RS:
Cidades ficam empilhadas de lixo e governo teme impacto ambiental gigantesco
As
enchentes no Rio Grande do Sul devastaram casas, indústrias e comércios e
deixaram como protagonista do cenário de destruição o acúmulo de lixo pelas
ruas. Em locais ainda alagados, há dejetos boiando e, em algumas partes, a água
fica ainda mais turva pela contaminação por óleo de carros submersos e produtos
químicos de empresas da região.
Em
áreas secas, pessoas limpam suas residências e deixam para o lado de fora
móveis e eletrodomésticos impossíveis de serem reaproveitados.
Para
se ter uma ideia, a Prefeitura de Canoas, cidade vizinha de Porto Alegre que
tem 348 mil habitantes e foi uma das mais afetadas, estima que a parte alagada
irá gerar 120 mil metros cúbicos de lixo.
A
região sob água corresponde a cerca da metade do município. Geralmente, a
cidade inteira gera de 8 a 9 mil metros cúbicos por mês.
As
enchentes do ano passado no estado geraram cerca de 100 mil toneladas de
resíduos. A tragédia de 2023, no entanto, não atingiu nem um terço do número de
cidades afetadas desta vez.
Para
este ano, ainda não há estimativa do montante de lixo que ficará de herança da
tragédia. O fato de muitas regiões seguirem alagadas dificulta o cálculo, uma
vez que em muitas cidades a água permanece alta e ainda não se tem uma ideia
exata do tamanho do estrago das chuvas.
Um
dos problemas enfrentados por gestões municipais é fazer a separação do lixo
-dejetos orgânicos e recicláveis se misturaram durante as enchentes.
As
enchentes no Rio Grande do Sul já causaram ao menos 161 mortes e há 85 pessoas
desaparecidas. Mais de 20 dias após o início das chuvas, ainda há cidades
alagadas e municípios com cenários de destruição.
A
secretária de Meio Ambiente do governo do RS, Marjorie Kauffmann, afirma que
tem orientado prefeituras, que são responsáveis pelo serviço de limpeza urbana,
a melhor forma de destinar os lixos para mitigar os efeitos ambientais.
"Nós
acreditamos que o impacto dos resíduos que vão sobrar da enchente são
gigantescos", afirma.
Ela
cita dois desafios para este momento. Um deles diz respeito a dejetos de
grandes empresas. "Temos aqueles resíduos perigosos, oriundos da
indústria, que devem receber tratamento especial", alerta.
Nesse
caso, a orientação é fazer contato com a Fundação de Proteção Ambiental para
receber recomendação sobre a destinação adequada.
Outra
preocupação é encontrar um local para levar todos os dejetos. "Uma equipe
está fazendo a coleta da informação geográfica dos pontos de deposição
temporário, para que a gente possa monitorar esses pontos que são de atenção do
ponto de vista ambiental".
Em
Canoas, o governo local separou uma área específica e conseguiu um
licenciamento ambiental para o enterro de animais mortos pela enchente.
"Foi
aberta uma vala, com drenagem, com tudo que era requisito para ter os laudos,
para esse fim", diz o secretário de Serviços Urbanos, Lucas Lacerda.
A
Prefeitura também fez uma contratação emergencial para destinar entulhos
volumosos, como guarda-roupas, sofás e mesas, que é "o que causa
impacto".
"Os
materiais de utensílios domésticos, tudo aquilo que não é lixo orgânico, nós
estamos levando para Gravataí, que é outra cidade na região metropolitana de
Porto Alegre", afirma Lacerda
Os
municípios improvisaram aterros e também estudam locais fora do estado para
levar os dejetos. Até regiões de Santa Catarina entraram na mira. Em São
Leopoldo, os dejetos estão sendo encaminhados para um terreno improvisado ao
lado de uma das sedes do governo local.
Em
Porto Alegre, a dificuldade para levar o lixo ao espaço adequado foi ainda
maior porque o aterro sanitário fica em Minas do Leão, um município próximo que
ficou alagado e com acessos bloqueados.
O
governo local teve que transferir os dejetos para uma estação na própria
cidade. Em cinco dias, só de coleta domiciliar foram 10 mil toneladas de lixo
"Só
para ter ideia da operação gigantesca desse momento, depois que a conexão com
Minas do Leão foi restabelecida, começamos a levar 90 carretas que pesam 20
toneladas e transporta 30 toneladas de lixo", afirma o diretor-geral do
Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, Carlos Alberto
Hundertmarker.
Ele
diz que carros com alto falantes têm rodado a cidade para pedir que as pessoas
despejem seus móveis nas calçadas para posterior recolhimento.
A
prefeitura publicará no Diário Oficial um expediente para contratar um novo
aterro a fim de dar conta de toda a demanda e considera difícil nesse momento
prever uma data para finalizar a operação relacionada ao lixo decorrente das
enchentes.
A
orientação das autoridades é que as pessoas tomem cuidado com objetos
encontrados em suas residências, pois podem estar contaminados pelas águas dos
alagamentos.
"Memórias,
documentos e fotografias se perderam nessa tragédia. Eu passo o dia todo na rua
dando apoio aos colaboradores e encontramos muita coisa triste, carteira de
trabalho, certidões de nascimento rasgadas, fotos de família, lembranças",
relata Hundertmarker.
¨
‘Desastres climáticos
têm que estar no orçamento’, avalia Mansueto Almeida
Os
riscos climáticos sempre foram tratados no orçamento como imprevisíveis – por
isso, desastres ambientais são enfrentados por meio de crédito extraordinário,
uma exceção às regras fiscais para eventos inesperados. O ex-secretário do
Tesouro Mansueto Almeida considera, no entanto, que recursos a desastres
climáticos deveriam ser incluídos no orçamento, uma vez que se tornaram
frequentes.
“Não
é mais imprevisível, isso tem que estar no orçamento de todos os anos, prevendo
montante mínimo para esse problema, que passou a ser recorrente”, disse
Mansueto, que hoje é economista-chefe do BTG Pactual, em evento sobre
investimentos na era das mudanças climáticas organizado pela gestora de
recursos Converge Capital.
Mansueto
observou ainda que a agenda ambiental se tornou central nos negócios e nas
políticas públicas, tendo em vista impactos das mudanças no clima sobre a
inflação, bem como as restrições no comércio internacional e no acesso a
crédito mais barato por países e empresas que não têm compromissos com práticas
sustentáveis.
Num
mundo mais protecionista, o Brasil, pontuou o economista, terá que respeitar
regras ambientais se quiser seguir com o comércio internacional pujante. Além
disso, diante de juros mais altos no mundo, a agenda verde é o caminho a ser
seguido para captações a um custo mais baixo. “Há investidores dispostos a
comprar títulos verdes e colocar dinheiro em empresas sustentáveis mesmo tendo
retorno menor”, comentou Mansueto.
Por
fim, o ex-secretário do Tesouro ressaltou que a inflação é especialmente
sensível em economias como o Brasil, onde os bancos centrais precisam observar
índices gerais de preços, e não núcleos, nas metas de inflação. Com isso, o
trabalho da política monetária pode ser desafiado por impactos climáticos nos
preços dos alimentos.
·
O que governo federal
faz para RS vale para Estados que sofrerem desastres do tipo, diz Lula
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo federal “mudou o
paradigma” no tratamento dos desastres climáticos ao adotar medidas em relação
ao Rio Grande do Sul.
As
declarações ocorreram nesta terça-feira, 21, na abertura da Marcha dos
Prefeitos, em Brasília. Na ocasião, Lula voltou a dizer que “não faltarão
recursos” do governo federal ao Estado.
“Vou
voltar ao Rio Grande do Sul e quero visitar as cidades depois que água foi
embora, para ver o tamanho do estrago”, declarou. “Mudou o paradigma do
tratamento dos desastres climáticos. O que o governo faz para o Rio Grande do
Sul será para qualquer Estado que sofrer desastres do tipo. Estamos obrigados a
fazer igual ou melhor.”
Lula
também relembrou a criação da comitiva para o Rio Grande do Sul com autoridades
de demais Poderes e afirmou que aquele foi um esforço para “trabalhar em
conjunto”.
“Estamos
tentando trabalhar em conjunto para que todo mundo sinta o drama e a
necessidade de juntos resolver o problema”, afirmou. “Eu aprendi com minha mãe:
aquilo que os olhos não veem, o coração não sente. É preciso ir lá visitar as
pessoas.”
Lula
falou na XXV Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, conhecida como Marcha
dos Prefeitos. Estava acompanhado de ministros como Fernando Haddad (Fazenda),
Simone Tebet (Planejamento), Esther Dweck (Gestão), Márcio Macêdo
(Secretaria-Geral), Carlos Lupi (Previdência), Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo
Lewandowski (Justiça). Também participaram da solenidade os presidentes do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Fonte:
FolhaPress
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