terça-feira, 29 de agosto de 2023

Adiamento da reforma ministerial faz bolsonarismo retomar controle da CPI do MST

Reflexo do adiamento da reforma ministerial prometida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oposição voltará a ter maioria na CPI que investiga o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Uma articulação capitaneada por PP e Republicanos, siglas do Centrão que negociam há mais de um mês a indicação de nomes para Esplanada, tem promovido substituições de deputados no colegiado, o que fará com que os adversários do Palácio do Planalto passem a ocupar 15 cadeiras na comissão, contra 9 da base. O movimento ocorre a uma semana da apresentação do relatório final, que deverá pedir indiciamento de pelo menos 15 pessoas, entre elas aliados de Lula.

Relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP) planeja ler seu parecer na próxima segunda-feira. O GLOBO apurou que ele deverá pedir a responsabilização criminal do deputado federal petista Valmir Assunção (BA) e de dois assessores do parlamentar. Apontados como líderes de um acampamento do MST na cidade baiana de São João, eles são suspeitos de terem cometido abusos contra outros participantes do movimento. Também deve constar na relação de pedidos de indiciamento o líder da Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL), José Rainha, personagem historicamente ligado ao presidente da República. Salles disse a aliados que não descarta incluir em seu parecer o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência general Gonçalves Dias, o GDias, que prestou depoimento à CPI e foi acusado por deputados de ter mentido.

O relatório deverá ser submetido ao colegiado num cenário favorável à oposição. Nas últimas semanas, PP, Republicanos, Patriota e PL fizeram mudanças nas cadeiras que controlam na CPI. Como já havia feito no início dos trabalhos da comissão, agora o PP, sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira, cedeu espaços a nomes do PL, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Republicanos retirou dois deputados afinados ao bolsonarismo, mas não os substitui por governistas, como queria o Planalto. O União Brasil, embora comande três ministérios, também ensaia um movimento que prejudica o governo: escalar os suplentes na comissão Coronel Assis (MT) e Coronel Ulysses (AC), simpáticos a Bolsonaro, para votar no lugar dos titulares, Damião Feliciano (PB) e Gaguim (TO), mais afeitos a Lula. Além deles, Patriota e PL integram a articulação de dança das cadeiras para garantir maioria oposicionista.

O bolsonarista Coronel Meira, do PL-PE, é um dos que deverão retornar como suplente.

— Eu estava na vaga do PP, mas tive que sair. Agora, estou no aguardo para voltar oficialmente amanhã, como nos prometeram — disse.

O cenário negativo para o Planalto pode mudar, entretanto, com a volta de Lula ao Brasil, ontem, depois de uma viagem à África. Caso ela destrave a reforma e nomeie os indicados de PP e Republicanos para postos na Esplanada, a tendência é que os dois partidos voltem a trabalhar a favor do petista na CPI do MST. Pelo Republicanos, o deputado Silvio Costa (PE) deverá ficar com uma pasta de primeiro escalão. Já André Fufuca (MA) é o quadro do PP que deverá ser nomeado ministro em breve. Não está definido, porém, com quais cargos eles ficarão.

A CPI do MST foi instalada em maio, menos de um mês depois de o Movimento dos Sem Terra ter promovido uma série de invasões. As investidas ficaram conhecidas como Abril Vermelho. Dadas as relações entre PT e o MST, que mantêm uma proximidade de décadas, o Palácio do Planalto temia que a comissão avançasse em direção a integrantes do governo, o que acabou ocorrendo. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, prestou depoimento ao colegiado. A convocação de Rui Costa (Casa Civil) também chegou a ser aprovada, mas acabou anulada por Arthur Lira, num movimento para agradar Lula e o Planalto.

 

       Relator da CPI do MST prepara ataque à esquerda

 

Após as diligências da CPI do MST no Sul da Bahia na semana passada, o relatório final que deve ser apresentado por Ricardo Salles (PL-SP) na próxima segunda-feira sofreu algumas alterações e agora conta com ao menos 15 pedidos de indiciamentos. Entre eles, o do deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), membro titular do colegiado.

O GLOBO apurou que Assunção será descrito no texto final como o líder do movimento na região em que ocorreram as diligências e será responsabilizado por abusos contra os sem-terras, tais como expulsão de integrantes, queima de residências e trabalho compulsório sem remuneração.

Em depoimento na CPI, a ex-militante do MST Vanuza dos Santos de Souza afirmou ter sido expulsa pelo deputado que, na ocasião, rebateu que o colegiado teria virado um “palanque bolsonarista”.

Além de Assunção, dois de seus assessores (Lucineia Durães do Rosario e Oronildo Loures Costa) também estão na mira da CPI por liderarem o Acampamento São João e supostamente tirarem vantagem econômica dos assentados. Os três se apresentam como militantes do MST e não possuem denúncias formais já vigentes contra eles. O gabinete de Valmir Assunção foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou até a data desta publicação.

Além dos três citados, outras lideranças de movimentos sociais no campo serão alvos de pedido de indiciamento. Entre elas, o líder da Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL), José Rainha, e o diretor-superintendente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iterra-AL), Jaime Messias Silva.

O relatório não mirará o entorno de Lula (PT), mas um possível indiciamento do ex-ministro do Gabinete Institucional de Segurança (GSI), Gonçalves Dias, também não é descartado. Neste contexto, o pedido se daria por falso testemunho em seu depoimento à CPI. O líder do MST, João Pedro Stédile, deve ficar fora da lista pela dificuldade de imputar a ele algum crime depois de seu depoimento ao colegiado, há duas semanas.

Governistas incomodados com a oposição, no entanto, costuram a elaboração de uma espécie de “relatório paralelo” a ser apresentado, sem a recomendação de punições.

Nele, serão abordados supostos abusos cometidos pela CPI, como invasões de domicílios durante diligências em assentamentos, e violência de gênero, que teria sido praticada por Salles e pelo presidente da CPI, deputado Zucco (Republicanos-RS), na condução dos trabalhos. Todos os casos foram judicializados e, por isso, não haverá pedido de indiciamento, segundo deputados governistas.

 

       Presidente da CPMI de 8/01 quer probir jornalistas de divulgar documentos confidenciais da comissão

 

O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, Arthur Maia (União Brasil-BA), editou nesta segunda-feira, 28, ato que quer impor limites à atuação de jornalistas do colegiado. O ato estabelece que os profissionais da imprensa credenciados para acompanhar a comissão parlamentar não poderão divulgar documentos considerados “confidenciais”.

Maia também escreveu que os jornalistas não pode publicar o conteúdo de mensagens de celulares que são usados pelos integrantes da comissão e podem ser vistos por quem está na sala de audiência da CPMI.

“Embora o direito à liberdade de expressão e seu corolário–consubstanciado na liberdade de imprensa – consistam em pilares do Estado Democrático de Direito, não há direito absoluto no ordenamento jurídico pátrio, de maneira que tal previsão deve ser sopesada com os direitos próprios da personalidade, como o direito à intimidade e proteção da vida privada”, argumentou Maia no texto.

O presidente da CPMI proíbe que jornalistas e fotógrafos realizem “em recintos ou durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito a captura de imagens de conteúdo privado de terceiros sem autorização”. No ato, Maia afirma que os profissionais que descumprirem as determinações estarão sujeitos a sanções, mas não especifica quais.

A nova regra baixada pelo presidente da CPMI tenta impedir a atuação da imprensa que, a partir de imagens, consegue expor conversas que parlamentares não querem tornar públicas. Em março, por exemplo, o Estadão revelou conversas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. A parlamentar estava numa solenidade no Planalto quando recebeu mensagem do coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, reclamando do que chama de “perigosas indicações” do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para o Conselho de Administração (CA) da Petrobras.

A decisão de “regulamentar” a atuação da imprense surge quatro dias após Maia expulsar do plenário da CPMI um fotojornalista que registrou conversas do senador Jorge Seif (PL-SC). O presidente da comissão ainda determinou a proibição da entrada do profissional no local em que são realizadas as sessões da comissão. O fotógrafo presta serviços para a Empresa Brasil de Comunicações (EBC).

Maia justificou o cerceamento às atividades dos jornalistas sob o argumento de que “a inviolabilidade do sigilo de dados constitui uma das expressões do direito de personalidade somente podendo ser quebrada mediante ordem judicial devidamente fundamentada”. O presidente da CPMI ainda criou um credenciamento, sob sua supervisão, para os profissionais que não estiverem devidamente credenciados nos sistemas da Câmara e do Senado. Ele também cobra no despacho que os profissionais da imprensa a ajam “com urbanidade e disciplina no desempenho de suas atividades”.

“A atividade legislativa deve ser protegida enquanto manifestação máxima da democracia, perfectibilizada pela atuação dos representantes eleitos pelo povo e para o povo, de onde emana todo o Poder”, prosseguiu Maia. “Eventuais abusos de direito devem ser objeto de pronta atuação dos agentes públicos destinada à correção das situações irregulares e restabelecimento da ordem e do respeito à Lei”, argumentou.

Em resposta ao ato de Maia, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) publicou uma carta endereçada aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-AL), na qual diz “considerar ilegal e inconstitucional – por isso mesmo autoritária e inaceitável – a determinação de impedir o acesso do fotógrafo” ao plenário da CPMI. A ABI destaca no texto que o registro feito pelo profissional é pratica recorrente entre fotógrafos e jornalista, que já captaram conversas privadas até mesmo nos plenários da Câmara e do Senado.

 

       General Tomás Paiva aciona líderes da CPMI para blindar Exército e generais

 

O comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, está emprenhado pessoalmente na missão de blindar a força e "preservar a instituição" diante do avanço das investigações na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, que mira a atuação de militares entre apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que promoveram a depredação da sede dos três poderes em 8 de Janeiro.

Na última semana, Tomás Paiva se reuniu com o presidente da CPMI, Arthur Maia (União-BA), com a relatora Eliziane Gama (PSD-MA) e com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso, e alertou sobre a necessidade de “preservar a instituição”, “individualizar as condutas” e não fazer generalizações que afetem a imagem do Exército.

"O que ele deseja é que seja separada a conduta individual de pessoas que são membros das Forças Armadas da instituição. É uma preocupação bastante razoável para ele como comandante", disse Maia ao jornal O Globo.

As reuniões do comandante com os líderes da CPMI aconteceram após os depoimentos do tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que ficou calada diante da Comissão, do coronel Jean Lawand Júnior e do sargente Luis Marcos Reis, ex-assessor de Bolsonaro, que confessou que esteve no ato golpista e tirou foto em frente ao Congresso depredado.

Após novas revelações, especialmente feitas pelo hacker Walter Delgatti Neto, a CPMI avalia a convocação e quebra de sigilo dos generais Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa, Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid.

A CPMI já convocou outros três generais o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias, que será ouvido na semana que vem; o ex-comandante militar do Planalto Gustavo Dutra; e o ex-ministro do GSI Augusto Heleno. Ainda não há data marcada para ouvir os dois últimos.

O Exército informou que “as reuniões ocorridas são institucionais e visam proporcionar aos diversos órgãos um melhor conhecimento sobre a Força”.

 

       Múcio estaria vetando investigação de militares na CPMI, diz Zarattini

 

O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) defendeu que o governo force uma investigação sobre os militares golpistas envolvidos na tentativa de golpe do 8 de janeiro deste ano. A entrevista foi concedida ao programa Fórum Café desta segunda-feira (28).

O parlamentar afirma que existe um veto do governo, partindo de José Múcio Monteiro, ministro da Defesa, contra a investigação de militares envolvidos no esquema.

“Nosso governo e o PT não estão entendendo a importância desse momento nessa questão militar”, disse Zarattini. “No 8 de janeiro, a extrema-direita nos deu de bandeja a oportunidade de fazer um acerto de contas de tudo isso que aconteceu no país”, completou o parlamentar.

“Essa tentativa de golpe envolve lideranças do agronegócio, evangélicas e setores militares. Não haveria os acampamentos sem a condescendência dos comandantes militares”, disse Zarattini.

O petista reforça que o governo está travando uma possível investigação desses setores.

"O governo deveria tirar o veto que vem fazendo à CPI através do Múcio para impedir uma investigação sobre militares que participaram da articulação do golpe. O governo deveria deixar a investigação. O próprio Alexandre de Moraes não quer botar o dedo aí”, afirmou.

Também por isso, o deputado defende, desde fevereiro de 2023, um projeto de lei que altere o artigo 142 da Constituição Federal, que afirma que os militares podem agir "por iniciativa de qualquer destes [poderes constitucionais], da lei e da ordem", artigo usado por golpistas para justificar uma intervenção militar.

 

       Relatora da CPMI promete ‘bombas’ na reta final

 

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro caminha para sua reta final e, antes de definir quais devem ser os alvos de pedido de indiciamento por envolvimento nos atos golpistas, a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), ainda espera cumprir algumas etapas. Segundo ela, a ideia é a apresentar seu parecer final na data estipulada pelo presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), no dia 18 de outubro.

Antes disso, contudo, a parlamentar avalia ser necessário a análise completa dos documentos recebidos até agora pelo colegiado. A CPI já recebeu mais de duas centenas de registros, a maior parte materiais sigilosos. Ela defende também a acareação entre pessoas envolvidas na investigação.

— Precisamos ouvir generais, entre outras pessoas e fazer acareações. Tem muita coisa ainda pela frente. Precisamos fazer a leitura toda dos documentos recebidos. Há algumas apostas de acareações, como entre o hacker Walter Delgatti e a deputada Carla Zambelli (PL-SP). E entre Gustavo Henrique Dutra de Menezes, general do Exército Brasileiro, e o ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal, o coronel Jorge Eduardo Naime. Vamos tentar construir acordo para isso — afirmou a senadora.

A contragosto da cúpula das Forças Armadas, a CPI prepara-se para convocar um desses três generais para depor: os ex-ministros da Defesa Freire Gomes (de Lula) e Paulo Sergio Nogueira (de Jair Bolsonaro), além de Gustavo Henrique Dutra, ex-comandante militar do Planalto.

A relatora quer ainda fazer uma proposta de delação premiada ao ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid. Para isso, ela fez uma consulta à Advocacia do Senado para saber se é uma ferramenta que compete à uma CPI. Em julgamento concluído em 2018, contudo, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que só o Ministério Público Federal e a Polícia Federal podem fazer delação premiada. A senadora ainda aguarda resposta do órgão técnico do Congresso para saber se pode haver exceções.

Preso desde maio, Mauro Cid é acusado de ter falsificado cartões de vacinação. O ex-ajudante de ordens também é citado em outras investigações como a do 8 de janeiro por ter disparado mensagens de teor golpista.

Sobre o seu relatório final, a senadora afirma que ainda em fase inicial da elaboração, mas adianta que ele trará pedidos de indiciamento de pessoas às autoridades e propostas legislativas.

— Vamos fazer projetos e haverá indiciamentos. Não há dúvida nenhuma. Mas ainda não temos efetivamente o que vamos fazer, mas essas duas coisas haverá. Mesmo porque, em uma CPI para além do encaminhamento das autoridades com os indiciamentos, as proposições são algo muito importante para termos um resultado prático do ponto de vista legislativo — afirmou Gama ao GLOBO.

 

Fonte: O Globo/Agencia Estado/Fórum/Metrópoles

 

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