segunda-feira, 3 de junho de 2024

Como funcionava o grupo religioso liderado pela família de Djidja Cardoso, encontrada morta com sinais de overdose

A morte da empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, na última terça-feira (28), em Manaus, revelou um grupo religioso denominado “Pai, Mãe, Vida”, liderado por Cleudimar e Ademar Cardoso, mãe e irmão de Djidja, além de outros três funcionários da família. Todos estão presos.

Segundo a Polícia Civil, o caso estava sendo investigado há 40 dias, e Djidja Cardoso também fazia parte do esquema. A suspeita é que a morte da ex-sinhazinha foi causado por overdose de cetamina, pois o corpo dela foi encontrado pelos policiais com sinais de uso excessivo dessa substância

O grupo realizava rituais em que promoviam o uso indiscriminado de cetamina, droga sintética de uso humano e veterinário. No caso de pessoas, a droga é usada como anestésico, analgésico e até no tratamento da depressão. Além disso, seu uso recreativo também é popular, mas a prática é ilegal desde 1980.

As investigações indicam, ainda, que algumas vítimas do grupo foram submetidas a violência sexual e aborto.

As investigações apontam que os Verônica, Claudiele e Marlisson, seriam os encarregados de comprar e administrar a droga para quem quisesse experimentá-la.

Além disso, eles também tentavam convencer outros funcionários e pessoas próximas à família a se associarem ao grupo, onde a cetamina era usada.

<><> Entenda como funcionava o organograma do grupo

•        Os líderes

De acordo com as investigações, o grupo era liderado pela mãe e pelo irmão de Djidja. Eles acreditavam que:

•        Ademar (irmão) era Jesus Cristo,

•        Cleudimar (mãe) era Maria

•        Djidja seria Maria Madalena.

Eles defendiam o uso da cetamina como uma forma de alcançar a elevação espiritual.

•        Locais dos rituais e como agiam

De acordo com a polícia, as evidências apontam que os rituais eram realizados dentro dos salões de beleza e na residência da família. Nos locais foram encontrados ampolas de cetamina, dezenas de seringas e agulhas.

Em publicações nas redes sociais, o irmão da ex-sinhazinha se apresentava como um tipo de “guru” que poderia ajudar as pessoas a “sair da Matrix”, que seria ir para o "plano superior" citado pelo grupo.

“Saia da Matrix e venha viver esse amor em ‘Uno’ comigo! Me manda um direct se você estiver perdido em sua trajetória existencial, se quiseres respostas que nunca conseguiram te dar, eu posso te ajudar”, disse em uma das publicações.

Ademar e a mãe também possuem o nome do grupo tatuado no corpo.

“Ao longo das investigações, tomamos conhecimento de que Ademar também foi responsável pelo aborto de uma ex-companheira sua, que era obrigada a usar a droga e sofria abuso sexual quando estava fora de si. A partir desse ponto, as diligências se intensificaram e identificamos uma clínica veterinária que fornecia medicamentos altamente perigosos para o grupo religioso”, disse Cícero Túlio, delegado responsável pelo caso.

A repercussão da morte de Djidja fez com que a Polícia Civil desencadeasse a Operação Mandrágora, que culminou nas prisões preventivas dos cinco membros do grupo religioso.

Durante buscas realizadas na tarde de quinta-feira (30) e na manhã de sexta (31), foram apreendidas centenas de seringas, produtos destinados a acesso venoso, agulhas e cetamina. Além de aparelhos celulares, documentos e computadores na residência da família, no salão de beleza e em uma clínica veterinária.

•        Justiça mantém prisões

Gerente do salão da família, mãe e irmão de Djidja Cardoso presos em Manaus — Foto: Rede Amazônica

Após audiência de custódia, o Tribunal de Justiça do Amazonas (Tjam) manteve, na sexta-feira, as prisões da mãe, do irmão e de duas funcionárias da ex-sinhazinha.

Conforme o Tjam, o processo tramita sob segredo de justiça.

•        As prisões que foram mantidas são de:

•        Ademar Farias Cardoso Neto, irmão de Djidja Cardoso.

•        Cleusimar Cardoso Rodrigues, mãe de Djidja.

•        Verônica da Costa Seixas, gerente de salões de beleza Belle Femme, que pertence à família Cardoso .

•        Claudiele Santos da Silva, maquiadora do mesmo salão.

Todos foram encaminhados para unidades prisionais em Manaus.

Na tarde desta sexta, o quinto investigado no caso, o maquiador Marlisson Vasconcelos Dantas se entregou à polícia.

Segundo a polícia, grupo responderá por tráfico de drogas, associação para o tráfico, por colocar em risco a saúde ou a vida de terceiros, falsificação, corrpção, adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos e medicinais, aborto induzido sem o consentimento da gestante, estupro de vulnerável, charlatanismo, curandeirismo, sequestro, cárcere privado e constrngimento ilegal.

•        Morte suspeita de overdose

Segundo o delegado Danniel Antony, a suspeita é que Djidja possa ter sofrido uma overdose devido ao uso indiscriminado da cetamina durante um dos rituais do grupo religioso liderada pela família.

“Eles induziam os seguidores a acreditar que, com a utilização compulsória da cetamina iriam transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação”, explicou o delegado.

De acordo com as investigações, o corpo da ex-sinhazinha teria sido encontrado pelos policiais com sinais de overdose e sinais da utilização da substância injetável. Ainda no dia da morte de Djidja, na casa dela, a polícia encontrou frascos de cetamina enterrados no quintal, além de caixas da droga, seringas, frascos, bula e cartelas de remédios na lixeira da propriedade.

Agora, segundo a polícia, as investigações tem como objetivo identificar as suspeitas de que a empresária teria morrido em decorrência de uma overdose causada pelo uso uso excessivo da droga cetamina e se isso teria acontecido durante um dos rituais.

¨      Djidja já era investigada pela polícia junto com a família antes de ser encontrada morta

A ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, já era investigada pela polícia por envolvimento no grupo denominado “Pai, Mãe, Vida”, antes de ter sido encontrada morta na casa onde morava, na última terça-feira (28). Segundo a polícia, o grupo forçava uso de cetamina em rituais na capital do Amazonas

As investigações feitas pelo 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), iniciaram há aproximadamente 40 dias, quando Djidja ainda estava viva.

Na ocasião, a polícia identificou que o grupo coletava a droga cetamina em clínicas veterinárias e realizava a distribuição do fármaco entre os funcionários da rede de salões de beleza da família Cardoso.

O grupo era liderado pela mãe, Cleusimar, e pelo irmão da ex-sinhazinha, Ademar Cardoso. A polícia também investiga se há relação entre a morte de Djidja e a atuação do grupo, que já era investigado quando ela foi encontrada morta.

A suspeita é que Djidja possa ter sofrido uma overdose devido ao uso indiscriminado da cetamina durante um dos rituais da seita religiosa liderada pela família, segundo o delegado adjunto da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), Danniel Anthony.

“Eles induziam os seguidores a acreditar que, com a utilização compulsória da cetamina iriam transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação”, explicou o delegado.

Segundo o delegado Danniel Antony, a morte de Djidja está envolta na possibilidade do uso de medicamentos fármacos narcolépticos e psicotrópicos, havendo também a possibilidade de ter ocorrido um excesso da droga que possa tê-la levado à morte em relação à seita da família.

“Estamos investigando a situação, mas a questão da autoria de alguém que possa tê-la medicado ainda está sob investigação na DEHS. Estamos em uma fase preliminar em relação à coleta de depoimentos e informações, incluindo áudios e mídias que circulam em redes sociais e aplicativos de mensagens, para verificar sua veracidade”, detalhou Antony.

·        Djidja revelou que lutava contra depressão

Dilemar Cardoso Carlos da Silva, que era conhecida como Djidja Cardoso, tinha 32 anos. Entre 2016 e 2020, ela encantou os torcedores do Garantido ao representar a sinhazinha da fazenda, personagem filha do dono da fazenda, que representa a história branca no espetáculo do boi no Festival Folclórico de Parintins.

Após se aposentar como sinhazinha, ela passou a trabalhar ao lado da família no comando de uma rede de salão de beleza no Amazonas.

Meses antes de morrer, ela revelou, por meio de postagens em redes sociais, que lutava contra a depressão.

 

¨      Caso sinhazinha do Boi já tem 5 presos e 11 crimes investigados

O inquérito sobre a morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido investiga dez crimes envolvendo familiares de Djidja Cardoso e funcionários de um salão de beleza e de uma clínica veterinária.

Além do homicídio com dolo eventual da influenciadora, há ainda a apuração de crimes relacionados ao tráfico de drogas, cárcere privado e aborto.

Na tarde dessa sexta-feira (31/5) a polícia prendeu a quinta pessoa apontada como participante de um esquema ilegal que envolvia uma seita religiosa e o uso de anestésico de cavalos para fins alucinógenos.

A CNN obteve acesso ao inquérito de 238 páginas sobre a morte da antiga personagem do festival de Parintins. Ele traz uma série de depoimentos de pessoas relacionadas com o grupo, além de fotos e vídeos que mostram a ketamina, ou cetamina, substância usada como anestésico para animais de grande porte.

Os investigadores já recolheram provas que apontam para um esquema ilegal que envolvia uma seita familiar, um salão de beleza e uma clínica veterinária.

Os indícios apontam para que a ex-sinhazinha era membro de uma espécie de grupo religioso que a intitulava “Maria Madalena”. O irmão dela seria “Jesus” e a mãe dos dois, a figura de “Maria”.

O irmão e a mãe de Djidja foram presos, assim como outros três funcionários — uma gerente, um maquiador e uma maquiadora — do salão de beleza da família. Ao todo, cinco pessoas estão detidas pela participação no esquema.

Contra o irmão de Djidja, Ademar Farias Cardoso Neto, há várias acusações. Ele teria sido responsável pelo estupro, cárcere privado, sequestro e aborto de uma namorada, que também foi envolvida nas ações da seita “Pai, Mãe e Vida”. A CNN tenta contato com a defesa de Ademar.

Como a ketamina é uma substância de uso restrito para veterinários, a clínica que supostamente fornecia o item para a seita também está sendo investigada.

Neste caso, há o crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Os policiais incluíram também no inquérito os crimes de tráfico e associação ao tráfico.

Contra os supostos líderes da seita, mãe e irmão de Djidja, há ainda acusações de charlatanismo e curandeirismo. Basicamente, o inquérito estava avançado pois o tráfico do anestésico de cavalos já estava sendo investigado. A morte de Djidja só teria acelerado esse processo.

<><> Veja abaixo a lista de crimes investigados:

  1. homicídio com dolo eventual
  2. tráfico de drogas
  3. associação para o tráfico
  4. perigo para a vida ou saúde de outrem
  5. falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
  6. aborto provocado sem consentimento da gestante
  7. estupro de vulnerável
  8. charlatanismo
  9. curandeirismo
  10. sequestro e cárcere privado
  11. constrangimento ilegal

 

Fonte: g1/CNN Brasil

 

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