sexta-feira, 14 de junho de 2024

Dormir pouco pode prejudicar a memória e novo estudo explica o porquê

Diversas pesquisas já relacionaram à qualidade do sono a um melhor estado de saúde geral. Agora, um novo estudo sugere que a memória de longo prazo pode ser afetada pela privação de sono. Além disso, mesmo uma boa noite de sono após uma noite mal dormida não é o suficiente para corrigir o sinal cerebral relacionado à memória. A descoberta foi publicada na quarta-feira (12) na revista científica Nature.

Para Kamran Diba, neurocientista computacional da Escola de Medicina da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, co-autor do estudo, essas descobertas poderão levar a tratamentos direcionais para melhorar a memória, futuramente.

Os neurônios do cérebro estão interconectados e, geralmente, disparam juntos em padrões repetitivos — um deles é a ondulação de ondas agudas. Nela, um grande grupo de neurônios dispara de forma sincronizada e isso acontece em uma área do cérebro chamada hipocampo, fundamental para a formação da memória. Além disso, evidências científicas mostraram que, possivelmente, esses padrões facilitem a comunicação com o neocórtex, local onde as memórias de longo prazo são armazenadas.

Pesquisas anteriores já tinham notado que essas ondulações de ondas agudas tendem a ocorrer durante o sono profundo e, também, durante a vigília (quando estamos acordados). Quando as ondulações acontecem durante o sono, elas podem ser importantes para transformar o conhecimento de curto prazo em memórias de longo prazo.

A partir disso, e para entender melhor como a privação de sono pode afetar a memória, os pesquisadores decidiram registrar a atividade do hipocampo em sete ratos, enquanto eles exploravam labirintos ao longo de várias semanas. Alguns desses animais tiveram seus sonos perturbados regularmente, a partir de intervenções dos cientistas, enquanto outros puderam dormir à vontade.

Segundo os pesquisadores, os ratos acordados repetidamente tiveram níveis semelhantes e, até mesmo, mais elevados de atividade de ondas agudas do que os roedores que dormiram normalmente. Porém, essas ondulações foram mais fracas e menos organizadas, o que indica uma diminuição na repetição dos padrões de disparo dos neurônios.

Depois que os ratos privados de sono puderam se recuperar da intervenção, os padrões neurais anteriores foram recuperados, mas não atingiram os mesmos níveis dos ratos que puderam dormir normalmente, sem interrupções.

·        O que o estudo concluiu?

Para Loren Frank, neurocientista da Universidade da Califórnia, em São Francisco, que não esteve envolvido no estudo, “as memórias continuam a ser processadas depois de vivenciadas e que o processamento pós-experiência é realmente importante”. Em entrevista ao site da revista Nature, o especialista afirma que essa descoberta poderia explicar por que estudar muito antes de uma prova ou passar a noite inteira acordado estudando pode ser uma estratégia ineficaz.

Além disso, na visão de György Buzsáki, neurocientista de sistemas da NYU Langone Health em Nova Iorque, que tem pesquisado estas explosões desde a década de 1980, a interrupção do sono pode ser usada para evitar que memórias traumáticas sejam armazenadas a longo prazo.

 

¨      O que acontece no cérebro de um sonâmbulo? Cientistas explicam

Você é ou conhece alguém que é sonâmbulo? Esse comportamento anormal do sono — conhecido popularmente como “sonambulismo” e cientificamente como “parassonia” — é um distúrbio que acontece por uma alteração no funcionamento normal do cérebro. Nele, apesar de estar dormindo, a pessoa consegue desempenhar atividades motoras, como sentar-se na cama, caminhar e falar.

O sonambulismo é mais comum entre as crianças, mas também pode afetar cerca de 2 a 3% dos adultos, de acordo com pesquisadores do sono. Para entender melhor o que acontece no cérebro durante episódios de sonambulismo, pesquisadores do Instituto Holandês de Neurociências conduziram um novo estudo, publicado no último dia 9 na revista científica Nature Communications.

“Acreditava-se comumente que os sonhos ocorriam apenas em um estágio do sono: o sono REM. Agora sabemos que os sonhos também podem acontecer em outras fases. Aqueles que experimentam parassonias durante o sono não-REM às vezes relatam ter experiências semelhantes a sonhos e às vezes parecem completamente inconscientes (ou seja, no piloto automático)”, explica Francesca Siclari, chefe do laboratório de sonhos em que o estudo foi conduzido, em comunicado à imprensa.

O sono REM é considerado o estágio mais profundo de adormecimento, caracterizado pela paralisia temporária dos músculos do corpo, que possibilita um relaxamento completo, e dos movimentos oculares rápidos. De acordo com a Associação Brasileira do Sono, a atividade mental durante o sono REM é associada aos nossos sonhos. Já o sono não-REM é composto de três estágios, do superficial ao mais profundo.

·        Como o estudo foi feito?

Os pesquisadores investigaram as experiências e os padrões de atividade cerebral de pacientes com parassonia no sono não-REM. Para fazer esse tipo de análise, é preciso que o paciente adormeça, vivencie um episódio de sonambulismo e tenha sua atividade cerebral registrada.

“Atualmente existem poucos estudos que conseguiram superar isso. Mas com os diversos eletrodos que usamos no laboratório e algumas técnicas específicas de análise, agora podemos obter um sinal muito limpo, mesmo quando os pacientes se movimentam”, explica Siclari.

Para realizar o estudo, os pesquisadores precisaram provocar um episódio de sonambulismo em laboratório. Para isso, foram necessárias duas gravações: na primeira, o paciente dorme normalmente, seguido de uma noite em que ele deve permanecer acordado e só dormir na manhã seguinte.

Durante a segunda gravação, o paciente é exposto a som alto ao entrar na fase de sono profundo. Em alguns casos, isso pode resultar em um episódio de sonambulismo. Após esse episódio, os pesquisadores perguntaram ao paciente o que estava passando pela sua cabeça.

Em 56% dos episódios, os pacientes relataram que estavam sonhando enquanto estavam sonâmbulos. “Muitas vezes tratava-se de um infortúnio ou perigo iminente. Alguns relataram que achavam que o teto iria cair. Uma paciente achou que tinha perdido o bebê e estava vasculhando os lençóis e se levantou na cama para tentar evitar que joaninhas deslizassem pela parede e morressem”, explica Siclari.

A pesquisadora conta, ainda, que em 19% dos casos, os pacientes disseram não terem vivenciado nada em específico, mas acordaram fazendo movimentos como se estivessem em transe. Uma pequena parcela dos participantes relatou que havia vivenciado algo, mas não conseguia se lembrar o que era.

Com base nesses resultados, os pesquisadores conseguiram comparar as atividades cerebrais medidas e encontrar paralelos. De acordo com Siclari, os pacientes que sonharam durante o episódio tiveram ativações cerebrais semelhantes às que acontecem no estágio mais profundo do sono, como se estivessem sonhando — tanto imediatamente antes do episódio, quanto durante o episódio –, em comparação com os pacientes que não experimentaram nada.

A pesquisadora explica que o que determina se o paciente ficará completamente inconsciente ou se sonhará pode depender do estado em que o paciente se encontra no momento do episódio. “Se ativarmos o cérebro enquanto eles provavelmente já estão sonhando, eles parecem ser capazes de ‘fazer algo’ com a ativação, enquanto quando o cérebro está largamente ‘inativado’, comportamentos simples parecem ocorrer sem experiência”, explica.

·        Os próximos passos

A pesquisadora afirma que os resultados do atual estudo são apenas o primeiro passado para entender o que acontece com o cérebro durante um episódio de sonambulismo. Portanto, mais estudos ainda devem ser realizados.

Apesar disso, Siclari está confiante de que seu trabalho pode fornecer informações valiosas para o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento do distúrbio do sono. “As parassonias são frequentemente tratadas com medicamentos para dormir inespecíficos, que nem sempre são eficazes e podem ter efeitos colaterais negativos. Se pudermos deduzir qual sistema neural está funcionando de forma anormal, poderemos eventualmente tentar desenvolver tratamentos mais específicos”, afirma.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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