Botox traz
riscos à saúde no longo prazo?
O
botox é um tratamento cosmético comum e geralmente seguro.
A
maioria dos efeitos colaterais registrados são leves e passageiros. Eles
incluem dor, inchaço ou hematomas leves no local da injeção, além de dor de
cabeça e sintomas semelhantes aos da gripe nas primeiras 24 horas.
Às
vezes, também pode ocorrer fraqueza temporária e flacidez da face.
Entretanto,
já se sabe que, quando mal utilizado, ele pode trazer consequências duradouras
e às vezes graves.
Agora,
cientistas estão investigando também se o uso a longo prazo pode trazer efeitos
negativos.
Um
estudo de 2020 revisou a segurança das injeções cosméticas de botox e concluiu
que eram raros os relatos de efeitos colaterais graves.
Por
exemplo, entre 2002 e 2003, apenas 36 casos de efeitos adversos graves do uso
cosmético foram notificados à agência sanitária dos Estados Unidos, a FDA,
sendo a maioria relativa à dificuldade em engolir.
O
risco de efeitos adversos graves foi 33 vezes maior para usos terapêuticos do
botox — usado para tratar enxaquecas, espasmos no pescoço, sudorese, bexiga
hiperativa, olho preguiçoso e outras condições — do que para casos cosméticos.
No entanto,
pode ser que as reações adversas simplesmente não estejam sendo registradas.
Um
estudo de 2023 realizado por Ash Mosahebi, professor de cirurgia plástica na
universidade College London, e colegas da Universidade da Califórnia em Los
Angeles descobriu que 69% dos entrevistados relataram efeitos adversos
duradouros, como dor, ansiedade e dores de cabeça, devido ao botox.
Também
havia graves consequências psicológicas e emocionais para os pacientes quando
os procedimentos davam errado.
“Se
administrado incorretamente, você pode ter uma espécie de queda das pálpebras,
que pode durar seis meses”, diz Mosahebi.
“Isso
pode causar constrangimento no trabalho e afetar a confiança de uma forma
potencialmente duradoura”.
Uma
dificuldade para se entender os efeitos de longo prazo é que a maioria dos
ensaios clínicos acompanha os pacientes por apenas cerca de seis meses após a
aplicação.
No
entanto, alguns estudos descobriram que o uso cosmético prolongado da toxina
botulínica pode trazer mudanças permanentes na expressão facial, fazendo com
que as pessoas não consigam mais flexionar os músculos faciais.
Um
estudo de 2022 mostrou que pessoas que receberam injeções de botox regularmente
apresentaram alterações na composição, função e aparência muscular até quatro
anos após a última injeção.
“Se
você não usasse seus abdominais [músculos abdominais] por 10 anos, eles iriam
definhar”, diz Mosahebi.
“Então,
da mesma forma, se o músculo que causa as rugas do seu rosto não é usado, ou
fica paralisado com o botox, depois de um tempo ele não fica tão forte como
antes, então você fica com menos expressão.”
É
até possível que a toxina do botox possa escapar e circular pelo sistema
nervoso central mais amplo.
Em
2015, cientistas liderados por Frederic Meunier, da Universidade de Queensland,
usaram microscópios de última geração para visualizar moléculas de toxina
botulínica viajando em alta velocidade ao longo de neurônios de ratos.
Anteriormente,
pensava-se que a toxina botulínica permaneceria na parte do neurônio onde
ocorre a liberação do neurotransmissor, antes de ser degradada. No entanto,
este não foi o caso.
"Observamos
algumas moléculas da toxina entrarem no terminal nervoso e serem transportadas
ao longo do axônio de volta ao corpo celular para degradação", explica
Meunier.
Algumas
toxinas transportadas escaparam para outros neurônios através de um mecanismo
desconhecido.
"A
única outra toxina que sabemos que pode fazer isto é a toxina do tétano, que
pode viajar ao longo dos neurônios motores até a medula espinhal e bloquear a
transmissão", diz Meunier.
É
importante notar, entretanto, que as concentrações de toxina botulínica
utilizadas no estudo foram muito mais altas do que jamais seriam usadas nas
injeções de botox, pondera o pesquisador.
“Em
humanos, acho improvável a ideia de que esta [toxina] volte ao sistema nervoso
central e tenha efeito lá”.
No
entanto, há algumas evidências de que o uso prolongado de botox pode ter um
impacto psicológico nos pacientes.
Em
um estudo de 2023, Mitchell Brin, neurologista da Universidade da Califórnia em
Irvine, e colegas examinaram o cérebro de dez mulheres antes e depois de
receberem injeções de botox.
Durante
a ressonância magnética de seus cérebros, foram mostradas aos participantes
fotos de rostos irritados e felizes, intercaladas com fotos neutras.
Nos
exames pós-botox, as mulheres apresentavam atividade alterada em duas regiões
do cérebro conhecidas por seu papel no processamento de emoções: a amígdala e o
giro fusiforme.
Isto
coincide com as conclusões de outros estudos, que demonstraram que receber
injeções de botox pode tornar mais difícil reconhecer e processar as emoções
dos outros.
De
acordo com Brin, a explicação pode estar na forma como o nosso cérebro
reconhece as emoções das outras pessoas.
Por
exemplo, quando vemos expressões de felicidade ou tristeza nos outros,
inconscientemente as copiamos usando nossos próprios músculos faciais. Isso nos
ajuda a compreender e interpretar como os outros estão se sentindo.
Mas
como o botox paralisa os músculos faciais, não podemos mais reproduzir as
expressões dos rostos de outras pessoas, o que nos torna potencialmente menos
empáticos.
Entretanto,
este efeito pode, em alguns casos, ter uma consequência positiva: outra
pesquisa mostrou que a incapacidade de franzir a testa pode ajudar pacientes
que sofrem de depressão.
Então,
o que as pessoas podem fazer para minimizar os riscos de usar botox?
Primeiro,
só se deve receber injeções de botox de fornecedores licenciados e aplicados
por pessoas capacitadas e autorizadas para administrá-lo.
A
Allergan Aesthetics, fabricante do botox, disse em comunicado à BBC que os
usuários devem garantir que serão submetidos a procedimentos apenas com
profissionais de saúde habilitados.
Um
porta-voz da empresa acrescentou: “Nossa prioridade é a saúde e a segurança dos
pacientes, e todos os relatos de produtos falsificados são minuciosamente
investigados por nossa equipe em conjunto com as autoridades policiais e
reguladoras."
“Temos
um processo de fabricação e distribuição rigoroso e sofisticado para garantir a
qualidade e a autenticidade do produto, incluindo rigorosos recursos
antifalsificação”.
Mas
se administrado corretamente, há todos os motivos para pensar que o botox é
bastante seguro.
“É
amplamente utilizado e o perfil de segurança é excelente”, diz Meunier.
“Algumas
pessoas tiveram efeitos adversos, mas é preciso colocar isso no contexto dos
milhões de pessoas que usaram esta toxina desde as décadas de 1980 e 1990”.
Fonte:
BBC Future
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