Centrão exige mais cargos para liberar a pauta econômica
O anúncio da troca na presidência da Caixa
Econômica Federal parece não ter satisfeito o apetite do Centrão por novos
cargos no governo: os partidos ainda querem mais para avançar com a pauta
econômica na Câmara dos Deputados. Na semana passada, o presidente Lula da
Silva demitiu Rita Serrano do comando da Caixa e nomeou, em seu lugar, Carlos
Antônio Vieira Fernandes, indicado do presidente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL).
Após a troca, ainda no mesmo dia, os deputados
aprovaram o projeto de taxação dos fundos exclusivos e de investimentos feitos
por brasileiros no exterior, conhecido como projeto da “taxação dos
super-ricos”.
Agora, o grupo político de Lira anseia pelas 12
vice-presidências do banco e cargos na Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
O governo ainda precisa dos votos do Centrão para
concluir a votação da reforma tributária, que está tramitando no Senado, mas
que deverá voltar ao plenário da Câmara para tratar das mudanças feitas pelos
senadores.
A reforma é considerada fundamental pela equipe da
Fazenda, comandada pelo ministro Fernando Haddad, mas enfrenta resistências dos
governadores, principalmente em relação ao Fundo de Desenvolvimento Regional
para compensar eventuais perdas dos estados.
Além disso, o governo depende dos parlamentares
para votar o Orçamento 2024, projeto de lei que trata da previsão das receitas,
e uma medida provisória (MP 1185/2023) que regulamenta a isenção tributária
para créditos fiscais vindos de subvenção para investimentos e tem potencial de
arrecadação de mais de R$ 35 bilhões já no próximo ano, de acordo com
estimativa da Fazenda.
Segundo informou o líder do governo, deputado José
Guimarães (PT-CE), nesta semana o colégio de líderes da Câmara deverá se reunir
para discutir um calendário de apreciação do projeto de lei sobre a MP
1185/2023, com urgência constitucional. A discussão estaria acordada entre
Haddad e Lira como prioritária e, segundo Guimarães, deverá ocorrer nos
próximos dias.
Porém, a recente declaração de Lula – de que a meta
fiscal do governo no próximo ano não precisa ser de déficit zero – pode
atrapalhar a aprovação dos projetos pretendidos pela equipe econômica.
Embora ainda não seja possível avaliar se o Centrão
cobrará mais caro pela pauta econômica, Haddad deverá ficar mais dependente das
negociações com Lira.
Alguns parlamentares e analistas interpretaram as
afirmações do presidente até como um certo “desprestígio” de Lula em relação a
Haddad, e o ministro, que ainda não tinha se pronunciado, veio a público nesta
segunda-feira (30) para garantir que vai fazer o que puder para “buscar o
equilíbrio fiscal”, embora não tenha negado a possibilidade de o governo enviar
ao Congresso uma alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no que diz
respeito à meta fiscal de 2024.
Haddad informou ainda, que a pedido de Lula, vai se
reunir com os líderes dos partidos para explicar a situação financeira do
governo, e os problemas para o equilíbrio que, segundo ele, vem desde 2017.
Segundo um parlamentar do PP, aliado de Lira,
ouvido pela Gazeta do Povo em condição de anonimato para comentar bastidores, a
troca de Rita Serrano por Marcos Vieira na presidência da Caixa Econômica
Federal ainda não é o suficiente para avançar nas pautas econômicas definidas
pelo governo como prioritárias. Esses acordos ainda dependeriam das 12
vice-presidências do banco.
A substituição na presidência da Caixa, segundo
avalia o deputado, foi apenas um primeiro aceno para agradar Lira e destravar a
pauta. Segundo ele, Lira planeja distribuir os cargos no banco a partidos do
Centrão, como União Brasil, o próprio PP, Republicanos e até mesmo o PL, que
hoje faz oposição ao governo na Câmara dos Deputados. Segundo a fonte ouvida
pela reportagem, 30 parlamentares do Partido Liberal seriam beneficiados com a
indicação de cargos na instituição.
Nos bastidores, há quem aposte que o anúncio não
vai demorar, e já há especulações sobre um possível encontro entre Lira e Lula
para finalizar as indicações na Caixa. Vale lembrar que há meses os presidentes
da República e da Câmara protagonizam um embate sobre o banco.
Ø “Centrão é insaciável”, diz Gleisi Hoffmann, ao resumir o atual momento
político
O avanço de partidos do centrão sobre cargos do
governo federal e sobre o Orçamento tem gerado críticas entre aliados do
presidente Lula (PT). Na semana passada, Lula entregou o comando da Caixa
Econômica Federal ao servidor de carreira Carlos Vieira, que foi indicado pelo
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ainda assim, partidos cobram mais
verba e cargos.
A pressão do centrão ocorre no momento em que o
governo busca garantir apoio no Congresso, sobretudo para a aprovação de pautas
econômicas.
O próprio Lula reconheceu que fez um acordo com PP
e Republicanos para a entrada dessas siglas no governo. Ele afirmou que
“precisava desses votos” no Legislativo.
“Eu fiz um acordo com o PP, com Republicanos, acho
que é direito deles, que gostariam de ter espaço com governo, indicar uma
pessoa [Vieira, indicado por Lira] que esteve na Caixa, já foi da Caixa, já
esteve no governo da Dilma, já foi do Ministério das Cidades, uma pessoa que
tem currículo para isso. E eles juntos têm mais de 100 votos, eu precisava
desses votos para continuar o governo”, disse na sexta-feira (27).
No mesmo dia, a presidente do PT, deputada Gleisi
Hoffmann (PT-PR), criticou a mobilização de parlamentares para controlar fatias
ainda maiores do Orçamento. A deputada afirmou, nas redes sociais, que
propostas para o governo pagar mais emendas “servem para atender apenas
interesses políticos insaciáveis”.
“No momento que o país precisa direcionar investimentos
para o crescimento e políticas públicas estruturantes, deputados querem obrigar
o governo a pagar emendas de comissões permanentes. É mais uma intervenção
indevida na aplicação do Orçamento da União”, escreveu Gleisi na plataforma X,
o antigo Twitter.
A deputada criticava discussões no Congresso para
tornar impositiva a execução das emendas de comissões, ou seja, obrigar o
governo a pagar uma verba que corresponde a R$ 7,5 bilhões em 2023. Se for
aprovada, essa mudança reduz o controle do governo Lula sobre a execução do
Orçamento de 2024, ano de eleições municipais.
A cúpula do Congresso ainda avalia outros caminhos
para ditar o ritmo da liberação das emendas e amarrar a execução da verba aos
seus interesses, desidratando ainda mais o poder do governo.
Como mostrou a Folha, o Palácio do Planalto busca
formas de manter a influência sobre o destino desses recursos. As conversas
caminham para um aumento no valor reservado para emendas do próximo ano, mas
preservando o poder do governo sobre essa cifra.
Ao se manifestar sobre a própria saída do cargo de
presidente da Caixa (para entregar o comando do banco ao centrão), Rita Serrano
agradeceu a Lula pelo convite para integrar o governo, mas disse nas redes
sociais que é “necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política”.
“Ser mulher em espaços de poder é algo sempre
desafiador. Não foi fácil ver meu nome exposto durante meses à fio na imprensa.
Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, de
que é possível uma empregada de carreira ser presidente de um grande banco e
entregar resultados, de que é possível ter um banco público eficiente e
íntegro, de que é necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política
e ter relações humanizadas no trabalho”.
A base do governo no Congresso continua frágil. Nas
horas seguintes à troca na Caixa, porém, a Câmara destravou a votação da
proposta de taxação de offshores e de fundos de super-ricos. Mas o Senado
chegou a rejeitar a indicação de Igor Roque para o comando da DPU (Defensoria
Pública da União).
As mudanças na Caixa e em ministérios para acomodar
aliados do centrão ainda reduziram a presença de mulheres em cargos de primeiro
escalão.
Lula culpou os partidos pela redução da presença
feminina no Executivo. “Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e
não tem mulher, eu não posso fazer nada”, disse o presidente na última semana.
Ø Acredite se quiser! Mais o PT da Bahia está preocupado para não
desagradar Geddel ao escolher candidato
O senador Jaques Wagner (PT-BA) causou mal-estar na
base do governador Jerônimo Rodrigues, seu correligionário, ao anunciar o
deputado estadual Robinson Almeida, do mesmo partido, como o seu candidato a
prefeito de Salvador nas eleições do ano que vem. Até a fala de Wagner, a expectativa
era que o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) fosse o indicado. Siglas aliadas
do governador têm trabalhado para montar uma chapa única.
A declaração de Jaques Wagner ocorreu no último
sábado, em uma plenária municipal do PT que, embora esteja em sua quinta gestão
estadual, nunca comandou a capital baiana: “Estou aqui para que todo mundo
saiba que o meu primeiro candidato é Robinson, é o candidato do meu partido, é
o meu candidato”.
O PT avalia outros três nomes: o deputado federal
Valmir Assunção, a socióloga Vilma Reis e a secretária estadual de Assistência
e Desenvolvimento Social, Fabya Reis.
Nas redes sociais, o ex-ministro Geddel Vieira Lima
(MDB) demonstrou desconforto com a fala do petista, ao publicar uma mensagem em
defesa de Geraldo Júnior.
“Como imaginar que líderes importantes tomem
decisões que digam respeito também a um relevante partido aliado, sem que haja
convite, comunicação a nenhuma liderança institucional desse partido, no caso o
MDB? Isso seria no mínimo deselegante”, postou ele.
Em seguida, Geddel afirmou que o MDB não repetirá
erros, em referência às eleições de 2020, quando cada sigla lançou candidato e
Bruno Reis (União Brasil) terminou eleito. Reis é do partido que tem como
cacique ACM Neto, ex-prefeito que duelou com o PT no estado nas últimas
décadas.
Geddel ainda afirmou que “irá aguardar o THE END
(do inglês, fim) desse longuíssimo longa metragem”, em alusão à demora do
governador para definir um nome para a disputa. Mais contido, o ex-deputado
Lúcio Vieira Lima, seu irmão, minimizou as críticas e disse ser “natural” a
fala de Jaques Wagner.
— Estranho seria se Wagner não tivesse ido na
plenária e reafirmar a candidatura de Robinson. Todos estão reafirmando: o MDB
reafirmou a de Geraldinho, o PSB a de Lídice da Mata e por aí vai. O que ficou
colocado desde o início é que o governador conduziria o processo. Até Jerônimo
sinalizar, seguimos candidatos.
A base do governador é formada por MDB, PCdoB, PSB,
PSD e Avante. O ex-deputado reiterou o apoio irrestrito do MDB ao candidato
escolhido por Jerônimo. Apesar de evitar críticas a Wagner, Lúcio Vieira Lima
cobrou maior agilidade do PT neste processo de escolha:
— Quando será decidido (o nome) cabe ao governador.
Minha opinião é que está a demorar e, quanto mais demorar, pior, independente
de quem seja o candidato.
Sem poder concorrer a cargos eletivos após terem
sido condenados por lavagem de dinheiro e associação criminosa, Geddel e Lúcio
veem a disputa como uma possibilidade de ampliar o espaço do MDB no estado. O
partido, além da vice-governadoria, tem duas pastas no primeiro escalão —
Infraestrutura Hídrica e Saneamento, e Administração Penitenciária.
NOTA
Não
se pode confiar num partido que aceita fazer coalizão com corruptos notórios
como os irmãos Vieira Lima. Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és… Ou,
como diz a Bíblia, ““Não se deixem enganar: as más companhias corrompem os bons
costumes”.
Ø Há várias versões sobre Pacheco assumir essa agenda que altera regras
do Supremo
Tratado como um fiador da democracia e defensor do
Supremo Tribunal Federal (STF) durante o governo de Jair Bolsonaro, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG) se reelegeu na presidência do Senado, no início deste ano,
prometendo uma agenda voltada a mudar regramentos da suprema Corte.
Até recentemente, eram poucos os que acreditavam
que o senador daria andamento à pauta. No entanto, neste mês, Pacheco passou a
encampar mudanças relativas ao STF.
A toque de caixa, a Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) do Senado, capitaneada pelo seu fiel aliado Davi Alcolumbre
(União-AP,) aprovou uma medida que limita as decisões monocráticas e estabelece
um prazo máximo para pedidos de vista, que passam a ser coletivos.
Em outra frente, Pacheco defendeu publicamente a
criação de um mandato para ministros do STF – hoje, eles se aposentam
compulsoriamente aos 75 anos, podendo ficar até 40 anos em atuação na
Corte.
A posição do senador vem sendo vista como uma forma
de ele se aproximar de seu eleitorado – a base de Pacheco, em Minas, é
conservadora e mais vinculada à direita – com o objetivo de disputar o governo
em 2026. Aliados dele, no entanto, rechaçam qualquer movimento político.
Por essa versão, propaga-se que seria impossível
mexer com o Supremo sem que houvesse um acordo prévio. “É tudo combinado”,
afirma um interlocutor de Pacheco. Ele reforça que a maioria dos ministros já
defendeu a criação de um mandato para a corte e que eles próprios já se
manifestaram, em conversas recentes, favoráveis à medida. As alterações, dizem,
não passam de um “aperfeiçoamento”.
A proposta ideal, ainda conforme aliados de
Pacheco, seria a de um mandato de 12 anos, com a criação de uma espécie de
quarentena remunerada ao longo de três anos. Estuda-se, ainda, elevar para 50
anos a idade mínima para o ingresso na corte.
Conforme mostrou VEJA em março, ministros do
Supremo veem as medidas como arriscadas, em decorrência da possibilidade de se
enxertarem outras medidas no texto no texto original, como alterações na
indicação dos magistrados.
Na última semana, a presidente do PT, Gleisi
Hoffmann, foi a uma rede social dizer que a agenda de Pacheco “está fazendo um
serviço para a extrema-direita”. Bolsonaro, por outro lado, parabenizou o
senador.
Em nota, o presidente do Senado afirmou que rotular
a proposta que estabelece regras ao Supremo (como o limite às decisões
monocráticas) é um erro e “retroalimenta a polarização, que só interessa a
alguns (os extremistas)”.
Fonte: Gazeta do Povo/FolhaPress/O Globo/Veja
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