terça-feira, 21 de maio de 2024

Jerônimo terceiriza a culpa após IBGE apontar a Bahia como estado com o maior nº de analfabetos do país

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), se isentou, na manhã desta segunda-feira (20), ao ser questionado pela imprensa sobre os índices de analfabetismo no estado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados, na semana passada, mostram que existem 1,4 milhão de pessoas que não sabem ler e nem escrever no estado - o que representa o maior contingente do Brasil.

De acordo com o instituto, o número de analfabetos corresponde a 12,6% da população baiana, colocando o estado como detentor da 9º maior taxa de analfabetismo do país. Em entrevista coletiva nesta segunda, Jerônimo Rodrigues disse que a alfabetização é de responsabilidade dos municípios.

“No que diz respeito ao analfabetismo, eu quero dizer, novamente, como a gente sempre fala sobre a saúde, quem alfabetiza são os municípios. É do município que começa a creche, o infantil, o Fundamental I, o Fundamental II. Então, a gente vai ficar de cá aguardando os estudantes chegarem no nível Médio”, declarou.

O governador disse, entretanto, que o estado “não vai ficar de cá aguardando os estudantes chegarem no Ensino Médio, eu tenho que ir lá atrás”, mas não explicou como o governo pretende reduzir o número de analfabetos. Ele afirmou que, ao entregar vans escolares, como fez nesta segunda, contribui para melhorar a educação na Bahia.

“Eu fiquei, naturalmente, como gestor, contente, porque nós continuamos avançando, sendo o estado do Nordeste que mais evoluiu no sentido de tirar as pessoas da condição de analfabetismo. Mas, enquanto gestor educador, eu sei da minha responsabilidade e sei que temos muito o que fazer”, acrescentou o petista.

Apesar de ter visto sua população não alfabetizada diminuir 17,8% entre 2010 e 2022 (-308.350 pessoas) e a taxa de analfabetismo recuar de 16,6% para 12,6%, a Bahia não teve nenhum avanço no ranking nacional para esses indicadores, mantendo-se nas mesmas posições de 12 anos atrás. Isso revela que, em comparação com outros estados, a Bahia teve pouca evolução na última década.

Em março deste ano, Jerônimo causou polêmica ao comparar o analfabetismo à doença. "(O analfabetismo) é como se nós tivéssemos uma doença. Para mim, o analfabetismo é uma doença da ignorância, de não poder ler, não pode escrever, não pode criticar. Isso acaba sendo uma doença, subjetivamente falando”, afirmou o governador, na ocasião.

NOTA:

Lembrando que Jerônimo Rodrigues foi por 4 anos secretário de educação, na última gestão do mal fadado governo de Rui Costa.

¨      ‘A gente não ensina para que todos aprendam’: diz ex-diretora do Banco Mundial sobre taxa de analfabetismo na Bahia

Uma em cada dez pessoas de 15 anos ou mais, na Bahia, não sabe ler e nem escrever. É o que revelam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através do módulo Alfabetização, do Censo 2022. Mas essa não é uma novidade para o estado, que caminha a passos lentos para universalizar a educação para seus habitantes. Há 31 anos, a Bahia tem o maior número absolutos de pessoas analfabetas no Brasil.

Para Cláudia Costin, que foi Diretora Sênior para a Educação no Banco Mundial, entre 2014 e 2016, uma série de fatores ajuda a explicar por que a Bahia e o Brasil ainda têm dificuldades em alfabetizar a população. Enquanto a taxa de analfabetismo no país é de 7%, a baiana é de 12,6%.

“Se a gente comparar com outros países, o avanço aqui foi muito mais lento. O Brasil demorou muito para colocar todas as crianças no ensino primário, o que só aconteceu na última década do século XX”, contextualiza Cláudia Costin, que é presidente do instituto Singularidades, que forma professores.

Desde que as portas das escolas primárias foram alargadas e passaram a atender grande parte da população baiana, o número de crianças analfabetas diminuiu, mas o estado se mantém nas mesmas posições do ranking nacional de 12 anos atrás. Entre 2010 e 2022, a taxa de analfabetismo na Bahia recuou de 16,6% para 12,6%. A redução ocorreu em todos os 417 municípios baianos.

“Mesmo com a universalização do acesso às escolas, ainda existem analfabetos com anos de escolaridade, porque não mudamos a forma de atuar dentro das escolas. A gente não ensina para que todos aprendam. A política educacional tem uma abordagem pedagógica que o papel do professor é ser um fornecedor de aulas e não um assegurador de aprendizagem para todos”, ressalta Cláudia Costin.

Ela lembra ainda que o analfabetismo e a sua evolução no tempo também se mostram desiguais por cor ou raça. Se entre os brancos, a taxa de analfabetismo é de 11,3% na Bahia, para os pardos é de 12,7% e, para os negros, 13,3%.

“Um outro fator também chama atenção na Bahia, que é o recorte étnico-racial. Há mais analfabetos negros do que brancos e pardos, mesmo o estado tendo uma grande concentração de população negra”, lembra Cláudia Costin. A educação tem impactos no rendimento médio dos baianos. Pessoas brancas no mercado formal faturam três vezes mais do que os negros que estão na informalidade, segundo dados do Censo 2022.

A necessidade de dividir o tempo entre trabalho e estudos reflete na maior evasão escolar e, consequentemente, no analfabetismo. “Não é raro que as crianças e adolescentes negros se sintam inferiorizados ou, por vezes, que os professores olhem para essas cirnaça cosmo alguém que têm menos condições de aprender”, diz. Entre os homens, a taxa de analfabetismo é de 13,8%, maior do que entre as mulheres baianas, que é de 11,5%. 

Enquanto a crise na educação baiana amarga, uma política educacional que ficou conhecida como “aprovação em massa” é criticada por professores. A portaria 190/2024, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, possibilita que estudantes avancem mesmo reprovados em disciplinas e com falta de aulas. A medida, segundo especialistas, tenta melhorar os índices de educação no estado de forma indevida.

"A educação de jovens e adultos pode ser uma maneira de endereçar esse problema. Todo jovem que for deixado para trás precisa ter uma chance de novo, mas a taxa de desistência dessa faixa etária é muito grande. Precisamos de novas maneiras de lidar com essa educação, provavelmente associando a recuperação de aprendizagens perdidas com uma formação técnica, que dê a sensação de que o adulto poderá logo melhorar de vida", indica Claúdia Costin. 

A Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) foi questionada, através da assessoria de impresa, sobre o estado ter o maior número absoluto de pessoas analfabetas do Brasil. Até a publicação desta matéria, a pasta não se manifestou. A reportagem será atualizada assim que o Governo da Bahia se posicionar sobre o assunto. 

Em nota enviada à imprensa após a divulgação dos dados pelo IBGE, o Governo da Bahia comemorou os resultados, destacando que o estado tem a menor taxa de analfabetismo do Nordeste e a redução do analfabetismo em todos os municípios baianos.

“Para atingir este público adulto, a Secretaria de Educação do Estado (SEC) tem atuado por meio de diferentes iniciativas. Uma delas é o Projeto Estadual Paulo Freire, que possibilita alfabetizar jovens, adultos e idosos matriculados nas redes municipais de educação”, disse.

“Ainda neste sentido, outro trabalho realizado pela Secretaria da Educação do Estado para reduzir o analfabetismo entre a população mais velha é o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Hoje, na Bahia, há cerca de 125 mil pessoas matriculadas nesta modalidade de ensino, oferecida em 1025 escolas, de 403 dos 417 municípios baianos”, completa a pasta.

 

Fonte: Correio

 

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