quinta-feira, 23 de maio de 2024

Fernando Nogueira da Costa: Neoliberalismo, globalização, desindustrialização e financeirização

Dado o estudo de psicologia econômica por anos a fio, o economista se meteu a ser um terapeuta. Passou a orientar essa discussão em busca do entendimento do complexo mundo real

“Em companhia de dois, três resultam em complexidade”. Imagine se são quatro!

O mundo real vai muito além de pares e/ou raciocínios binários, tipo Tico-e-Teco (“2 neurônio” sem S e… sem DR). A discussão de relacionamento (DR) entre um casal, em terapia, segue um processo estruturado, facilitado pelo terapeuta.

Dado o estudo de psicologia econômica (ou economia comportamental) por anos a fio, o economista se meteu a ser um terapeuta. Passou a orientar essa discussão em busca do entendimento do complexo mundo real.

No início da terapia, o economista-terapeuta trabalha com o casal para identificar os principais problemas de relacionamento necessários de se abordar durante as sessões. Com o estabelecimento desses objetivos, partem para a exploração das questões-chaves.

O economista-terapeuta facilita a discussão aberta entre o casal (o neoliberalismo e a globalização), encorajando-os a expressar suas preocupações, sentimentos e necessidades. Cada parceiro tem a oportunidade de falar sobre como se sente em relação ao relacionamento entre ambos.

O economista-terapeuta ajuda o casal a reconhecer padrões de comportamento e interação resultantes nos conflitos e problemas no relacionamento. Escuta os padrões de comunicação negativos, falta de empatia ou desequilíbrio nas responsabilidades.

Ensina então ao casal certas habilidades de interagir, como ouvir ativamente, expressar-se de forma clara e assertiva, e resolver conflitos de forma construtiva. Eles praticam essas habilidades durante as sessões e recebem feedback do economista-terapeuta.

Passa, então, a ajuda o casal explorar emoções profundas e questões não resolvidas. Afetam seu relacionamento, como traumas passados, inseguranças ou problemas de relacionamento com outros, inclusive eventual quebra da fidelidade.

O casal neoliberalismo-globalização trabalha em conjunto para identificar áreas de conflito e encontrar soluções mutuamente satisfatórias. O economista-terapeuta facilita o processo de negociação e o ajuda a desenvolver compromissos e acordos.

Após a negociação e resolução de conflitos, auxilia o casal na criação de um plano de ação para implantar as mudanças discutidas durante a terapia. Isso pode incluir metas específicas, práticas de interação aprimoradas e estratégias para fortalecer o relacionamento.

Finalmente, nesse papel de terapeuta, o economista faz acompanhamento e avaliação de modo contínuo. Ao longo das sessões subsequentes, monitora o progresso do casal e revisa regularmente seus objetivos e estratégias. Eles ajustam o plano de tratamento conforme necessário.

Este é um esboço geral do processo de discussão de relacionamento entre o neoliberal e a globalização. Cada sessão de terapia variava, dependendo das necessidades e dinâmicas específicas do casal, bem como da abordagem terapêutica do economista-terapeuta, porém, foi surpreendente ter aparecido outros relacionamentos com o neoliberalismo, despertando um ciúme atroz na globalização.

Entraram na roda-da-conversa a desindustrialização e, depois, até a financeirização! Foram insuportáveis as acusações de infidelidade contra o neoliberalismo…

Inicialmente, o neoliberalismo e a globalização pareciam estar intimamente ligados, com políticas frequentemente promovendo a abertura de mercados, a redução de barreiras comerciais e a facilitação do movimento de capitais e mercadorias entre países. Segundo as promessas nupciais, dariam luz ao crescimento do comércio internacional e à integração econômica global.

O neoliberalismo mentiu à globalização ou não conseguiu resistir à sedução da desindustrialização? Envolveu-se, apaixonadamente, com as diversas indústrias domésticas em desaparecimento por enfrentarem a concorrência estrangeira, isto é, seu cônjuge desde o casamento, ou seja, desde a assinatura de um pacto nupcial de prestação de serviços por prazo indeterminado com a querida globalização.

Para piorar, durante a discussão de relacionamento (DR), a traída descobriu o neoliberalismo e a financeirização também estarem profundamente interligados a ponto de serem considerados “carne-e-unha” – e não apenas fenômenos complementares, surgidos em resposta às mudanças nas políticas econômicas e no ambiente global. Alguns sinais de como esses dois estavam apaixonadamente relacionados foram revelados.

O neoliberalismo promovia farras com políticas econômicas, enfatizando a desregulação dos mercados, incluindo entre os convidados o mercado financeiro e sua companheira: a financeirização. Sua redução das restrições regulatórias sobre as instituições financeiras e as transações financeiras facilitou o relacionamento íntimo com essa outra amante: a financeirização da economia.

Ele defendia a privatização de empresas estatais e a liberalização dos mercados, incluindo o mercado financeiro, com esse propósito pecaminoso! Levou ao crescimento do sistema financeiro, porque mais inovações e serviços foram paridos para a adoção do setor privado. Os rebentos nasceram, para acomodar novos investimentos e transações, como filhos naturais de pais não casados.

Suas farras eram embaladas pela maximização dos lucros e a busca pelo interesse próprio como fossem motores exclusivos da atividade econômica. Incentivava a especulação financeira e o comportamento promíscuo em curto prazo, para todo o sistema financeiro, contribuindo para sua amada financeirização emergir socialmente.

Ao reduzir o papel do Estado na economia, incluindo sua intervenção nos mercados financeiros, o neoliberalismo levou a uma menor regulação e supervisão do sistema financeiro. A financeirização ficou seduzida por as instituições financeiras operarem com mais liberdade e assumirem riscos mais elevados.

Pior ocorreu quando o neoliberalismo promoveu a liberalização dos mercados financeiros em nível global, permitindo sua nova parceira entrar na seara da antiga. Facilitou o movimento de capitais e a integração dos mercados financeiros internacionais. Aumentou a interconexão e interdependência dos sistemas financeiros nacionais, tratando a financeirização e a globalização como iguais!

Em resumo, o neoliberalismo e a financeirização estão intimamente relacionados através de políticas econômicas promotoras de desregulação, privatização, maximização de lucros e redução do papel do Estado na economia, facilitando assim o crescimento dessa amante. Passou a rivalizar com a globalização.

Então, foi dramática essas descobertas de infidelidade. Inicialmente, a globalização sofreu com o sentimento de ter sido traída, mas foi revendo seus conceitos, enquanto tomava maior conhecimento sobre as amadas amantes do seu marido. Inclusive a globalização passou a contribuir para a desindustrialização em certas regiões, porque suas filhas, empresas transnacionais, buscavam mão de obra mais barata e mercados de consumo em outros países. Isso levava ao declínio da indústria manufatureira em áreas tradicionalmente industriais, por conta de elas transferirem a produção para o exterior.

O descaramento chegou ao ponto de assumir a alcunha de “globalização financeira”, um aspecto da globalização mais ampla, relacionada à expansão dos mercados financeiros em escala global. O neoliberalismo, seu marido infiel, muitas vezes promoveu políticas favoráveis à liberalização financeira, como a desregulação dos mercados financeiros e a facilitação do movimento de capitais entre países.

Levou à financeirização da economia globalizada, com o sistema financeiro envolvendo-a ao desempenhar um papel cada vez mais dominante em relação a outras atividades econômicas. Como vingança o sistema financeiro virou o amante da globalização!

O economista-terapeuta percebeu, no caso, ser mais conveniente uma terapia de grupo para discussão de relacionamento (DR) em lugar da terapia de casal. Seria conduzida por ele mesmo e envolveria um grupo de quatro epifenômenos – o neoliberalismo, a globalização, a desindustrialização e a financeirização – para compartilharem experiências e questões relacionadas aos relacionamentos entre eles.

Uma terapia de grupo para discussão de relacionamento seria uma oportunidade valiosa para aprender com os outros, obter apoio emocional e desenvolver habilidades com finalidade de melhorar os relacionamentos. O economista-terapeuta completará a narrativa dos acontecimentos dela em outra sessão.

 

•                                           Presidente do BNDES: Brasil deve enfrentar 'negacionismo econômico' para promover reindustrialização

 

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu nesta segunda-feira (20) que o Brasil precisa enfrentar o negacionismo no debate econômico se quiser promover a reindustrialização.

Ele chamou a visão de que o Estado mínimo é capaz de trazer prosperidade a todos de "equívoco grave" e ingênuo.

"Então explica a desindustrialização do Brasil e o crescimento espetacular que a China teve ao longo dos últimos 40 anos. […] Essa ideia de abertura comercial unilateral é ingênua e insustentável no mundo que estamos vivendo", disse ele durante um anúncio de investimentos ao setor siderúrgico, em solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília.

Segundo ele, a agenda da descarbonização é decisiva para todos os setores da economia, inclusive a indústria, e o maior risco nesse processo é o negacionismo no debate econômico.

"Seria excelente que a OMC [Organização Mundial do Comércio] estivesse funcionado, que o mundo estivesse, de forma coordenada, abrindo a economia, aumentando a eficiência, mas não é isso que aconteceu e não é isso que está acontecendo", criticou o presidente do BNDES.

"Temos que enfrentar esse negacionismo e começar a tomar medidas mais ousadas e corajosas se quisermos reindustrializar este país. Gerar emprego de qualidade, gerar inovação, gerar investimento em tecnologia, porque o Brasil foi um país que, durante 40 anos, o país que mais cresceu no mundo", argumentou ele.

No evento, que contou com as presenças do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, companhias do setor siderúrgico anunciaram investimentos de mais de R$ 103 bilhões no país até 2028.

Mercadante afirmou ainda que, durante 25 anos, a indústria siderúrgica cresceu 10% ao ano e que o Brasil se perdeu em um "emaranhado" criado desde o consenso de Washington, "que não é consenso nem mais em Washington", ironizou Mercadante.

"Estamos iniciando a reversão da desindustrialização de que o Brasil foi vítima. Isso vai se aprofundar se não tivermos uma relação mais criativa entre Estado e mercado. Não é voltar ao modelo anterior. Mas [é termos] um Estado que induz, um Estado que seja parceiro, que ajude a financiar e ajude a defender o setor produtivo, porque o protecionismo está por toda a parte", completou.

 

Fonte: A Terra é Redonda/Sputnik Brasil

 

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