quarta-feira, 22 de maio de 2024

Eventos climáticos deslocaram mais de 26 milhões de pessoas em 2023, aponta relatório

Os eventos climáticos deslocaram mais de 26 milhões de pessoas em 148 países em 2023, destacando os crescentes perigos de inundações, tempestades, incêndios florestais e secas cada vez mais frequentes.

No ano passado, foi registrado o maior número de deslocamentos relacionados ao clima em uma década, embora menos do que em 2022, conforme aponta um relatório anual do Centro Internacional de Monitoramento de Deslocamentos. O relatório, divulgado nesta terça-feira, também revelou que conflitos e violência resultaram em mais 20,5 milhões de deslocamentos em 2023.

Globalmente, um total de 75,9 milhões de pessoas vivenciaram “deslocamentos internos” em dezenas de países no ano passado, incluindo dezenas de milhões de pessoas deslocadas em anos anteriores e ainda incapazes de retornar aos seus lares.

O relatório alerta para a sobreposição frequente de catástrofes com conflitos e violência, o que agrava dramaticamente os resultados para as pessoas afetadas. Em 2023, 45 países e territórios reportaram deslocamentos relacionados a conflitos, e todos, exceto três, também registraram deslocamentos decorrentes de catástrofes.

Centenas de milhares de pessoas foram deslocadas pelas inundações no outono passado na Somália, um país já assolado por uma seca severa e uma guerra civil de longa duração. A Líbia também enfrentou inundações catastróficas em setembro, quando um fenômeno climático semelhante a um ciclone, conhecido como Tempestade Daniel, derrubou duas barragens na cidade de Derna, resultando na morte de milhares de pessoas. Especialistas observaram na época que a longa história de conflitos violentos do país provavelmente contribuiu para o investimento limitado na manutenção das barragens.

Tempestades e inundações foram responsáveis pelo maior número de deslocamentos relacionados a catástrofes em todo o mundo no ano passado, e continuam a fazê-lo consistentemente ano após ano, representando 19,3 milhões de deslocamentos em 2023.

Os incêndios florestais e as secas também são uma causa crescente de deslocamentos, segundo o relatório. Obter dados globais sobre esses eventos é mais difícil, o que torna as estimativas abrangentes mais desafiadoras. No entanto, dois terços de todos os deslocamentos relacionados a incêndios florestais em 2023 ocorreram no Canadá e na Grécia, ambos registrando as piores temporadas de incêndios florestais no ano passado.

Os terremotos também foram um dos principais impulsionadores dos deslocamentos internos no ano passado, especialmente na Turquia, na Síria, no Afeganistão, em Marrocos e nas Filipinas.

Enquanto isso, os conflitos em todo o mundo continuam a expulsar milhões de pessoas de suas casas, com algumas regiões do mundo sendo desproporcionalmente afetadas pela violência. Sudão, Palestina e República Democrática do Congo foram responsáveis por dois terços de todos os deslocamentos relacionados a conflitos em 2023.

O relatório destaca que, antes de 2023, os deslocamentos no Oriente Médio e Norte da África estavam em declínio há três anos. No entanto, os deslocamentos nos territórios palestinos revertiram essa tendência, contribuindo para um aumento de oito vezes nos deslocamentos relacionados a conflitos na região durante a guerra entre Israel e Hamas.

 

¨      ‘Apartheid climático’ pode empurrar mais de 120 milhões de pessoas para a pobreza

 

O relator especial das Nações Unidas sobre pobreza extrema e direitos humanos destacou que a mudança climática ameaça “desfazer os últimos 50 anos” de desenvolvimento, saúde global e redução da pobreza. Philip Alston fez um alerta sobre o que descreve como o risco de uma nova era de “apartheid climático” e fome. A observação foi feita em relatório apresentado na sessão do Conselho de Direitos Humanos, que acontece em Genebra até 12 de julho.

·        Deslocamento

Para o especialista, mesmo que as atuais metas globais sejam cumpridas, dezenas de milhões de pessoas ficarão mais pobres. Essa situação levará ao deslocamento generalizado e à fome.

Alston destacou ainda que a mudança climática terá o seu maior impacto sobre os mais vulneráveis e pode empurrar mais de 120 milhões de pessoas para a pobreza até 2030. O impacto mais severo será sobre os países pobres, regiões e lugares onde pessoas pobres vivem e trabalham.

Considerando a melhor hipótese de um aumento de temperatura de 1,5° C até 2100, as temperaturas extremas em muitas regiões deixarão as populações desfavorecidas enfrentando insegurança alimentar, com baixos níveis de rendimentos e saúde.

Alston afirmou que além disso, muitas pessoas terão que escolher entre a fome e a migração. Ele apontou para o paradoxo de pessoas na pobreza serem responsáveis ​​por apenas uma fração das emissões globais, e que mesmo assim sofrerão o impacto da mudança climática e terão uma menor capacidade de se proteger.

·        Superaquecimento

Ao argumentar sobre o risco de um cenário de “apartheid climático”, Alston apontou para uma situação em que os ricos pagam para escapar do superaquecimento, da fome e do conflito, enquanto o resto do mundo sofre.”

Quanto às implicações da mudança climática sobre os direitos humanos, Alston destacou impactos desse problema em questões como vida, alimentação, moradia e água.

Ele também aponta para consequências sobre a democracia, quando governos tentam lidar com as consequências das alterações do clima e ao mesmo tempo convencem os eleitores a aceitar as grandes transformações sociais e econômicas necessárias. Segundo ele, essa situação fragiliza ​​os direitos civis e políticos.

·        Indústria

O perito mencionou ainda que Estados deixam de cumprir compromissos de redução de emissões de carbono e de financiamento climático e continuam a subsidiar a indústria de combustíveis fósseis com US$ 5,2 trilhões por ano.

Alston destacou que continuar nesse rumo é uma receita para a catástrofe econômica.

O estudo destaca que “embora a prosperidade econômica e a sustentabilidade ambiental sejam “totalmente compatíveis”, essas questões exigem “desvinculação do bem-estar econômico e redução da pobreza das emissões de combustíveis fósseis”.

O especialista propõe políticas locais para apoiar os trabalhadores deslocados e garantir empregos de qualidade. Outra sugestão é que seja criada uma rede de segurança social robusta como “a melhor resposta aos danos inevitáveis ​​que a mudança climática trará”.

·        Segurança

Para ele, esta iniciativa pode ser um catalisador “para que os Estados cumpram direitos econômicos e sociais ignorados e negligenciados há muito tempo”. Estes incluem a segurança social e o acesso a alimentos, aos cuidados de saúde, ao abrigo e ao trabalho decente.

O especialista disse ainda que “os alarmes sobre a mudança climática soam, e um aumento nos eventos extremos de proporções bíblicas parece estar finalmente atravessando o ruído, a desinformação e a complacência”. No entanto, ele destaca que “esses sinais positivos não são motivo de alegria”.

Alston conclui o relatório destacando que fazer um cálculo sobre a dimensão da mudança necessária é apenas o primeiro passo para a direção certa.


Fonte: Scientific American/UN News

 

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