terça-feira, 28 de maio de 2024

Código Florestal como peça fundamental para enfrentamento da crise climática

"A recuperação dos passivos de vegetação nativa nos imóveis rurais brasileiros não impedirá futuras tragédias climáticas, mas além de contribuir para mitigá-las, certamente reduzirá seus impactos" escrevem Cristina Leme Lopes e Joana Chiavari, em artigo.

<><> Eis o artigo.

A tragédia do Rio Grande do Sul tem uma relação direta com a atual crise climática, na qual observa-se um aumento e intensificação de eventos extremos, como as chuvas que assolaram o estado. Esse desastre de enormes proporções é mais uma demonstração de que a crise climática já é uma realidade na maioria das cidades brasileiras e do mundo, causando danos econômicos e humanos consideráveis. Nesse sentido, há uma necessidade urgente de adotar uma gestão de riscos de desastres adequada e construir novas infraestruturas urbanas compatíveis, ao mesmo tempo em que se transforma a infraestrutura existente em sistemas mais resilientes.

Entretanto, o enfrentamento do problema não se limita a ações nos centros urbanos. Na semana em que o Código Florestal completa 12 anos de sua edição, a sua implementação nunca foi tão necessária, graças à capacidade da lei de ajudar a prevenir os danos e minimizar os impactos dos desastres climáticos.

O Código Florestal é uma peça fundamental no enfrentamento às mudanças do clima. A lei estabelece dois instrumentos de conservação da vegetação nativa em áreas privadas: as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e a Reserva Legal. A recuperação e manutenção da vegetação em APPs (como margem de rios, encostas e topos de morro) promove a preservação dos recursos hídricos, a estabilidade geológica e a proteção dos solos. As florestas e demais formas de vegetação em áreas de Reserva Legal conservam a biodiversidade e contribuem para a estabilidade hídrica e climática. A implementação desses dois instrumentos contribui ao mesmo tempo para esforços de mitigação, com a captura e estoque de carbono da atmosfera, e para os esforços de adaptação a eventos extremos, servindo como esponjas para chuvas torrenciais e garantindo a caixa d’água para tempos de seca.

A implementação da lei florestal depende da interação de vários atores. Os produtores rurais, como destinatários da lei florestal, possuem um papel estratégico como parte da solução da crise climática, através da regularização ambiental de suas propriedades, recuperando os passivos de APP e Reserva Legal, e da adoção de práticas de agricultura de baixo carbono.

Por outro lado, cabe ao poder público estadual o gerenciamento do Cadastro Ambiental Rural (CAR) de sua jurisdição – recebendo, analisando e validando as informações declaradas pelos produtores – e a implementação do Programa de Regularização Ambiental (PRA) que permitirá aos produtores a adequação legal de seus imóveis rurais. A maioria dos estados ainda está muito atrasada na implementação da lei por conta de uma série de desafios: falta de recursos humanos, financeiros, cartográficos e tecnológicos; dificuldades na comunicação com proprietários e produtores; e ainda há estados que não regulamentaram o PRA.

Essa equação depende também de mais dois atores – legislativo e judiciário. Nos últimos 12 anos, desde a edição do Código Florestal, dezenas de projetos de lei vem sendo apresentados por parlamentares que visam flexibilizar suas regras, diminuindo sensivelmente o nível de proteção. O poder judiciário, por sua vez, está demorando quase uma década para dar uma decisão que impactará nas regras de compensação de Reserva Legal. Alterações legislativas e demora da justiça geram insegurança jurídica na aplicação da lei, postergando a recuperação dos passivos ambientais.

A recuperação dos passivos de vegetação nativa nos imóveis rurais brasileiros não impedirá futuras tragédias climáticas, mas além de contribuir para mitigá-las, certamente reduzirá os seus impactos nas pessoas, nas cidades, na produção agrícola e na economia como um todo. Portanto, avançar com a efetiva implementação do Código Florestal em todo o país deve ser uma prioridade nacional, pactuada entre os todos os atores, cada um reconhecendo a sua responsabilidade e atuando de forma cooperativa.

 

•        O que é a "lavagem verde"?

Produtos ou serviços anunciados como “sustentáveis” ou ecologicamente corretos podem muitas vezes ser falsos ou enganosos. Como separar os fatos da ficção ecológica produtos anunciados como “sustentáveis”, “neutros em emissões de CO2” ou “livres de plástico” estão cada vez mais presentes nos supermercados. Mas, até que ponto isso tudo é realmente verdade?

Cada vez mais nos preocupamos com o impacto ambiental de nossos hábitos de consumo; desde as emissões geradas durante o processo industrial que contribuem para o aquecimento global, até a poluição e os resíduos gerados ao descartarmos esses itens.

Uma pesquisa com consumidores em 16 países revelou que quase a metade das pessoas prefere comprar produtos com um selo de qualidade ambiental. Mas, segundo o mesmo levantamento, apenas 3% se dizem aptas a perceber quando essas classificações são falsas. É exatamente nesse ponto que surge a lavagem verde.

•        O que significa?

Lavagem verde é uma estratégia de marketing utilizada para que um serviço ou produto venda sua imagem como sendo melhor para o meio ambiente do que realmente é. Empresas de energia, bancos, cadeias varejistas e até mesmo países já foram acusados de empregar essa tática.

Apesar de não haver uma definição internacionalmente acordada, esse termo geralmente implica em apresentar alegações ambientais de maneira superestimada, enganosa ou, simplesmente, mentirosa.

A sueca Maria Soxbo, escritora e pesquisadora, afirmou durante uma palestra na série TED Talks em 2023 que “lavagem verde é o que ocorre quando o marketing da sustentabilidade dá errado; quando a mensagem se volta contra nós, ao invés de nos ajudar a fazer escolhas boas e conscientes”.

O objetivo é convencer investidores e consumidores favoráveis ao meio ambiente a comprar ou apoiar o que está sendo vendido – algo que vem se provando lucrativo. A maioria dos consumidores diz concordar em pagar mais por produtos sustentáveis. Dessa forma, as empresas que se dizem verdes se beneficiam de um crescimento de mercado desproporcional, segundo um estudo conjunto das empresas de consultoria McKinsey e NielsenIQ.

•        Como identificar a lavagem verde?

A lavagem verde pode ocorrer de várias formas, algumas mais óbvias do que as outras. Por exemplo, uma empresa de tecnologia que anuncia estar se aproximando da meta de emissões zero, embora na verdade não possua um plano confiável para essa finalidade.

Ou, um xampu cuja embalagem utilize propositalmente uma linguagem vaga que não possua definições padronizadas de sustentável ou de ecologicamente correto.

Às vezes pode-se enfatizar uma característica de um produto sem uma análise do quadro mais amplo. Isso poderia ser algo como um vestido “verde” que utiliza 20% de materiais reciclados, mas é produzido por uma marca de consumo rápido em uma fábrica que polui o ar e os lençóis freáticos.

Pode ser também uma alegação que seja tecnicamente verdadeira, mas irrelevante, como um spray aerossol que se diz livre de substâncias químicas que são ilegais para todos os produtos similares.

Entidades ambientalistas alertam que as pessoas devem ter um olhar mais crítico às empresas e produtos que alegam promover a chamada “compensação de carbono”, para equilibrar seu impacto ambiental. Vários desses esquemas se provaram imprestáveis, servindo somente como distração do objetivo urgente de reduzir as emissões na fonte.

•        Porque isso importa?

Cientistas afirmam que, de modo a limitar a maioria dos impactos catastróficos das mudanças climáticas, precisaremos cortar as emissões pela metade até 2030 e chegar a zero em 2050.

A lavagem verde é vista como um obstáculo a esses objetivos, uma vez que permite que as empresas e outras entidades continuem a agir da maneira habitual, potencialmente aumentando seus lucros, sem reduzir o impacto climático de maneira significativa.

Segundo a ONU, essa prática desvia a atenção das soluções concretas e mina a confiança pública nas ações climáticas legítimas.

Trata-se também de um método amplamente disseminado e, aparentemente, em crescimento. Um levantamento de 2021 da União Europeia (UE) sobre o setores como os de vestuário, cosméticos e equipamentos domésticos concluiu que havia motivos para acreditar que 42% das alegações de sustentabilidade eram falsas ou enganosas. Em 2023, segundo o instituto de pesquisa RepRisk, em Zurique, houve um salto de 70% nos casos de lavagem verde nos setores bancário e financeiro.

•        O que está sendo feito para impedir essa prática?

O litígio climático contra a lavagem verde vem ganhando corpo, afirma o Instituto Grantham de Pesquisas em Mudanças Climáticas e Meio Ambiente, com ao menos 20 casos em andamento na Justiça dos Estados Unidos, Austrália, França e Holanda nos últimos anos.

Esses casos vem obtendo êxito. No mês passado, um tribunal holandês decidiu que a campanha “Voe com responsabilidade” da empresa aérea KLM estava ludibriando clientes, uma vez que as viagens aéreas estão entre as maiores causas de emissões de CO2. O grupo ambientalista Fossil Free, que entrou com o processo, comemorou o que chamou de “vitória histórica sobre a lavagem verde exercida por grandes poluidores”.

As agência reguladoras da publicidade também realizam avanços. Anúncios de Ryanair no Reino Unido que declaravam que a empresa aérea tinha as menores emissões na Europa, assim como comerciais do chá Lipton que diziam que suas garrafas eram “100% recicladas”, foram julgados como enganosos e banidos.

A UE também atua contra a lavagem verde. Este ano, o Parlamento Europeu votou a favor de banir do bloco das 27 nações produtos que sejam anunciados como climaticamente neutros, biodegradáveis, ecológicos ou naturais, mas que não tenham certificação comprovada, assim como bens que aleguem ter durabilidades que não podem ser confirmadas, ou que sejam falsamente anunciados como reparáveis.

 

Fonte: ((O))eco/Agencia Estado

 

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