Jerônimo terceiriza a culpa após IBGE
apontar a Bahia como estado com o maior nº de analfabetos do país
O governador da Bahia,
Jerônimo Rodrigues (PT), se isentou, na manhã desta segunda-feira (20), ao ser
questionado pela imprensa sobre os índices de analfabetismo no estado. Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados, na semana
passada, mostram que existem 1,4 milhão de pessoas que não sabem ler e nem
escrever no estado - o que representa o maior contingente do Brasil.
De acordo com o
instituto, o número de analfabetos corresponde a 12,6% da população baiana,
colocando o estado como detentor da 9º maior taxa de analfabetismo do país. Em
entrevista coletiva nesta segunda, Jerônimo Rodrigues disse que a alfabetização
é de responsabilidade dos municípios.
“No que diz respeito
ao analfabetismo, eu quero dizer, novamente, como a gente sempre fala sobre a
saúde, quem alfabetiza são os municípios. É do município que começa a creche, o
infantil, o Fundamental I, o Fundamental II. Então, a gente vai ficar de cá
aguardando os estudantes chegarem no nível Médio”, declarou.
O governador disse,
entretanto, que o estado “não vai ficar de cá aguardando os estudantes chegarem
no Ensino Médio, eu tenho que ir lá atrás”, mas não explicou como o governo
pretende reduzir o número de analfabetos. Ele afirmou que, ao entregar vans escolares,
como fez nesta segunda, contribui para melhorar a educação na Bahia.
“Eu fiquei,
naturalmente, como gestor, contente, porque nós continuamos avançando, sendo o
estado do Nordeste que mais evoluiu no sentido de tirar as pessoas da condição
de analfabetismo. Mas, enquanto gestor educador, eu sei da minha
responsabilidade e sei que temos muito o que fazer”, acrescentou o petista.
Apesar de ter visto
sua população não alfabetizada diminuir 17,8% entre 2010 e 2022 (-308.350
pessoas) e a taxa de analfabetismo recuar de 16,6% para 12,6%, a Bahia não teve
nenhum avanço no ranking nacional para esses indicadores, mantendo-se nas
mesmas posições de 12 anos atrás. Isso revela que, em comparação com outros
estados, a Bahia teve pouca evolução na última década.
Em março deste ano,
Jerônimo causou polêmica ao comparar o analfabetismo à doença. "(O
analfabetismo) é como se nós tivéssemos uma doença. Para mim, o analfabetismo é
uma doença da ignorância, de não poder ler, não pode escrever, não pode
criticar. Isso acaba sendo uma doença, subjetivamente falando”, afirmou o
governador, na ocasião.
NOTA:
Lembrando que Jerônimo
Rodrigues foi por 4 anos secretário de educação, na última gestão do mal fadado
governo de Rui Costa.
¨
‘A gente não ensina
para que todos aprendam’: diz ex-diretora do Banco Mundial sobre taxa de
analfabetismo na Bahia
Uma em cada dez pessoas de 15 anos ou mais, na Bahia, não
sabe ler e nem escrever. É o que revelam dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), através do módulo Alfabetização, do Censo 2022.
Mas essa não é uma novidade para o estado, que caminha a passos lentos para
universalizar a educação para seus habitantes. Há 31 anos, a Bahia tem o maior
número absolutos de pessoas analfabetas no Brasil.
Para Cláudia Costin,
que foi Diretora Sênior para a Educação no Banco Mundial, entre 2014 e 2016,
uma série de fatores ajuda a explicar por que a Bahia e o Brasil ainda têm
dificuldades em alfabetizar a população. Enquanto a taxa de analfabetismo no
país é de 7%, a baiana é de 12,6%.
“Se a gente comparar
com outros países, o avanço aqui foi muito mais lento. O Brasil demorou muito
para colocar todas as crianças no ensino primário, o que só aconteceu na última
década do século XX”, contextualiza Cláudia Costin, que é presidente do instituto
Singularidades, que forma professores.
Desde que as portas
das escolas primárias foram alargadas e passaram a atender grande parte da
população baiana, o número de crianças analfabetas diminuiu, mas o estado se
mantém nas mesmas posições do ranking nacional de 12 anos atrás. Entre 2010 e
2022, a taxa de analfabetismo na Bahia recuou de 16,6% para 12,6%. A redução
ocorreu em todos os 417 municípios baianos.
“Mesmo com a
universalização do acesso às escolas, ainda existem analfabetos com anos de
escolaridade, porque não mudamos a forma de atuar dentro das escolas. A gente
não ensina para que todos aprendam. A política educacional tem uma abordagem
pedagógica que o papel do professor é ser um fornecedor de aulas e não um
assegurador de aprendizagem para todos”, ressalta Cláudia Costin.
Ela lembra ainda que o
analfabetismo e a sua evolução no tempo também se mostram desiguais por cor ou
raça. Se entre os brancos, a taxa de analfabetismo é de 11,3% na Bahia, para os
pardos é de 12,7% e, para os negros, 13,3%.
“Um outro fator também
chama atenção na Bahia, que é o recorte étnico-racial. Há mais analfabetos
negros do que brancos e pardos, mesmo o estado tendo uma grande concentração de
população negra”, lembra Cláudia Costin. A educação tem impactos no rendimento
médio dos baianos. Pessoas brancas no mercado formal faturam três vezes mais do que os negros que estão na
informalidade, segundo dados do Censo 2022.
A necessidade de
dividir o tempo entre trabalho e estudos reflete na maior evasão escolar e,
consequentemente, no analfabetismo. “Não é raro que as crianças e adolescentes
negros se sintam inferiorizados ou, por vezes, que os professores olhem para
essas cirnaça cosmo alguém que têm menos condições de aprender”, diz. Entre os
homens, a taxa de analfabetismo é de 13,8%, maior do que entre as mulheres
baianas, que é de 11,5%.
Enquanto a crise na
educação baiana amarga, uma política educacional que ficou conhecida como “aprovação em massa” é criticada por professores. A
portaria 190/2024, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, possibilita
que estudantes avancem mesmo reprovados em disciplinas e com falta de aulas. A
medida, segundo especialistas, tenta melhorar os índices de educação
no estado de forma indevida.
"A educação de
jovens e adultos pode ser uma maneira de endereçar esse problema. Todo jovem
que for deixado para trás precisa ter uma chance de novo, mas a taxa de
desistência dessa faixa etária é muito grande. Precisamos de novas maneiras de
lidar com essa educação, provavelmente associando a recuperação de
aprendizagens perdidas com uma formação técnica, que dê a sensação de que o
adulto poderá logo melhorar de vida", indica Claúdia Costin.
A Secretaria de
Educação do Estado da Bahia (SEC) foi questionada, através da assessoria de
impresa, sobre o estado ter o maior número absoluto de pessoas analfabetas do
Brasil. Até a publicação desta matéria, a pasta não se manifestou. A reportagem
será atualizada assim que o Governo da Bahia se posicionar sobre o
assunto.
Em nota enviada à
imprensa após a divulgação dos dados pelo IBGE, o Governo da Bahia comemorou os
resultados, destacando que o estado tem a menor taxa de analfabetismo do
Nordeste e a redução do analfabetismo em todos os municípios baianos.
“Para atingir este
público adulto, a Secretaria de Educação do Estado (SEC) tem atuado por meio de
diferentes iniciativas. Uma delas é o Projeto Estadual Paulo Freire, que
possibilita alfabetizar jovens, adultos e idosos matriculados nas redes
municipais de educação”, disse.
“Ainda neste sentido,
outro trabalho realizado pela Secretaria da Educação do Estado para reduzir o
analfabetismo entre a população mais velha é o programa de Educação de Jovens e
Adultos (EJA). Hoje, na Bahia, há cerca de 125 mil pessoas matriculadas nesta
modalidade de ensino, oferecida em 1025 escolas, de 403 dos 417 municípios
baianos”, completa a pasta.
Fonte: Correio
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