Por que insetos são cruciais para vida na Terra
Vivemos em um planeta de insetos. Eles representam
cerca de 70% de todas as espécies conhecidas na Terra e sua biomassa combinada
é 16 vezes maior que a dos humanos.
Há 300 milhões de anos, libélulas gigantes com
envergadura de 75 centímetros voavam entre as samambaias arbóreas. Hoje em dia,
os insetos são extraordinariamente diversos, com uma enorme variedade de cores,
formas e tamanhos.
Eles também desempenham um papel crucial na vida na
Terra. Eles servem de alimento para muitos animais, incluindo a maioria dos
pássaros, morcegos, lagartos, anfíbios e peixes de água doce.
Cerca de 80% das espécies de plantas selvagens do
mundo também dependem de insetos para polinizá-las, assim como três quartos das
plantas que cultivamos para alimentação. Não é exagero dizer que, sem os
insetos, muitos de nós morreríamos de fome.
Mas muitos tipos de insetos em diferentes partes do
mundo estão ameaçados. Embora medir as populações de insetos seja algo
complexo, existem sinais preocupantes.
Um importante estudo de 2020 estimou que os insetos
que vivem na Terra estão a diminuir em cerca de 9% por década em todo o mundo.
Um estudo alemão descobriu que a biomassa de
insetos voadores nas reservas naturais diminuiu alarmantes 76% entre 1989 e
2016. Nos Estados Unidos, as populações de borboleta-monarca diminuíram 80%
neste século.
Algumas espécies no Reino Unido, como a
borboleta-vírgula e as borboletas-malhadinhas, estão contrariando a tendência.
Mas de maneira geral, a distribuição geográfica global das borboletas no Reino
Unido diminuiu, em média, 42% desde 1976.
As espécies invasoras também estão sofrendo. Ratos
se alimentaram da tesourinha de Santa Helena, um tipo de lacraia, até levar a
espécie à extinção e quase exterminaram o weta gigante da Nova Zelândia, um
tipo de gafanhoto.
A poluição luminosa também representa um problema,
pois atrai as mariposas e as condena à morte e perturba o ciclo de vida dos
insetos. Também desorienta alguns besouros que navegam usando a luz da Via
Láctea.
• 'Guerra
contra a natureza'
Além de tudo isso, os insetos têm agora que lidar
com as mudanças climáticas. Alguns insetos mais adaptáveis, como os mosquitos,
as baratas e as moscas domésticas, se beneficiarão de temperaturas mais altas e
de mais chuva. Mas a maioria sofrerá.
Zangões estão desaparecendo de seus habitats mais
ao sul, superaquecendo em seus corpos peludos à medida que o clima esquenta.
Secas, inundações e incêndios florestais também podem devastar as populações já
ameaçadas.
Em 1962, a bióloga americana Rachel Carson publicou
o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa, em tradução literal para o
português), alertando que estávamos causando danos terríveis ao nosso planeta.
Ela escreveu: "O homem é parte da
natureza" e a sua guerra contra a natureza "é inevitavelmente uma
guerra contra si mesmo".
Mas a previsão de Carson era apenas o começo. Desde
então, os habitats de vida selvagem ricos em insetos foram destruídos em grande
escala. Os solos foram degradados e os rios obstruídos com lodo, poluídos ou
drenados.
A agricultura, tão dependente dos insetos para a
polinização, é responsável por grande parte do seu declínio. Estima-se que 4
milhões de toneladas de pesticidas sejam lançadas no meio ambiente todos os
anos.
Então, o que podemos fazer se quisermos proteger
nossos insetos?
A resposta mais simples está em reestruturar
jardins e varandas, plantando flores silvestres e arbustos nativos, reduzindo o
corte da relva e encontrando alternativas aos pesticidas.
Mas as ações individuais não serão suficientes.
Imagine cidades verdes repletas de árvores, hortas e lagos, todas livres de
pesticidas e cheias de vida. O movimento para uma agricultura sustentável para
insetos e toda a natureza está crescendo, mas precisa de muito mais apoio,
tanto por parte de governos como de consumidores.
Ainda não é tarde demais. A maioria das espécies de
insetos ameaçadas ainda não foi extinta e pode se recuperar rapidamente se fo
protegida.
O biólogo americano Paul Ehrlich comparou a perda
de espécies ao desprendimento aleatório de rebites da asa de um avião. Remova
um ou dois e o avião provavelmente ficará bem. Remova dez, 20 ou 50 e, em algum
momento, ocorrerá uma falha catastrófica e o avião cairá do céu.
Os insetos são os rebites que mantêm o planeta
funcionando. Quantos podem ser removidos com segurança do avião antes que ele
caia?
Fonte: Por Dave Goulson - Professor de Biologia da
Universidade de Sussex, para BBC News
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