Com avanço da Rússia no front, a Ucrânia
perdeu em 2022 uma chance de ouro para negociar?
A revista Foreign
Affairs publicou recentemente um artigo afirmando que a Rússia e a Ucrânia
estiveram perto de chegar a uma resolução pacífica de suas divergências ainda
em 2022. Estariam na realidade os países perto de assinar um acordo sobre uma
resolução pacífica em 2022?
Em conversa com a
Sputnik Brasil, Aleksei Gromyko, membro-correspondente da Academia de Ciências
da Rússia e diretor do Instituto da Europa da Academia de Ciências da Rússia,
debateu os detalhes do acordo que chegou a ser avalizado pela Rússia e Ucrânia ainda
em 2022, mas foi boicotado pela influência das potências ocidentais sobre Kiev.
"Para a revista
americana, talvez isso possa ter sido uma novidade, embora agora estejamos em
2024. Mas este tópico tem sido discutido de maneira ativa e aberta por
especialistas desde o segundo semestre de 2022", disse Gromyko à Sputnik
Brasil.
O especialista
observou ainda que em quatro rodadas de negociações russo-ucranianas em
fevereiro-março de 2022 foram realizadas conversações que levaram a um acordo
relativo à chamada Declaração de Istambul, cujo resumo foi destacado em um
documento separado e rubricado pelos chefes de delegações dos dois países. Após
a reunião de Istambul, começaram negociações ainda mais intensas,
principalmente em formato remoto, para elaborar um projeto de acordo de paz.
"Sua maior parte
foi acordada até maio de 2022, incluindo o mais importante em que a Rússia
insistia: o status de neutralidade da Ucrânia em termos militares", aponta
Aleksei Gromyko.
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As entrelinhas da entrevista de Arakhamiya
Mesmo depois das
falsas acusações feitas contra a Rússia por supostos crimes de guerra na cidade
de Bucha, em março de 2022, e após a famosa visita do então premiê britânico
Boris Johnson a Kiev em abril do mesmo ano, quando ele apelou aos ucranianos
para continuar o conflito, o trabalho sobre o projeto de acordo prosseguiu. O
processo terminou apenas na primeira quinzena de maio, quando o lado ucraniano
se retirou das negociações, apontou o especialista.
Em novembro de 2023,
David Arakhamiya, ex-líder da delegação ucraniana nas negociações, citou duas
razões pelas quais elas foram interrompidas: as alterações no texto da
Constituição ucraniana em 2019, incluindo o rumo do país para adesão à União
Europeia e à OTAN, e a visita de Boris Johnson a Kiev em abril de 2022.
Quanto ao primeiro
pretexto, comenta o especialista, "é sabido que as emendas a qualquer
Constituição podem tanto ser aceitas, quanto revogadas ou alteradas,
especialmente quando se trata da resolução de conflitos internacionais".
Por isso, de acordo com o especialista, a primeira referência parece
francamente exagerada.
"A referência à
visita de Johnson fala de pelo menos duas coisas: em primeiro lugar, que muitos
políticos ocidentais, não apenas de modo confidencial, mas também abertamente,
apelavam a Kiev para usar qualquer pretexto para não firmar um acordo de paz
com Moscou. Em segundo lugar, ao culpar de fato Johnson pelo colapso das
negociações de paz, o representante da elite política ucraniana Arakhamiya
retira a responsabilidade de Kiev pelo futuro desenvolvimento dos
acontecimentos", explica Gromyko.
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É possível voltar ao projeto de acordo de
paz?
"Hoje é claro que
não será possível voltar literalmente ao projeto de acordo de paz elaborado até
o início de maio de 2022, uma vez que, desde então, a situação na zona de
combate mudou a favor da Rússia", ressalta o acadêmico.
Vale destacar que,
mesmo assim, o presidente Vladimir Putin e outros altos funcionários russos têm
repetidamente afirmado que Moscou está pronta para regressar às negociações com
base na iniciativa de Istambul, mas tendo em conta as "novas realidades no
terreno".
Aleksei Gromyko
ressalta que a justificativa da posição da Rússia nas negociações reside no
fato de que Kiev teve uma grande oportunidade em março-maio de 2022 de resolver
o conflito em termos mutuamente aceitos e com perdas territoriais mínimas.
"Mas foi Kiev
quem se retirou do processo de negociações. Portanto, é dela a responsabilidade
de que futuros acordos lhe serão muito menos vantajosos", explica Gromyko.
Quando perguntado se
as mesmas condições do acordo de paz propostas em 2022 poderiam ser viáveis
atualmente, o membro da Academia de Ciências russa enfatizou:
"A Ucrânia terá
que fazer concessões muito maiores do que teria feito na primavera [europeia]
de 2022. Quanto à Rússia, ela ganhará muito mais com uma futura resolução do
que se ela tivesse sido alcançada em 2022, já que a Rússia agora tem a plena iniciativa
no campo de batalha e está avançando."
Ele acrescentou ainda
que a Ucrânia corre o risco de perder não apenas territórios que se tornaram
parte da Rússia, mas também os que podem se transformar em "zonas
tampão", como a região de Carcóvia.
Relativamente às
perspectivas de resolução pacífica da crise ucraniana e se o Ocidente está
atualmente inclinado a conduzir negociações, o interlocutor da Sputnik Brasil
opina:
"Pode-se supor
que [...] a cessação das hostilidades possa ocorrer em 2025. O Ocidente segue
tentando encher a Ucrânia com armas, mas, de fato, é óbvio que as Forças
Armadas da Ucrânia não serão capazes de executar uma nova contraofensiva, nem
neste ano, nem no ano que vem. Podemos falar apenas sobre quantos territórios
mais serão libertados ou tomados sob controle russo."
"Outra questão é
que muitos no Ocidente podem partir não da lógica da derrota ou vitória de
Kiev, mas da lógica do prolongamento do conflito entre Rússia e Ucrânia pelo
maior tempo possível a fim de colocar a Rússia na posição mais desconfortável
possível, atrasar ao máximo o seu desenvolvimento", notou o especialista.
"Ao mesmo tempo,
[o prolongamento do conflito permitiria] obter uma nova alavanca de pressão
sobre a China, para maximizar as suas vantagens econômicas nas relações com a
União Europeia, para saturar com o máximo de dinheiro possível o complexo militar-industrial
dos EUA."
Quanto às perspectivas
de retomada das negociações, Gromyko notou que se fala e se escreve mais no
Ocidente sobre a retomada do diálogo do que seis meses atrás. Segundo ele, a
percepção de que Kiev não teria capacidade de obter êxitos militares também se
tornou mais recorrente nos meios de comunicação ocidentais.
Por fim, observa ele,
não se trata de apenas do que o Ocidente estaria inclinado ou não a fazer. Além
dele, é necessário considerar países e organizações como a China, Índia,
Brasil, União Africana, Turquia, Arábia Saudita, Vaticano, que também apelam a um
acordo.
"A influência da
opinião desta parte do mundo sobre as posições do Ocidente e Kiev é
significativa, e penso que só vai aumentar", concluiu.
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'Não temos nada que
estar na Ucrânia', afirma congressista republicano sobre financiamento de Kiev
A Sputnik solicitou
que o congressista Paul Gosar (republicano pelo Arizona) comentasse a carta
enviada ao secretário de Defesa norte-americano por um grupo bipartidário de
legisladores dos EUA que pede por mais recursos e apoio à Kiev.
"Os Estados
Unidos não deveriam enviar sistemas de armas, munições ou dólares dos
contribuintes para financiar ou prolongar uma guerra na Ucrânia, não temos nada
a ver com isso", disse o congressista Paul Gosar à Sputnik.
Anteriormente, um
grupo de legisladores dos EUA enviou uma carta ao secretário de Defesa, Lloyd
Austin, exigindo que ele permitisse que a Ucrânia utilizasse armas de longo
alcance fornecidas pelos EUA para realizar ataques dentro do território russo.
"Escrevemos na
qualidade de membros da Câmara dos Representantes dos EUA para transmitir o
nosso forte apoio a vários pedidos urgentes em nome dos nossos colegas
ucranianos: Autorizar o uso de armas fornecidas pelos EUA para atingir alvos
estratégicos dentro do território russo sob certas circunstâncias", disse
o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos EUA, Michael Turner, e
outros legisladores na carta.
Os legisladores também
instaram o Departamento de Defesa a treinar mais pilotos ucranianos para operar
caças F-16.
O Ocidente tem
discutido recentemente cada vez mais a intervenção direta no conflito
ucraniano. Por exemplo, o presidente francês Emmanuel Macron disse que os
militares franceses poderiam ser enviados para a Ucrânia, e o ministro das
Relações Exteriores britânico, David Cameron, disse que era aceitável que o
Exército ucraniano atacasse o território russo com mísseis britânicos.
A Rússia descreveu tal
retórica como uma onda de escalada de tensão sem precedentes que requer atenção
e medidas especiais. Os europeus veem que a situação está mudando rapidamente e
está à beira de um colapso total para a Ucrânia, por isso agravam deliberadamente
a situação, disse o Kremlin.
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Deputado do partido de
Macron sugere envio de tropas da OTAN à Ucrânia para 'criar armadilha'
O esforço liderado
pela França para um envolvimento mais profundo da OTAN dentro das fronteiras
ucranianas está fazendo progressos com os aliados europeus, disse um legislador
e porta-voz do partido político do presidente Emmanuel Macron à revista Newsweek.
O deputado e membro do
partido Renascentista, Benjamin Haddad, disse à revista norte-americana que a
OTAN e a União Europeia precisam "virar a mesa" e que o impulso para
compromissos mais profundos da OTAN na Ucrânia – incluindo o envio de tropas –
está "claramente crescendo", afirmou.
"Foi interessante
ver que nos primeiros dias todos disseram: 'É uma posição isolada da
França.'"
O deputado citou o
presidente tcheco, Petr Pavel, o primeiro-ministro da Estônia, Kaja Kallas, o
chanceler polonês, Radosław Sikorski, e o chanceler da Lituânia, Gabrielius
Landsbergis, como sendo autoridades que apoiam o envio de tropas.
"Isso é
importante porque esses países estão na primeira linha, e estes são países que
há muito tempo desconfiam de Paris e Berlim. Passamos muito tempo preocupados
com a escalada, quando a Rússia é o país que está escalando", acrescentou.
O legislador, que é
considerado uma voz de liderança nas discussões sobre política externa
francesa, nas palavras da mídia, sugeriu que as capitais ocidentais devem
"pensar criativamente" sobre como melhor ajudar Kiev de várias
maneiras, incluindo potencialmente colocar botas no chão.
"Neste momento,
muitas tropas ucranianas estão estacionadas na fronteira com Belarus para
evitar uma potencial invasão vinda do norte. As forças ocidentais poderiam ser
posicionadas ao longo da fronteira como uma 'armadilha' (como se tem tropas nos
Estados Bálticos ou na Polônia) para poder liberar algumas destas tropas
ucranianas para seguirem para a frente", afirmou o parlamentar à revista,
acrescentando que "é claro que isso precisa ser feito de forma coordenada.
Nenhum país pode fazer isso sozinho".
A Rússia tem alertado
consistentemente os seus adversários ocidentais contra o fornecimento de
qualquer tipo de ajuda à Ucrânia, ao mesmo tempo que enquadra o conflito em
Kiev como um confronto direto com o "Ocidente coletivo" liderado
pelos Estados Unidos.
As forças russas estão
agora avançando, forçando as tropas ucranianas a recuarem em locais-chave e
abrindo novas frentes nas regiões nordeste de Carcóvia e Sumy.
"Isso tem sido
preocupante há algum tempo. Vemos uma Rússia que está aumentando a agressão,
que transformou a sua indústria em imagens completas de economia de guerra, e
penso que temos estado atrasados na nossa
resposta, tanto na Europa como nos Estados Unidos", afirmou Haddad.
Em entrevista à
Sputnik nesta quarta-feira (22), o diretor do primeiro departamento europeu do
Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Artyom Studennikov, disse que a
participação da França nas hostilidades na Ucrânia fará com que o país seja
oficialmente parte do conflito, o que aumentará em muito o risco de um
confronto entre as duas potências nucleares.
Ø Polônia compra sistemas de radar dos EUA de alto alcance para
monitorar fronteira com a Ucrânia
O ministro da Defesa
polonês, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, anunciou nesta quarta-feira (22) que a
capital, Varsóvia, assinou um acordo com os Estados Unidos para a entrega de um
sistema de reconhecimento do espaço aéreo no valor de US$ 960 milhões (R$ 4,9 bilhões).
O ministro disse que o
objetivo é colocar o equipamento norte-americano para monitorar suas fronteiras
no nordeste.
Nos termos do
contrato, a Polônia receberá quatro aeróstatos – ou balões atracados –, que
serão estacionados em postos ao longo de suas fronteiras leste e nordeste, de
forma a ajudar o sistema de defesa aérea e o sistema de observação costeira
polonês.
"A Polônia será o
segundo país do mundo a utilizar esse sistema. O acordo define a nossa
segurança, é mais um ato de cooperação entre a Polônia e os EUA", afirmou
Kosiniak-Kamysz, citado pela Reuters.
De acordo com o chefe
da Agência de Armamento da Polônia, o general Artur Kuptel, radares suspensos
nos balões cativos monitorarão o céu até a Ucrânia, Belarus e o enclave russo
de Kaliningrado a partir do espaço aéreo polonês.
O contrato também
prevê logística relacionada e apoio ao programa. O sistema será entregue e
totalmente operacional até 2027, acrescentou o ministro.
Os sistemas têm a
capacidade de detectar uma ampla gama de objetos, como mísseis, aeronaves,
drones e embarcações de superfície, em um alcance de mais de 300 quilômetros.
A cidade de Varsóvia
aumentou os gastos com defesa este ano para cerca de 4% do produto interno
bruto (PIB), à medida que procura fortalecer suas Forças Armadas. A intenção é
investir US$ 2,6 bilhões (R$ 13,3 bilhões) na proteção da fronteira, relata a mídia.
Fonte: Sputnik Brasil
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