Cercado
por fora, minado por dentro
Lula
é um líder político que transcende aos seus colegas do século 21. Sua
genialidade se caracteriza pela sensibilidade em perceber, intuir e aprender
com a realidade, bem como em saber comunicar-se com o povo. Sua formação
teórica nunca foi a de um intelectual acadêmico e sim a de um intelectual
orgânico, oriundo da classe trabalhadora e a ela sempre ligado.
Lula
postula o seu agir de um elemento teleológico. O que aprende em teoria é
colocada a serviço de sua práxis política. Não sendo produto da academia, Lula
aprende com a sua própria história e busca transformar-se.
Toda
experiência nos ensina e as vezes nos transforma.
Ninguém
deseja a prisão para ninguém, pois em si já é uma barbárie, mas, sem pudor,
pois fui prisioneiro político, posso dizer que também é uma experiência que,
dependendo das condições, é muito rica e produz um crescimento singular.
Lula
transformou a prisão num ambiente de estudos e de exercício físico, transformou
sua solidão em reflexão do passado e do que lia e assistia.
O
ativismo político do passado não lhe possibilitou o tempo que a prisão o
obrigou a ter e soube aproveitar muito bem, inclusive preparando o casamento
com a sua nova paixão, a hiperativa e assertiva Janja, seu esteio
emocional.
Zé
Dirceu, preso, escreveu suas memórias, de enorme contribuição à história.
Lula,
preso, teve um ativismo limitado, à distância, mas foram ilimitados o
seu aprendizado teórico e as lições que tirou da história geral e da que viveu
como protagonista.
Sua
declaração no jornal argentino P12, foi um reconhecimento e uma mensagem de um
valor, em si, revolucionário, embute aí a autocrítica que muitos da esquerda
esperavam e a indicação de um novo caminho.
“Eu acho que se eu conhecesse o tanto de história que eu conheço
hoje há 50 anos atrás, eu teria virado um revolucionário. Por não saber, eu
virei um político democrata. A diferença é que tenho lado. ” (Lula).
Conhecer
tanto a história universal como a do Brasil vai ao encontro da concepção de
que “A história de toda sociedade até nossos dias é a história das
lutas de classe” (Marx e Engels). Conceber a história cientificamente
é reconhecer que a luta de classes é o motor da evolução, transformação e
revolução social.
A
academia, detentora do saber, não faz revolução, mas estudantes e
trabalhadores, juntos, têm o potencial de fazer, à medida que incorporem a
teoria e a transformem em força material, em armas da crítica.
Para
ser revolucionário não é preciso certidão de nascimento, nem atestado de saúde
e nem pedir licença a quem quer que seja, é agir na teoria e na prática para a
organização e consciência da classe trabalhadora, na perspectiva de seu
empoderamento, com o objetivo da superação do sistema que aliena, oprime e
explora a maioria esmagadora do país.
O
conhecimento é um poder libertador. Conhecer os 388 anos de escravidão e os 29
anos de autoritarismo no Brasil é formar a necessária consciência de rejeição,
base para elaborar um projeto de nação e sonhar com uma sociedade antítese
desse passado traumático.
Extraio
também da declaração do Lula o critério para aliança programática, ou seja, com
aqueles democratas que têm lado, que estão comprometidos com os interesses do
povo.
Lula
em liberdade mudou a correlação de forças, contudo, não bastou, é preciso saber
qual é o norte, o da crença infantil na conciliação de classes ou o da luta de
classes, na perspectiva de que haverá um momento da história na qual a ruptura
será inevitável, contudo, pode ser para retroceder (como o golpe de 2016 e o
governo bolsonarista) ou para um novo poder, um novo Estado.
Humanizar
o capitalismo é impossível, vai de encontro a sua lógica, razão histórica e
modo de ser, amenizar seus efeitos deletérios será sempre fruto da luta de
classes, são conquistas e não benesses, como a história NOS ENSINA.
Para
fazer luta de classes é necessário fazê-la em três níveis, econômico,
social e político.
O
viés eleitoral não deve ser prevalente, porque é um jogo sujo, trapaceiro,
aético, como recentíssimo tivemos o veto do presidente derrubado, inclusive por
petistas, quanto às saídas de presos, que fazem jus perante à lei, quando não
foi o Lula o atingido, mas os direitos humanos a grande vítima.
A
preparação para a ruptura não se faz quando a luta de classes assumir esse
estágio de antagonismo, mas desde já e sempre, através das atividades perenes
de formação, organização e participação (FOP) das classes
trabalhadoras e da juventude estudantil.
A
luta atual é pela recomposição do Estado democrático de direito e defesa da
soberania, portanto, nela só não entram os bolsonarista entreguistas e
nazifascistas.
A
frente ampla eleitoral virou frente amplíssima no governo, com os próprios
derrotados, qual a lógica?
O
resultado é que Lula está cercado por fora, minado por dentro.
O
governo não funciona como um time!
É
imperativo reconhecer que a frente amplíssima governamental não gerou
resultados positivos, pelo contrário, está minando a credibilidade do governo e
levando os eleitores do Lula à frustração.
Se
somado todos os congressistas dos partidos que estão no governo em cargos de
ministros e de segundo e terceiros escalões daria uma base majoritária de 289
deputados na Câmara e 48 no Senado, entretanto, como não há fidelidade ao
governo do qual fazem parte, o governo tem uma oposição majoritária em ambas as
casas.
Quem
são os responsáveis pelo arranjo cujo resultado depende do Lira e/ou Pacheco ou
é derrota certa?
O
golpe de 2016 e a intentona de 8/01 produziram males trágicos à nação, e que
não pode haver perdão aos golpistas, mesmo que façam autocrítica prática, sob
pena de virarmos um povo sem dignidade e uma nação com o DNA da impunidade.
Os
governos progressistas no Brasil foram historicamente cercados pelo três êmes –
militares, mídia, mercado. Três êmes e mais o i, o i de imperialismo. MMMI,
históricos inimigos da democracia e do bem-estar social do povo.
Nesta
conjuntura acresce o Banco Central, corrompido pelo seu chefe, Bob Neto, o
Congresso do ilegítimo semiparlamentarismo, chefiada por Lira, o jagunço da
chantagem e por Pacheco, o falso democrata.
O
negacionismo à ciência gerou o genocídio de pelo menos 400 brasileiros mortos
que poderiam ter sido poupados, novamente o negacionismo à ciência produziu o
descaso com as previsões de fenômenos climáticos de consequências calamitosas
no RS, cujos responsáveis se não forem processados continuarão a perpetuar
a sobrevalência dos interesses do capital sobre a vida.
O
Lula da prisão estava mais firme, lúcido e assertivo!
Esse
espirito deve voltar para dar o cavalo de pau e reformar o governo com
urgência, antes que o cerco e as minas internas se transformem em forca.
¨
Quando a ideologia
capitalista é a matriz de gestores, por Francisco Celso Calmon
Um
é a favor do desemprego, a outra é a favor de que os aposentados do INSS
recebam a cada ano menos valor real da aposentadoria.
Ambos
minam o governo lula para descumprir suas promessas de campanha.
Ambos
são filiados à ideologia capitalista, na qual manter um exército de
desempregados é regra para que os trabalhadores saibam que existem outros à
espera dos seus postos de trabalho e tenham menos força de negociação para
aumentos de salários.
Prejudicar
os aposentados é outra regra, pois, para o capital é mão de obra inservível, já
venderam as suas forças de trabalho por décadas, já engordaram o capital,
através da mais valia, o suficiente para serem descartados.
Num
momento de tragédia ambiental e humana, a manutenção da Selic elevada e
levantar a velha cantilena do déficit da previdência social, não é só desumano,
mas também politicamente inoportuno e sem respaldo técnico.
Por
que não apresentar um cardápio para tirar de quem tem sobrando e
especulando? Por que não estipular um imposto de guerra por pelo menos
três meses sobre os que ganham mais de vinte salários mínimos? Por que não
repensar na volta da CPMF (melhorada e adequada tecnologicamente)? Por que
sempre penalizar os pobres e nunca os demasiadamente enricados?
No
cardápio da Simone Tebet faltará para os aposentados a picanha e a cervejinha
prometidas pelo Lula, e as restrições serão num crescendo, pois quer
desvincular para sempre o aumento real dos aposentados, a sua proposta é a
precariedade crescente sobre os idosos. Os aposentados contribuíram sobre o
valor do salário real, agora propõe reverter essa regra.
Quanto
aos juros, argumentos técnicos e de gestão não mudam o papel do representante
dos rentistas e bolsonarista raiz, Bob Neto, que sabota abertamente à economia
nacional e o governo do presidente Lula.
A
última reunião do COPOM mostrou três sinais: primeiro, ele não tem o grupo na
mão; segundo, teve que se expor e desempatar e o fez pela redução mínima de
0,25 %; terceiro, não são critérios técnicos objetivos, mas, subjetivos e de
natureza político-ideológico que o presidente e outros diretores do BC
usam.
Juros
altos só retraem o consumo e o investimento, sem os quais não há crescimento
econômico, aumento de emprego e melhorias das condições de vida.
Ambos,
Simone e Bob, com suas propostas e medidas querem a manutenção do desemprego e
da insuficiência alimentar dos aposentados.
Metas
de inflação, de limites de gastos com a saúde e a educação, desconexadas de
metas positivas, consoante à Constituição Federal, agridem frontalmente o
artigo terceiro da Carta Magna.
Gastar
mais com juros do que com a saúde e a educação a quem beneficia? Ao país e ao
povo evidentemente que não.
É
mister que haja metas prioritárias do bem comum: emprego, salário, saúde,
educação e assistência social, dignos, como é o mandamento
constitucional.
Vamos
colocar o seguinte parâmetro como exemplo: os gastos com os juros não podem
ultrapassar os investimentos com saúde e educação.
Parâmetro
para o câmbio, de maneira que atenda às necessidades competitivas de exportação
e de importação necessárias ao desenvolvimento econômico do país.
Meta
fome: zerar a insuficiência alimentar, enquanto não atingir a meta, os bancos
pagarão um imposto temporal de 0,01% de seus lucros líquidos para socorro dos
famélicos, quantia equivalente a 10,7 milhões, com base no lucro que os cinco
maiores tiverem em 2023.
Meta
emprego: enquanto o pais não atingir o índice de 4% de desemprego, haverá uma
contribuição provisória de 0,1 dos 100 maiores empresários do país.
Meta
ecológica: zero queimadas, corte irracional de árvores, garimpagem predatória,
controle rigoroso de química na lavoura, etc.
A
presidente do PT, sempre alerta, já se postou contra Simone e Bob Neto e suas
posições. E os demais partidos de esquerda, e as centrais sindicais e os
movimentos sociais?
Estudantes
brasileiros ainda letárgicos na luta contra a guerra genocida aos palestinos;
sindicatos esqueceram de como mobilizam os trabalhadores; os culpados clamando
para não procurarem os culpados; a mídia direitista, com a bandeira inócua da
não politização, pregando a alienação.
Solidariedade
não é passividade e nem imobilidade quanto às causas e os responsáveis da falta
de prevenção ante os fenômenos climáticos, especialmente aos com potencial de
destruição flagelante.
O
clima mudou, a natureza vem reagindo à ação predatória que o homem lhe impõe há
séculos, notadamente com a vigência de um capitalismo de desastre, no qual,
como o livro Doutrina do Choque, de Naomi Klein, narra como o capital, se
não provoca sempre desastres naturais, dele se aproveita para explorar a
reconstrução em seu benefício.
O
negacionismo, o darwinismo social e o malthusianismo da caserna vêm sendo
matriz fascista expansionista no mundo diante da impotente ONU.
Entretanto, a solidariedade ainda existe e o povo brasileiro vem dando
essa demonstração, apesar das trapaças e mentiras da extrema direita, bem como
a juventude estudantil internacional na solidariedade ao povo palestino contra
o governo genocida de Israel.
Uma
tragédia provoca sentimentos diversos, geralmente é uma ocasião onde valores
humanos e cívicos se sobrepõe à indiferença e às pregações raivosas e
deletérias.
É
uma conjuntura adequada para a promoção dos direitos humanos e dos
valores ideológicos do humanismo, assim como para a elaboração de um
projeto de desenvolvimento econômico ecologicamente sustentável, tendo os seres
humanos e a natureza como referências centrais em vez do lucro desvairado do
capitalismo.
Os
eventos climáticos voltarão a acontecer e até pior, segundo previsões de
cientistas. O que não pode voltar a ocorrer é a mesma ou pior
tragédia humana.
Proagir,
é o lema a ser obedecido doravante por todas as instâncias governamentais. Os
governos devem ser proativos e não esperar acontecer tragédias para correr
atrás de remendos.
A
intentona de 8/1 e esta tragédia gaúcha fornecem ao Lula e ao Estado
democrático de direito indicativos para onde o Brasil deve caminhar e não
permitir mais retrocessos.
Tudo
é política, tudo dever ser politizado. Afinal, fora da política é a barbárie.
Fonte:
Por Francisco Celso Calmon, no Jornal GGN
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