Assédio, ratos, banho frio: os problemas de influencer em tour pelo
mundo
A jornalista e influenciadora de viagens e turismo
Nataly Castro reapareceu após passar mais de 60 horas sem dar notícias enquanto
viajava na África. O desaparecimento de Nataly causou um grande
compartilhamento nas redes sociais de amigos, familiares e seguidores. Na noite
de segunda-feira (30/10), a influenciadora postou um vídeo em que conta o que
ocorreu nos dias que não conseguiu manter contato com a família e foi dada como
desaparecida: ela estava viajando pelo continente africano por via terrestre
quando teve que mudar a rota prevista por ter sofrido assédio em uma das
fronteiras.
"Passei por algumas situações complicadas nos
últimos dias enquanto fazia o trecho da África Ocidental via terrestre. Passei
pelo Senegal, Gâmbia, Guiné Bissau, Guiné, Serra Leoa e acabei de chegar na
Libéria. Sofri assédio em uma das fronteiras e tive que mudar a rota para não
ser seguida ou acontecer algo", explica a influencer.
Em stories no seu perfil, ela elenca as
dificuldades: "A verdade é que estou passando mais tempo na estrada, viagens
de 3, 4, 5, 10 horas, do que nos próprios lugares. Os últimos dias estão sendo
muito cansativos. Estou cansada, estou exausta, estou destruída".
Nataly relatou que o ponto de mudança que levou ao
desaparecimento foi um assédio em uma das fronteiras. "Sofri assédio em
uma das fronteiras e tive que mudar a rota para não ser seguida ou acontecer
algo, o último vídeo que enviei pra minha família foi chorando após o assédio e
em seguida fiquei sem contato", disse. A partir daí, a família e os amigos
começaram a buscar a jornalista até ela conseguir internet e informar o
paradeiro.
Nataly conta que precisou dormir algumas vezes em
galpões de fronteiras entre países. "Essas viagens terrestres, às vezes
[você] tem que parar nas fronteiras, às vezes chega tarde, a fronteira está
fechada e tem que dormir na fronteira. Estou literalmente tomando banho de
caneca, banho frio, há uma semana."
"Outra questão é os lugares que eu tenho
passado. Eu dormi há uns dois dias atrás numa fronteira que misericórdia! No
quarto, um galpão que eles têm vários colchões e tinha rato, tinha barata, eu
tomei banho de caneca, banho gelado, sabe? Umas situações assim que eu fico,
caraca, eu precisava passar por isso?"
A paulistana diz que não quer desanimar ninguém,
"muito menos mulheres", mas lembra que o tipo de viagem que está
fazendo não é fácil.
"Graças a Deus tá tudo bem. O pior não
aconteceu. Não foi dessa vez e não vai acontecer. Está na hora de voltar para
casa. Encerrar esse ciclo, que tem sido um mix de sentimentos", afirma,
após mencionar o assédio que passou. "Em breve estarei de volta no meu
Brasil, em dezembro, é nóis", finaliza.
Nataly viaja pelo mundo desde 2013 e se
autodescreve como "nômade digital" e "primeira brasileira
visitando todos os países". Segundo a influenciadora, ela estava sem
contato com a família desde sexta-feira (31/10). Ela teve ajuda de moradores de
Guiné Bissau para contatar os familiares, mas teve dificuldades porque a região
tem condições precárias de internet.
Segundo Nataly, ela preferiu viajar aos países
africanos via terrestre para poder economizar e viabilizar a jornada, pois ela
não conseguiu recursos financeiros necessários para arcar com viagem aérea.
A jornalista também relatou que tem passado de 5 a
10 horas viajando na estrada e tem se alimentado preferencialmente com frutas,
biscoitos, milho e batata. "Tem alguns lugares que eu não quero comer a
comida, porque não sei a procedência, não sei sobre as condições da água que
foi usada. Acabo preferindo coisas mais básicas", diz.
Agora, a influenciadora está hospedada na casa de
uma família na Libéria e se prepara para seguir para o próximo destino. "A
maior parte dos lugares que fiquei hospedada nos últimos dias são pessoas que
me conheceram na fronteira ou no ônibus. Uma moça me deu roupas, acabei de
tomar banho, jantar e agora vou descansar", afirmou.
• Último
contato
A influenciadora tinha mandado um vídeo para a
família em que chorava após ter passado por um assédio e, na sequência, ficou
sem contato, o que deixou os parentes preocupados.
"A Nataly teve contato com a família há 48
horas, e o contato que a viu a última vez já tem 24 horas. A Nataly está
viajando via terrestre para economizar. Ela estava em Guiné rumo a Serra Leoa
e, desde então, não sabemos mais nada", tinha publicado a família nas
redes sociais da paulistana no domingo (29).
Após estar em segurança, ela retomou o contato,
tranquilizou a família e, então, mandou stories para informar os seguidores.
"Obrigada pelas mensagens, apoio e toda ajuda. Cada dia mais perto do fim
e mais perto do novo ciclo! Ao me conectar, somente a minha família foi
avisada, não acreditem em nada que não tenha sido compartilhado aqui. Não tenho
equipe, quem me ajuda é a minha prima e assessora", disse ela nos stories.
A influencer de viagens nasceu no Carrão, na Zona
Leste de São Paulo, e saiu em viagem no ano passado com o objetivo de visitar
todos os países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). São 200
países no roteiro.
Em 2022, Nataly contou à TV Globo que estudou em
escola pública quase a vida toda e, na faculdade, conseguiu uma bolsa para o
curso de jornalismo. O que a motivou a sair do Brasil foi uma adolescência
marcada pelo racismo.
“O que me motivou a buscar novas oportunidades e me
jogar no mundo foram episódios de bullying, algumas situações que eu sofri na
escola em que eu estudava, como chacotas, pessoas me ameaçavam de pegar na
saída, pessoas me empurravam, cuspiam em mim, tentavam me empurrar da escada,
entre outras situações bem difíceis, como apelidos, piadas. As pessoas não
aceitavam eu ser uma aluna negra, fazendo a diferença na escola e sendo contada
pelas professoras e diretores.”
Por causa dessas agressões, Nataly enfrentou
problemas psicológicos, até que um dia encontrou um propósito.
“Uma das noites eu estava na casa da minha avó, e
eu estava bem cabisbaixa, até que eu decidi ir na sacada e olhei para o céu e
vi um avião. Nesse exato momento eu imaginei para onde aquele avião estaria
indo? Para onde essas pessoas estão indo, como será que é lá em cima? Imagina
só eu entrar em um avião desse e me jogar no mundo?”
Viajando pelo mundo, Nataly descobriu que o racismo
não é sobre lugares, mas sobre pessoas. Na Polônia, por exemplo, ela sofreu
agressões no meio da rua.
“Eu fui andando e percebi que as pessoas
atravessavam a rua para não ficar na mesma calçada que eu. As pessoas
apontavam, me chamavam de black me chamavam de monkey, que é macaco, eu fui me
sentindo muito desconfortável ao ponto de chorar, começar a chorar no meio da
rua porque eu não estava acreditando naquela situação que eu estava vivendo”,
relembra.
“Ser mulher viajante solo já é um desafio, porque a
gente vai para lugares onde é a questão de segurança, assédio... E ser mulher
viajante negra é um outro desafio também porque em muitos lugares as pessoas
não estão acostumadas a ver uma pessoa negra frequentando um aeroporto, uma
sala vip, restaurante ou ficando hospedada em um resort no hotel. O que
acontece é que muito dos lugares que eu frequento eu vejo alguns olhares de
curiosidade e outros olhares de racismo.”
Fonte: g1/Correio Braziliense
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