quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Ameaças do próximo inverno: ao isolar a Rússia, Europa caminha para uma crise social e energética

No ano passado, os europeus testemunharam a perspectiva de uma verdadeira crise energética quando decidiram restringir suas importações de combustíveis fósseis da Rússia, fazendo com que os preços de energia no continente subissem para máximas históricas.

Hoje, as lideranças na União Europeia já se debatem para encontrar meios necessários de obter a energia suficiente para sobreviver ao próximo inverno, que promete ser bem mais rigoroso do que o do ano passado.

Tendo aderido ao frenesi das sanções contra Moscou, por exigência dos americanos, a Europa tomou o caminho de tentar diminuir sua dependência das commodities russas, ainda que tais medidas sejam claramente prejudiciais a suas próprias populações e à competitividade de sua indústria.

Com o objetivo de eliminar completamente as importações de energia russa até 2030, a União Europeia acabou jogando em favor da estratégia estadunidense no continente, que visa tornar os europeus dependentes de Washington não somente em termos de segurança, mas também do ponto de vista energético.

Afinal, os Estados Unidos são experts em criar problemas e depois oferecer soluções que atendam aos seus interesses econômicos. Esse foi o caso, por exemplo, da insistência americana em vender seu gás natural liquefeito para os europeus, a fim de cobrir a lacuna deixada pelo gás russo.

Ora, até a eclosão do conflito ucraniano no ano passado, a elevada dependência da União Europeia dos produtos energéticos vendidos pela Rússia, principalmente gás natural, petróleo e carvão, tinha sido uma das principais razões a preocupar os formuladores de políticas nos Estados Unidos.

Isso porque durante os anos 2000, os europeus adquiriam cerca de 40% do seu gás natural e 30% do seu petróleo da Rússia, implicando em uma sólida relação de complementaridade econômica entre Moscou e o continente.

Contudo, em vista de desavenças políticas e da intromissão americana no Leste Europeu, o Kremlin se viu em uma situação em que suas exportações de energia para a Europa foram sendo paulatinamente diminuídas, sobretudo porque os europeus embarcaram em um jogo geopolítico de confrontação à Rússia por meio das sanções.

Diante desse contexto, testemunhou-se a uma redução de cerca de 80% no valor do comércio energético entre Moscou e o continente no ano de 2022. Todavia, Moscou soube contornar as sanções, estabelecendo relações ainda mais próximas com potências asiáticas como China e Índia. No ano passado, por exemplo, a Rússia já havia se tornado a principal fornecedora de petróleo à Índia, ultrapassando a posição de países como Iraque e Arábia Saudita.

Não obstante, segundo dados recentes da administração alfandegária chinesa, nos primeiros seis meses de 2023 a Rússia também liderou os suprimentos de petróleo à China. No final das contas, dada a estratégia da União Europeia de diminuir sua dependência do gás e do petróleo russos, Moscou empreendeu importantes parcerias comerciais com China e Índia, o que representa um marco geopolítico para a Eurásia, frustrando assim os planos europeus de enfraquecimento da Rússia.

Assim sendo, o bloqueio do fornecimento de gás russo à Europa tratou-se de um golpe trágico não somente para o setor energético europeu e para o bolso de seus cidadãos, afetando o custo de vida de famílias e empresas, como também do ponto de vista geopolítico, uma vez que serviu para consolidar o eixo Moscou-Nova Deli e Pequim na Eurásia.

Atualmente, os governos europeus se encontram diante da difícil tarefa de sobreviver ao próximo inverno, dado que não querem contar com os recursos energéticos russos. Para piorar a situação, protestos como os ocorridos recentemente na França – assim como em outros países - demonstram um alto grau de insatisfação popular com as autoridades, o que tende a agravar-se em caso de continuada deterioração nos preços de produtos básicos e de energia.

Esse momento é particularmente desfavorável para os europeus, que continuam insistindo no erro estratégico de sancionar a Rússia, expondo-se a uma grave crise energética e social séria. Além do mais, aquelas nobres iniciativas políticas da União Europeia no âmbito de estabelecerem uma economia verde (o vulgo "Go Green"), visando alcançar uma redução de 55% nas emissões de gases com efeito estufa até 2050, também saíram pela culatra.

O continente, que estava no processo de reduzir voluntariamente a sua dependência de combustíveis fósseis em direção a uma economia mais limpa, foi negativamente afetado por essa brusca onda de sanções contra a Rússia. Isso porque a falta de abastecimento do gás russo implicou na necessidade de utilizar cada vez mais carvão para satisfazer as necessidades energéticas europeias.

Sendo o carvão o combustível fóssil mais prejudicial por conta justamente de suas emissões de carbono, o discurso europeu em torno da necessidade de redução nas emissões de gases com efeito estufa não passou, portanto, de retórica vazia.

Para resumir, a Europa percebeu que alcançar a segurança energética e uma economia verde eram tarefas mutuamente excludentes. Como se não bastasse, durante o último inverno – que acabou sendo relativamente ameno – autoridades do bloco incentivaram seus cidadãos a baixarem a temperatura de seus termostatos (que controlam aquecedores residenciais) em cerca de 0,6 grau Celsius.

Ou seja, literalmente os europeus foram incentivados a passar mais frio dentro de suas próprias casas, tudo em nome da chamada "causa ucraniana" e de sua oposição irrestrita a Moscou. Em suma, no ano passado a sorte da Europa veio na forma de um inverno brando.

Contudo, a promessa é de que o próximo será bem mais rigoroso do que o anterior. Além do frio, porém, a Europa também terá de lidar com um cenário de inflação alta e tumultos populares constantes (vide o caso da França), em boa medida resultante de suas políticas de isolamento da Rússia.

Afinal, enquanto não abrirem os olhos para os próprios erros, os europeus continuarão sujeitos às ameaças do próximo inverno.

 

Ø  Rússia dá novo passo em sua resposta ao boom do xisto nos EUA

 

Apesar das numerosas sanções impostas à Rússia, o "plano energético especial" de Moscou – a exploração dos vastos recursos petrolíferos e de gás do Ártico – deu um grande passo com a confirmação de que o seu principal projeto Arctic LNG 2 (Ártico 2) vai estar operacional antes do final de 2023, dizem especialistas.

Além do fato de a Rússia ter conseguido levar a cabo uma missão tão difícil em termos financeiros e tecnológicos, apesar das duras sanções, o Arctic LNG 2, um projeto de gás natural liquefeito (GNL) da empresa russa Novatek, é vital para a Eurásia por uma série de razões mais amplas, diz o especialista do portal Oilprice.com, Simon Watkins.

Em primeiro lugar, está a magnitude das reservas de petróleo e gás da Rússia, muitas das quais na parte ártica do país, compreendendo mais de 35,7 bilhões de metros cúbicos (bmc) de gás natural e mais de 2,3 bmc de toneladas métricas de petróleo, observou o analista.

O portal alega as palavras do presidente russo, Vladimir Putin, que havia declarado que "nos próximos dez anos haverá uma expansão espetacular da extração destes recursos do Ártico" e, como resultado, a construção da Rota Marítima do Norte (RMS) como principal rota de transporte para rentabilizar estes recursos nos mercados mundiais de petróleo e gás.

Uma vez que "o principal mercado" para onde irá grande parte da produção de petróleo e gás do Ártico seria a China, a segunda razão pela qual a região é tão importante para o Kremlin, explicou Watkins.

A terceira razão, na opinião do especialista, é que o GNL é a forma de gás "mais confortável" do mundo. Ao contrário do fornecimento de gás por gasoduto, o gás liquefeito não requer anos de instalação de gasodutos e construção de infraestruturas de apoio, nem negociações contratuais complexas e demoradas. Em vez disso, "pode ser rapidamente adquirido no mercado à vista e transportado para onde for necessário", disse ele.

Além disso, elaborou o autor, o aumento das capacidades de fornecimento de GNL da própria Rússia "nunca foi tão importante do ponto de vista geopolítico como agora, em uma altura em que o mundo necessita cada vez mais do fornecimento deste tipo de gás, dada a recuperação de sua procura na Europa após a estagnação dos fluxos dos gasodutos russos".

Uma última razão fundamental em jogo na pressão da Rússia pelo petróleo e gás do Ártico, segundo Watkins, é "a sua capacidade de subverter a hegemonia baseada no dólar americano no mercado energético".

Dadas estas circunstâncias o comissionamento da primeira linha de GNL do Ártico 2 "está em linha" com os planos da Novatek de aumentar a sua capacidade de exportação de GNL para 70 milhões de toneladas métricas por ano (tm/a) até 2030 incluindo 198 milhões tm/a de GNL do Ártico 2 disse o analista.

Por sua vez, "isto se enquadra" nos planos da Rússia para uma produção de gás liquefeito na casa de 80-140 milhões de tm/a até 2035, o que seria superior às potências de GNL do Catar e da Austrália, resumiu Watkins.

 

Ø  EUA anunciam US$ 250 milhões em nova ajuda militar à Ucrânia; total já chegou a US$ 43 bi

 

Washington comunicou nesta terça-feira (29) um novo pacote de assistência militar para a Ucrânia. As armas serão retiradas dos estoques norte-americanos existentes.

O anúncio foi feito pelo secretário de Estado, Antony Blinken, o qual disse que "os Estados Unidos e os nossos aliados e parceiros permanecerão unidos à Ucrânia, enquanto for necessário", segundo a Reuters.

O pacote incluirá equipamentos adicionais de remoção de minas, mísseis para defesa aérea, munição para sistemas de artilharia e Himars e mais de três milhões de cartuchos de munição para armas leves.

Com mais essa ajuda, os EUA já enviaram para Kiev no total, desde o começo da operação russa na Ucrânia, US$ 43 bilhões (R$ 209 bilhões). A mídia relata que o presidente Joe Biden pediu ao Congresso, no início deste mês, que aprovasse mais US$ 24 bilhões (R$ 116 bilhões) em assistência.

As tropas ucranianas iniciaram uma contraofensiva no leste e no sul no início de junho, mas fizeram progressos lentos através dos campos minados e trincheiras russas que bloqueavam o seu avanço para o sul.

Moscou já alertou diversas vezes que qualquer armamento enviado por qualquer país para Ucrânia será alvo legítimo das Forças Armadas russas.

 

Ø  'Rússia recorrerá a testes nucleares apenas se EUA os fizerem primeiro', diz diplomata russo na ONU

 

A data do dia 29 de agosto marca o Dia Internacional Contra os Testes Nucleares, e pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, o número de armas atômicas no mundo aumentará em 2023.

A Rússia só recorrerá a testes nucleares se os Estados Unidos o fizerem primeiro, disse Dmitry Glukhov, representante da missão permanente russa na ONU em reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas hoje (29).

Anteriormente, a vice-secretária de Estado dos EUA, Bonnie Jenkins, disse que os Estados Unidos estavam preocupados com as instruções dadas pelo presidente russo, Vladimir Putin, em fevereiro, sobre a preparação para um teste nuclear.

"É particularmente preocupante que os Estados Unidos, o Estado que é o único a usar armas nucleares e também detém a liderança no número de testes nucleares realizados, tenham mantido aberta a questão do retorno aos testes durante vários anos. E por vários anos. Por isso não ratificam o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares [CTBT]", disse Glukhov.

Neste contexto, segundo a autoridade russa, Moscou não reconhece o direito de Washington de fazer quaisquer acusações contra ela.

"Queremos enfatizar que a declaração do presidente da Rússia mencionada sobre a hipotética possibilidade de retomada dos testes nucleares por nosso país, expressa durante sua mensagem à Assembleia Federal da Federação da Rússia, deve ser considerada exclusivamente no contexto de nossa resposta às ações destrutivas dos Estados Unidos. É um sinal preventivo para Washington. Recorreremos a tal medida apenas se os Estados Unidos o fizerem primeiro", disse o diplomata.

Ao contrário dos EUA, a Rússia não só assinou como também ratificou o CTBT.

Falando perante a Assembleia Federal em fevereiro de 2023, Putin disse que a Rússia tem informações de que os Estados Unidos estão pensando na possibilidade de testes em grande escala de suas armas nucleares, inclusive levando em consideração o desenvolvimento de novos tipos de armas nucleares americanas.

A este respeito, o líder russo instruiu o Ministério da Defesa russo, Sergei Shoigu, e a Rosatom a garantir a prontidão para testar armas nucleares russas se os testes forem realizados primeiro pelos americanos.

 

Ø  Noruega coordenará aquisições militares da OTAN pró-Kiev 'com padrões e métodos ocidentais'

 

A defesa do país revelou que assumirá a liderança da iniciativa, que faz parte dos mais amplos esforços ocidentais de armar Kiev contra as forças de Moscou.

A Noruega, um Estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderará o trabalho dentro do bloco para coordenar a cooperação de equipamento militar entre os Estados-membros da aliança e a Ucrânia, disse na segunda-feira (28) o Ministério da Defesa do país nórdico.

"A Noruega agora também liderará o trabalho em nível estratégico na OTAN, que coordena os esforços para desenvolver o trabalho de equipamento de defesa entre as nações aliadas e a Ucrânia. O setor será desenvolvido na direção dos padrões e métodos de trabalho ocidentais", detalhou o ministério em um comunicado.

O bloco iniciou os trabalhos de revisão das aquisições de defesa para a Ucrânia e espera-se que a revisão seja concluída até o final de 2023, segundo o comunicado, que acrescentou que serão formuladas medidas concretas financiadas por um dos fundos da OTAN para assistência adicional à Ucrânia.

Em março, a Noruega firmou um acordo com a Ucrânia para facilitar os processos de aquisição de material para as necessidades militares de Kiev.

Os países ocidentais têm fornecido cada vez mais ajuda militar à Ucrânia desde o início da operação militar especial em fevereiro de 2022. Já o Kremlin advertiu repetidamente contra o fornecimento de armas a Kiev.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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