Iniciativa de paz de Brasil e China é sincera, mas esbarra em
veto de Zelensky, diz Lavrov
O
ministro das Relações Exteriores da Rússia comentou a iniciativa do assessor de
Lula, Celso Amorim, e da China para processo de paz na Ucrânia. Ao reconhecer
os méritos da iniciativa, Sergei Lavrov lamentou o veto imposto pelo regime de
Zelensky à realização de negociações de paz com representantes do governo
russo.
Nesta
terça-feira (11), o chanceler russo, Sergei Lavrov, comentou as propostas do
Brasil para lançar processo de paz entre Moscou e Ucrânia. As declarações foram
realizadas durante o encontro de ministros das Relações Exteriores do BRICS,
celebrado na cidade russa de Nizhny Novgorod.
Lavrov
notou que países amigos da Rússia, como Brasil e China, reconhecem a
necessidade de negociações para solucionar o conflito ucraniano em formatos que
reúnam todas as partes envolvidas no conflito.
"Ministros
da China e o ministro das Relações Exteriores do Brasil realizaram declarações
sobre a importância de promover uma nova base para a resolução [do conflito].
Uma base que seja aceitável para ambos os lados", disse Lavrov durante
coletiva de imprensa.
De
fato, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, declarou
nesta segunda-feira (11) à Sputnik Brasil acreditar que "todos os países
[do BRICS] querem o início de conversas completas, que envolvam os dois
lados". Segundo o chefe do Itamaraty, "o Brasil está mais do que
disposto a defender, promover ou participar de todas as iniciativas que sejam
realmente efetivas", nas quais "se possa conversar séria e
abertamente sobre essa questão".
O
ministro russo ainda notou o papel de países terceiros no conflito, como EUA e
Reino Unido, uma vez que o governo ucraniano não teria autonomia para negociar
sem o aval de seus parceiros ocidentais. Lavrov também lembrou o papel de
Washington e Londres no boicote às negociações conduzidas entre Rússia e Kiev
no primeiro semestre de 2022.
"Durante
as reuniões bilaterais que tivemos com nossos colegas de China e Brasil,
valorizamos as iniciativas que, em diferentes momentos, foram colocadas",
disse o chanceler russo. "Vemos nessas iniciativas manifestações sinceras
de boa vontade e desejo de ajudar a encontrar um caminho para a solução."
Lavrov
citou nominalmente a iniciativa recém-publicada pelo assessor de Relações
Internacionais do presidente Lula, Celso Amorim, e pelo chanceler chinês, Wang
Yi, que elenca entendimentos comuns sobre a resolução do conflito ucraniano e
aponta caminhos para a paz.
"De
maneira justa, eles notam a necessidade de observar os motivos iniciais que
levaram a essa crise profunda de segurança na região euroasiática e a
necessidade de, em primeiro lugar, tratarmos da resolução desses motivos",
declarou Lavrov.
A
iniciativa de paz publicada pela China no início deste ano ainda notou o
princípio de indivisibilidade da segurança internacional, que estipula a
impossibilidade de um país garantir a sua segurança às expensas da segurança
dos demais.
"Aos
países que trazem iniciativas sobre negociações, eu pediria que notassem dois
aspectos: o primeiro, não esqueçam que, em setembro de 2022, Zelensky assinou
um documento proibindo que representantes oficiais ucranianos negociem com o
governo Putin", lembrou o chanceler russo.
O
segundo aspecto é a decisão do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia de
emitir declaração, em maio deste ano, na qual não reconhece a eleição do
presidente da Rússia, Vladimir Putin, tampouco a legitimidade de seu mandato.
Nos
dias 15 e 16 de junho, uma conferência sobre a Ucrânia será realizada na Suíça,
sem a presença do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, do
presidente da China, Xi Jinping, ou tampouco do presidente dos EUA, Joe Biden.
Declaração
dos ministros do BRICS
As
declarações de Lavrov foram feitas um dia após a aprovação da Declaração
conjunta dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Internacionais
do BRICS de Nizhny Novgorod, que absorveu diversos pontos centrais para a
agenda brasileira no grupo.
O
apoio à reforma no Conselho de Segurança da ONU, reivindicação histórica do
Brasil, foi reiterado na declaração do BRICS, confirmando o endosso dos novos
membros ao projeto. De acordo com declarações do ministro das Relações
Exteriores Mauro Vieira feitas para a Sputnik Brasil, os membros originais do
BRICS já haviam declarado publicamente de forma reiterada seu apoio à essa
reforma, e o grupo "deve continuar neste mesmo caminho".
A
declaração de Nizhny Novgorod reitera o apoio do BRICS a uma "reforma
abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança". De
acordo com o texto, o BRICS defende que o órgão máximo da ONU seja "mais
democrático, representativo, eficaz e eficiente", com maior
"representação dos países em desenvolvimento".
Outro
ponto levantado pela delegação brasileira foi a coordenação das agendas dos
grupos BRICS e G20, que são presididos por Rússia e Brasil, respectivamente. De
acordo com o Kremlin, esse tema foi debatido pelos presidentes Putin e Lula,
durante conversa telefônica realizada nesta segunda-feira (11).
De
acordo com o governo russo, "as partes manifestaram interesse mútuo em
aprofundar ainda mais o desenvolvimento bem-sucedido da parceria estratégica
entre a Rússia e o Brasil em todas as áreas principais. Foi acordado, em
particular, continuar a cooperação estreita entre os dois países, tendo em
conta a presidência da Rússia no BRICS e a presidência do Brasil no G20 neste
ano".
Em
Nizhny Novgorod, os ministros do BRICS reafirmaram o papel do G20 como o
"principal fórum para a cooperação econômica internacional, que inclui
países desenvolvidos e em desenvolvimento em pé de igualdade e mutuamente
benéfico, onde as principais economias buscam conjuntamente soluções para os
desafios globais para a obtenção de um crescimento econômico global
universalmente benéfico e inclusivo".
O
G20 acaba de passar três anos sob a presidência de países do BRICS – África do
Sul, Índia e Brasil –, o que consolidou a agenda de desenvolvimento no grupo.
Dessa forma, a expectativa do BRICS é de que o G20 "deve continuar a
funcionar de maneira produtiva, concentrando-se na entrega de resultados
concretos, tomando decisões em consenso".
Ainda
antes de concluir a sua presidência do G20, o Itamaraty já vai dar início aos
trabalhos para assumir as rédeas do BRICS. De acordo com a declaração de Nizhny
Novgorod, ficará a cargo do Brasil a organização da próxima reunião de
ministros das Relações Exteriores do BRICS, a ser realizada às margens da
Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no mês de setembro.
Entre
os dias 10 e 11 de junho, os ministros das Relações Exteriores dos países do
BRICS se reuniram na cidade russa de Nizhny Novgorod, pela primeira vez no
formato estendido do grupo. Nesta terça-feira (11), os chanceleres se reuniram
no formato BRICS+, que incluiu países convidados, como Bahrein, Bangladesh,
Belarus, Cuba, Cazaquistão, Laos, Mauritânia, Sri Lanka, Tailândia, Turquia,
Venezuela e Iêmen.
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Brasil está fora de
cúpula na Suíça pela paz na Ucrânia
A
Suíça vai receber entre os dias 15 e 16 de junho uma cúpula de paz que pretende
angariar apoio internacional ao fim do conflito na Ucrânia. O
objetivo da cúpula, solicitada pelo governo ucraniano, é "inspirar um
futuro processo de paz", mas o resultado permanece incerto.
O
encontro se baseia num plano de dez pontos apresentado pelo presidente
ucraniano, Volodimir
Zelenski, e que culmina na retirada completa das tropas russas e no
estabelecimento dos meios para alcançar "uma paz justa e duradoura".
A
Rússia não vai participar do evento. Segundo a Suíça, o país não foi convidado
porque sinalizou não ter qualquer interesse em participar. O governo russo
disse que a iniciativa é "uma perda de tempo".
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Sem Brasil e China
Na
esteira da decisão do presidente russo, Vladimir Putin, países
como Brasil e China já manifestaram desinteresse em participar de conversas sem
a presença dos dois lados do conflito, segundo comunicaram as autoridades da
Suíça.
O
assessor especial da presidência, Celso Amorim, chegou a assinar uma declaração
com o ministro chinês do Exterior, Wang Yi, pedindo para que sejam feitas
negociações "reconhecidas tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia".
Segundo
o Palácio do Planalto, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva falou por telefone com Putin
nesta segunda-feira (10/06) e voltou a defender um acordo de paz e a
participação da Rússia nas negociações de paz.
Os
organizadores do evento, porém, afirmaram que, até agora, o Brasil e outros
países emergentes, como a África do Sul, não confirmaram nem cancelaram sua
participação no evento, apesar da ausência de Lula ser dada como certa. "A
lista final dos países participantes só será publicada pouco antes da cúpula”,
diz o comunicado.
Lula
viajará para a Europa para uma reunião da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) em Genebra, na Suíça, no dia 13, antes de participar da
cúpula do G7 na Itália, nos dias 14 e 15, a convite da premiê Giorgia Meloni.
Mas Lula não participará da cúpula sobre a Ucrânia, que ocorre logo em
seguida, nos dias 15 e 16.
Até
o momento, 90 estados e organizações confirmaram presença. O evento acontece no
complexo hoteleiro Bürgenstock, localizado no topo de uma montanha na vila de
Obbürgen, perto da cidade de Lucerna, no centro da Suíça. O local foi
escolhido por questões de segurança devido ao seu difícil acesso – na última
semana, o país registrou um aumento em ataques cibernéticos e desinformação
sobre o evento.
O
presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler federal alemão, Olaf Scholz,
são esperados no encontro. A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala
Harris, representará o seu país. O conselheiro de segurança nacional do
Presidente Joe Biden, Jake Sullivan, também estará presente.
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O que será discutido
O
presidente ucraniano anunciou pela primeira vez sua
fórmula de paz de dez pontos numa cúpula do G20 em novembro de 2022. Ela também
inclui a criação de um tribunal especial para julgar os crimes de guerra
russos.
A
Suíça, porém, diz que a cúpula vai conseguir avançar apenas sobre três temas –
segurança alimentar, segurança nuclear para produção de energia e a
libertação ou troca de prisioneiros de guerra ou deportados. A expectativa dos
organizadores é criar um roteiro que inclua a Rússia nas negociações em etapas
posteriores.
As
conversas acontecem em meio a uma crescente avanço dos russos sobre território
ucraniano. O país avançou sobre áreas da região da cidade de Donetsk nos
últimos meses.Em conferência realizada nesta terça-feira em Berlim, Zelenski afirmou que a Ucrânia perdeu metade de
sua capacidade de geração de energia em decorrência de ataques russos.
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Kiev é quem decidirá
como acabar com a guerra, diz Zelenski
Aplaudido
de pé no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, o presidente
ucraniano Volodimir
Zelenski prometeu nesta terça-feira (11/06) acabar com a guerra "no interesse da Ucrânia e de
toda a Europa". "Não vamos permitir à Rússia que continue marchando
pela Europa", assegurou, a poucos dias de uma cúpula de paz na Suíça.
"Poremos fim a essa guerra nos nossos termos."
Em
seu discurso, Zelenski disse ser "do interesse de todos nós que Putin
perca essa guerra", e que o conflito precisa acabar de uma forma que não
deixe dúvidas sobre quem ganhou.
O
presidente defendeu ainda que Moscou pague pelos danos que causou à Ucrânia.
"Eles têm que ser levados à Justiça por cada crime de guerra cometido."
Também
apelou à memória da Guerra
Fria, evocando o Muro de Berlim (1961-1989) e
os conflitos com separatistas russos no leste ucraniano desde 2014. "A Europa dividida nunca foi pacífica. E a Alemanha
dividida nunca foi feliz", afirmou. "Os senhores podem entender por
que estamos lutando tanto contra as tentativas da Rússia de dividir a Ucrânia,
por que estamos fazendo tudo o que podemos para impedir que haja um novo muro
em nosso país."
As
tropas de Kiev atualmente tentam deter o avanço russo em áreas no leste do
país, como Kharkiv e Donetsk.
Ao
argumentar que uma derrota russa não é tão improvável quanto alguns apregoam,
Zelenski lembrou ainda a queda súbita do Muro de Berlim. "Para alguns,
parecia que o muro duraria para sempre. Mas ele desapareceu", disse.
"E agora, quando as pessoas gritam que Putin vai durar para sempre, e que
não há fim a essa guerra (...), isso é uma ilusão."
"A
Rússia está sozinha contra todos nós, então temos que forçar a Rússia a mudar,
e isso é possível, porque não há muro que não possa ser derrubado",
continuou.
Zelenski
também agradeceu à Alemanha pelo fornecimento de três sistemas Patriot de
defesa aérea e pela acolhida no país de 1,1 milhão de refugiados ucranianos.
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Partidos populistas boicotam discurso
A
fala de Zelenski foi boicotada pelas bancadas do ultradireitista Alternativa
para a Alemanha (AfD) e da populista e recém-criada Aliança
Sahra Wagenknecht (BWS). Os dois partidos criticam o apoio militar do Ocidente
à Ucrânia, mas são minoritários: a AfD tem 77 cadeiras e a BSW, dez. Os únicos quatro parlamentares da
AfD que assistiram ao discurso o ouviram em silêncio, sem aplausos.
A
Alemanha é, depois dos Estados Unidos, o maior apoiador de Kiev.
Na
campanha ao Parlamento Europeu, o BWS defendeu a interrupção do fornecimento de
armas alemãs à Ucrânia e acusou Zelenski de fazer as pessoas de "bucha de
canhão para uma guerra invencível, aceitando o risco de um "conflito
atômico com consequências devastadoras para a Europa".
A
AfD, que nas eleições europeias fez a segunda maior bancada de eurodeputados alemães, disse em um comunicado que não prestigiaria a sessão com
Zelenski – que trajava um blusão preto e uma calça verde-escuro – porque se
recusam "a ouvir um palestrante em roupa camuflada".
"A
Ucrânia não precisa de um presidente de guerra agora; precisa de um presidente
de paz, que esteja disposto a negociar, de modo que a matança cesse e o país
tenha um futuro", consta da nota divulgada pela AfD.
"Os
ucranianos não estão só defendendo o direito deles à liberdade; estão
defendendo a ideia europeia de liberdade e paz. Então, se Putin ganhar na
Ucrânia, ele não vai parar. É também do nosso interesse suprir a Ucrânia com
dinheiro e também militarmente", contra-argumentou o ministro alemão da
Economia, Robert Habeck, em entrevista à DW.
Mais
cedo, participando de uma conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, Zelenski se preocupado com a presença crescente de uma
retórica pró-Rússia no meio político, especialmente depois que partidos de
ultradireita conseguiram expandir seu espaço no Parlamento Europeu.
"Acho
que a coisa mais importante é que o povo não escolheu a retórica populista
pró-Rússia", disse. "Mas a retórica radical pró-Rússia é um perigo
para os seus países."
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Custo da reconstrução
Zelenski
discursou no Parlamento alemão após participar de uma conferência em Berlim
para arrecadar recursos para a defesa e a reconstrução da Ucrânia.
O
evento, que continua na quarta-feira, reúne mais de 2 mil representantes de 60
países.
Segundo
estimativa do Banco Mundial, somente na próxima década serão necessários 486
bilhões de dólares (R$ 2,6 trilhões) para reconstruir a Ucrânia.
O
chanceler federal da Alemanha, Olaf
Scholz, prometeu levar o tema ao encontro do G7
na Itália, a partir da próxima quinta-feira. "Não haverá uma vitória
militar nem uma paz imposta", disse. "Ele [Putin] precisa parar sua
campanha brutal e retirar suas tropas."
Por
ora, foi acertado que a União Europeia (UE) entrará como fiadora de empréstimos
a Ucrânia receberá no valor de mais de um bilhão de euros (R$ 5,8 bilhões), a
serem repassados a pequenas e médias empresas, além de empréstimo de 100
milhões de euros (R$ 575,8 milhões) para a recuperação dos serviços de
abastecimento.
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Apoio internacional
É a
terceira visita do líder ucraniano a Berlim desde o início da invasão russa, em
fevereiro de 2022.
Na
manhã desta terça, Zelenski foi recebido em Berlim no Palácio de Bellevue pelo
presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.
A
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu 1,9 bilhões de
euros (R$ 10,9 bilhões) em socorro à Ucrânia para este mês. O dinheiro faz
parte de um programa de apoio do bloco ao país com orçamento de 50 bilhões de
euros (R$ 287,9 bilhões). Além disso, segundo ela, outros 1,5 bilhões de euros
adicionais vindos de fundos russos congelados estarão disponíveis a partir de
julho.
Von
der Leyen afirmou ainda que conversas para a entrada da Ucrânia na UE devem
começar ainda no fim deste mês.
Fonte:
Sputnik Brasil/Deutsche Welle
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