sexta-feira, 14 de junho de 2024

Rosana Richtmann: Novas ferramentas no combate à infecção pulmonar grave

Com o título desse artigo, estamos falando da chegada de duas novas vacinas contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) – uma para população 60+ e outra que atinge esse mesmo público, mas agrega também seu uso nas gestantes com a finalidade de proteção do recém-nascido nos 6 primeiros meses de vida.

Mas, afinal, o que é o VSR? O VSR é um vírus transmitido por secreções respiratórias. É uma causa comum de infecção do trato respiratório superior e inferior, especialmente a bronquiolite nas crianças pequenas e pneumonia nos adultos e crianças. Infecções repetidas são comuns ao longo da vida porque a infecção natural não confere imunidade. O VSR cocircula com outros vírus respiratórios, como a Influenza e o Sars-CoV-2.

A carga mais elevada da doença por VSR ocorre entre crianças muito pequenas e idosos. As taxas de hospitalização diminuem com a idade após a primeira infância, aumentando novamente a partir dos 60 anos de idade, sendo mais grave a medida que envelhecemos.

Em adultos, o VSR geralmente causa sintomas de infecção do trato respiratório superior, como tosse, dor de garganta e dor nasal, congestão, semelhante a outros vírus respiratórios.

Outro aspecto importante é que cerca de 30% dos pacientes hospitalizados infectados pelo VSR também apresentam coinfecção bacteriana, aumentado a gravidade e uso de antibióticos.

·        “Você pode nunca ter visto o VSR, mas certamente ele já te viu…”

Esta é uma frase que costumo utilizar para agentes infecciosos comuns, mas de certa forma desconhecidos.

É um vírus comum e silencioso, transmitido principalmente por meio de gotículas pela tosse/espirro de uma pessoa contaminada ou contato com uma superfície contaminada. Embora cause sintomas leves e semelhantes aos do resfriado, o VSR pode colocar adultos com 60+ sob riscos mais graves, como a pneumonia.

Entre 2020 e 2022, foram notificados mais de 30.000 casos de VSR-SRAG no Brasil. Embora o impacto e a incidência do VSR em crianças sejam bem mais conhecidos, a letalidade em adultos com 60+ (20,7%) pode ser até 19x maior do que em crianças (0,96%).

·        A gravidade da infecção: quem são os adultos 60+ mais vulneráveis?

Portadores das seguintes condições médicas:

– Doenças cardíacas: doença cardíaca congênita, insuficiência cardíaca congestiva, artéria coronária

– Doenças respiratórias crônicas: doença pulmonar supurativa, bronquiectasia, fibrose cística, crônica doença pulmonar obstrutiva, enfisema crônico, asma grave (exigindo consultas médicas frequentes ou o uso de múltiplas medicações)

– Condição de imunocomprometimento como pacientes vivendo com HIV/aids, malignidade ou câncer, imunocomprometimento devido a doença ou tratamento, asplenia ou disfunção esplênica, transplante de órgãos sólidos, transplante de células-tronco hematopoiéticas, terapia com células CAR-T

– Distúrbio metabólico crônico como o diabetes tipo 1 ou 2

– Doença renal crônica

– Condições neurológicas crônicas: doenças hereditárias e degenerativas do sistema nervoso central, convulsões, lesões da medula espinhal, distúrbios neuromusculares, todas estas condições que claramente aumentam o risco de infecção respiratória grave.

Além destas condições acima citadas para os 60+, temos conhecidas doenças e transtornos causados pelo VSR em lactente jovem. Neste cenário, a infecção primária pelo VSR geralmente ocorre até os 2 anos de idade. É uma das principais causas de hospitalização por pneumonia e bronquiolite em bebês abaixo de 6 meses de vida. Embora crianças com certas condições médicas apresentem maior risco de doença grave, a maioria das hospitalizações relacionadas ao VSR ocorre em crianças que estão saudáveis.

Assim, a vacinação da gestante entre 24 e 36 semanas de gestação tem por finalidade a proteção do bebe nos seus primeiros 6 meses de vida.

·        As vacinas contra VSR

Temos aprovação pela ANVISA de duas vacinas para prevenção do VSR:

# Vacina Arexvy (GlaxoSmithKline): 

- é uma vacina recombinante com adjuvante, que quer dizer que não tem componente vivo e é especifica para população 60+. Previsão de dose única, com eficácia de 83% de não apresentar pneumonia pelo VSR e de 94% menos probabilidade de ter infecção grave associada ao VSR (na primeira temporada do VSR, 10 meses). Com acompanhamento até 22 meses após a vacinação, a eficácia da vacina reduz para 67%. A vacina foi bem tolerada, embora mais de 60% dos vacinados apresentem reação local e 30% apresentaram fadiga pós vacinação. Pode ser aplicada concomitante com outras vacinas.

# Vacina Abrysvo (Pfizer): 

- é considerada uma vacina bivalente (antígeno para VSR A e B), em dose única e com o objetivo de proteção passiva de bebês (através da imunização materna) e proteção direta de adultos 60+.  A vacina deve ser aplicada nas gestantes durante o segundo ou terceiro trimestre – ela foi licenciada no Brasil para gestantes entre 24 e 36 semanas de gestação e a proteção indireta do lactente se deu por 6 meses. A vacina não é aplicada diretamente nos bebês. A eficácia foi de 86%, semelhante a vacina já descrita, e também apresentou eventos adversos locais e sistêmicos como dor de cabeça e dor muscular.

·        Teremos acesso a esta nova ferramenta de proteção?

Aqui entra um problema importante… acesso!

Por ser uma vacina de elevado custo, o acesso inicialmente será muito restrito, somente em clínicas privadas. Imagino que com a disponibilidade de mais dados nacionais sobre a circulação e impacto do VSR na população de alto risco, teremos dados para propor acesso gratuito a população específica.

Enquanto isso, não podemos deixar de fazer as outras vacinas já disponíveis e de fácil acesso para outras infecções respiratórias, como a influenza (gripe) e pneumococo.

Fale com seu médico!

 

Fonte: Futuro da Saúde

 

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