sexta-feira, 24 de maio de 2024

Exemplo da Índia: países em desenvolvimento devem investir no setor espacial, diz presidente da AIAB

O presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), Julio Shidara, afirmou nesta quarta-feira (22), durante participação em um evento sobre o setor espacial em São Paulo, que países em desenvolvimento também devem investir nessa área.

Ele citou a Índia como exemplo de nação que, apesar de dificuldades em sua infraestrutura, é um dos países que tem ampliado o orçamento do setor.

Segundo ele, em todo o planeta, a maior parte dos investimentos no âmbito espacial se origina de fundos públicos.

"O Brasil, a despeito de ter um dos programas espaciais mais antigos do mundo, ficou para trás", disse, mencionando que países como a Turquia ou a Argentina — que criaram seus programas espaciais posteriormente — superaram os brasileiros em investimento.

Além disso, Shidara destaca a cooperação internacional como um dos fatores para ampliar o programa espacial brasileiro. "É preciso parcerias sólidas. […] Temos condições de levar o setor espacial ao mesmo nível de respeitabilidade que a Aeronáutica brasileira tem no mundo."

O coordenador-geral de Tecnologias Estratégicas do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI), Jean Robert, destacou o investimento na área espacial por parte das principais potências mundiais e comparou com o orçamento brasileiro.

Ele também participou do 4º Fórum SpaceBR Show, maior feira espacial da América Latina, que ocorre anualmente na capital paulista. A edição conta com a parceria da Agência Espacial Brasileira (AEB) e da MundoGEO.

Os Estados Unidos, por exemplo, tiveram orçamento definido para este ano em US$ 24,9 bilhões (R$ 128,47 bilhões), ainda que toda a cadeia produtiva gire em torno de US$ 100 bilhões (R$ 515,94 bilhões).

A China, segundo ele, teve orçamento anual de US$ 11,94 bilhões (R$ 61,6 bilhões) em 2022. A Rússia, apesar de uma queda nos últimos anos, conforme Robert, registrou orçamento avaliado em US$ 2,88 bilhões (R$ 14,86 bilhões) em 2022.

A Índia, disse ele, contabilizou US$ 1,6 bilhão (R$ 8,26 bilhões) em sua agência espacial. "A Índia hoje está na moda, pois recentemente eles pousaram na Lua e estão sendo o foco das missões espaciais."

"As últimas informações levam a crer que eles vão ter um acréscimo, graças ao sucesso que alcançaram nessa nova aventura na Lua."

Na comparação, o orçamento total do MCTI para este ano é de R$ 19,07 bilhões, sendo que a fatia para a AEB é de R$ 135 milhões.

O gerente do Setor Aeroespacial e Defesa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), José Henrique Pereira, afirmou que entre 2023 e 2024 foram investidos pelo órgão cerca de R$ 370 milhões apenas em projetos de satélites, e que a entidade apoia empresas e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs).

Ainda assim, ele destaca que a entidade investe em projetos de diversas áreas, para além da espacial, e que quanto maior o grau de inovação, menores serão as taxas e maiores os prazos.

·        BRICS não deve ser visto como rival ocidental, diz membro de Agência Espacial Brasileira à Sputnik

Porta-voz da Agência Espacial Brasileira (AEB), Paolo Gessini afirmou à Sputnik Brasil nesta terça-feira (21) que parcerias internacionais são um dos pilares para alavancar o programa espacial brasileiro e que o BRICS, bloco do qual o Brasil faz parte, não deve ser visto como uma "contraposição" para "outras organizações".

Marcos Antonio Chanon, presidente da agência, uma autarquia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), cumpre agenda em reunião do grupo na Rússia.

Para Gessini, o encontro é uma oportunidade importante para o Brasil, já que ele enxerga o BRICS como uma aliança econômica e política que pode colaborar com outras organizações internacionais sem criar conflitos. "A cooperação internacional é muito importante. Eu sempre quis ver um mundo sem fronteiras, onde todas as nações colaborem."

"Gosto muito de qualquer organização internacional. O BRICS é outra organização que acho que pode ser muito útil para o desenvolvimento do mundo. Não tem que ser visto como uma contraposição necessariamente com outras organizações, mas acho que pode colaborar muito bem com a União Europeia e com os Estados Unidos também."

Gessini chefia a Diretoria de Inteligência Estratégica e Novos Negócios da AEB. Ele ressalta que parcerias internacionais são essenciais para o setor espacial brasileiro que, com um programa espacial de 60 anos, ainda segue com desafios. "O programa ainda não conseguiu fazer muitas coisas que o Brasil queria fazer, por várias coisas — investimento não adequado, não contínuo, políticas não contínuas."

"Há nações que estão à frente da gente, e parcerias com eles são extremamente importantes para tentar alavancar o programa espacial. Nações que estão se desenvolvendo também, porque elas têm fôlego e recursos importantes, e podem crescer junto com o Brasil."

O porta-voz mencionou a colaboração com a China, que já resultou em vários satélites, e destacou as conversas em andamento com diversos países europeus e asiáticos. A parceria com a Innospace, companhia da Coreia do Sul, que planeja o primeiro lançamento orbital do solo brasileiro no próximo ano, também foi citada como um marco importante.

"[Queremos] desenvolver algumas tecnologias que ainda não são desenvolvidas aqui. Para poder fazer o Brasil menos dependente de outras coisas e também fomentar as indústrias brasileiras", ressaltou, defendendo a parceria com instituições de ensino. "Todas as parcerias são bem-vindas, de forma compatível com aquilo que a gente pode fazer."

A AEB atualmente, segundo ele, está focada em projetos de satélites de médio e pequeno porte e no desenvolvimento de tecnologias que tornem o Brasil menos dependente de insumos externos. "Queremos fomentar a indústria brasileira e fortalecer os contatos com a academia para criar um ecossistema robusto de inovação."

Gessini mediou debates nesta terça-feira (21) no 4º Fórum SpaceBR Show, que reúne grandes nomes do setor espacial na América Latina.

Ele destacou a relevância do evento para fomentar o empreendedorismo e informou que a participação ativa da AEB em espaços como esse é crucial para o desenvolvimento do setor espacial no Brasil. "Esses eventos são extremamente importantes do ponto de vista do empreendedorismo."

Ele afirma que a agência busca fomentar o envolvimento do setor privado no espaço, comparando a necessidade desse engajamento ao desenvolvimento da aviação, que se consolidou com a participação da iniciativa privada. "O envolvimento privado é fundamental. É justo que grandes, pequenas, médias e pequenas empresas estejam lá."

Gessini, que também é professor universitário, incentiva seus alunos a empreenderem no setor espacial, compartilhando sua própria experiência de sucesso com uma companhia na Inglaterra. "É possível abrir uma pequena empresa e ter sucesso. No setor espacial há inúmeras oportunidades tanto no upstream quanto no downstream", afirmou.

¨      Projeto brasileiro de agricultura espacial é cotado para integrar programa na Lua

O Brasil, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolve pesquisas científicas para cultivar alimentos na superfície da Lua. O projeto é cotado para integrar o programa Artemis, que visa ocupar o território lunar em 2026, conforme apurou a Sputnik Brasil nesta quarta-feira (22).

De acordo com a pesquisadora da empresa pública, Clarissa Castro, a iniciativa pretende viabilizar fazendas verticais no satélite natural. Segundo ela, o grão de bico é o alimento que será utilizado para os testes iniciais, ainda na Terra, e posteriormente enviados ao espaço.

"O grão de bico, da variedade Aleppo, que pretendemos treinar no espaço, devido a seu elevado poder de proteínas e por ser produtor de serotonina. Pretendemos testar isso na dieta dos astronautas. E a ideia é aportar para o projeto Artemis", afirmou Castro.

Durante o 4º Fórum SpaceBR Show, em São Paulo (SP), estande da Embrapa, companhia vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mostrava o protótipo de pequenos cultivos verticais e de pequenas câmaras, ajustadas com a luz e temperatura adequados, que servirão de base para que as plantações ocorram.

Além disso, há um sistema de monitoramento dos estímulos que a planta recebe — incluindo até mesmo o toque humano nas folhas, que pode ser identificado em um software, que exibe uma espécie de "eletrocardiograma". "A ideia é que as plantas tenham seus estímulos monitorados”, explicou a pesquisadora.

O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antonio Chamon, já havia anunciado publicamente que as tecnologias visavam fomentar a criação de produtos e tecnologias advindas do espaço para aumentar o desenvolvimento e a produtividade na agricultura terrestre.

Segundo publicou a Embrapa em 2023, a partir da parceria com a AEB, foi consolidada uma rede de pesquisa com 12 instituições e mais de 30 pesquisadores para avançar no desenvolvimento de sistemas de produção e adaptação das culturas de do grão de bico e também da batata doce, espécies consideradas opções de base alimentar para humanos em condições fora da Terra.

O objetivo é que futuras missões tripuladas para Marte possam se alimentar a partir da Lua, dentro do projeto Artemis, que reúne 39 países para estabelecer uma base lunar.

Idealizado pela agência espacial norte-americana, a Nasa, o programa lançou a primeira missão sem tripulação em 2022. A primeira com tripulantes está prevista para ocorrer em meados de 2026.

A proposta também pretende avançar na adaptação de culturas, desde o plantio em ambientes fechados até a qualidade nutricional dos alimentos, incluindo, entre outros aspectos, adequação de soluções nutritivas em hidroponia e aeroponia — cultivo que mantém as plantas suspensas no ar, apoiadas pelas raízes.

  • Qual é o satélite brasileiro que irá para a Lua?

Além disso, em parceria com a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA, na sigla em inglês), o Instituto de Tecnologia e Aeronáutica (ITA) construirá um satélite para explorar a Lua. Conforme apurou a Sputnik Brasil, o projeto SelenITA está cotado também para integrar o Artemis, entre os anos de 2027 e 2028.

A iniciativa já havia sido oficializada pelo instituto, cuja sede fica em São José dos Campos (SP). O satélite será construído na própria cidade do interior paulista. Há apoio também da AEB e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

De acordo com o ITA, a missão espacial brasileira visa estudar campos magnéticos em solo lunar, impactos de asteroides, vento solar e meteoros, transporte de poeira por fenômenos naturais, entre outros.

¨      Satélite brasileiro orbitou a Terra para identificar bolhas de plasma no espaço

Durante o 4º SpaceBR Show, nesta quarta-feira (22), em São Paulo, foi exibido o CubeSat SPORT, satélite que orbitou a Terra entre 2022 e 2023 com o objetivo de identificar bolhas de plasma no espaço e monitorar o clima.

O equipamento serviu de base para tentar identificar o porquê de alguns aparelhos de GPS não funcionarem de forma correta em determinadas regiões, como a Amazônia brasileira. Uma das hipóteses é que isso ocorria devido a anomalias espaciais.

O nanossatélite foi criado a partir de uma parceira entre a NASA, agência espacial dos EUA; o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Vale ressaltar, no entanto, que os resultados deverão ser divulgados posteriormente.

O nome é uma sigla em inglês para Tarefa de Pesquisa Observacional para Previsão de Cintilação. O satélite foi levado para a Estação Espacial Internacional (EEI), a bordo da missão SpaceX-26, antes de ser lançado ao espaço.

Pesquisas indicam que bolhas de plasma ionosférico impactam sistemas de comunicação e de navegação.

O satélite monitorou o estado da ionosfera, camada que fica de 60 quilômetros a mil quilômetros acima da superfície da Terra, e é composta de íons e plasma ionosférico, para tentar determinar por que as bolhas de plasma às vezes se formam lá.

Quando ondas de rádio de satélites GPS tentam passar através dessas anomalias, os sinais podem ficar distorcidos — fenômeno conhecido como cintilação, que afeta a confiabilidade do mapeamento e os serviços dependentes dele, como aplicativos de navegação e de agricultura de precisão e sistemas de pouso automatizado, que podem ser empregados em aeroportos.

  • Maior feira espacial da América Latina

O satélite foi exibido no estande da Força Aérea Brasileira (FAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB). No mesmo local, uma maquete do Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, foi exibida. A base passou por uma reconstrução após a tragédia de 22 de agosto de 2003, quando uma explosão no centro de lançamento matou 21 profissionais.

As instalações têm uma base móvel, que possibilita trabalhar sobre a base dos foguetes e se afastar durante os lançamentos.

No evento, drones e veículos aéreos não tripulados (VANTs) estavam entre os principais atrativos. No entanto diversas outras tecnologias foram apresentadas.

A empresa brasileira Saipher, por exemplo, sediada em São José dos Campos (SP), é responsável por um telescópio capaz de rastrear a órbita de satélites, de forma a evitar colisões entre eles.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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