O governo Lula está colhendo o que plantou
O mandatário do
governo de turno – função, na prática, no mínimo dividida com o presidente da
Câmara – se encontra irritado com seus ministros por conta dos resultados
negativos em várias pesquisas de opinião. Há 6 meses que a sua aprovação
alterna entre queda, estagnação e fracas oscilações para cima. “Haddad tem que
deixar de ler um livro e negociar no Congresso”, disparou Luiz Inácio, em
evento no meio deste mês. A julgar por isso, o presidente da república atribui
seus recentes fracassos a uma falta de relações com o “centrão” e a direita no
Congresso, e nisso ele já está plantando os próximos insucessos.
Luiz Inácio está
calculando o seguinte: precisa evitar quedas ainda maiores na popularidade
entre as massas populares e de mais apoio entre as classes dominantes locais,
pois ambos indicadores representam enfraquecimento político do governo – o que
é sempre aproveitado pela oposição e pelos vorazes deputados e senadores para
arrancar mais verbas, emendas e ministérios do governo, em troca tão somente de
governabilidade. Além disso, Luiz Inácio sabe bem que um governo demasiado
frágil será facilmente acossado por crises geradas pelos mesmos conspiradores
que estiveram por trás da crise militar de 2022 e por aqueles milhares de
galinhas verdes e suas dezenas de milhares ou mais de seguidores bestializados,
à espera do chamado para levantar o movimento de massas golpista, ora apenas
disperso, no País. Para evitá-los, o governo pretende ceder ao Congresso as
mesmas verbas, emendas e ministérios (o que fortalecerá ainda mais Arthur Lira,
o presidente-de-fato), mas em troca de aprovar projetos que sirvam a elevar a
popularidade entre as massas, sem deixar de, nem no mínimo, atender aos
interesses centrais das classes dominantes locais e o imperialismo, e
equilibrar-se no governo. Na sua estratégia de mísera governabilidade a que tem
sido obrigado, essa é a fórmula mágica do oportunismo.
Mas a desgraça deste
governo é que nem ele e nem ninguém pode servir a dois senhores: ao aprovar
medidas que sirvam às classes dominantes – por exemplo, fornecendo, como já
fez, o maior plano Safra da história, do qual tanto se jacta e aprovando a
“reforma tributária” que segue isentando indecentemente o agronegócio de pagar
impostos na exportação de grãos –, ele prejudica completa e perversamente as
massas populares e gera frustração com seu governo. O encarecimento da cesta
básica alimentar, por falta de apoio e de crédito ao campesinato pobre e médio,
é consequência da sua política pró-latifúndio; assim como a falência da suposta
“reforma agrária” sobre a qual agora tergiversa, com a proposição enganosa de
entregar alguns poucos milhares de hectares de terras da União, exatamente para
não tocar em um palmo de terra sequer dos grileiros ladrões de terras da União,
enquanto mais de cinco milhões de famílias de camponeses pobres sem-terra e de
outros tantos milhões delas com pouca terra demandam um pedaço de terra ou
aumentar sua pequena propriedade. Também na esfera política não dá para servir
a dois senhores: ao persistir em apaziguar os generais e altos oficiais das
Forças Armadas e adotar o “esquecimento e silêncio” quanto ao golpe de 1964, o
governo, pusilânime, faz tripudiar a causa progressista que clama justiça e
condenação para que o golpismo não ameace o País – em total negligência e sem a
mínima coerência com a retórica que lhe rendeu popularidade.
O governo sabe bem que
ele serve às classes dominantes e não se indispõe com os generais, mas tenta
passar a imagem de que é progressista e que serve aos ricos, mas também aos
pobres. Aos ricos, oferece as reformas que elevam a exploração dos pobres, o saqueio
das riquezas naturais do País ao imperialismo, que destina verbas públicas aos
seus negócios em detrimento da Saúde e da Educação; aos pobres, a pose de
operário que subiu na vida, as bravatas sentimentalistas e programas
assistencialistas corporativizantes (curral eleitoral) e mais uma ou outra
medida paliativa, que sequer compensa a alta da inflação, do desemprego,
informalidade e precarização na Saúde e Educação públicas. Problemas que só
crescem desde antes do primeiro governo do PT e que, agora, este 5º governo do
PT aprofunda com seu programa de direita. Na esfera política, oferece aos
generais muito dinheiro e esquecimento; e às famílias vítimas do regime
militar, oferece mais frustração com a espera pela reabertura da Comissão
Especial sobre Mortos e Desaparecidos do regime militar.
Não restam dúvidas de
que os insucessos do governo, por sua política de conciliação, são tão
inevitáveis quanto o aumento, na sua esteira, do poder de Arthur Lira, assim
como o crescimento da extrema-direita bolsonarista e do frenesi golpista na
caserna. A frustração popular com o governo não é por falta de solicitude sua
com a direita, como Luiz Inácio tenta dar a impressão: a frustração popular é
porque o governo é de direita, como admitiu até mesmo o insuspeito Zé Dirceu.
• Na Agrishow, Bolsonaro, Tarcísio e
Caiado apontam para eleições de 2026, mas não só
No dia 28 de abril
teve início, em Ribeirão Preto (São Paulo), a Feira Internacional de Tecnologia
Agrícola em Ação. Conhecida como Agrishow, o evento reúne o “agronegócio”
brasileiro em torno de lançamentos de equipamentos agrícolas e tecnologia na
produção rural. Ela ocorrerá até o dia 3 de maio e deve reunir mais de 200 mil
pessoas, movimentando mais de R$ 14 bilhões.
Logo no primeiro dia,
enquanto os representantes do governo federal Geraldo Alckmin e Carlos Fávaro
compareciam no de evento de abertura que ocorreu às portas fechadas, a
extrema-direita bolsonarista realizou uma agitação para os latifundiários que
se reuniram na cidade.
O ex-presidente
genocida Jair Bolsonaro subiu no carro de som ao lado de um conjunto de
crápulas como Ricardo Salles (o ex-ministro do Meio Ambiente, hoje é deputado e
inimigo declarado dos povos indígenas), Tarcísio de Freitas (ex-ministro de
Infraestrutura e atual governador de SP responsável por recordes de
assassinatos policiais em chacinas nas periferias) e Ronaldo Caiado (governador
de GO que foi um dos criadores da UDR). Todos eles criticaram o governo de Luiz
Inácio e fizeram acenos aos latifundiários presentes.
• O que falou a extrema-direita?
Durante a passeata
realizada no domingo, Bolsonaro relembrou o seu governo e também fez elogios
direcionados para Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado, governadores de SP e
GO, tidos como favoritos para a disputa presidencial de 2026. Acenando para
Tarcísio, afirmou: “Se eu não voltar um dia, fiquem tranquilos porque plantamos
sementes”. Quanto a Caiado, o genocida se referiu da seguinte forma: “Semente
velha, mas que tem condições de germinar e dar frutos”.
Principal cotado para
ser o substituto de Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais, Tarcísio de
Freitas embelezou o governo responsável pelo genocídio durante a pandemia,
chamando Jair Bolsonaro de “visionário”, criticou os “desmandos do atual governo”.
Interessado no espólio eleitoral daquele que hoje está inelegível por conta de
agitações golpistas realizadas antes, durante e após as eleições de 2022,
Tarcísio destacou que Bolsonaro sempre “valorizou e foi parceiro do
agronegócio”. Ele aproveitou a ocasião para anunciar um pacote de R$ 1,4 bilhão
de investimentos do governo de SP para o latifúndio. O governador de SP foi
criticado por não comparecer na abertura oficial, preferindo ir para a
manifestação que foi realizada do lado de fora.
Na realidade, Tarcísio
já está em campanha eleitoral para presidente em 2026. Seu governo comprova
isso: o crescimento de chacinas nas periferias é um aceno para a
extrema-direita nas cidades – numa tática eleitoreira já utilizada por
assassinos e terroristas como Wilson Witzel e Cláudio Castro, no RJ. Com a
atual a promessa de verbas bilionárias para o latifúndio, Tarcísio indica que
quer também selar uma aliança com o latifúndio, sobretudo o paulista, que é
responsável por mais exportações anuais num valor acima de 70 bilhões de
dólares (representando mais de 20% do exportado pelo latifúndio brasileiro no
ano de 2023).
Durante os quatro anos
do governo Bolsonaro, a extrema-direita também realizou agitações na Agrishow.
Em 2019, a Liga dos Camponeses Pobres denunciou que, ao discursar na abertura
do evento latifundista, o genocida pregava abertamente uma guerra no campo
enquanto anunciava medidas econômicas que beneficiavam abertamente o latifúndio
em detrimento dos milhões de camponeses que amarguravam a miséria no campo, sem
acesso à terra.
• Diante de agitação bolsonarista, Luiz
Inácio silencia
Enquanto Bolsonaro,
sem ser convidado oficialmente para o evento, fez uma motociata, discursou
visando as eleições e agitou sua base de extrema-direita com críticas ao
governo, Luiz Inácio decidiu não comparecer pessoalmente, mas sim escalar seu
vice-presidente Geraldo Alckmin. Tudo para evitar ser rechaçado pelos
latifundiários, que são, hoje, a principal base social do bolsonarismo.
A inauguração oficial
do evento (que por ter sido fechada ao público, favoreceu o cálculo de Luiz
Inácio) contou, tão somente, com Geraldo Alckmin e Carlos Fávaro. Escalados
para representarem a equipe do governo federal na abertura da Agrishow,
cumpriram a estratégia de tentar comprar os latifundiários pelo bolso.
O ministro da
Agricultura, Fávaro, já ocupou o cargo de vice-presidente da Associação de
Produtores de Soja do Brasil. Em abril de 2023, comparou a luta pela terra e
ocupações promovidas pelo movimento camponês com a invasão da sede dos três
poderes em 8 de janeiro por bolsonaristas.
Ele afirmou que o
governo têm se dedicado a investir no setor de máquinas agrícolas: “Ano passado
foram R$ 2 bilhões, esse ano será ainda mais”, afirmou o ministro, que também
prometeu que as taxas de juros serão ainda menores que o patamar do plano Safra
em curso (que variam de 8% a 12%, muito abaixo do que paga o conjunto do povo
brasileiro).
No ano passado, o
ministro Carlos Fávaro decidiu não comparecer na cerimônia de abertura da
Agrishow por ter se sentido “desconvidado” devido à presença de Jair Bolsonaro.
Luiz Inácio, então, cortou o patrocínio do BB ao evento, mas logo entregou uma
bolada de R$ 363 bilhões ao latifúndio através do Plano Safra. Bolsonaro e os
sequazes, naquela ocasião, fizeram o de sempre: agitação de extrema-direita
para os latifundiários.
O maior risco do
silêncio de Luiz Inácio não é que a extrema-direita atinja as pretensões
eleitorais do PT e critique o governo federal. O que está em jogo aqui é uma
tarefa fundamental, já assumidas pelas massas de camponeses, quilombolas e
indígenas: o combate aos grupos paramilitates do latifúndio – que crescem ano
após ano conforme se avolumam as agitações bolsonaristas.
Fonte: A Nova
Democracia
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