Inundação em Porto Alegre foi falta de
manutenção, dizem especialistas
Essa é a avaliação de
um grupo de 42 engenheiros, arquitetos e geólogos, que divulgou um manifesto,
na última quinta-feira, em que explicam o que ocorreu para a cidade ser tomada
pela água do Guaíba, na maior enchente da história da capital gaúcha.
O sistema de proteção
contra inundações de Porto Alegre é considerado "robusto, eficiente e
fácil de operar e manter", mas falhou porque não recebeu as manutenções
permanentes necessárias por parte da prefeitura, por meio do Departamento
Municipal de Água e Esgoto (DMAE).
Essa é a avaliação de
um grupo de 42 engenheiros, arquitetos e geólogos, que divulgou um manifesto,
na última quinta-feira, em que explicam o que ocorreu para a cidade ser tomada
pela água do Guaíba, na maior enchente da história da capital gaúcha.
O sistema de proteção
contra inundações de Porto Alegre é considerado "robusto, eficiente e
fácil de operar e manter", mas falhou porque não recebeu as manutenções
permanentes necessárias por parte da prefeitura, por meio do Departamento
Municipal de Água e Esgoto (DMAE). Essa é a avaliação de um grupo de 42
engenheiros, arquitetos e geólogos, que divulgou um manifesto, na última
quinta-feira, em que explicam o que ocorreu para a cidade ser tomada pela água
do Guaíba, na maior enchente da história da capital gaúcha.
Concebido na década de
1970 por engenheiros da Alemanha, com inspiração em modelos holandeses, o
sistema porto-alegrense é composto por cerca de 60 quilômetros (km) de diques e
barragens, de norte a sul da capital gaúcha. Avenidas importantes, como Castelo
Branco, Beira-Rio e Diário de Notícias, além da rodovia Freeway, são barragens
construídas para evitar o extravasamento da água do Guaíba para áreas urbanas.
Há também um muro de
proteção, o Muro da Mauá, que funciona como dique para área central da cidade,
desde a altura da rodoviária até a usina do Gasômetro. Por toda essa extensão,
há 14 comportas, que permitem a entrada e saída da água, e 23 casas de bombas
hidráulicas, que também tem as próprias comportas, e funcionam como pontos de
drenagem da água, para devolver , em uma eventual inundação, ao lago.
Já os córregos
(arroios) que cortam a cidade, como o Arroio Dilúvio, na Avenida Ipiranga,
complementam o sistema de diques internos. A cota de inundação do sistema é de
6 metros de cheia, cuja altura na enchente do início do mês não passou de 5,30
metros.
– Os diques e os muros
não vazam. Os vazamentos estão em boa parte das comportas sem manutenção. No
ano passado, quando o sistema foi acionado, durante as inundações com início no
Vale do Taquari e que também inundaram a região metropolitana, as deficiências
nas comportas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As
próprias casas de bombas, bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta
(EBABs) estão inundadas – diz o manifesto.
• O que dizem os engenheiros
"O mais urgente
que tinha que ser feito, desenvergar [comportas], trocar as borrachas, não foi
feito. Não precisaríamos ter sequer 10% da inundação que nós tivemos",
argumentou o engenheiro Vicente Rauber, ex-diretor do antigo Departamento de Esgotos
Pluviais (DEP), que nos anos 1990 já tinha lançado uma publicação sobre como
prevenir enchentes na cidade, que havia passado um trágico incidente em 1941.
– Como medidas
emergenciais, (o DMAE) deveria ir lá e fechar os furos, os vazamentos (das
comportas). Uma empresa de saneamento trabalha permanentemente com
mergulhadores, eles são necessários para fazer qualquer atividade, qualquer
conserto embaixo d'água. Conserta os furos e tenta religar as casas de bomba,
fazendo ensecadeiras, tirando a água dentro dela. Estamos num círculo vicioso,
as casas de bomba não funcionam porque foram inundadas, e a água não sai porque
não tem bomba (funcionando) – acrescentou durante uma entrevista coletiva para
lançar a carta.
"Nós temos uma
barragem, que impede a água de entrar. O muro e os diques são barragens. E,
quando a barragem não impede a água de entrar, tem um sistema que pega e joga
água para o outro lado da barragem. Muito simples, tradicional, clássico e
eficiente, é fácil de fazer. É só manter as casas de bomba funcionando, que ela
vai pegar a água de dentro da cidade e vai jogar fora", apontou Augusto
Damiani, engenheiro civil, ex-diretor-geral do DEP e do DMAE, hidrólogo e
mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas
Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
• Prefeitura nega falta de manutenção
Procurado, o DMAE
informou que, atualmente, 11 das 23 bombas estão em funcionamento. No auge da
inundação, 19 pararam por inundação ou por problemas elétricos. Elas estão
sendo consertadas, assegurou o órgão.
Enquanto isso,
moradores da região central e do norte da cidade, onde estão as bombas sem
funcionamento ou com operação parcial, sofrem com o repique das enchentes, que
quase colapsaram a cidade há 20 dias.
"Estamos
trabalhando para religar as demais casas de bombas. Ontem [23], durante o
temporal, nenhuma saiu fora de operação. Estamos trabalhando nas EBAPS
(Estações de Bombeamento de Água Pluvial) que faltam. Algumas tiramos os
motores para secar, outras ainda não conseguimos entrar em razão da inundação.
Nossas equipes estão trabalhando incansavelmente para colocar todo o sistema em
operação o mais breve possível", disse o DMAE.
Em entrevista à Rádio
Nacional, última quarta-feira, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo,
negou falta de manutenção no sistema e atribuiu a falha à concepção do sistema.
"Em 1968, 1969,
eu sou o décimo terceiro prefeito dessa leva [da década] de 1970 para cá. Esse
sistema foi concebido de um jeito e ele nunca foi modificado. E ele tinha
testado algumas vezes em centros menores e tinha respondido bem. Bom, mas ele
nunca tinha sido testado com o fenômeno do tamanho que aconteceu",
afirmou.
"Esse fenômeno
que aconteceu, o climático, ele poderia ter acontecido em qualquer cidade
brasileira e talvez não fosse diferente, porque nós não temos cidades adaptadas
para esse novo normal, nenhuma. Nenhuma, especialmente grandes cidades. Então,
essa tragédia que aconteceu aqui, ela poderia acontecer em São Paulo, Rio de
Janeiro, em qualquer outro lugar. Acho que o Brasil tem que pensar no novo
normal", insistiu Melo.
• Mourão, senador pelo RS, observa ‘desfio
de função’ em resgates: ‘Sou um homem de 70 anos’
O senador Hamilton
Mourão (Republicanos-RS) alegou que tem 70 anos e que vê a atuação direto e
presencial no socorro das famílias vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul
como um “desvio de função”. A declaração foi dada em uma entrevista à Rádio
Gaúcha na sexta-feira, 24.
“Eu entendo isso aí.
Vamos lembrar que eu sou um homem de 70 anos de idade. Quantos homens de 70
anos de idade estão no meio da água aí? Vocês disserem que tem alguém da minha
idade salvando gente, né, mas eu não vejo isso como minha função. Eu estaria tendo
um desvio de função. É essa minha visão”, disse.
Ainda na entrevista, o
vice do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que não gosta de fazer
exploração política, que é mais discreto e que mandou “inúmeras carretas de
doação para o Rio Grande do Sul sem falar nada”.
“Vi a crítica que vem
sendo feita, aceito a crítica, mas aproveitando a oportunidade que vocês estão
me dando para mostrar a forma que eu vejo. O meu trabalho para que as pessoas
saiam dessa situação difícil é um trabalho silente, contínuo e sem querer capitalizar
politicamente”, explicou.
O parlamentar afirmou
ainda que vem trabalhando no parlamento em Brasília para a melhoria da
legislação e ressaltou que estava no estado desde o dia 1º de maio e no dia 3
fez uma reunião na Assembleia Legislativa, antes de iniciar a evacuação no
Centro de Porto Alegre.
Fonte: Correio do
Brasil/IstoÉ
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