Brasil procura alternativas para 'abandonar dólar e acabar com dependência
dos EUA', diz analista
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva,
está criando uma economia dinâmica no país e construindo uma rede de influência
no exterior.
A política de recuperação do salário mínimo no
Brasil, proposta pelo governo, impacta de maneira positiva a economia nacional.
Na segunda-feira (28), o presidente Lula avaliou a
aprovação no Congresso do aumento do salário mínimo para R$ 1.320, a partir de
1º de maio.
Para o analista político brasileiro Danilo
Silvestre, a iniciativa tem um impacto muito grande na economia do país, já que
elevará o ingresso de dinheiro na economia das pessoas.
"Este dinheiro será utilizado para comprar
comida, roupa e coisas necessárias no dia a dia. Há um impacto muito positivo
na distribuição da riqueza no país", afirmou à Sputnik.
O cálculo do salário mínimo de 2024 e posteriores
terá como referência a inflação do ano anterior, somado à taxa de crescimento
do produto interno bruto (PIB) dos anos anteriores.
Lula também se encontrou com o candidato presidencial
argentino Sergio Massa, atual ministro da Economia e integrante da Unión por la
Patria.
Ambos analisaram a possibilidade de um mecanismo
para a Argentina poder pagar as importações na moeda chinesa yuan, em vez de
usar o dólar americano.
O analista sugeriu que é preciso observar com
abrangência a ideia, já que o abandono do dólar na economia está ganhando força
não só entre o Brasil e a Argentina, como em outras instâncias internacionais
como no BRICS.
"Muitos países estão buscando alternativas
para deixar de utilizar o dólar e eliminar a dependência dos EUA",
destacou.
Para completar, o analista ressaltou que o
presidente Lula, em 2024, terá como desafios conseguir apoios no Congresso, bem
como o processo de transição energética, a segurança e melhorar a relação com o
Supremo Tribunal.
Ø Brasil e Argentina apostam no yuan, que já se considera 'moeda global',
diz cientista político
O diálogo entre os governos do Brasil e da
Argentina para usar o yuan no comércio bilateral se enquadra em um debate que se
faz forte em todo o mundo, disse à Sputnik o analista Julio Burdman. Para o
especialista, o uso da moeda chinesa poderia chegar inclusive ao mercado
varejista argentino.
O encontro do ministro da Economia argentino Sergio
Massa com o presidente brasileiro Lula da Silva para tratar do uso de yuan no
comércio bilateral é "o reflexo local de uma discussão muito mais
ampla" sobre a prevalência da moeda chinesa no mercado mundial, disse o
cientista político argentino.
Na verdade, a viagem de Massa ao Brasil teve como
pontos centrais os encontros com Lula e os ministros da Economia, Fernando
Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Embora vários temas de
integração entre os países sul-americanos tenham sido abordados, um dos pontos
mais destacados foi o acordo necessário para que ambos os países começassem a
desenvolver seu comércio em yuanes e já não em dólares dos EUA.
"Isto se dá não só no âmbito da adesão da
Argentina ao BRICS, mas também no âmbito de uma discussão cada vez mais
difundida nas instituições econômicas internacionais sobre o uso do yuan como
moeda global", afirmou Burdman.
O analista considerou que todos os possíveis
acordos que possam ocorrer entre China, Brasil e Argentina para incluir o yuan
nas transações comerciais e financeiras entre eles não devem ser vistos como
fatos isolados, mas como parte dessa "discussão global".
"Estamos presenciando um reflexo local de uma
discussão muito mais ampla que a Argentina e o Brasil mantêm, enquanto são
aliados da China neste ponto", explicou Burdman. O especialista sugeriu
que este processo pudesse chegar inclusive "à possibilidade de o yuan
começar a ser utilizado nas transações de varejo na Argentina",
possibilitando que alguns bancos argentinos "começassem a abrir contas em
yuanes".
A possibilidade de passar para yuanes o comércio
entre a Argentina e Brasil surgiu no âmbito das dificuldades argentinas para
adquirir dólares dos EUA. Com um esquema deste tipo, a Argentina não perderia
reservas em dólares de seu Banco Central para fazer frente às importações e,
além disso, se asseguraria poder fazer frente aos pagamentos de suprimentos
brasileiros, chave para a indústria argentina.
Ø César Fonseca: Brasil a
Argentina iniciam desdolarização com apoio da China
China emitirá um swap cambial em yuan como garantia
de acordo comercial Brasil-Argentina.
Inicia-se, dessa forma, na prática, processo de
desdolarização das relações comerciais entre os dois países. Novo sistema
monetário internacional é colocado em marcha pelo Sul Global.
Será a primeira experiência nesse sentido depois do
encontro dos BRICS, semana passada, na África do Sul, no qual compareceram os
líderes integrantes do bloco Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e
cerca de 40 países convidados.
Outros seis países, Arábia Saudita, Irã, Emirados
Árabes, Argentina, Etiopia e Egito, foram admitidos para ser incorporados a
partir de 2024.
Operacionalmente, a moeda chinesa será fator de
segurança para fomentar confiança dos empresários, a fim de incrementar o
comércio bilateral, quase que em termos emergenciais, para ter reflexo imediato
na economia portenha em crise profunda às vésperas de eleição presidencial em
outubro.
Implicaria, na prática, injeção de capital externo,
cujas consequências seriam impacto antiinflacionário e elevação do poder de
compra dos salários, a serem reajustados com tal oferta monetária, libertada
das restrições fiscais e condicionalidades impostas pelo FMI.
Os preços dos alimentos e de automotivos (partes,
peças e componentes) dispararam com a desvalorização do peso, especialmente,
depois da vitória nas eleições primárias, do candidato da direita fascista,
Javier Millei, acelerando inflação.
Brecar a onda inflacionária urgente é a tarefa da
negociação Brasil-Argentina para dar vantagem a Millei na escalada presidencial.
Por isso, em caráter emergencial, pelo que se
denotou do encontro, em Brasília, nesta segunda-feira, entre o ministro Massa
com o ministro Haddad e, na sequência, com o presidente Lula, colocou-se em
marcha mecanismo financeiro que permitirá negociação Brasil-Argentina ao largo
do dólar.
Banco do Brasil e BNDES, de um lado, e Banco de
Desenvolvimento Latino-Americano, de outro, buscam acerto para que o
financiamento das exportações e importações dos dois países seja garantidas
pela troca de moeda – peso e real – mediada pelo injeção de swap cambial em
moeda chinesa, yuan.
Tal transação, segundo jornal argentino, Página 12,
foi acertada, semana passada, em Washington, entre Sérgio Massa, ministro da
Fazenda e candidato à presidência pela aliança governista, com autoridades do
Fundo Monetário Internacional.
Seria a alternativa para suprir ausência de dólar
suficientes no Banco Central da Argentina para liquidar transações comerciais
com o Brasil.
Nasce, dessa forma, o processo de desdolarização da
economia global, sob patrocínio da China, cuja moeda deverá ser aceita por
Washington.
Afinal, a China supera Estados Unidos em paridade
do poder de compra, que garante transação entre si de dois integrantes do
BRICS, conforme mecanismo financeiro alternativo discutido em Joanesburso, para
ser colocado em prática pelos BRICS.
É o novo perfil do sistema monetário que tem por
princípio, segundo os BRICS, a cooperação internacional.
Setenta e nove anos depois o Acordo Bretton Woods,
em 1944, começa a ser ultrapassado com fim da hegemonia do dólar e emergência
dos BRICS, novo e forte competidor monetário internacional.
Ø Milei precisará de tempo para acabar com peso argentino se vencer
eleição, diz assessor
Javier Milei, candidato radical à presidência da
Argentina, precisará de tempo para cumprir suas promessas de campanha de acabar
com o peso e reduzir os impostos sobre os grãos, caso vença a eleição, disse um
assessor à Reuters, acrescentando que ele poderá contornar dificuldades no
Congresso usando decretos executivos.
Ramiro Marra, parte do círculo íntimo de Milei e
candidato do seu partido a prefeito da cidade de Buenos Aires, disse que Milei
-- que conseguiu uma vitória surpreendente em uma eleição primária neste mês --
dolarizará a economia dentro de dois anos e terá como objetivo remover os
impostos sobre o enorme setor agrícola se eleito.
Ele acrescentou, no entanto, que os eleitores de
Milei, um autodenominado libertário e outsider político que fez seu nome como
comentarista de televisão, deverão ser realistas quanto ao fato de que suas
propostas levariam tempo.
"É preciso entender que as propostas do
governo não acontecem por mágica", disse Marra à Reuters em uma entrevista
no escritório de sua empresa de investimentos Bull Market Brokers, em Buenos
Aires, acrescentando que quem quer que vença a eleição de 22 de outubro -- ou,
mais provavelmente, o segundo turno em novembro -- enfrentará "meses
difíceis" pela frente.
Marra disse que a dolarização poderá levar de nove
meses a dois anos para se tornar realidade, mas se negou a dar um prazo para o
fim dos impostos sobre as exportações de grãos, principal motor econômico do
país, embora tenha dito que fazer isso é "nosso objetivo".
"Acreditamos que é preciso tirar o pé de cima
do setor agrícola", disse ele, citando "ineficiências decorrentes da
criação de impostos diretos e indiretos" sobre o setor. Ele citou o modelo
de mercado mais livre do Chile como inspiração.
Como é improvável que Milei tenha maioria no
Congresso, mesmo que ganhe a Presidência, Marra disse que o objetivo será
"plantar a semente" para uma recuperação econômica de longo prazo,
acrescentando que o partido procuraria maneiras de contornar qualquer
resistência do Congresso.
Isso poderá incluir plebiscitos ou decretos
executivos, disse ele. "Todas as alternativas previstas na lei e na
Constituição nacional, nós as usaremos."
Ø Acordo entre Brasil e Argentina para financiar exportações chega em
horas decisivas para o país vizinho. Por Maria Carmo
A menos de dois meses do primeiro turno da eleição
presidencial, o ministro da Economia e candidato do governo à Casa Rosada,
Sergio Massa, ganhou certo fôlego para a economia argentina. Massa se reuniu
com o presidente Lula e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta
segunda-feira (28), em Brasília. Ao lado de Haddad, o ministro e presidenciável
disse que as exportações brasileiras para a Argentina terão garantia de
financiamento de US$ 600 milhões por parte do CAF (Banco de Desenvolvimento da
América Latina e Caribe). “A partir de um trabalho do Ministério da Fazenda do
Brasil, do BNDES, do Banco do Brasil e do Ministério de Economia da Argentina,
com o apoio do CAF, encontramos um instrumento de financiamento das exportações
do Brasil para a Argentina por US$ 600 milhões”, disse Massa. Ele afirmou ainda
que o Brasil também terá retorno, equivalente a este valor, pela “sinergia” das
indústrias dos dois países, especialmente as do setor automotivo.
Esses recursos, que ainda devem ter uma aprovação
formal do CAF, nos próximos dias, são necessários porque a Argentina não tem
divisas para pagar o que importa e esta carência afeta o andar da sua própria
indústria. Principal destino das exportações industriais brasileiras, a
Argentina tem feito uma ginástica para conseguir honrar o acordo com o FMI –
daquela bolada adquirida “precipitadamente” no governo Macri e cada vez mais
criticada pelos economistas e até ex-diretores do Fundo. Com uma seca histórica
que abalou ainda mais sua escassez de divisas, uma inflação galopante, o
governo argentino está diante do desafio de tentar voltar a conquistar o
eleitorado. Nas prévias, realizadas no dia 13 de agosto, o candidato de
ultradireita Javier Milei recebeu mais votos que Massa e que a macrista
Patricia Bullrich. Os três vão disputar o primeiro turno da eleição presidencial,
no dia 22 de outubro.
Diante do desafio econômico e do impacto deste
quadro no voto, chegou-se a especular que Massa deixaria o Ministério para se
dedicar somente à campanha. “Não deixarei o ministério até o dia dez de
dezembro”, disse ele. No dia dez de dezembro, será a posse do sucessor de
Alberto Fernández. A disputa, em outubro, será entre Milei, fã do ex-presidente
Bolsonaro e contrário ao Estado, Massa, que enfatiza a importância do Estado na
vida das pessoas, e Bullrich, que com a visibilidade do candidato da
ultradireita perdeu ressonância com seu discurso conflitivo e “em defesa do fim
do kirschnerismo”. Massa, ao contrário de Millei e de Bullrich, comemorou a
chegada da Argentina ao BRICs, com a “clara ajuda de Lula”, como dizem no
governo argentino. Milei também tem dito que, caso seja eleito, afastará a
Argentina do Mercosul, da Unasul e da Celac – pilares da integração regional.
Foi neste contexto que a visita de Massa foi
realizada à Brasília. Além da imagem ao lado de Haddad, as emissoras de televisão
argentinas e os portais de notícias postaram sua foto ao lado de Lula. O
Ministério da Economia também distribuiu comunicado sobre os resultados da
reunião. O texto foi ilustrado com a mesma foto – de Massa com o presidente
brasileiro. Massa sugere que o respaldo do Brasil, neste momento, é fundamental
para o comércio bilateral, mas igualmente para o rumo político da Argentina.
Ø Escassez de itens básicos aumenta na Argentina devido a saques a
mercados
O agravamento da crise econômica na Argentina tem
levado a uma escassez crescente de produtos básicos nos supermercados do país.
A crise foi ampliada com o registro de uma série de roubos e saques a
estabelecimentos comerciais ao longo da última semana, inicialmente em cidades
do interior argentino e que chegaram até a periferia de Buenos Aires, diz
o Metrópoles.
Esses incidentes de saques e roubos se
intensificaram em meio à crise econômica nacional, desencadeada pela
desvalorização da moeda local, o peso. Como resultado, muitos fornecedores do
comércio não conseguiram repor adequadamente suas mercadorias, resultando na
falta de itens essenciais como papel higiênico, açúcar e ervas para preparo de
chá. Mesmo com a implementação de programas de incentivo, diversos
supermercados argentinos estabeleceram limites na quantidade de produtos que
cada indivíduo pode adquirir.
A escassez ocorre em um momento delicado, a poucos
meses das eleições marcadas para outubro deste ano. O presidente argentino,
Alberto Fernández, já anunciou que não buscará a reeleição. No entanto, mesmo
com a implementação de programas governamentais, os preços dos produtos básicos
têm apresentado variações, de acordo com informações do portal argentino
Clarín. Alguns dos itens que atualmente estão em falta incluem açúcar, ervas,
macarrão, farinha, snacks, rolos de cozinha, detergente, papel higiênico, ração
para animais (gatos) e desodorizantes.
Essa é a terceira grande crise que a Argentina
enfrenta desde a redemocratização do país há 40 anos. O país acumula pouco mais
de US$ 30 bilhões em suas reservas internacionais, sendo que as dívidas, a
moeda desvalorizada e a alta inflação - que ultrapassa os três dígitos - são
fatores centrais para essa situação. A Argentina é o terceiro maior parceiro
comercial do Brasil.
As restrições ao câmbio e a imposição de limites
para a compra de dólares em 2019 foram tentativas de conter a instabilidade
econômica, mas acabaram contribuindo para a prática de saques, conhecida como
"ataque piranha", que se disseminou pelo país.
Vários registros de ataques a supermercados,
farmácias e lojas foram compartilhados nas redes sociais. As cenas mais
violentas, de acordo com a reportagem, ocorreram na cidade de Moreno, onde
cerca de 50 pessoas, incluindo crianças, invadiram um supermercado. A onda de
saques se espalhou por várias províncias argentinas, incluindo Buenos Aires,
Mendoza, Córdoba, Neuquén e Río Negro.
Fonte: Sputnik Brasil/Brasil 247/Reuters
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