Cetamina: entenda o que é a droga usada
pelo grupo ‘Pai, Mãe, Vida” em ritual
Droga é usada como
anestésico, analgésico e até no tratamento da depressão, mas também é popular
com o uso recreativo -- o que é ilegal. Frasco com a substância foi encontrado
na casa onde Djidja, ex-sinhazinha do Garantido, foi achada morta.
O que é cetamina?
A substância cetamina
(também grafada como quetamina ou ketamina, por causa de sua origem no inglês -
ketamine) é um anestésico de uso humano e veterinário que se tornou uma droga
ilícita na década de 1980.
O fármaco é
considerado um anestésico dissociativo, isto é, que causa efeitos alucinógenos,
sensação de bem-estar e tem potencial sedativo quando usado como droga
recreativa.
O primeiro caso da
utilização da cetamina como droga (ou seja, para fins recreativos) foi
registrado nos anos 1970, nos Estados Unidos. Na década de 1990, o uso se
disseminou no Reino Unido, especialmente em clubes noturnos e festas conhecidas
como raves.
No Brasil, o tráfico
utiliza essa substância para produzir uma droga sintética traficada com o nome
de "special k", “Key”, “Keyla” ou “Keta”.
• Usada como anestésico, analgésico e
contra depressão
A substância tem
também histórico de uso como remédio veterinário, como tranquilizante de
cavalos. Além de ser anestésica e analgésica, ela também é usada no combate a
sintomas de quadros de saúde mental.
Rodrigo Leite, médico
psiquiatra e professor colaborador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas, explica que a droga é eficaz no tratamento de doenças como a
depressão.
"Ao longo do
tempo, verificou-se que a cetamina tem potencial para promover melhoria do
humor e aumento da disposição. Com isso, foram iniciados estudos para o uso
desse fármaco no tratamento de quadros depressivos", detalha Rodrigo
Leite.
Em 2020, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o cloridrato de escetamina,
um antidepressivo na forma de spray inalável indicado para adultos com
depressão resistente a tratamentos convencionais e para pessoas com transtorno
depressivo maior (TDM) que tenham pensamentos ou atos suicidas.
• Perigos do uso descontrolado
O que os especialistas
alertam é que como medicamento o uso é controlado e com rigoroso acompanhamento
médico, já que há risco de dependência.
"Apesar do uso
como droga terapêutica, é preciso lembrar do risco considerável de abuso e
dependência quando não há controle. A cetamina deve ser administrada somente em
ambiente hospitalar, de forma supervisionada e com orientação médica", alerta
Rodrigo Leite, médico psiquiatra.
Recentemente, o ator
Matthew Perry, de “Friends”, morreu devido aos efeitos agudos de ketamina.
Perry estava em terapia de infusão de ketamina para tratamento de transtornos.
No momento da morte, no entanto, ele não fazia a terapia e a suspeita é que tenha
administrado ele mesmo a substância.
• Mãe e irmão de ex-sinhazinha lideravam
grupo que forçava uso de droga em rituais, diz polícia
A investigação da
Polícia Civil que levou às prisões da mãe e irmão da empresária e ex-sinhazinha
do boi-bumbá Garantido, Djidja Cardoso, achada morta em Manaus, identificou que
os dois mantinham um grupo denominado “Pai, Mãe, Vida”, que forçava uso de cetamina
em rituais na capital do Amazonas. Funcionários do salão da família também
foram presos.
Ao todo, a Justiça do
Amazonas expediu cinco mandados de prisão preventiva. Na lista de crimes, estão
tráfico de drogas, associação para o tráfico, e também pelo crime de estupro,
em nome do irmão de Djidja.
O grupo era liderado
pela mãe e pelo irmão da ex-sinhazinha. A polícia também investiga se há
relação entre a morte de Djidja e a atuação do grupo.
Cleusimar e Ademar
Cardoso, mãe e irmão da ex-sinhazinha, e Verônica da Costa, gerente da rede de
salões de beleza, chamada Belle Femme, que pertence à família, foram presos sob
efeito de drogas enquanto tentavam fugir da polícia na tarde de quinta-feira
(30). Eles foram localizados na casa onde a Djidja foi encontrada morta, no
bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus.
Na residência, a
polícia apreendeu materiais como seringas, anestésicos, medicamentos de uso
controlado e frascos de cetamina. Além de computadores e uma mala que devem ser
periciados.
Os três presos foram
levados para o 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP), mas não foram ouvidos
durante a noite. Segundo a advogada de defesa, os clientes estavam sob efeito
de drogas e por isso não tinham condições de falar em depoimento.
"Nossa intenção é
que eles recebam tratamento", justificou Lidiane Roque, advogada de defesa
dos familiares de Djidjia e da gerente do Belle Femme.
Horas depois,
Claudiele Santos da Silva, que trabalhava como maquiadora no salão da família,
se entregou na sede do 1º DIP, acompanhada de um advogado. Ela é investigada
com base nos artigos 131 e 284 da Lei 2848, que fala sobre a prática de
transmitir doenças por meio de material contaminado e também prescrever,
ministrar ou aplicar qualquer substância.
O advogado de
Claudiele informou à imprensa que ela é apenas uma mera prestadora de serviço
do salão e que vai procurar provar a inocência dela.
Marlisson Vasconcelos
Dantas, o quinto investigado, que atuava como cabeleireiro da rede Belle Femme,
não tinha sido preso ou se entregado até a publicação desta reportagem.
• Como atuava o grupo
De acordo com
informações apuradas pela Rede Amazônica, a polícia identificou a existência do
grupo “Pai, Mãe, Vida”, que classificou como seita, e que promovia o uso e
comercialização de cetamina, em Manaus.
O grupo também fazia
aplicação forçada da substância em integrantes e obrigavam os funcionários de
uma das unidades do Belle Femme a participar da doutrina.
A cetamina é
considerada um anestésico dissociativo, isto é, que causa efeitos alucinógenos,
sensação de bem-estar e tem potencial sedativo quando usado como droga
recreativa. Em doses menores, quem consome a substância pode se sentir eufórico
e ter episódios de sinestesia – ou seja, "ver" sons e
"ouvir" cores.
As investigações
indicam, ainda, que algumas vítimas do grupo foram submetidas a violência
sexual e aborto.
Drogas apreendidas com
a família de Djidja Cardoso, em Manaus — Foto: Catiane Moura, da Rede Amazônica
Conforme a apuração
feita pela Rede Amazônica, a mãe e irmão de Djidja administravam a rede de
salões de beleza, que era utilizada como ponto de distribuição de cetamina. Os
dois tinham a ajuda de Verônica, Marlisson e Claudiele, que são apontados como
responsáveis pela compra, distribuição e aplicação da substância entre os
membros da organização e vítimas.
A cetamina era
adquirida, sem os devidos controles, em uma clínica veterinária na Zona Oeste
de Manaus, local em que supostamente se realizava a guarda, e distribuição do
anestésico sem a observância das exigências legais e retenção de receituário.
A ex-sinhazinha também
era alvo da investigação e com a repercussão da morte dela a Polícia Civil
desencadeou a operação para prender os outros suspeitos de envolvimento na
organização criminosa.
Djidja foi encontrada
morta por volta das 6h de terça (28). O corpo passou por exame no Instituto
Médico Legal (IML).
"No momento, a
causa da morte ainda não foi determinada e só poderá ser confirmada após a
realização do exame necroscópico. As investigações em torno do caso estão em
andamento, e, por isso, mais informações não podem ser divulgadas",
informou a Polícia Civil, em nota.
Após a morte de
Djidja, viralizaram nas redes sociais comentários que diziam que a mãe, o irmão
e outros funcionários do salão costumavam usar drogas na casa onde ela foi
encontrada morta.
Uma familiar chegou a
fazer uma publicação em uma rede social onde dizia que a casa onde a família
morava teria se tornado uma "cracolândia", além de que já teriam
tentado internar Djidja, mas eram impedidos pela mãe dela.
• Djidja revelou que lutava contra
depressão
Dilemar Cardoso Carlos
da Silva, que era conhecida como Djidja Cardoso, tinha 32 anos. Entre 2016 e
2020, ela encantou os torcedores do Garantido ao representar a sinhazinha da
fazenda, personagem filha do dono da fazenda, que representa a história branca
no espetáculo do boi no Festival Folclórico de Parintins.
Após se aposentar como
sinhazinha, ela passou a trabalhar ao lado da família no comando de uma rede de
salão de beleza no Amazonas.
Meses antes de morrer,
ela revelou, por meio de postagens em redes sociais, que lutava contra a
depressão.
• Homenagem do Boi Garantido
Familiares, amigos e o
Boi Bumbá Garantido prestaram suas últimas homenagens à ex-sinhazinha Djidja
Cardoso, durante o velório na quarta-feira (29).
O Boi Bumbá Garantido,
conduzido por Batista Silva, chegou ao local da cerimônia e prestou homenagem à
Djidja. No ato, ele representou o carinho que a sinhazinha costuma fazer no boi
durante as apresentações no Festival Folclórico de Parintins e se emocionou com
a despedida.
Fonte: g1
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