Sustentabilidade
ambiental: um compromisso vital para saúde
A
tragédia em curso no Rio Grande do Sul evidencia a importância de avançar com
os esforços para sustentabilidade ambiental e desenvolver ações para reduzir o
impacto de eventos climáticos extremos.
• E
qual o papel da área da saúde?
Na
perspectiva ambiental, já é evidente que além da triste situação dos tantos
impactados por tragédias como a que ocorre no sul do país, as mudanças
climáticas estão exacerbando problemas de saúde, como doenças respiratórias,
desnutrição e doenças infecciosas. Estudos apontam que o aquecimento global tem
grande influência no atual surto de dengue em nosso país. A Organização Mundial
da Saúde (OMS) também estima que 24% da carga global de doenças e 23% das
mortes são atribuíveis a fatores ambientais, como poluição do ar e da água.¹
Esta
discussão não deve se limitar à dimensão ambiental. Importante reconhecer que
nosso setor não tem tido o protagonismo esperado na promoção da agenda de ESG
(Ambiental, Social e Governança) em nosso país.
Esse
cenário é ainda mais alarmante quando observamos a magnitude do impacto que
desequilíbrios dessas três frentes geram na saúde populacional.
No
âmbito social, a desigualdade no acesso à saúde é um desafio persistente. A
exemplo, já é amplamente conhecida a relação entre o CEP da residência e a
condição geral da saúde de sua comunidade. De acordo com a OMS, cerca de metade
da população mundial ainda não se beneficia da cobertura integral dos serviços
de saúde essenciais. A falta de equidade impacta desproporcionalmente as
populações vulneráveis, perpetuando ciclos de pobreza e doença.²
Da
perspectiva de governança, apesar de o setor ser unido em torno do propósito de
cuidar dos pacientes, há uma urgente necessidade de alinhamento dos incentivos
econômicos para garantir que a conduta esteja alinhada com o propósito.
• Como
as instituições de saúde podem ajudar a mudar esse cenário?
Os
desafios econômicos que o setor enfrenta nos últimos anos e a descrença causada
por práticas de “greenwashing” – ações de marketing para criar uma imagem de
responsabilidade ambiental, mas que na realidade são superficiais – podem
ajudar a explicar a falta de entusiasmo de muitos em relação ao tema.
Ainda
assim, precisamos reconhecer a importância de desenvolvermos um sistema de
saúde que atue também considerando pautas de ESG, não apenas nas instituições,
mas em todos os componentes desse ecossistema. Nós, como lideranças a frente do
setor neste momento crítico, não podemos deixar que pressões de curto prazo ou
generalizações nos impeçam de assumir o protagonismo necessário.
Precisamos
avançar para que o setor de saúde se junte aos demais setores econômicos
relevantes na promoção de um ecossistema que conecta empresas, organizações e
pessoas para evoluir de forma expressiva na jornada de descarbonização em nosso
país.
Um
primeiro passo já foi dado em abril deste ano. Grandes empresas do setor se
reuniram durante o 2024 ESG Healthcare Summit para debater temas relacionados
ao universo ESG no mundo da saúde e compartilhar casos de sucesso que reforçam
que é possível sim avançarmos com esta agenda no setor. Entre as ações
concretas, empresas do setor da saúde já têm trabalhado para redução de
emissões de gases do efeito estufa em suas operações logisticas, incluindo
entregas com veículos 100% elétricos e caixas retornáveis.
Já
na área social, projetos como a Operação Sorriso, unem-se a empresas do setor
para construir protocolos técnicos atualizados e propor uma nova diretriz de
cuidado, neste caso para os pacientes com a fenda labiopalatina no país. Com o
suporte dessas empresas do setor, o programa já atendeu mais de 12,8 mil
famílias no país, realizando cerca de 6 mil operações.
No
âmbito da Governança, vale destacar programas como o Compliance4Health, uma
parceria da FGV com a iniciativa privada, que desenvolveu um hub de conteúdo
gratuito sobre compliance e ética na prática médica, com sugestões de matérias,
avaliações e bibliografia destinadas a instituições de ensino. Esse material já
foi adotado por três universidades, entre elas a Faculdade de Medicina da USP.
Para
além dessas iniciativas que começam a ganhar espaço no setor, precisamos elevar
a agenda estratégica de ESG para transformá-la em um eixo prioritário para todo
setor da saúde. De forma complementar, temos que compreender como as
organizações podem integrar de forma eficaz os princípios de sustentabilidade
em suas estratégias de negócios.
Políticas
públicas efetivas e ações estruturantes promovidas por entidades setoriais e
organizações líderes da saúde podem ser uma forma mudar esta realidade no
setor. Os hubs de economia verde, como o hub AYA Earth Partners, podem ser
catalizadores desta transformação e ter um papel similar ao que os hubs de
inovação tiveram na última década no impulsionamento da transformação digital.
Por
hora, a solidariedade de nosso povo será chave para amenizar o sofrimento de
nossos irmãos do Rio Grande do Sul. Que cada um possa ajudar dentro de suas
possibilidades e que cada organização possa exercer seu papel social neste
momento tão desafiador.
Fonte:
Futuro da Saúde
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