Ameaças do próximo inverno: ao isolar a Rússia, Europa caminha para uma
crise social e energética
No ano passado, os europeus testemunharam a
perspectiva de uma verdadeira crise energética quando decidiram restringir suas
importações de combustíveis fósseis da Rússia, fazendo com que os preços de
energia no continente subissem para máximas históricas.
Hoje, as lideranças na União Europeia já se debatem
para encontrar meios necessários de obter a energia suficiente para sobreviver
ao próximo inverno, que promete ser bem mais rigoroso do que o do ano passado.
Tendo aderido ao frenesi das sanções contra Moscou,
por exigência dos americanos, a Europa tomou o caminho de tentar diminuir sua
dependência das commodities russas, ainda que tais medidas sejam claramente
prejudiciais a suas próprias populações e à competitividade de sua indústria.
Com o objetivo de eliminar completamente as
importações de energia russa até 2030, a União Europeia acabou jogando em favor
da estratégia estadunidense no continente, que visa tornar os europeus
dependentes de Washington não somente em termos de segurança, mas também do
ponto de vista energético.
Afinal, os Estados Unidos são experts em criar
problemas e depois oferecer soluções que atendam aos seus interesses
econômicos. Esse foi o caso, por exemplo, da insistência americana em vender
seu gás natural liquefeito para os europeus, a fim de cobrir a lacuna deixada
pelo gás russo.
Ora, até a eclosão do conflito ucraniano no ano
passado, a elevada dependência da União Europeia dos produtos energéticos
vendidos pela Rússia, principalmente gás natural, petróleo e carvão, tinha sido
uma das principais razões a preocupar os formuladores de políticas nos Estados
Unidos.
Isso porque durante os anos 2000, os europeus
adquiriam cerca de 40% do seu gás natural e 30% do seu petróleo da Rússia,
implicando em uma sólida relação de complementaridade econômica entre Moscou e
o continente.
Contudo, em vista de desavenças políticas e da
intromissão americana no Leste Europeu, o Kremlin se viu em uma situação em que
suas exportações de energia para a Europa foram sendo paulatinamente
diminuídas, sobretudo porque os europeus embarcaram em um jogo geopolítico de
confrontação à Rússia por meio das sanções.
Diante desse contexto, testemunhou-se a uma redução
de cerca de 80% no valor do comércio energético entre Moscou e o continente no
ano de 2022. Todavia, Moscou soube contornar as sanções, estabelecendo relações
ainda mais próximas com potências asiáticas como China e Índia. No ano passado,
por exemplo, a Rússia já havia se tornado a principal fornecedora de petróleo à
Índia, ultrapassando a posição de países como Iraque e Arábia Saudita.
Não obstante, segundo dados recentes da
administração alfandegária chinesa, nos primeiros seis meses de 2023 a Rússia
também liderou os suprimentos de petróleo à China. No final das contas, dada a
estratégia da União Europeia de diminuir sua dependência do gás e do petróleo
russos, Moscou empreendeu importantes parcerias comerciais com China e Índia, o
que representa um marco geopolítico para a Eurásia, frustrando assim os planos
europeus de enfraquecimento da Rússia.
Assim sendo, o bloqueio do fornecimento de gás
russo à Europa tratou-se de um golpe trágico não somente para o setor
energético europeu e para o bolso de seus cidadãos, afetando o custo de vida de
famílias e empresas, como também do ponto de vista geopolítico, uma vez que
serviu para consolidar o eixo Moscou-Nova Deli e Pequim na Eurásia.
Atualmente, os governos europeus se encontram
diante da difícil tarefa de sobreviver ao próximo inverno, dado que não querem
contar com os recursos energéticos russos. Para piorar a situação, protestos
como os ocorridos recentemente na França – assim como em outros países -
demonstram um alto grau de insatisfação popular com as autoridades, o que tende
a agravar-se em caso de continuada deterioração nos preços de produtos básicos
e de energia.
Esse momento é particularmente desfavorável para os
europeus, que continuam insistindo no erro estratégico de sancionar a Rússia,
expondo-se a uma grave crise energética e social séria. Além do mais, aquelas
nobres iniciativas políticas da União Europeia no âmbito de estabelecerem uma
economia verde (o vulgo "Go Green"), visando alcançar uma redução de
55% nas emissões de gases com efeito estufa até 2050, também saíram pela culatra.
O continente, que estava no processo de reduzir
voluntariamente a sua dependência de combustíveis fósseis em direção a uma
economia mais limpa, foi negativamente afetado por essa brusca onda de sanções
contra a Rússia. Isso porque a falta de abastecimento do gás russo implicou na
necessidade de utilizar cada vez mais carvão para satisfazer as necessidades
energéticas europeias.
Sendo o carvão o combustível fóssil mais
prejudicial por conta justamente de suas emissões de carbono, o discurso
europeu em torno da necessidade de redução nas emissões de gases com efeito
estufa não passou, portanto, de retórica vazia.
Para resumir, a Europa percebeu que alcançar a
segurança energética e uma economia verde eram tarefas mutuamente excludentes.
Como se não bastasse, durante o último inverno – que acabou sendo relativamente
ameno – autoridades do bloco incentivaram seus cidadãos a baixarem a
temperatura de seus termostatos (que controlam aquecedores residenciais) em
cerca de 0,6 grau Celsius.
Ou seja, literalmente os europeus foram
incentivados a passar mais frio dentro de suas próprias casas, tudo em nome da
chamada "causa ucraniana" e de sua oposição irrestrita a Moscou. Em
suma, no ano passado a sorte da Europa veio na forma de um inverno brando.
Contudo, a promessa é de que o próximo será bem
mais rigoroso do que o anterior. Além do frio, porém, a Europa também terá de
lidar com um cenário de inflação alta e tumultos populares constantes (vide o
caso da França), em boa medida resultante de suas políticas de isolamento da Rússia.
Afinal, enquanto não abrirem os olhos para os
próprios erros, os europeus continuarão sujeitos às ameaças do próximo inverno.
Ø Rússia dá novo passo em sua resposta ao boom do xisto nos EUA
Apesar das numerosas sanções impostas à Rússia, o
"plano energético especial" de Moscou – a exploração dos vastos
recursos petrolíferos e de gás do Ártico – deu um grande passo com a
confirmação de que o seu principal projeto Arctic LNG 2 (Ártico 2) vai estar
operacional antes do final de 2023, dizem especialistas.
Além do fato de a Rússia ter conseguido levar a
cabo uma missão tão difícil em termos financeiros e tecnológicos, apesar das
duras sanções, o Arctic LNG 2, um projeto de gás natural liquefeito (GNL) da
empresa russa Novatek, é vital para a Eurásia por uma série de razões mais
amplas, diz o especialista do portal Oilprice.com, Simon Watkins.
Em primeiro lugar, está a magnitude das reservas de
petróleo e gás da Rússia, muitas das quais na parte ártica do país,
compreendendo mais de 35,7 bilhões de metros cúbicos (bmc) de gás natural e
mais de 2,3 bmc de toneladas métricas de petróleo, observou o analista.
O portal alega as palavras do presidente russo,
Vladimir Putin, que havia declarado que "nos próximos dez anos haverá uma
expansão espetacular da extração destes recursos do Ártico" e, como
resultado, a construção da Rota Marítima do Norte (RMS) como principal rota de
transporte para rentabilizar estes recursos nos mercados mundiais de petróleo e
gás.
Uma vez que "o principal mercado" para
onde irá grande parte da produção de petróleo e gás do Ártico seria a China, a
segunda razão pela qual a região é tão importante para o Kremlin, explicou
Watkins.
A terceira razão, na opinião do especialista, é que
o GNL é a forma de gás "mais confortável" do mundo. Ao contrário do
fornecimento de gás por gasoduto, o gás liquefeito não requer anos de
instalação de gasodutos e construção de infraestruturas de apoio, nem
negociações contratuais complexas e demoradas. Em vez disso, "pode ser
rapidamente adquirido no mercado à vista e transportado para onde for
necessário", disse ele.
Além disso, elaborou o autor, o aumento das
capacidades de fornecimento de GNL da própria Rússia "nunca foi tão
importante do ponto de vista geopolítico como agora, em uma altura em que o
mundo necessita cada vez mais do fornecimento deste tipo de gás, dada a
recuperação de sua procura na Europa após a estagnação dos fluxos dos gasodutos
russos".
Uma última razão fundamental em jogo na pressão da
Rússia pelo petróleo e gás do Ártico, segundo Watkins, é "a sua capacidade
de subverter a hegemonia baseada no dólar americano no mercado
energético".
Dadas estas circunstâncias o comissionamento da
primeira linha de GNL do Ártico 2 "está em linha" com os planos da
Novatek de aumentar a sua capacidade de exportação de GNL para 70 milhões de
toneladas métricas por ano (tm/a) até 2030 incluindo 198 milhões tm/a de GNL do
Ártico 2 disse o analista.
Por sua vez, "isto se enquadra" nos
planos da Rússia para uma produção de gás liquefeito na casa de 80-140 milhões
de tm/a até 2035, o que seria superior às potências de GNL do Catar e da
Austrália, resumiu Watkins.
Ø EUA anunciam US$ 250 milhões em nova ajuda militar à Ucrânia; total já
chegou a US$ 43 bi
Washington comunicou nesta terça-feira (29) um novo
pacote de assistência militar para a Ucrânia. As armas serão retiradas dos
estoques norte-americanos existentes.
O anúncio foi feito pelo secretário de Estado,
Antony Blinken, o qual disse que "os Estados Unidos e os nossos aliados e
parceiros permanecerão unidos à Ucrânia, enquanto for necessário", segundo
a Reuters.
O pacote incluirá equipamentos adicionais de
remoção de minas, mísseis para defesa aérea, munição para sistemas de
artilharia e Himars e mais de três milhões de cartuchos de munição para armas
leves.
Com mais essa ajuda, os EUA já enviaram para Kiev
no total, desde o começo da operação russa na Ucrânia, US$ 43 bilhões (R$ 209
bilhões). A mídia relata que o presidente Joe Biden pediu ao Congresso, no
início deste mês, que aprovasse mais US$ 24 bilhões (R$ 116 bilhões) em
assistência.
As tropas ucranianas iniciaram uma contraofensiva
no leste e no sul no início de junho, mas fizeram progressos lentos através dos
campos minados e trincheiras russas que bloqueavam o seu avanço para o sul.
Moscou já alertou diversas vezes que qualquer
armamento enviado por qualquer país para Ucrânia será alvo legítimo das Forças
Armadas russas.
Ø 'Rússia recorrerá a testes nucleares apenas se EUA os fizerem
primeiro', diz diplomata russo na ONU
A data do dia 29 de agosto marca o Dia
Internacional Contra os Testes Nucleares, e pela primeira vez desde o fim da
Guerra Fria, o número de armas atômicas no mundo aumentará em 2023.
A Rússia só recorrerá a testes nucleares se os
Estados Unidos o fizerem primeiro, disse Dmitry Glukhov, representante da
missão permanente russa na ONU em reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas
hoje (29).
Anteriormente, a vice-secretária de Estado dos EUA,
Bonnie Jenkins, disse que os Estados Unidos estavam preocupados com as
instruções dadas pelo presidente russo, Vladimir Putin, em fevereiro, sobre a
preparação para um teste nuclear.
"É particularmente preocupante que os Estados
Unidos, o Estado que é o único a usar armas nucleares e também detém a
liderança no número de testes nucleares realizados, tenham mantido aberta a
questão do retorno aos testes durante vários anos. E por vários anos. Por isso
não ratificam o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares [CTBT]",
disse Glukhov.
Neste contexto, segundo a autoridade russa, Moscou
não reconhece o direito de Washington de fazer quaisquer acusações contra ela.
"Queremos enfatizar que a declaração do
presidente da Rússia mencionada sobre a hipotética possibilidade de retomada
dos testes nucleares por nosso país, expressa durante sua mensagem à Assembleia
Federal da Federação da Rússia, deve ser considerada exclusivamente no contexto
de nossa resposta às ações destrutivas dos Estados Unidos. É um sinal
preventivo para Washington. Recorreremos a tal medida apenas se os Estados
Unidos o fizerem primeiro", disse o diplomata.
Ao contrário dos EUA, a Rússia não só assinou como
também ratificou o CTBT.
Falando perante a Assembleia Federal em fevereiro
de 2023, Putin disse que a Rússia tem informações de que os Estados Unidos
estão pensando na possibilidade de testes em grande escala de suas armas
nucleares, inclusive levando em consideração o desenvolvimento de novos tipos
de armas nucleares americanas.
A este respeito, o líder russo instruiu o
Ministério da Defesa russo, Sergei Shoigu, e a Rosatom a garantir a prontidão
para testar armas nucleares russas se os testes forem realizados primeiro pelos
americanos.
Ø Noruega coordenará aquisições militares da OTAN pró-Kiev 'com padrões e
métodos ocidentais'
A defesa do país revelou que assumirá a liderança
da iniciativa, que faz parte dos mais amplos esforços ocidentais de armar Kiev
contra as forças de Moscou.
A Noruega, um Estado-membro da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderará o trabalho dentro do bloco para
coordenar a cooperação de equipamento militar entre os Estados-membros da
aliança e a Ucrânia, disse na segunda-feira (28) o Ministério da Defesa do país
nórdico.
"A Noruega agora também liderará o trabalho em
nível estratégico na OTAN, que coordena os esforços para desenvolver o trabalho
de equipamento de defesa entre as nações aliadas e a Ucrânia. O setor será
desenvolvido na direção dos padrões e métodos de trabalho ocidentais",
detalhou o ministério em um comunicado.
O bloco iniciou os trabalhos de revisão das
aquisições de defesa para a Ucrânia e espera-se que a revisão seja concluída
até o final de 2023, segundo o comunicado, que acrescentou que serão formuladas
medidas concretas financiadas por um dos fundos da OTAN para assistência
adicional à Ucrânia.
Em março, a Noruega firmou um acordo com a Ucrânia
para facilitar os processos de aquisição de material para as necessidades
militares de Kiev.
Os países ocidentais têm fornecido cada vez mais
ajuda militar à Ucrânia desde o início da operação militar especial em
fevereiro de 2022. Já o Kremlin advertiu repetidamente contra o fornecimento de
armas a Kiev.
Fonte: Sputnik Brasil
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