'Rei da
roleta': quem foi o maior dono de cassinos no Brasil
Joaquim
Rolla foi o responsável pelo boom da atividade dos anos 30 aos 40; ela foi
proibida em 1946 pelo presidente Eurico Gaspar Dutra. Nesta semana, projeto de
lei que regulariza jogos de azar no Brasil passou na Comissão de Constituição e
Justiça do Senado.
“Existem
duas versões sobre a entrada dele no mundo dos cassinos, a primeira versão diz
que ele teria jogado com várias pessoas importantes e ganhado uma parte do
cassino da Urca, no Rio de Janeiro, e com
esse valor comprou outros.“
A
fala é do escritor João Perdigão, sobrinho-neto do "rei da roleta", o
mineiro Joaquim Rolla. Considerado o maior empresário do jogo do azar no
Brasil, entre os anos 30 e 40 (quando a atividade era legalizada no país), ele
chegou a administrar os cassinos da Urca (Rio de Janeiro), do Palácio
Quitandinha, (Petrópolis) e o da Pampulha (Belo Horizonte).
A
segunda versão sobre a entrada de Joaquim no mundo dos jogos é também
inusitada.
"Fala-se
que ele tinha dinheiro guardado no pneu de um carro, e teria usado o valor para
comprar o cassino da Urca", disse João, autor do livro "O Rei da
Roleta, a Incrível Vida de Joaquim Rolla"
Os
cassinos foram proibidos no Brasil pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, em
1946. O tema voltou à tona esta semana.
- A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou a proposta que libera novamente os jogos de azar no
Brasil, como bingo, jogo do bicho e cassino.
- Foram 14 votos a favor e 12 votos contrários. O projeto
cria regras para a exploração e mecanismos de fiscalização e controle dos
jogos.
Joaquim
Rolla nasceu em 1899, em São Tomé, distrito de Dom Silvério, na Zona da Mata de
Minas Gerais. Tempos depois, se mudou com a família para São Domingos do Prata
onde se tornou tropeiro.
“Ele
acabou se tornando empreiteiro de construção de estradas, veio para Belo
Horizonte, se aproximou da política e apoiou a revolução de 1930 com Getúlio
Vargas. Mas em 1932 ele estava ao lado de Arthur Bernardes contra Getúlio. Na
época chegou a ser preso por conspiração“, disse o sobrinho-neto dele.
Quando
ele foi solto, passou a frequentar o Rio de Janeiro e o Cassino da Urca. O
resto é história.
·
Cassino da Pampulha
O
Cassino da Pampulha funcionou apenas três anos. O prédio, que faz parte do
Complexo Arquitetônico criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, foi
inaugurado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitscheck.
Ele
era um dos locais mais movimentados e visitados pela elite belo-horizontina.
A
ideia inicial de Rolla era que a casa de jogos fosse comparável ao da Urca, no
Rio de Janeiro, e ao Palácio Quitandinha, em Petrópolis.
Palácio
Quitandinha — Foto: Site/Sesc Rio
O
Cassino da Pampulha foi o primeiro projeto do Conjunto Arquitetônico a ficar
pronto. Também conhecido como “Palácio de Cristal”, por causa dos vidros
espelhados que cercam o prédio, o espaço foi inaugurado em 1943.
O
espaço funcionou como cassino até 1946, quando o jogo foi proibido no
Brasil. Ele entrou em um período de decadência de 10 anos, até 1957, ano em que
foi transformado no Museu de Arte da Pampulha (MAP). Hoje ele abriga um acervo
com cerca de 1,4 mil obras.
·
Cassino da Urca
Joaquim
também foi responsável pelo boom do show business no
tradicional Cassino da Urca. Grandes artistas da época costumavam se
apresentar por lá, como Carmen Miranda.
Criado
em 1933 com o apoio do governo Vargas, ele viveu seu apogeu na década de 40,
quando era frequentado por políticos influentes e artistas. Com a proibição do
jogo no Brasil, o prédio foi ampliado e chegou a abrigar o estúdio da TV
Tupi. Em 2023, ele foi adquirido por um grupo educacional.
·
Quitandinha
A
pedra fundamental do Palácio Quitandinha foi lançada em 1941 e a obra
contou com mais de 1,2 mil funcionários que vieram de diversas partes do país,
principalmente de Minas Gerais. A inauguração, marcada na verdade para 23 de
janeiro, não aconteceu porque um grande lustre quebrou a poucos dias do
grande dia.
O
objeto foi uma das surpresas preparadas por Joaquim Rolla, que criou em um dos
salões um grande céu no teto e nele, Saturno e seus anéis.
Mesmo
com o atraso e apenas um terço da obra finalizada, a estreia do hotel-cassino foi um sucesso. Ele tinha boate, restaurante, uma torre onde funcionava o
carteado, 100 apartamentos e piscina térmica.
Em
2007, a parte administrativa do prédio - incluindo os diversos salões e áreas
de lazer, com exceção dos apartamentos, que pertencem a particulares – foram
adquiridos pelo Sesc Rio.
·
Sorte no jogo
O
escritor João Perdigão, sobrinho neto de Joaquim Rolla, relembrou que o tio-avô
tinha grande influência política na época, e esteve ao lado de políticos como
Getúlio Vargas e Arthur Bernandes, em momentos diferentes.
O
empresário trabalhou como tropeiro durante a juventude e também como
empreiteiro de construção civil. Para o escritor, contar as histórias do Rei da
Roleta é relembrar a introdução do Brasil ao show business internacional.
João
é autor do livro "O Rei da Roleta, a Incrível Vida de Joaquim Rolla".
Em algumas das páginas, o sobrinho fala sobre o momento de tensão que terminou
na prisão de Joaquim, no auge do movimento do Cassino da Urca.
¨
Cassinos, bingos, jogo
do bicho e corrida de cavalos: o que projeto sobre jogos de azar no Brasil
prevê para cada modalidade
A aprovação, pela Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, do projeto que libera jogos de azar no
país levantou dúvidas sobre como as nova regras funcionariam na prática.
Estariam
liberados, por exemplo, os cassinos, as apostas em corrida de cavalo, bingos e
jogo do bicho. Cada um com normas próprias (veja mais abaixo).
Lembrando
que o texto ainda precisa passar pelo plenário do Senado e pela sanção do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode optar por vetar trechos ou mesmo
a proposta inteira.
Na
CCJ, a votação foi 14 a 12 pela aprovação. Ou seja, placar apertado. O projeto
não tem boa aceitação entre setores religiosos do parlamento.
<><>
O que será liberado
A
proposta aprovada pela CCJ autoriza a prática e a exploração no Brasil de:
- jogos de cassino
- jogos de bingo
- jogos de videobingo
- jogos online
- jogo do bicho
- apostas em corridas de cavalos (turfe)
<><>
Normas para cada tipo de jogo
Cada
tipo de jogo terá critérios previamente estabelecidos para a operação:
🐎Apostas em corridas de cavalo: a empresa que vai oferecer o
serviço precisará pedir, por exemplo, credenciamento prévio no Ministério da
Agricultura para corridas de cavalo e solicitar, em até um ano, autorização
para operar apostas ao Ministério da Fazenda. Se o local das apostas também
desejar oferecer bingo, deverá também comprovar os requisitos necessários para
esse tipo de jogo.
🎰Cassinos: serão credenciados por leilões públicos e poderão
funcionar somente em complexos integrados de lazer ou em embarcações. Versão
aprovada pela Câmara previa que os espaços voltados a cassinos deveriam ser
“construídos especificamente para esse fim”. Na CCJ do Senado, o texto foi
alterado para locais “especificamente destinados a esse fim”. O relator avalia
que a mudança vai “garantir a maior participação do setor hoteleiro” na oferta
de cassinos.
✏️Bingos: a oferta somente poderá ocorrer em endereços permanentes
— as chamadas casas de bingo. As licenças para operação valerão por 25 anos.
🐒Jogo do bicho: também terá licença de 25 anos, que somente será
concedida a empresas que comprovarem recursos suficientes para o pagamento de
suas obrigações. Os registros das apostas terão de ser colocados em uma
plataforma digital. Especificamente nesta prática não será preciso identificar
apostadores que receberem prêmios até o limite da isenção do Imposto de Renda.
<><>
Quem poderá jogar
O
projeto estabelece que somente maiores de idade poderão jogar. Menores de idade
também não poderão acessar endereços credenciados para a oferta dos jogos, que
não poderão ter máquinas de jogos instaladas no exterior.
De
acordo com a proposta, apostadores terão até 90 dias para reclamar os prêmios
das apostas.
O
texto aprovado pela CCJ estabelece que estarão impedidas de apostar em qualquer
uma das modalidades:
▶️pessoas jurídicas;
▶️pessoas com compulsão em jogos, que pedirem a inclusão no
Registro Nacional de Proibidos (Renapro);
▶️pessoas interditadas judicialmente, a pedido de familiares, por
vício em jogos;
▶️pessoas consideradas insolventes — isto é, aquelas que têm
dívidas maiores do que o patrimônio;
▶️pessoas ligadas às empresas de jogos;
▶️agentes públicos vinculados a órgãos de fiscalização dos jogos;
O
projeto prevê, ainda, a criação de uma política nacional de proteção aos
apostadores, com a obrigação das casas de apostas de manter serviço de
atendimento aos apostadores e mecanismos de prevenção do vício em jogos.
O
texto proíbe que as empresas de apostas ofertem, concedam ou facilitem
empréstimos aos apostadores e permite que empresas credenciadas pelo Ministério
da Fazenda atuem na cobrança de dívidas de apostas.
<><>
Só empresas registradas
O
texto estabelece que os jogos de azar somente poderão ser oferecidos por
empresas registradas, sediadas e administradas no Brasil. A oferta dependerá da
concessão de uma licença pelo Ministério da Fazenda.
Pelas
regras previstas no projeto, o estatuto da empresa deverá estabelecer que a
atividade principal do CNPJ será a exploração dessas práticas, mas atividades
como comércio de alimentos e bebidas e a realização de atividades artísticas e
culturais poderão ser registradas como atividades secundárias.
Para
ter direito a uma licença de operação, além de outros requisitos, a empresa
precisará comprovar origem lícita de recursos e um capital mínimo:
- para bingo: R$ 10 milhões
- para cassinos: R$ 100 milhões
- para jogo do bicho: R$ 10 milhões
As
licenças seguirão critérios a serem definidos pelo ministério e poderão ser
concedidas em caráter permanente ou por prazo determinado. A operação também
poderá autorizada para locais específicos ou previamente definidos — as
chamadas zonas de jogos. Essas autorizações serão inegociáveis e
intransferíveis.
A
oferta dos jogos somente poderá acontecer em estabelecimentos físicos ou
virtuais autorizados pelo governo federal.
<><>
Fim de uma proibição de quase 80 anos
O
texto põe fim a uma proibição, prevista numa lei de 1946, à exploração de jogos
de azar em todo o território nacional. Também revoga trechos da Lei de
Contravenções Penais, que estabelece punições para as práticas.
A
operação dos jogos de azar, no entanto, deverá seguir uma série de critérios.
Serão exigidos, por exemplo, valores mínimos de capital da empresa e
comprovação de origem lícita dos recursos. Somente empresas com sede no Brasil
poderão operar as jogatinas, que estarão permitidas em locais previamente
autorizados.
De
acordo com o projeto, ficará a cargo do Ministério da Fazenda definir os
processos de licenciamento, fiscalização e autorização de exploração. O governo
também poderá criar uma agência reguladora.
Pela
proposta, somente maiores de 18 anos poderão jogar. Haverá proibição, por
exemplo, para jogadores que se declararem ludopatas (pessoas diagnosticadas com
compulsão por jogos de azar) ou forem interditados judicialmente.
O
relator do projeto, senador Irajá (PSD-TO), defendeu que os jogos de azar
representam uma "atividade econômica relevante" no Brasil e que, em
razão disso, devem estar "sujeitos à regulamentação pelo Estado".
Fonte:
g1
Nenhum comentário:
Postar um comentário