Projetos fomentam carreira científica para meninas baianas
Um dos principais Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável do planeta (ODS) - entre os 17 definidos pela Organização das
Nações Unidas (ONU), a equidade de gênero ainda precisa de mudanças para
acontecer com plenitude e minimizar a segregação ocupacional.
Na Bahia, o estímulo às meninas e adolescentes para
seguir a carreira científica conta com projetos e programas. Órgãos públicos e
instituições como a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz/Bahia), Instituto Gonçalo
Moniz (IGM) e diversas secretarias do estado trabalham para que a equidade seja
alcançada. Neste contexto, existe um olhar especial voltado às estudantes do
ensino médio, que estão se preparando para decidir por uma profissão.
Formatada a partir de 2019, ‘Meninas baianas na
ciência’ é uma destas ações. Ela é desenvolvida como primeira etapa na
comunidade indígena Coroa Vermelha, território indígena Pataxó, em Santa Cruz
Cabrália, através de iniciativa da Fiocruz Bahia, em parceria com o colégio
estadual indígena da localidade. Participaram cerca de 60 estudantes,
professores e demais componentes da comunidade escolar, com apoio da Secretaria
Estadual da Educação.
Além do compartilhamento de experiências por parte
das pesquisadoras da equipe Fiocruz/Bahia, foi montado um pequeno laboratório
para que as estudantes pudessem manusear
equipamentos básicos, bem como disponibilizada uma biblioteca. “Foi
gratificante participar deste evento. Saí com um olhar diferente sobre meu
futuro”, afirmou a adolescente moradora de Coroa Vermelha Maria Eduarda Guedes.
Ela pontuou que desde criança tem o desejo de
cursar medicina e que o encontro lhe fez ter a certeza do que quer. “Poder
ajudar o meu povo Pataxó de alguma maneira. É importante a participação de
mulheres indígenas dentro e fora de suas comunidades”.
Para a estudante, “algumas das maiores dificuldades
enfrentadas por uma adolescente indígena do sul da Bahia incluem “discriminação
racial e cultural, falta de oportunidades de emprego e estereótipos negativos
associados aos povos indígenas”, lamentou.
Aluna do mesmo colégio e também natural de Santa
Cruz de Cabrália, Nuriela Pataxó está se decidindo entre medicina e farmácia.
“Muitas acabam indo para a informalidade. A gente não tem espaço e voz. É bem
raro ter”, salientou, explicando que “a mudança (de moradia para estudar e
trabalhar) pode ser um processo traumático, quando não existem cuidados, nem
apoio para superar as dificuldades”.
Ela ressaltou que o melhor foi perceber que as
outras meninas passaram a ter interesse e seguir carreira na área. Sobre o
aumento do protagonismo da juventude indígena, Nuriela citou que
“principalmente após avanço das redes sociais, tem tido um papel fundamental na
luta pelos territórios e na defesa dos direitos dos povos originários”.
• Carreira
Para a pesquisadora da Fiocruz/Bahia, Natália
Tavares, a distância dos centros onde têm cursos voltados para os interesses
científicos é uma das barreiras para as garotas do interior. Por isso a
importância de sensibiliza-las durante o ensino médio, “para que elas
compreendam que a ciência pode ser uma carreira”.
Ela pontuou que é necessário que o corpo docente
incentive as jovens quando manifestam a vontade de seguir essa trajetória e
disse que, se tivesse recebido apoio na adolescência, teria começado a carreira
mais cedo. “Eu sempre tive a vontade de ser pesquisadora e pensava que, para
seguir essa profissão, eu deveria fazer biologia”, afirmou.
Fez o curso na Ufba, onde concluiu mestrado e
doutorado. Hoje é pós-doutora. Pelo interesse pessoal, ainda na graduação,
conseguiu entrar na Fiocruz/Bahia com bolsa de iniciação científica. Atualmente
faz parte da instituição, em vaga obtida em concurso público.
De acordo com Tavares, professores do ensino médio
são importantes aliados nesta etapa para alcançar as estudantes e programas
desenvolvidos nas escolas são estimulantes.
Para 2024, o ‘Meninas baianas na ciência’ deverá alcançar
adolescentes de comunidades quilombolas, cujo projeto específico ainda está em
elaboração. A diretora da Fiocruz, Marilda Gonçalves, destacou que o chamamento
das meninas para seguir carreira na pesquisa é um resgate histórico,
considerando que há algumas décadas esse estímulo era voltado exclusivamente ao
mundo masculino.
Ela chamou a atenção para a menor presença de
mulheres em lugares de destaque, como o Prêmio Nobel e salientou, como exemplo,
que a historiadora econômica norte-americana Claudia Goldin, ganhadora do Nobel
de Economia deste ano, é apenas a terceira mulher a conquistar este prêmio.
“Ela ganhou justamente com um estudo sobre
desigualdade salarial entre homens e mulheres”, afirmou Gonçalves, apontando
que é fundamental que as meninas sejam incentivadas pelas famílias e no meio
educacional, com apoio governamental e ações variadas
Fonte: A Tarde
Nenhum comentário:
Postar um comentário