas crônicas: doenças hereditárias e degenerativas do
sistema nervoso central, convulsões, lesões da medula espinhal, distúrbios
neuromusculares, todas estas condições que claramente aumentam o risco de
infecção respiratória grave.
Além
destas condições acima citadas para os 60+, temos conhecidas doenças e
transtornos causados pelo VSR em lactente jovem. Neste cenário, a infecção
primária pelo VSR geralmente ocorre até os 2 anos de idade. É uma das
principais causas de hospitalização por pneumonia e bronquiolite em bebês
abaixo de 6 meses de vida. Embora crianças com certas condições médicas
apresentem maior risco de doença grave, a maioria das hospitalizações
relacionadas ao VSR ocorre em crianças que estão saudáveis.
Assim,
a vacinação da gestante entre 24 e 36 semanas de gestação tem por finalidade a
proteção do bebe nos seus primeiros 6 meses de vida.
·
As vacinas contra VSR
Temos
aprovação pela ANVISA de duas vacinas para prevenção do VSR:
#
Vacina Arexvy (GlaxoSmithKline):
- é
uma vacina recombinante com adjuvante, que quer dizer que não tem componente
vivo e é especifica para população 60+. Previsão de dose única, com eficácia de
83% de não apresentar pneumonia pelo VSR e de 94% menos probabilidade de ter
infecção grave associada ao VSR (na primeira temporada do VSR, 10 meses). Com
acompanhamento até 22 meses após a vacinação, a eficácia da vacina reduz para
67%. A vacina foi bem tolerada, embora mais de 60% dos vacinados apresentem
reação local e 30% apresentaram fadiga pós vacinação. Pode ser aplicada
concomitante com outras vacinas.
- é
considerada uma vacina bivalente (antígeno para VSR A e B), em dose única e com
o objetivo de proteção passiva de bebês (através da imunização materna) e
proteção direta de adultos 60+. A vacina deve ser aplicada nas gestantes
durante o segundo ou terceiro trimestre – ela foi licenciada no Brasil para
gestantes entre 24 e 36 semanas de gestação e a proteção indireta do lactente
se deu por 6 meses. A vacina não é aplicada diretamente nos bebês. A eficácia
foi de 86%, semelhante a vacina já descrita, e também apresentou eventos
adversos locais e sistêmicos como dor de cabeça e dor muscular.
·
Teremos acesso a esta
nova ferramenta de proteção?
Aqui
entra um problema importante… acesso!
Por
ser uma vacina de elevado custo, o acesso inicialmente será muito restrito,
somente em clínicas privadas. Imagino que com a disponibilidade de mais dados
nacionais sobre a circulação e impacto do VSR na população de alto risco,
teremos dados para propor acesso gratuito a população específica.
Enquanto
isso, não podemos deixar de fazer as outras vacinas já disponíveis e de fácil
acesso para outras infecções respiratórias, como a influenza (gripe) e
pneumococo.
Fale
com seu médico!
Fonte:
Futuro da Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário