sexta-feira, 24 de maio de 2024

Pesquisa aponta relação entre cigarro eletrônico e câncer

Em estudo com milhões de pessoas, pesquisadores coreanos indicam que ex-fumantes de cigarros convencionais que passaram a usar vapes enfrentam maior risco de câncer de pulmão que aqueles que pararam completamente.As pessoas que pararam de fumar e passaram a consumir cigarros eletrônicos têm maior probabilidade de desenvolver câncer de pulmão do que aquelas que não usam “vapes”, de acordo com um estudo realizado na Coreia do Sul divulgado nesta semana.

“Este é o primeiro grande estudo de base populacional que demonstra o aumento do risco de câncer de pulmão em usuários de cigarros eletrônicos após a cessação do tabagismo”, disse Yeon Wook Kim, que liderou o estudo no Hospital Bundang da Universidade Nacional de Seul.

•        Ex-fumantes que usam vaporizadores têm maior risco de câncer de pulmão

Os pesquisadores examinaram na Coreia do Sul 4.329.288 indivíduos que tinham um histórico de tabagismo convencional. Eles fizeram análises em dois momentos: 2012-2014 e 2018, além de um acompanhamento em dezembro de 2021.

No momento da leitura de acompanhamento, os pesquisadores descobriram que 53.354 indivíduos haviam desenvolvido câncer de pulmão e 6.351 haviam morrido da doença no período intermediário.

Os ex-fumantes de cigarros convencionais que adotaram os cigarros eletrônicos apresentaram maior risco de diagnóstico de câncer de pulmão e morte relacionada à doença do que os ex-fumantes que pararam de fumar e também evitaram os cigarros eletrônicos.

“Nossos resultados indicam que, ao integrar intervenções de cessação do tabagismo para reduzir o risco de câncer de pulmão, os possíveis danos do uso de cigarros eletrônicos como alternativa ao tabagismo devem ser considerados”, disse Kim.

•        Os vapes são menos prejudiciais do que os cigarros de tabaco?

Os cigarros eletrônicos aquecem um líquido que se transforma em vapor, que em seguida é inalado. Às vezes, eles contêm tabaco, que é a principal parte nociva dos cigarros causadora de câncer.

Entretanto, os cigarros eletrônicos contêm outros produtos químicos potencialmente prejudiciais, embora em níveis mais baixos do que os cigarros convencionais.

“As substâncias químicas perigosas encontradas nos produtos de vaporização que podem danificar os pulmões incluem acroleína, formaldeído, diacetil e partículas ultrafinas que podem ser inaladas profundamente. Os produtos de vaporização também podem incluir metais pesados, como o chumbo”, aponta Ashley Merianos, professora da Universidade de Cincinnati, nos EUA.

Muitos profissionais e organizações de saúde acreditam que os cigarros eletrônicos são substancialmente mais seguros do que fumar tabaco. Os vapes também são recomendados como uma ferramenta para ajudar a parar o consumo de tabaco.

Mas, embora especialistas afirmem que os cigarros eletrônicos são seguros a curto e médio prazos, é improvável que sejam isentos de riscos a longo prazo.

Merianos disse que há muitas incógnitas sobre os vapes, especialmente no que diz respeito aos efeitos de longo prazo sobre a saúde humana.

“As primeiras evidências sugerem que os vapes pode estar associados a problemas pulmonares, inclusive asma. Além disso, os estudos limitados que temos indicam que a exposição passiva a aerossóis está associada a sintomas e doenças respiratórias”, explica Merianos à DW, acrescentando que é possível que a exposição passiva a aerossóis de produtos vaporizadores também possa ser prejudicial.

•        Os cigarros eletrônicos causam câncer?

Os líquidos dos cigarros eletrônicos podem conter concentrações baixas de vários produtos químicos que são conhecidos por causar câncer. Um usuário frequente pode inalar esses produtos químicos várias vezes ao dia, todos os dias, por muitos anos.

Mas há evidências de que a vaporização causa câncer diretamente? Ainda não – atualmente não se sabe qual é o grau de exposição suficiente para causar câncer.

Por um lado, estudos mostram que a vaporização de curto prazo, por menos de dois anos, não está associada a um aumento nos diagnósticos de câncer.

Mas o recente estudo da Coreia do Sul indica que os cigarros eletrônicos podem aumentar o risco de desenvolver câncer mais tarde na vida, pelo menos para pessoas que costumavam fumar cigarros convencionais.

Um estudo publicado em março de 2024 apontou que os usuários de vapes e os fumantes de cigarros convencionais apresentavam alterações semelhantes no DNA das células da boca.

Essas alterações foram associadas em outros lugares ao desenvolvimento futuro de câncer de pulmão em fumantes, mas não provam que as pessoas que usam vape necessariamente desenvolverão câncer.

Merianos aponta que os pesquisadores não dispõem de evidências gerais para tirar conclusões sobre os efeitos de longo prazo dos vapes sobre a saúde, inclusive sobre os resultados do câncer. A ciência também não é conclusiva quanto ao fato de o vapes ser mais prejudicial para algumas pessoas do que a outras, como, por exemplo, em mulheres grávidas ou crianças.

•        Substituir o cigarro? Cardiologista revela opções saudáveis

Geralmente, quem está acostumado com o hábito de fumar pensa que o abandono de vício é irreversível, concorda? Acontece que nunca é tarde para renovar a decisão de parar de fumar e nesse sentido o médico cardiologista do Hospital Santa Catarina Dr. Gustavo Pederçole vai indicar o que é bom para substituir o cigarro em entrevista exclusiva para o Sport Life.

•        Saiba o que é bom para substituir o cigarro

“O hábito de fumar vira parte da rotina de um fumante. Quando a pessoa para de fumar, além da abstinência, ocorre falta daquele costume no dia a dia. A dica é substituir por algo, como realização de atividade física, tomar um copo de água ou comer fatias de legumes, por exemplo: cenoura”, sugere o Dr. Gustavo.

Da mesma forma, o cardiologista reforça que não há exercícios físicos específicos para quem decidiu excluir o tabagismo, ou seja, a sugestão recai para o esporte que proporcione períodos de recreação, bem-estar e que um sujeito cumpra por pelo menos 150 minutos divididos na semana.

Orientação que difere sobre aspectos nutricionais para ex-fumantes. “As proteínas, frutas e legumes são indicados pelo seu teor saudável. Se uma pessoa substitui o cigarro por alimentos com alto teor de gordura ou açúcar, estará trocando um problema pelo outro”, explica Pederçole.

A paciência impacta para quem quer distância definitiva do tabaco. Afinal, o que está em jogo é o enfrentamento com a contra a dependência química da nicotina e uma recaída pode acontecer em meio a esse objetivo.

“Não é perigoso para o corpo a retirada abrupta do cigarro, mas dependendo da pessoa ela pode sentir sintomas de abstinência de forma mais exacerbada. Por isso, é orientado que faça isso sempre acompanhado por profissional habilitado”, ressalta o profissional.

Com quanto tempo uma pessoa já sente os resultados com essa renúncia de fumar?

20 minutos: os batimentos cardíacos e a pressão arterial se normalizam;

12 horas: o nível de monóxido de carbono desce para parâmetros saudáveis;

48 horas: a nicotina é eliminada, o que melhora o olfato e o paladar;

72 horas: já é possível sentir uma melhora na capacidade respiratória;

2 a 12 semanas: a circulação sanguínea e a função pulmonar melhora muito;

1 a 9 meses: tosse e respiração entrecortada, típica dos fumantes, se tornam raras;

1 ano: o risco de doença cardiovascular (como um infarto) cai pela metade;

5 anos: a chance de ter um acidente vascular cerebral fica próxima a de não fumantes;

10 anos: cai 50% o risco de desenvolver o câncer de pulmão;

15 anos: o risco de câncer para o ex-fumante se equipara ao de quem nunca fumou.

É verdade que cigarro eletrônico é “mais prejudicial” do que o comum?

“Sim. É verdade. O cigarro tradicional no Brasil há um limite de 1 mg de nicotina por cada cigarro. Enquanto os eletrônicos, que são pequenos e se assemelham a um pen drive, chegam a até 57 mg da substância por ml do líquido. Outro fato que surpreende é que esse líquido possui substâncias que não são conhecidas, o que o torna mais perigoso ainda. Os usuários desses dispositivos ainda podem evoluir com uma doença denominada ‘EVALI’, sigla de e-cigarette and vaping associated lung injury. Traduzido como pneumopatia associado ao uso de cigarros eletrônicos e vapes. É a nova condição clínica identificada em usuários desse tipo de dispositivo”, finaliza o Dr. Gustavo Pederçole.

 

Fonte: IstoÉ

 

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