Pedro Maciel: Não é sobre ideologia, é sobre ética
É comum que amigos e conhecidos próximos digam que
tenho divergências ideológicas com Bolsonaro.
Evidentemente estamos em campos distintos no que
diz respeito ao espectro ideológico, ele de extrema-direita e paquerando o
fascismo e eu, com toda a minha desimportância, à esquerda, contudo, o
mal-estar que o sujeito que ocupou a presidência por quatro longuíssimos anos
me causa decorre de razões éticas.
Explico.
Ética diz respeito aos limites para a ação humana e
à identificação, num conjunto de possibilidades, das que são corretas, estou
falando das coisas práticas da vida. É a ética que submete meios e fins ao
crivo do aceitável e todo o comportamento de Jair Bolsonaro não passa pelo meu
crivo ético. Bolsonaro apoiou a ditadura no Brasil e é saudoso dela; disse,
pelo menos uma vez, que ao invés de torturar a ditadura deveria ter matado
"uns 30 mil"; afirmou que apoia a tortura; elogiou mais
de uma vez o ditador pedófilo Alfredo Stroessner, cuja ditadura matou 459
pessoas, desapareceram outras tantas, 18.722 foram torturadas e 19.862 foram
presas, de acordo com a Comissão da Verdade do país; elogiou o ditador Pinochet,
que matou mais de 3 mil chilenos e torturou milhares de prisioneiros e forçou
200 mil chilenos ao exílio.
Essas razões bastam para o Inominável não me
servir, nem às pessoas éticas, mas estranhamente pessoas boas seguem defendendo
o pior presidente da história do país.
Faltaria ética aos seus apoiadores?
Não cabe a mim julgar, contudo, acredito que a
ética, quaisquer que sejam os adjetivos que se lhe agreguem, está sempre
referida ao reconhecimento de limites às possibilidades. Noutras
palavras, “...a ideia de que o possível não se autolegitima pertence à
essência do agir ético, que pertence às entranhas do próprio ato de filosofar.
Nesse sentido, ética é limite.”, como escreveu Bianca Antunes Cortes,
Doutora e Pesquisadora Adjunta da Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz
(COC/Fiocruz).
A ética está originariamente ligada à noção da
possibilidade de se definir. O campo da ética se entende então como a esfera
das causas do agir humano, das forças determinantes dos cursos desse agir.
E, sem qualquer dúvida, ao capitão, que foi tocado
do exército, falta limites, falta ética, tanto que, ainda deputado, teve a
cara-de-pau de, na tribuna da câmara dos deputados, defender as milicias e os
milicianos.
As milicias são grupos de marginais que, valendo-se
da ausência do Estado, geralmente em comunidades periféricas, transformam os
moradores em reféns da sua proteção, pela qual cobram.
A milicia funciona na base da oferta/venda de
segurança e de serviços no lugar do Estado ou de empresas privadas, de modo que
a região, comunidade ou favela se torne dependente da milícia e, basicamente,
quem não paga, não está seguro, podendo até ser morto como um
recado aos demais moradores que tenham oposição a essa dinâmica. Se em uma
época a milícia era querida pela população, hoje a visão já é diferente. Essas
vivências foram retratadas no filme Tropa de Elite, inspirado na
baixada fluminense e em favelas da Zone Oeste do Rio de Janeiro.
A milicia e os milicianos são, segundo o Bolsonaro
e seus filhos, dignos de confiança e de homenagens. Tanto é verdade que Flávio
Bolsonaro, o “01”, concedeu uma medalha a um miliciano envolvido no assassinato
da vereadora Mariela Franco; seus filhos e ele empregaram em seus gabinetes
milicianos e parentes desses.
Sejamos cordatos, é impossível a uma pessoa ética,
considerar que Bolsonaro seja alternativa para alguma coisa.
Lembremos que Bolsonaro, o corrupto, manteve por
mais de vinte (20) anos uma empregada doméstica cuidando de sua casa de praia
paga como dinheiro público (a famosa Val do Açaí); ele, racista que é, disse
que seus filhos não namorariam negras "porque foram bem-educados".
Seria possivel listar ideológicas e discordâncias
na condução da economia, mas a figura abjeta de Bolsonaro sequer passa pelo meu
crivo ético.
Dispenso a convivência com quem: apoia ditaduras,
ditadores; faz apologia da tortura e a apoia; ou deseja a morte de pessoas
apenas porque elas pensam diferente.
É comum ouvirmos que as palavras de um líder,
refletem no comportamento dos liderados; se isso for verdade Bolsonaro é um
líder incendiário e mau, pois, como escreveu Roberto Bartholo é Professor
Titular da UFRJ, citado Bianca Antunes Cortes: “[nossa] simples existência
nos chama à responsabilidade”.O inominável revelou-se um líder carismático,
representa a extrema-direita - que estava escondidinha - e deu voz a um
exército de imbecis, intoxicados pelo neopentecostalíssimo – especialmente pela
Teologia da Prosperidade -, e pela lógica ultraliberal que há quatro décadas
despeja ideologia na cabeça das pessoas, travestindo-a de “visão técnica”.
Senti que precisava escrever isso e deixar claro
que -, a minha divergência é ética.
Ademais, não tenho certeza se o bolsonarismo é uma
ideologia ou criação de Mary Shelley, uma colagem de discursos que vão desde a
hipócrita pauta de costumes do neopentecostalismo, passando pela lógica
destruidora de vidas do ultraliberalismo e com o desejo indisfarçado de
descredibilizar toda a institucionalidade para implantar um regime autocrático.
Pergunto, sem instituições, boas ou ruins, o que
nos restaria além da barbárie e de um governo autoritário?
É isso.
Ø Brasil importa mais lixo cultural: ódio. Por Eduardo Guimarães
Ao longo da história deste nosso lindo e
hospitaleiro paraíso tropical, vimos importando lixo cultural e ideológico
insistentemente. Todavia, nos últimos anos chegamos ao paroxismo da prática.
Armamentismo e chacinas em escolas, extremismo político ineditamente bizarro,
fanatismo religioso ultrapotente e, agora, ódio no modo "amor pela guerra".
Não ouse pedir paz. Não ouse pedir que Israel pare
de jogar mísseis nos palestinos e que o Hamas pare de jogar mísseis em Israel.
Já foi decretado que você é obrigado a tomar partido. Você não tem o direito de
dizer que não quer que a guerra continue.
Sim, é isso mesmo. A nova droga cultural que
estamos importando em contêineres fechados faz com que quem diz que a guerra
deve continuar até exterminar o outro lado seja um pacifista e aquele que diz
que é preciso um cessar-fogo seja "belicista", "genocida",
"racista", "escroto" etc. E fica muito fácil essa premissa
maluca se estabelecer porque os dois lados só querem continuar guerreando em...
PAZ (?!).
Um lado diz que não existe guerra porque Israel
está armado até os dentes e o outro está desarmado e sendo submetido a
genocídio, o que é a mais pura verdade. Porém, o que é que o Hamas joga
nos israelenses? Flores? Claro que boa parte dos palestinos não apoia o Hamas,
mas boa parte dos israelenses tampouco apoia Netanyahu e os sionistas...
Uma boa definição para guerra é: conflito em que um
joga mísseis no outro. Infelizmente, os palestinos estão no meio de tudo
isso. Os dois lados, Hamas e Israel, usam-nos como escudos.
O presidente da República Federativa do Brasil se
recusa a apoiar formalmente algum dos lados, apesar de, atualmente, a direita
apoiar Israel e a esquerda apoiar o Hamas e/ou a Palestina. Não peçam a
qualquer pessoa sensata que tome partido nessa loucura.
Ah, mas morreram palestinos. Sim, como morreram
isralenses. Mas morreram muito mais palestinos. Sim, é verdadeira essa
contabilidade macabra. Os israelenses têm muito mais meios de matar e o
Hamas tem muito menos. Mas e se fosse ao contrário, o Hamas usaria esse maior
poder de matar? Quando atira mísseis em Israel ele não quer ferir inocentes?
Perguntemos aos reféns que o grupo islâmico fez...
Eis, então, o derradeiro argumento de um dos lados: os palestinos não mataram
ninguém. Infelizmente, serem alvos dos mísseis israelenses faz com que até suas
crianças ataquem com pequenas e débeis facas qualquer israelense que virem pela
frente. Mas são crianças, Eduardo! São mulheres, crianças e idosos desarmados
ou mal-armados...
Claro que são, e é claro que crianças não matarão
soldados armados até os dentes. Porém, porém, porém... Isso denota que há, sim,
muito apoio ao Hamas entre os palestinos, assim como há muito apoio entre os
israelenses aos crimes de Israel. O que fazer, então? Vamos para a solução, por
favor.
Opção 1 - Israel se
rende ao Hamas e sai do seu território. Seus 9,4 milhões de habitantes se
espalham novamente pelo mundo, sem pátria de novo.
Opção 2 - O Hamas se
rende a Israel e seus 2,3 milhões de cidadãos iniciam um êxodo pelo Oriente,
buscando subempregos para subsistirem de forma igual ou pior que antes. Ou
podem ficar onde estão passando toda sorte de privações e opressão enquanto o
Hamas se rende. Afinal, jamais conseguiu melhorar a vida de seu povo atirando
mísseis em Israel.
Opção 3 - Os dois
lados sentam à mesa de negociação, como fizeram Yasser Arafat e Yitzhak Rabin
em 1993. O mundo foi surpreendido pela notícia do consenso, pois, em Israel,
ainda era proibido manter qualquer tipo de contato com a OLP. Mas o acordo
ocorreu. Depois, foi rompido.
Mas um mau acordo sempre será melhor que uma
"boa" briga. E teremos como tentar, desta vez, fazer o armistício ser
mantido. Estou sonhando? Tudo bem. Não posso resolver nem todos meus próprios
problemas, mas posso, ao menos, alertar para o fato de que, por aqui, a adesão
furiosa ao extremismo israelo-palestino está contaminando as pessoas.
Todo lixo cultural e ideológico que o Brasil andou
importando está fazendo estragos. Extremismo político, fanatismo religioso e
armamentismo estão matando a rodo por aqui. E, agora, uma nova droga chega ao
"mercado"
Neste dia em que escrevo, cataloguei vários pedidos
de simpatizantes dos palestinos e dos israelenses nas redes exortando os outros
a "tocarem o terror" contra os adversários ideológicos. Está no
Twitter ou em qualquer rede social.
E não é só aqui. Na madrugada de terça (31/10) para
quarta (1/11), as ruas de Paris apareceram pichadas com Estrelas de Davi,
segundo a Rádio França Internacional (RFi). Com que finalidade fizeram isso, a
de enviar presentes ao moradores das casas marcadas? E os locais habitados por
muçulmanos e árabes, também não estão sujeitos a violência?
Aqui, no Brasil, temos essas etnias e o ódio entre
os simpatizantes de um e de outro lado só faz aumentar. Na enorme comunidade do
meu Canal no YouTube, com centenas de milhares de membros, as brigas se
acirram em escala geométrica. Quanto tempo levará até que um dos lados (ou
ambos) coloquem alguma loucura dessas em prática?
Ø Zambelli faz postagem nazista que compara palestinos a ratos
A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli
(PL-SP) publicou nesta quinta-feira (2) na rede social X, antigo Twitter, uma
postagem em que os palestinos foram comparados a ratos. "Isso é
inaceitável", reagiu o perfil Palestina Hoy (Palestina Hoje). A
parlamentar recorreu à Bíblia para justificar a publicação. "Mas os que
esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão,
e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão. Isaías 40:31".
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para o genocídio contra palestinos e
destacou a necessidade de um cessar-fogo no Oriente Médio. De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 21 mil pessoas (israelenses e
palestinos) ficaram feridas desde o dia 7 de outubro.
Na Faixa de Gaza, que fica entre Israel, na Ásia, e
o Egito, na África, mais de 10.584 edifícios foram
destruídos desde o dia 7 de outubro. De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), 14 dos 36 hospitais de Gaza não
estão funcionando, além de dois centros especializados de saúde que também
estão inoperantes.
Integrantes do Hamas lançaram um ataque com
foguetes contra Israel a partir da Faixa de Gaza, matando e sequestrando
pessoas em comunidades israelenses vizinhas em 7 de outubro. Israel lançou
ataques retaliatórios e ordenou um bloqueio completo da Faixa de Gaza, lar de
mais de 2 milhões de pessoas, cortando o fornecimento de água, comida e
combustível. O bloqueio foi posteriormente aliviado para permitir a entrada de
caminhões com ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Ø Deputado expulso do PL por fazer o L com ministros de Lula junta-se ao
MDB
Yury do Paredão, deputado do Ceará que foi
desligado do PL em julho por fazer um gesto de apoio ao presidente Lula em uma
foto com ministros de Estado, ingressou no MDB.
"Com muita alegria comunico a minha filiação
ao MDB, partido que tem história na defesa da democracia brasileira. Agradeço
ao Gov. @helderbarbalho, Pres. @Baleia_Rossi, Líder e Amigo @bulhoesjr e ao @Eunicio pela calorosa recepção. Registro a minha gratidão
e admiração ao ministro @CamiloSantanaCE e ao governador do Ceará, @elmanooficial. Sigo em frente com diálogo e trabalhando arduamente por ações que
tragam alegria e bem-estar para os cearenses e brasileiros", escreveu Yury
do Paredão na rede social X.
A foto que causou a revolta de Valdemar Costa Neto, presidente do
PL, foi tirada durante um compromisso de Yury do Paredão com os ministros Paulo
Pimenta (Comunicação Social) e Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) em
julho.
Fonte: Brasil 247
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