quarta-feira, 22 de maio de 2024

 

G7 quer garantir ajudar Ucrânia 'à prova de Trump' usando lucro de ativos russos congelados

Washington pretende antecipar bilhões de dólares em ajuda a Kiev, utilizando os lucros dos ativos congelados da Rússia como garantias de empréstimos prevendo retorno de Donald Trump à Casa Branca.

De acordo com o Financial Times (FT), o G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) deve discutir um plano na cúpula de junho, sobre como adiantar o fornecimento de recursos a Kiev sob forma de empréstimos que seriam garantidos pelo lucro de cerca de US$ 350 bilhões (cerca de R$ 1,7 trilhão) em ativos russos que foram congelados pelo Ocidente de forma unilateral e ilegal após o início da operação militar especial russa na Ucrânia.

Apesar da relutância de alguns membros, o esforço diplomático dos EUA tem mobilizado o grupo para garantir que um acordo seja finalizado na cúpula de líderes do G7 no próximo mês, segundo oito responsáveis ocidentais ouvidos pela apuração.

Segundo o plano, cerca de US$ 50 bilhões (aproximadamente R$ 255,1 bilhões) já poderiam ser desembolsados à Ucrânia neste verão (Hemisfério Norte) no momento em que Kiev luta para manter a linha de frente após meses de atrasos na entrega de ajuda militar ocidental.

Os membros mais relutantes do G7 aceitaram o plano como forma de garantir financiamento a longo prazo para Kiev, caso Joe Biden perca as eleições presidenciais deste ano para Trump, que se opôs à ajuda dos EUA à Ucrânia.

França, Alemanha, Itália e Japão se opuseram inicialmente aos planos mais abrangentes dos EUA, como a apreensão dos ativos subjacentes da Rússia, temendo que isso pudesse criar um precedente para a apreensão de propriedade estatal e causar estragos nos mercados financeiros. Mas nas últimas semanas, os membros parecem ter sido convencidos por Washington de que a ideia de usar os rendimentos dos ativos russos para gerar empréstimos para a Ucrânia, é uma boa alternativa.

Os detalhes do acordo ainda não foram desenhados, como, por exemplo, quem emitiria a dívida, quem seria o Estado garantidor e como os riscos e o reembolso seriam partilhados no caso de os rendimentos futuros não se concretizarem.

O alto funcionário do Tesouro dos EUA disse que qualquer decisão seria "fundamentalmente uma decisão política, que será tomada pelos líderes" do G7 no próximo mês. "O objetivo é obter consenso dos ministros das Finanças para aconselhar os líderes", disse o funcionário dos EUA ao FT.

¨      EUA aconselham Zelensky a criar atmosfera de medo entre ucranianos, diz inteligência da Rússia

O Serviço de Inteligência Externa emitiu um comunicado em que destacou a difícil situação das autoridades ucranianas, que são cada vez mais forçadas a reprimir o descontentamento popular.

Os EUA e seus aliados estão recomendando firmemente ao presidente ucraniano Vladimir Zelensky que não afrouxe seu controle sobre a população do país e continue criando uma atmosfera de medo, disse o serviço de imprensa do Serviço de Inteligência Externa da Rússia (SVR, na sigla em russo).

"Foi iniciada uma campanha de intimidação dos cidadãos ucranianos, afirmando que haverá 'inevitáveis repressões em massa' em caso de derrota da Ucrânia. Os americanos e seus aliados recomendam persistentemente a Zelensky que não afrouxe seu controle sobre a população do país, que continue criando uma atmosfera de medo entre os civis, distorcendo grosseiramente as metas e os objetivos da operação militar especial que está sendo conduzida pela Rússia", diz o SVR.

Ele indica que a popularidade do líder ucraniano é muito baixa.

"O nível de apoio a Vladimir Zelensky caiu para 17% e continua diminuindo. Mais de 70% da população não confia na mídia ucraniana e cerca de 90% gostaria de deixar o país. As coisas não estão melhores no Exército. Mesmo entre os militares das Forças Armadas da Ucrânia que são submetidos a uma contínua influência ideológica, a popularidade de Zelensky não ultrapassa 20%", disse o serviço de inteligência.

Segundo o SVR, Zelensky "sente a vulnerabilidade de suas posições" e "nas vésperas do término de seu mandato em 20 de maio [segunda-feira], está tentando desesperadamente se livrar das pessoas 'não confiáveis'".

"Há expurgos em grande escala no Exército, remodelações no governo, na liderança do SSU [Serviço de Segurança da Ucrânia, na sigla em ucraniano] e no Conselho de Segurança e Defesa Nacional. Receando por sua vida, Zelensky lançou uma ampla campanha na mídia expondo um plano obviamente rebuscado da liderança da Direção de Proteção do Estado Ucraniano para assassinar o chefe de Estado", notou.

O Serviço de Inteligência Externa russo acrescentou que o Ocidente também está extremamente preocupado com a grande queda na popularidade das autoridades ucranianas, especialmente após a adoção da lei de mobilização.

As eleições presidenciais na Ucrânia deveriam ter sido realizadas em 31 de março de 2024, e a posse do recém-eleito chefe de Estado teria ocorrido neste mês. Mas a votação foi cancelada, citando a lei marcial e a mobilização geral. Zelensky afirmou que agora "não era o momento certo" para a eleição, sublinhando que a questão deveria ser posta de lado.

¨      Recrutamento forçado pode levar a uma revolta popular na Ucrânia, avalia especialista

Diante da escassez severa de ucranianos dispostos a lutar no conflito com a Rússia, o regime de Kiev tem recorrido ao recrutamento forçado de pessoas que, normalmente, seriam consideradas inadequadas para o serviço militar. Criminosos condenados por crimes considerados não graves, por exemplo, agora são elegíveis para lutar nas linhas de frente.

De acordo com o especialista militar russo e analista político Ivan Konovalov, a medida pode levar cidadãos a se levantarem contra o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, e seu regime. Em conversa com a Sputnik, Konovalov ressaltou, no entanto, que os serviços de segurança de Kiev "têm se mostrado bastante competentes em reprimir a oposição política e os dissidentes dentro do país".

Segundo o especialista, as tentativas da Ucrânia de lidar com o déficit de soldados, empregando mais mulheres, representam um risco, porque "as mulheres são muito mais politicamente ativas" do que os homens.

"As mulheres, quando a situação envolve suas famílias e entes queridos, tornam-se as revolucionárias mais desesperadas", observou Konovalov.

Em relação às alegações de que Zelensky está intensificando os esforços de mobilização a pedido dos Estados Unidos, o analista argumentou que a administração Biden está agindo com cautela.

Segundo ele, a Casa Branca deliberadamente se abstém de fazer tais demandas a Kiev, optando, em vez disso, por usar legisladores russofóbicos como Lindsey Graham para enviar tais mensagens à liderança ucraniana.

·        Zelensky surge como o '1º obstáculo' à resolução pacífica do conflito ucraniano, diz analista

No próximo mês, a Suíça deverá acolher uma conferência aparentemente destinada a ajudar a alcançar uma resolução pacífica do conflito ucraniano, embora a Rússia não tenha sido convidada, enquanto os membros do BRICS e os países do Sul Global parecem relutantes em participar do evento.

A próxima conferência no resort Burgenstock, na Suíça, considerada pelos seus organizadores um evento para promover o processo de paz na Ucrânia, será definitivamente tudo menos uma cúpula de paz, afirma o deputado suíço e antigo diretor-executivo do Clube de Imprensa de Genebra, Guy Mettan.

"A rejeição deliberada da Rússia está agora comprometendo o sucesso da reunião e a se voltar contra os seus organizadores", disse Mettan à Sputnik, salientando que a Rússia não foi convidada a participar da conferência. "Ciente deste problema, a narrativa oficial suíça tenta agora afirmar que a Rússia não queria participar e que a sua ausência resultou da sua própria decisão, o que é falso e não enganará ninguém fora do Ocidente coletivo."

Segundo Mettan, os países do Sul Global podem acabar por enviar os seus representantes para este encontro, embora provavelmente enviem "participantes de nível médio sem poder de decisão, para evitar serem acusados de serem 'contra a paz' ou de 'boicotar o Ocidente'".

"Para o Sul Global, as questões atuais são: por que deveria participar de uma cúpula que já não é uma cúpula, que não está focada na paz devido ao não convite à Rússia, e que será certamente um fracasso?", questionou ele.

Mettan também argumenta que Zelensky se opõe de fato ao "processo de negociação real", uma vez que assinou um decreto que proíbe quaisquer conversações de paz com a Rússia e com a sua chamada fórmula de paz que apela essencialmente à capitulação de Moscou.

"Ele é o primeiro obstáculo a qualquer negociação de paz. Se ele vier para a Suíça, será para receber o suporte dos seus apoiadores ocidentais e para obter mais ajuda para a guerra. Não pela paz", comenta Mettan.

O legislador sugere que o apoio ocidental ao governo de Zelensky, que visa enfraquecer a Rússia, pode persistir até as eleições presidenciais dos EUA em novembro, mas depois, os fracassos da estratégia podem se tornar mais evidentes nos domínios militar, econômico, financeiro e político.

Entretanto, parece que a cúpula em questão foi desprezada por muitos dos potenciais participantes devido à "abordagem irrealista" adotada pelos organizadores do evento, afirma Paolo Raffone, analista estratégico e diretor da Fundação CIPI em Bruxelas.

Durante entrevista à Sputnik, Raffone destaca que não só a Rússia não foi convidada para a cúpula, mas a própria conferência visa promover a chamada "fórmula de paz" de Zelensky, um esquema que inclui a exigência de que a Rússia ceda uma parte do seu território para a Ucrânia como condição prévia para pôr fim ao conflito ucraniano.

"Essa abordagem irrealista é a razão pela qual muitos convidados não comparecerão. Os países que optaram por não participar estão cientes de que um diálogo na ausência da Rússia não representa 'os legítimos interesses das partes'", explica. "Além disso, nenhuma conversação de paz será bem financiada se não for baseada na realidade. Quaisquer conversações de paz significativas implicam que o governo ucraniano deve reconhecer as 'novas realidades territoriais'."

"Os líderes mundiais estão cientes de que qualquer resolução para a guerra na Ucrânia só poderá encontrar um acordo entre as potências mundiais reais que sustentam os acontecimentos, especialmente a Rússia e os EUA", acrescenta o especialista. "Embora os contatos e conversações nos bastidores prossigam, a maioria dos líderes mundiais acredita que ainda não é o momento para 'conversações de paz' e que, em qualquer caso, o ponto de partida não pode ser outro senão o documento redigido e maioritariamente acordado na Turquia, em março de 2022."

O analista observou também que a implementação do plano de Zelensky seria impossível sem a "intervenção militar direta dos países ocidentais", e que já se tornou claro que "nenhum dos países ocidentais enviará oficialmente tropas para lutar na Ucrânia contra a Rússia", concluiu.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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