quinta-feira, 13 de junho de 2024

Qual a diferença entre Alzheimer e demência?

As mudanças no raciocínio e na memória à medida que envelhecemos podem ocorrer por várias razões. E nem sempre são motivo de preocupação. Mas quando começam a interferir na vida cotidiana, podem indicar os primeiros sinais de demência.

Outro termo que pode surgir quando falamos de demência é doença de Alzheimer, ou simplesmente Alzheimer.

Mas, afinal, qual é a diferença?

•        O que é demência?

Demência é um termo genérico usado para descrever uma série de síndromes que resultam em alterações na memória, raciocínio e/ou comportamento devido à degeneração do cérebro.

Para atender os critérios de demência, estas alterações devem ser suficientemente pronunciadas a ponto de interferir nas atividades habituais e estar presentes em pelo menos dois aspectos diferentes do raciocínio ou da memória.

Por exemplo, alguém pode ter dificuldade de lembrar de pagar as contas e se perder em áreas outrora familiares.

Pouca gente sabe que a demência também pode afetar crianças. Isto se deve a danos cerebrais progressivos associados a mais de 100 doenças genéticas raras. E pode resultar em mudanças cognitivas semelhantes às que vemos em adultos.

•        E o que é Alzheimer?

Alzheimer é o tipo mais comum de demência, representando cerca de 60% a 80% dos casos.

Por isso, não surpreende que muitas pessoas utilizem os termos demência e Alzheimer de forma intercambiável.

As alterações na memória são o sinal mais comum de Alzheimer — e é o sintoma que a população mais costuma associar à doença. Por exemplo, uma pessoa com Alzheimer pode ter dificuldade de se lembrar de eventos recentes ou de saber em que dia ou mês estamos.

Ainda não sabemos exatamente o que causa o Alzheimer. No entanto, sabemos que a doença que está associada ao acúmulo no cérebro de dois tipos de proteínas chamadas beta-amiloide e tau.

Embora todos nós tenhamos alguma beta-amiloide, quando ela se acumula em excesso no cérebro, se aglomera, formando placas nos espaços entre as células.

Estas placas causam danos (inflamação) às células cerebrais ao redor e levam à desregulação da tau. A tau faz parte da estrutura das células cerebrais, mas no Alzheimer estas proteínas ficam "emaranhadas". Isto é tóxico para as células, fazendo com que morram.

Acredita-se que aconteça então um ciclo de retroalimentação, desencadeando a produção de mais beta-amiloide e mais tau anormal, perpetuando os danos às células cerebrais.

O Alzheimer também pode ocorrer com outras formas de demência, como a demência vascular. Esta combinação é o exemplo mais comum de demência mista.

•        Demência vascular

O segundo tipo mais comum de demência é a demência vascular. Ela resulta da interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro.

Como as alterações no fluxo sanguíneo podem ocorrer em todo o cérebro, os sinais de demência vascular podem ser mais variados do que as alterações de memória normalmente observadas no Alzheimer.

Por exemplo, a demência vascular pode se apresentar como uma confusão geral, raciocínio lento ou dificuldade em organizar pensamentos e ações.

O risco de demência vascular é maior se você tiver doença cardíaca ou pressão alta.

•        Demência frontotemporal

Algumas pessoas podem não saber que a demência também pode afetar o comportamento e/ou a linguagem. Vemos isso em diferentes formas de demência frontotemporal.

A variante comportamental da demência frontotemporal é a segunda forma mais comum (depois do Alzheimer) de demência precoce (em pessoas com menos de 65 anos).

As pessoas com este tipo de demência podem ter dificuldade de interpretar e responder adequadamente a situações sociais. Por exemplo, elas podem fazer comentários estranhamente rudes ou ofensivos ou invadir o espaço pessoal dos outros.

A demência semântica também é um tipo de demência frontotemporal — ela resulta na dificuldade de compreender o significado das palavras e denominar objetos do cotidiano.

•        Demência por corpos de Lewy

A demência por corpos de Lewy é resultado da desregulação de um tipo diferente de proteína conhecida como alfa-sinucleína. Muitas vezes observamos isso em pacientes com Parkinson.

Portanto, pessoas com este tipo de demência podem ter movimentos alterados, como postura curvada, andar arrastado e alterações na caligrafia. Outros sintomas incluem mudanças no estado de alerta, alucinações visuais e perturbações significativas do sono.

•        Como saber se você ou alguém tem demência

Se você ou alguém próximo estiver preocupado, a primeira coisa a fazer é conversar com um médico. Ele provavelmente vai fazer algumas perguntas sobre seu histórico de saúde e querer saber que mudanças você notou.

Às vezes, pode não ficar claro se você tem demência logo na primeira consulta. O médico pode sugerir que você observe as mudanças ou pode encaminhar você para um especialista para exames adicionais.

Não existe um exame único que mostre claramente se você tem demência ou o tipo de demência. O diagnóstico é feito após vários exames, incluindo tomografias ou ressonâncias, testes de memória e raciocínio, e uma avaliação de como essas mudanças afetam sua vida diária.

Não saber o que está acontecendo pode ser um momento desafiador, por isso é importante conversar com alguém sobre como você está se sentindo ou entrar em contato com serviços de apoio.

•        A demência é diversa

Assim como há diferentes formas de demência, cada paciente vivencia a demência de maneira diferente. Por exemplo, a velocidade que a demência progride varia muito de pessoa para pessoa. Algumas vão continuar vivendo bem com a demência durante algum tempo, enquanto outras podem piorar rapidamente.

Ainda existe um estigma significativo em torno da demência. Então, ao aprender sobre os vários tipos de demência e compreender as diferenças na forma como a doença avança, todos nós podemos fazer a nossa parte para criar uma comunidade mais acolhedora à demência.

 

•        O que é a síndrome do pôr-do-sol que afeta muitas pessoas com demência, Por Steve Macfarlane, em The Conversation

O termo "síndrome do pôr-do-sol" (ou crepuscular) é às vezes usado para descrever a tendência em pessoas com demência de se sentirem mais confusas no final da tarde e durante a noite.

Primeiramente, é necessário enfatizar que o termo é muito simplista e pode abranger uma ampla variedade de comportamentos em muitos contextos diferentes.

Quando avaliamos as mudanças de comportamento na demência, é sempre melhor ouvir uma descrição completa e precisa do que a pessoa está fazendo nesses momentos, em vez de aceitar que estão sofrendo da síndrome.

Esse conjunto de comportamentos frequentemente descritos incluem confusão, ansiedade, agitação, andar de um lado para o outro e seguir outra pessoa.

Isso pode se manifestar de maneira diferente dependendo do grau de demência, da personalidade do indivíduo e de seus padrões de comportamento anteriores, além da presença de gatilhos específicos.

Então, por que esses comportamentos alterados tendem a surgir em momentos específicos do dia? E o que devemos fazer quando acontecem com um ente querido?

•        Menos informação sensorial

Todos nós interpretamos o mundo por meio das informações que nosso cérebro recebe por meio de nossos cinco sentidos.

Os sentidos principais são a visão e a audição.

Imagine a dificuldade que você teria se lhe fosse solicitado realizar uma tarefa complexa enquanto estivesse em um ambiente escuro.

Pessoas que vivem com demência dependem igualmente das informações sensoriais para compreender e interpretar corretamente o seu entorno.

À medida que a luz vai diminuindo em direção ao final do dia, também diminui a quantidade de informações sensoriais disponíveis para auxiliar um paciente com demência a interpretar o mundo.

O impacto disso em um cérebro que já possui dificuldades em integrar as informações sensoriais pode ser significativo, resultando em maior confusão e comportamentos inesperados.

•        Esgotamento cognitivo

Todos nós já ouvimos que usamos apenas uma fração do nosso poder cerebral, e é verdade que temos mais poder cerebral do que geralmente é necessário para a maioria das tarefas diárias.

Essa "reserva cognitiva" pode ser usada quando precisamos realizar tarefas complexas ou estressantes, que exigem mais esforço mental.

Mas e se você não tiver muita reserva cognitiva?

As mudanças que eventualmente levam aos sintomas da doença de Alzheimer podem começar a se desenvolver até 30 anos antes desses sintomas aparecerem.

Nesse tempo, de forma simples, a condição esgota nossa reserva cognitiva.

É somente quando o dano causado é tão significativo que nosso cérebro não pode compensá-lo, que desenvolvemos os primeiros sintomas do Alzheimer e outras formas de demência.

Portanto, quando alguém apresenta os primeiros sintomas muito cedo da demência, grande parte do dano já ocorreu.

A reserva cognitiva foi perdida e os sintomas de perda de memória finalmente se tornam evidentes.

Como resultado, as pessoas que vivem com demência precisam fazer muito mais esforço mental durante o dia do que a maioria de nós.

Todos nós já nos sentimos cognitivamente exaustos, cansados e talvez um pouco irritados após um longo dia realizando uma tarefa difícil que exigiu um alto nível de esforço mental e concentração.

As pessoas que vivem com demência precisam fazer uma quantidade similar de esforço mental apenas para cumprir sua rotina diária.

Por isso, não é surpreendente que, depois de várias horas dedicadas a um esforço mental constante apenas para sobreviver (muitas vezes em um local não familiar), elas tendam a se sentir cognitivamente exauridas.

•        O que devo fazer?

As casas de pessoas com demência devem estar bem iluminadas durante a tarde e a noite, quando o sol está se pondo, para auxiliar a pessoa com demência a integrar e interpretar as informações sensoriais.

Uma breve soneca após o almoço pode ajudar a aliviar a fadiga cognitiva no final do dia. Isso oferece ao cérebro a oportunidade de "recarregar".

Entretanto, não há substituto para uma avaliação mais abrangente das outras causas que podem contribuir para a alteração comportamental.

Necessidades não atendidas, como fome ou sede, presença de dor, depressão, tédio ou solidão podem contribuir, assim como estimulantes como cafeína ou açúcar, se consumidos muito tarde no dia.

Os comportamentos frequentemente descritos com o termo excessivamente simplista de "síndrome vespertino" são complexos e suas causas tendem a ser individuais e inter-relacionadas.

Como frequentemente ocorre na medicina, um conjunto específico de sintomas é melhor gerenciado ao se compreender melhor as causas.

 

Fonte: Por Nikki-Anne Wilson, para The Conversation

 

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