quinta-feira, 13 de junho de 2024

Criminalidade da América Latina reflete nos orçamentos de Defesa

Recém-divulgado, o relatório sobre gastos militares mundiais do Instituto de Investigação para a Paz (SIPRI) aponta um aumento nos gastos em Defesa na América Latina. Por que uma região que, historicamente, não possui tantos conflitos está se preparando para uma guerra?

Para falar do tema, a Sputnik Brasil conversou com especialistas que adiantaram que o problema da região não são ameaças militares, mas, sim, a segurança transnacional.

·        México e Colômbia veem aumento em Defesa

Do rio Bravo à Terra do Fogo, os países da América Latina viram um aumento variável em seus gastos com Defesa entre 2022 e 2023, apontou o SIPRI. No Brasil, por exemplo, o crescimento foi de 3,1%, na Colômbia, de 1,4%, no Chile, 4,9%, e o México teve uma queda de 1,5%.

Esses gastos, contudo, são postos em um maior contexto dentro do relatório do instituto. Dentro do decênio de 2014 a 2023, a tendência no Brasil foi uma queda de 12%, enquanto na Colômbia um aumento de 20%. A situação é a mesma para o Chile, que viu um crescimento de 4,9% e para o México, que subiu grandiosos 55%.

Essas medidas, de curto e médio prazo, já demonstram as primeiras pistas para entender os gastos militares no continente, de que antes de tudo é preciso analisar "caso a caso e entender em quais períodos há efetivamente um aumento desses gastos em defesa", diz Alana Camoça, professora de relações internacionais e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Ásia (LabÁsia), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

"No entanto, é crucial reconhecer que esse aumento nos gastos da América Latina não implicou em um crescimento ininterrupto nos gastos em Defesa desses países desde 2014, já que os gastos oscilaram em consonância com a economia e com os interesses dos próprios países."

·        Criminalidade e conflitos internos

Para Guilherme Frizzera, doutor em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e coordenador de relações internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter, a recente militarização dos países da América Latina não se dá no contexto dos "termos clássicos", isto é, "por conta de ameaças provenientes de outros Estados".

"A militarização crescente ocorre por conta de assuntos que tradicionalmente estão ligados à segurança pública, principalmente no combate a organizações criminosas ligadas ao narcotráfico, que estão cada vez mais sofisticadas e que se espalham pelas fronteiras, em um processo constante de ramificação."

Camoça, que atua também como pesquisadora do Laboratório de Estudos em Economia Política da China (LabChina) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que a região é frequentemente percebida pelas altas taxas de criminalidades, "que levantam questões de segurança transnacional".

É o caso da República Dominicana, que divide sua ilha com o Haiti, país que se encontra assolado pela violência de gangues, exacerbada pela tentativa de assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse em 2021. Entre 2022 e 2023, o crescimento nos gastos dominicanos em Defesa foi de 14%, aponta o relatório.

É também o caso do México e da Colômbia, destacam os especialistas.

No México, o governo de Andrés Manuel Lopez Obrador "militarizou o combate ao narcotráfico", destaca Frizzera. "Essa militarização passou a incluir as Forças Armadas como um agente fundamental para a política de segurança pública mexicana, o que fez o governo destinar mais verba para o setor de Defesa."

Além disso, o México sofre uma pressão por parte dos EUA para apertar as políticas tanto de combate ao narcotráfico quanto de reforço à contenção das ondas migratórias da América Central e do Sul.

Já na Colômbia, Camoça destaca que há anos o governo trava um conflito interno com grupos paramilitares de esquerda e direita, que, apesar de negociações "de paz e diálogo com o governo", continuam atuando no país.

"Apesar das negociações de paz e do diálogo entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) na década passada, em 2023, por exemplo, um grupo de ex-comandantes das FARC anunciou seu retorno à luta armada", afirmou a especialista.

Além disso, o país é outro que recebe pressões dos EUA para resolver a questão do narcotráfico através do Plano Colômbia.

O Chile, por sua vez, é o país no qual as Forças Armadas sempre foram melhor consolidadas, sublinhou Frizzera.

Com o governo de Augusto Pinochet (1973–1990), os militares chilenos obtiveram uma série de regalias, desde uma aposentadoria especial e um sistema de saúde próprio a direitos a rendimentos provenientes da exportação de cobre.

Além disso, "o Chile é um país que possui litígios territoriais ainda não resolvidos com o Peru e a Bolívia", o que serve de pretexto para a "necessidade do aumento em gastos com a Defesa", diz Frizzera.

·        Argentina compra caças norte-americanos F-16 da Dinamarca

A Argentina, desde sua redemocratização, vem adotando uma política quase que de "sucateamento" das Forças Armadas, destaca Frizzera. "Nenhum governo democrático argentino destinou verbas consideráveis para o setor de Defesa."

No entanto, "isso mudou com a chegada de Javier Milei", com o novo presidente argentino investindo no setor. "Gerando um contrassenso à ideia de que os gastos em defesa são desnecessários em um país que passa por uma gravíssima crise econômica."

De acordo com Erick Andrade, doutorando em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), a recente compra de 24 caças F-16 da Dinamarca se deu ainda como forma também de se aproximar geopoliticamente dos Estados Unidos, que se aproveitaram para "mitigar a influência chinesa na região da América do Sul".

·        Base única de Defesa melhoraria a situação

Criado dentro da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) quando o organismo estava funcional, o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) "poderia contribuir significativamente para promover uma maior colaboração em questões de segurança na América", afirma Camoça.

Inaugurado em 2008, o órgão tinha como objetivo permitir uma maior colaboração dos países da América do Sul em questões tanto de segurança, com elaborações de acordos e políticas públicas conjuntas, como de defesa, com intercâmbios de pessoal, realização de exercícios militares conjuntos e a construção de uma Base Industrial de Defesa em comum.

"Em um objetivo maior e mais complexo, essa indústria militar atenderia a construção e consolidação de uma identidade comum de defesa", destaca Frizzera.

Com um órgão como o CDS, o combate às ameaças transacionais que atuam no continente seriam enfrentadas mais efetivamente, partindo de sistemas de segurança em comum. "O CDS tem o potencial de fortalecer a unidade regional e aumentar a transparência e a confiança mútua em assuntos militares entre os países", destacou Camoça.

O tema também foi abordado por Andrade, que ressaltou que "a realidade estrutural dos países sul-americanos torna essa ideia inviável a curto e médio prazo":

"A criação de um arranjo regional, como a Unasul, em especial do seu Conselho de Defesa, se torna essencial para evitar instabilidades e corridas armamentistas."

 

¨      Ocidente está pronto para enfraquecer sua segurança em prol da Ucrânia, alerta general francês

O Ocidente decidiu enfraquecer a sua própria segurança em prol do fornecimento de armas à Ucrânia, declarou o coronel francês aposentado Bertrand Darras em entrevista ao canal de TV LCI.

"Nossos líderes parecem pensar que podemos enfraquecer temporariamente nossas forças, e nós já observamos isso em relação a certos armamentos. Foi o que todos fizeram. Nos EUA, por exemplo, os estoques de munições foram significativamente reduzidos, porque eles os tiraram das reservas do Exército e os enviaram para a Ucrânia", disse ele.

Segundo o militar aposentado, os EUA e a Europa não estão conseguindo dar conta do apoio à Ucrânia e estão "se agarrando a qualquer palha" drenando suas reservas. Como exemplo, Darras citou a situação com os caças Mirage 2000-5 para Kiev. O coronel disse que a França tem apenas 26 dessas aeronaves e entregar algumas delas à Ucrânia enfraqueceria o país.

"Os líderes ocidentais acreditam que podemos fazer esse sacrifício", concluiu o coronel aposentado.

Moscou tem repetidamente afirmado que a assistência militar ocidental não augura nada de bom para a Ucrânia e apenas prolonga o conflito, e os meios de transporte com armas se tornam um alvo legítimo para o Exército russo.

De acordo com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, os EUA e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão diretamente envolvidos no conflito, incluindo não apenas o fornecimento de armas, mas também o treinamento de militares ucranianos no território do Reino Unido, Alemanha, Itália e outros países.

¨      Após receber garantia de que não ajudará Ucrânia, Orbán diz que não vai barrar apoio da OTAN a Kiev

Budapeste tem estado em constante desacordo com outros países da OTAN sobre as políticas da aliança para Ucrânia. No entanto, após uma visita do secretário-geral à capital húngara, o país decidiu não bloquear ajuda, mas ao mesmo tempo, não vai se envolver nas negociações.

A Hungria não bloqueará as decisões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobre o fornecimento de apoio à Ucrânia, mas concordou que não se envolverá, disse nesta quarta-feira (12) o primeiro-ministro Viktor Orbán durante uma visita do secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg.

"A Hungria deixou claro hoje que não bloqueará decisões da OTAN que, embora sejam diferentes da nossa avaliação racional da situação, são compartilhadas e defendidas pelo resto da aliança", disse Orbán em conferência de imprensa conjunta, segundo a Reuters.

Ao mesmo tempo, o premiê informou que recebeu garantias de Stoltenberg de que Budapeste não teria de fornecer financiamento para Kiev ou enviar pessoal para lá.

A mídia reporta que a visita do secretário-geral ocorre um dia depois da cúpula de líderes dos Estados do flanco oriental da OTAN na capital da Letônia, Riga. A Hungria não compareceu, em um sinal das suas diferenças com muitos dos seus vizinhos sobre o apoio à Ucrânia.

No mês passado, o ministro das Relações Exteriores húngaro, Peter Szijjarto, rotulou os planos de apoio da aliança à Ucrânia como uma "missão maluca", conforme noticiado.

"O que o primeiro-ministro e eu concordamos hoje é que a Hungria não impedirá outros aliados de chegarem a um acordo sobre a promessa de apoio financeiro à Ucrânia e de um papel de liderança para a OTAN na coordenação do apoio", afirmou Stoltenberg, citado pela agência britânica.

O encontro de líderes ocorrido ontem (11) fez parte dos preparativos para uma cúpula da OTAN em Washington, em julho, na qual os membros deverão chegar a um acordo sobre um pacote de apoio anual de € 40 bilhões (R$ 231 bilhões) para a Ucrânia.

Apesar do profundo envolvimento da aliança militar com Kiev e o envio de centenas de milhares de armas ocidentais ao território ucraniano, as tropas russas continuam a avançar no terreno. Na terça-feira (11), o Ministério da Defesa russo anunciou que unidades das forças russas libertam os povoados de Artyomovka e Timkovka.

¨      Noruega insiste com apoio à Ucrânia e anuncia pacote de € 240 milhões em defesa antiaérea

"A Noruega contribuirá com € 240 milhões para a defesa aérea da Ucrânia. Hoje [11], a Alemanha anunciou que entregará mais 100 mísseis de defesa aérea Patriot à Ucrânia, em uma iniciativa com a Dinamarca, Países Baixos e Noruega. A Noruega contribuirá com € 125 milhões para esta iniciativa", publicou o órgão.

O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, especificou na véspera que 32 mísseis Patriot dos 100 em questão já estão na Ucrânia.

No final de maio, o primeiro-ministro norueguês Jonas Gahr Store e o líder ucraniano Vladimir Zelensky assinaram um acordo de cooperação em segurança que envolve a alocação de cerca de 330 milhões de dólares em ajuda militar para fortalecer a defesa aérea da Ucrânia, aumentar a sua capacidade de combate naval e treinar as suas tropas.

Moscou alertou repetidamente que a Aliança Atlântica está "brincando com fogo" ao fornecer armas à Ucrânia, e que os comboios estrangeiros com armas seriam um "alvo legítimo" para o Exército russo assim que atravessassem a fronteira.

Os Estados Unidos e a OTAN, segundo o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, estão diretamente envolvidos no conflito na Ucrânia, não só através do fornecimento de armas, mas também através da formação de pessoal no território de Reino Unido, Alemanha, Itália e outros países.

¨      Kim diz que seu país é um 'camarada invencível' da Rússia

Marcando a comemoração do Dia da Rússia, Kim afirmou que seu encontro com Putin em uma instalação de lançamento espacial russa em 2023 elevou os laços de seu "relacionamento estratégico centenário".

"As relações de amizade e cooperação entre a Coreia do Norte e a Federação da Rússia transformaram-se em laços invencíveis entre camaradas de armas e em uma relação estratégica de longo alcance, graças à nossa significativa reunião no Cosmódromo de Vostochny, em setembro do ano passado, e estão constantemente evoluindo para um novo máximo", afirmou Kim, citado pela agência KCNA.

O líder norte-coreano ainda afirmou que Pyongyang "sempre se alegra com as conquistas alcançadas na Rússia, um vizinho amigo, e está estendendo total apoio, incentivo e solidariedade à causa sagrada do Exército russo e do povo que está avançando orgulhosamente em direção à justiça e à verdade".

Na semana passada, Putin declarou que a Rússia desenvolverá relações com a Coreia do Norte, quer outros países gostem ou não.

"Quanto às relações com a Coreia do Norte [...] nossos vizinhos, desenvolveremos relações, quer alguém goste ou não", disse Putin em uma reunião com representantes de agências de notícias internacionais à margem do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês).

No final do mês passado, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse à Sputnik que o presidente russo foi convidado a fazer uma visita oficial à Coreia do Norte, e que a mesma "estava sendo preparada" e as datas "serão divulgadas em breve".

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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