quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Beber álcool todo dia leva à pressão alta até em quem não é hipertenso

Uma análise de sete estudos abrangendo mais de 19 mil indivíduos saudáveis e sem histórico de hipertensão revelou que os níveis de pressão arterial aumentam mais rapidamente em adultos que consomem álcool dentro de sua rotina.

A pesquisa apontou uma ligação entre o aumento da pressão arterial sistólica e a quantidade de bebida alcoólica ingerida, inclusive entre aqueles com um baixo consumo diário, quando comparados com os não consumidores.

A pressão arterial sistólica é aquela medida durante a contração do coração (força exercida contra as paredes das artérias), geralmente mais alta.

A pressão diastólica é medida durante o relaxamento do coração, por isso é geralmente mais baixa. À medida que as pessoas envelhecem, a pressão sistólica tende a aumentar e, por isso, ela é um importante preditor de risco para doença cardiovascular – e o seu controle é fundamental para prevenir ou retardar o desenvolvimento da hipertensão.

“Ambas as medidas são importantes [sistólica e diastólica]. O coração realiza ciclos de contração-relaxamento o tempo todo, e a pressão oscila de uma [sistólica] para outra [diastólica]. Por isso, não avaliamos a pressão de forma dissociada: ambas podem comprometer a saúde cardiovascular”, explicou o cardiologista Humberto Graner, coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia.

•        Como foi feita a pesquisa?

A revisão dos sete estudos envolveu análise de dados de 19.548 adultos (65% eram homens) entre 20 e 70 anos que moravam nos Estados Unidos, Coreia e Japão. Nenhum deles tinha diagnóstico prévio de hipertensão, diabetes, doença hepática ou alcoolismo.

No início do estudo, os pesquisadores registraram a ingestão habitual de álcool, que foi convertida em gramas e não em número de bebidas para evitar possíveis variações na quantidade de álcool presente nas bebidas consideradas padrão nos diferentes países.

Para fins de comparação, os pesquisadores utilizaram dados referentes à quantidade de álcool presente em diferentes tipos de bebidas nos Estados Unidos (oz): 12 oz de cerveja (equivalente a cerca de 350 ml), cinco oz de vinho (aproximadamente 148 ml) ou uma dose de 1,5 oz de destilados (cerca de 44 ml). Essas quantidades correspondem a aproximadamente 14 mg de álcool.

Os resultados do estudo, publicados na Hypertension, apontam que entre aqueles que consumiam uma média de 12 mg de álcool por dia, a pressão arterial sistólica (número superior) aumentou 1,25 mmHg ao longo dos anos e a diastólica (número inferior) 1,14 mmHg.

Já entre os que bebiam uma média de 48 gramas de álcool por dia, a pressão sistólica aumentou 4,9 mmHg e a diastólica aumentou 3,1 mmHg.

Reduzir o álcool pode reduzir pressão alta

Segundo os pesquisadores, essa é a primeira vez que uma análise confirma o aumento contínuo das medidas da pressão arterial em pessoas com baixo e alto consumo de álcool – que é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Mesmo naqueles indivíduos que tinham um consumo baixo, foi observado aumento dos níveis pressóricos ao longo do tempo, embora essa alteração tenha sido menor do que o aumento da pressão observado em pessoas que consumiam mais quantidade de álcool todos os dias.

“Estes dados mostram que o consumo de álcool pode ser abordado como um fator modificável na prevenção da hipertensão. Embora esse aumento de quase 5 mmHg na pressão arterial possa parecer pouco, essa elevação pode comprometer a saúde do coração ao longo de 10 ou 15 anos. Importante notar que a associação foi linear: quanto maior o consumo, maior o impacto negativo no aumento da pressão arterial”, avaliou Graner.

Segundo o cardiologista, beber pode levar ao aumento temporário da pressão arterial, e o consumo crônico e excessivo está associado a uma elevação sustentada da pressão arterial, mas a ciência ainda não sabe qual o mecanismo exato que leva ao problema.

“Acredita-se que pode envolver a alteração dos níveis de hormônios que regulam a pressão arterial e o enrijecimento dos vasos sanguíneos”, explicou.

Apesar dos resultados, não é possível afirmar que o álcool sozinho seja o responsável pelo aumento dos níveis de pressão.

“Não é possível atribuir esse aumento da pressão diretamente e somente ao álcool, mas sim, ao hábito de ingerir bebidas alcoólicas. O que sabemos é que nem sempre aquele que bebe o faz sozinho. O ‘tira-gosto’, por exemplo, que muitas vezes acompanha a bebida alcoólica, é rico em sódio, gordura e calorias, e pode também contribuir com este aumento”, ponderou.

Segundo Graner, dentro da cardiologia a moderação é a chave. “Algumas diretrizes sugerem que, se as pessoas optarem por consumir álcool, devem fazê-lo com moderação. Para aqueles que não bebem, não recomendamos que iniciem este hábito”, reforçou o médico que ressalta que o estudo comprova que mesmo o consumo de baixas quantidades pode influenciar a pressão arterial ao longo do tempo.

 

       Uma dose de bebida alcoólica por dia pode aumentar a pressão, afirma estudo

 

Uma notícia desanimadora para aqueles que gostam de tomar uma taça de vinho ou um drink para relaxar. De acordo com um artigo publicado no portal Health, apenas uma dose de qualquer bebida alcoólica por dia pode afetar negativamente a pressão arterial.

A análise, feita pela American Heart Association (AHA), sugere que beber qualquer quantidade de álcool diariamente pode levar à pressão alta. “O impacto direto é conhecido há anos, mas a verdadeira questão que tem incomodado é o que acontece com a pressão arterial com baixos níveis de ingestão”, disse Paul K. Whelton, MD, MSc , coautor do estudo.

Whelton e a equipe revisaram milhares de teses, além de grupos envolvendo cerca de 20 mil participantes com consumo leve a moderado de álcool em diferentes continentes, incluindo América do Norte e Ásia. Os pesquisadores constataram que existe uma relação linear desde o nível mais baixo de ingestão até o nível mais alto, principalmente para a pressão arterial sistólica — que é o maior valor verificado durante a aferição.

Paul K. Whelton ressaltou que o risco é consistente, independentemente do indivíduo beber vinho, cerveja ou outro tipo de drinque em maior porcentagem.

“Para as pessoas (com e sem hipertensão), o consumo de álcool aumenta a pressão arterial”, disse Cheng-Han Chen, cardiologista intervencionista. O especialista ainda acrescenta que beber pode contribuir para o risco de problemas cardíacos. “Em pacientes atualmente com hipertensão, beber pode aumentar ainda mais o risco de doenças como ataque cardíaco ou derrame”, disse ele para a Health.

 

       Sete em cada 10 brasileiros abusam do álcool crendo beber moderadamente

 

Publicada em 26/7, uma pesquisa apresentada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC), mostrou que 75% das pessoas que consome álcool de forma abusiva no Brasil acredita estar dentro da categoria “bebo com moderação”.

O estudo mostrou o desconhecimento do brasileiro em relação aos reais limites do uso de álcool. Os dados foram obtidos através de pesquisas qualitativas que usaram representantes de diferentes grupos sociais para debater livremente em sessões de oito pessoas por vez. No total, foram ouvidas 1,9 mil pessoas em abril de 2023.

Segundo a pesquisa, 55% dos brasileiros não bebe, sendo 64% das mulheres e 45% dos homens. Outros 27% bebem moderadamente e 17% da população fazem consumo abusivo de álcool.

•        O que é o consumo abusivo de álcool?

O consumo é considerado abusivo quando o indivíduo toma seis ou mais doses de bebida por ocasião. Ou seja, o abuso não está relacionado só com a dependência em uma grande frequência de consumo, mas também à ausência de limites claros quando se bebe.

Para o CISA, consumir mais de quatro doses de bebida em uma única ocasião para mulheres e cinco para homens uma vez ao mês já é um quadro abusivo. Cada dose de bebida correponde a cerca de 350 ml de cerveja ou 150 ml de vinho.

Cerca de dois em cada três entrevistados que bebem disseram praticar este tipo de consumo mais de uma vez por mês. No entanto, entre os 882 entrevistados enquadrados como pessoas que abusam do álcool, 662 acreditavam ser pessoas que bebem moderadamente.

Enquanto o consumo moderado seria de dois copos de chope ou duas taças de vinho, por exemplo, a maioria dos participantes nos grupos de debate considerou que o consumo de cinco chopes ou de uma garrafa inteira de vinho no sábado como algo normal.

O perfil mais frequente das pessoas que abusam do álcool é de homens (65%); entre 25 e 34 anos (27%); com ensino médio completo (46%); e com renda superior a dois e inferior a cinco salários-mínimos (32%).

Segundo a pesquisa, 3% dos entrevistados admitiu que bebe muito, mas não vê problema nisso. Quando são considerados só os consumidores abusivos, o número chega a 11%.

 

Fonte: Agência Einstein/Metrópoles

 

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