quinta-feira, 23 de maio de 2024

RS: Cidades ficam empilhadas de lixo e governo teme impacto ambiental gigantesco

As enchentes no Rio Grande do Sul devastaram casas, indústrias e comércios e deixaram como protagonista do cenário de destruição o acúmulo de lixo pelas ruas. Em locais ainda alagados, há dejetos boiando e, em algumas partes, a água fica ainda mais turva pela contaminação por óleo de carros submersos e produtos químicos de empresas da região.

Em áreas secas, pessoas limpam suas residências e deixam para o lado de fora móveis e eletrodomésticos impossíveis de serem reaproveitados.

Para se ter uma ideia, a Prefeitura de Canoas, cidade vizinha de Porto Alegre que tem 348 mil habitantes e foi uma das mais afetadas, estima que a parte alagada irá gerar 120 mil metros cúbicos de lixo.

A região sob água corresponde a cerca da metade do município. Geralmente, a cidade inteira gera de 8 a 9 mil metros cúbicos por mês.

As enchentes do ano passado no estado geraram cerca de 100 mil toneladas de resíduos. A tragédia de 2023, no entanto, não atingiu nem um terço do número de cidades afetadas desta vez.

Para este ano, ainda não há estimativa do montante de lixo que ficará de herança da tragédia. O fato de muitas regiões seguirem alagadas dificulta o cálculo, uma vez que em muitas cidades a água permanece alta e ainda não se tem uma ideia exata do tamanho do estrago das chuvas.

Um dos problemas enfrentados por gestões municipais é fazer a separação do lixo -dejetos orgânicos e recicláveis se misturaram durante as enchentes.

As enchentes no Rio Grande do Sul já causaram ao menos 161 mortes e há 85 pessoas desaparecidas. Mais de 20 dias após o início das chuvas, ainda há cidades alagadas e municípios com cenários de destruição.

A secretária de Meio Ambiente do governo do RS, Marjorie Kauffmann, afirma que tem orientado prefeituras, que são responsáveis pelo serviço de limpeza urbana, a melhor forma de destinar os lixos para mitigar os efeitos ambientais.

"Nós acreditamos que o impacto dos resíduos que vão sobrar da enchente são gigantescos", afirma.

Ela cita dois desafios para este momento. Um deles diz respeito a dejetos de grandes empresas. "Temos aqueles resíduos perigosos, oriundos da indústria, que devem receber tratamento especial", alerta.

Nesse caso, a orientação é fazer contato com a Fundação de Proteção Ambiental para receber recomendação sobre a destinação adequada.

Outra preocupação é encontrar um local para levar todos os dejetos. "Uma equipe está fazendo a coleta da informação geográfica dos pontos de deposição temporário, para que a gente possa monitorar esses pontos que são de atenção do ponto de vista ambiental".

Em Canoas, o governo local separou uma área específica e conseguiu um licenciamento ambiental para o enterro de animais mortos pela enchente.

"Foi aberta uma vala, com drenagem, com tudo que era requisito para ter os laudos, para esse fim", diz o secretário de Serviços Urbanos, Lucas Lacerda.

A Prefeitura também fez uma contratação emergencial para destinar entulhos volumosos, como guarda-roupas, sofás e mesas, que é "o que causa impacto".

"Os materiais de utensílios domésticos, tudo aquilo que não é lixo orgânico, nós estamos levando para Gravataí, que é outra cidade na região metropolitana de Porto Alegre", afirma Lacerda

Os municípios improvisaram aterros e também estudam locais fora do estado para levar os dejetos. Até regiões de Santa Catarina entraram na mira. Em São Leopoldo, os dejetos estão sendo encaminhados para um terreno improvisado ao lado de uma das sedes do governo local.

Em Porto Alegre, a dificuldade para levar o lixo ao espaço adequado foi ainda maior porque o aterro sanitário fica em Minas do Leão, um município próximo que ficou alagado e com acessos bloqueados.

O governo local teve que transferir os dejetos para uma estação na própria cidade. Em cinco dias, só de coleta domiciliar foram 10 mil toneladas de lixo

"Só para ter ideia da operação gigantesca desse momento, depois que a conexão com Minas do Leão foi restabelecida, começamos a levar 90 carretas que pesam 20 toneladas e transporta 30 toneladas de lixo", afirma o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, Carlos Alberto Hundertmarker.

Ele diz que carros com alto falantes têm rodado a cidade para pedir que as pessoas despejem seus móveis nas calçadas para posterior recolhimento.

A prefeitura publicará no Diário Oficial um expediente para contratar um novo aterro a fim de dar conta de toda a demanda e considera difícil nesse momento prever uma data para finalizar a operação relacionada ao lixo decorrente das enchentes.

A orientação das autoridades é que as pessoas tomem cuidado com objetos encontrados em suas residências, pois podem estar contaminados pelas águas dos alagamentos.

"Memórias, documentos e fotografias se perderam nessa tragédia. Eu passo o dia todo na rua dando apoio aos colaboradores e encontramos muita coisa triste, carteira de trabalho, certidões de nascimento rasgadas, fotos de família, lembranças", relata Hundertmarker.

¨      ‘Desastres climáticos têm que estar no orçamento’, avalia Mansueto Almeida

Os riscos climáticos sempre foram tratados no orçamento como imprevisíveis – por isso, desastres ambientais são enfrentados por meio de crédito extraordinário, uma exceção às regras fiscais para eventos inesperados. O ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida considera, no entanto, que recursos a desastres climáticos deveriam ser incluídos no orçamento, uma vez que se tornaram frequentes.

“Não é mais imprevisível, isso tem que estar no orçamento de todos os anos, prevendo montante mínimo para esse problema, que passou a ser recorrente”, disse Mansueto, que hoje é economista-chefe do BTG Pactual, em evento sobre investimentos na era das mudanças climáticas organizado pela gestora de recursos Converge Capital.

Mansueto observou ainda que a agenda ambiental se tornou central nos negócios e nas políticas públicas, tendo em vista impactos das mudanças no clima sobre a inflação, bem como as restrições no comércio internacional e no acesso a crédito mais barato por países e empresas que não têm compromissos com práticas sustentáveis.

Num mundo mais protecionista, o Brasil, pontuou o economista, terá que respeitar regras ambientais se quiser seguir com o comércio internacional pujante. Além disso, diante de juros mais altos no mundo, a agenda verde é o caminho a ser seguido para captações a um custo mais baixo. “Há investidores dispostos a comprar títulos verdes e colocar dinheiro em empresas sustentáveis mesmo tendo retorno menor”, comentou Mansueto.

Por fim, o ex-secretário do Tesouro ressaltou que a inflação é especialmente sensível em economias como o Brasil, onde os bancos centrais precisam observar índices gerais de preços, e não núcleos, nas metas de inflação. Com isso, o trabalho da política monetária pode ser desafiado por impactos climáticos nos preços dos alimentos.

·        O que governo federal faz para RS vale para Estados que sofrerem desastres do tipo, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo federal “mudou o paradigma” no tratamento dos desastres climáticos ao adotar medidas em relação ao Rio Grande do Sul.

As declarações ocorreram nesta terça-feira, 21, na abertura da Marcha dos Prefeitos, em Brasília. Na ocasião, Lula voltou a dizer que “não faltarão recursos” do governo federal ao Estado.

“Vou voltar ao Rio Grande do Sul e quero visitar as cidades depois que água foi embora, para ver o tamanho do estrago”, declarou. “Mudou o paradigma do tratamento dos desastres climáticos. O que o governo faz para o Rio Grande do Sul será para qualquer Estado que sofrer desastres do tipo. Estamos obrigados a fazer igual ou melhor.”

Lula também relembrou a criação da comitiva para o Rio Grande do Sul com autoridades de demais Poderes e afirmou que aquele foi um esforço para “trabalhar em conjunto”.

“Estamos tentando trabalhar em conjunto para que todo mundo sinta o drama e a necessidade de juntos resolver o problema”, afirmou. “Eu aprendi com minha mãe: aquilo que os olhos não veem, o coração não sente. É preciso ir lá visitar as pessoas.”

Lula falou na XXV Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, conhecida como Marcha dos Prefeitos. Estava acompanhado de ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento), Esther Dweck (Gestão), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Carlos Lupi (Previdência), Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo Lewandowski (Justiça). Também participaram da solenidade os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

 

Fonte: FolhaPress

 

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