Trump será julgado a partir de março de 2024 em Washington por suas
ações durante eleição de 2020
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump será
julgado a partir de 4 de março de 2024 por um tribunal federal em Washington
por suas tentativas de reverter ilegalmente o resultado das eleições
norte-americanas de 2020, anunciou nesta segunda-feira (28/08) a juíza Tanya
Chutkan, que presidirá o processo.
Durante uma audiência, a juíza decidiu entre a
proposta do promotor especialmente designado para o caso, Jack Smith, que
queria que o julgamento de Donald Trump em Washington
começasse em 2 de janeiro de 2024, um prazo que ela considerou muito curto, e a
data de de abril de 2026, exigida pela defesa, que ela considerou "muito
além do necessário".
O destino do ex-presidente dos EUA, e candidato favorito nas primárias republicanas, dependerá da decisão
neste processo. O advogado de Trump, John Lauro, se opôs veementemente nesta
segunda-feira à data proposta pela promotoria para janeiro. "Você está
pedindo um julgamento de fachada, não apenas um julgamento rápido",
protestou, durante a audiência.
"Se o cronograma proposto pela acusação fosse
adotado, ler todas as provas do processo seria como ler 'Guerra e Paz', de
Tolstoi, 78 vezes por dia", até o início do julgamento, argumentou a
defesa.
Julgamento em 2026 é descartado
Mas a juíza Chutkan já parecia ter descartado a
opção de um julgamento tardio. "Este caso não será julgado em 2026",
disse ela nesta segunda-feira.
A maioria dos especialistas em direito consideravam
exorbitante o prazo de dois anos e meio exigido pelos consultores jurídicos do
ex-presidente e esperavam um prazo mais próximo do desejado pela promotoria.
Além disso, a juíza já advertiu Donald Trump contra
quaisquer "declarações inflamadas que possam atrapalhar a seleção do
júri", o que só poderia incentivá-la a marcar uma data anterior para o
julgamento.
Isso não impediu o bilionário republicano de acusar
o presidente Joe Biden, sem provas, nesta segunda-feira, de ser responsável por
suas acusações, descrevendo mais uma vez o líder democrata como um
"canalha". Os dois homens poderão se enfrentar mais uma vez na
eleição presidencial de novembro de 2024.
A decisão da juíza Chutkan pode pesar muito na
sorte eleitoral de Donald Trump, que agora é acusado criminalmente em quatro
casos.
Quatro acusações em menos de seis meses
O septuagenário é acusado em Nova York de fazer
pagamentos suspeitos a uma ex-atriz de filmes pornográficos, de manuseio
negligente de documentos confidenciais depois que deixou a Casa Branca - um
caso julgado na Flórida - e de fazer propaganda eleitoral na Geórgia durante as
eleições de 2020.
Foi esse último caso, nesse estado do sudeste do
país, que lhe rendeu a foto de sua prisão na semana passada, uma imagem já
histórica.
As datas dos julgamentos já foram marcadas para
Nova York e Flórida: março e maio de 2024, respectivamente, mas esse cronograma
pode mudar.
Para Whit Ayres, consultor político republicano,
uma absolvição de Trump em seu primeiro julgamento, qualquer que seja, ajudaria
a tornar irreversível sua liderança nas primárias republicanas.
"Não vejo como seria possível detê-lo [se for
absolvido]" em sua candidatura republicana, disse ele em uma entrevista à
imprensa local.
"Mas se ele for condenado por uma acusação
grave, não sei como as pessoas reagiriam", continuou, "porque nunca
tivemos uma situação remotamente parecida com essa" nos Estados Unidos.
Ø Trump usa problemas na Justiça para arrecadar milhões
Os problemas enfrentados por Donald Trump na
Justiça têm se mostrado um negócio bastante lucrativo para sua pré-campanha à
presidência dos Estados Unidos.
No domingo (28/08), sua equipe afirmou que
arrecadou 7,1 milhões de dólares (pouco menos de R$ 35 milhões) desde a
divulgação da já célebre fotografia da ficha policial de Trump no estado da
Geórgia, onde o republicano foi acusado de tentar subverter ilegalmente o
resultado das eleições de 2020 para se manter no poder.
Na fotografia policial, chamada de “mugshot” nos
Estados Unidos, Trump aparece com a cabeça ligeiramente inclinada para baixo e
encarando a câmera com um semblante vingativo.
Nos outros processos que enfrenta na Justiça, Trump
conseguiu evitar esse protocolo, mas na última quinta-feira (24/08), numa
cadeia na Geórgia, a imagem não só foi registrada como divulgada publicamente.
Foi a primeira vez que isso acontece com um ex-presidente americano.
Mas Trump logo passou a explorar financeiramente o
que para outros seria um vexame: camisetas, canecas, adesivos e outros itens
com a imagem passaram a ser produzidos e distribuídos por sua equipe horas após
a divulgação.
No site da campanha, camisetas com a imagem e a
legenda “sem rendição!” são oferecidas a 34 dólares, canecas custam 25 dólares.
Fabricantes independentes também têm tentado faturar com a imagem, lançando
seus próprios produtos.
O próprio Trump desenterrou seu perfil no X
(ex-Twitter), inativo desde 2021, para publicar uma versão da foto com as legendas
“interferência eleitoral” e “nunca desista”. A mensagem contém ainda um link
para o site onde o ex-presidente pede doações, com valores sugeridos entre 24 e
3,3 mil dólares.
No site, há mais outra versão da foto, dessa vez
acompanhada de um texto: “o povo americano sabe o que está acontecendo. O que
aconteceu é uma caricatura de justiça e interferência eleitoral. A esquerda
quer intimidar você para que não vote num político de fora que coloca o povo
americano em primeiro lugar (...) se puder, por favor, faça uma contribuição
para expulsar o picareta Joe Biden da Casa Branca e salvar a América durante
este capítulo sombrio da história da nossa nação”.
Em comunicado, o porta-voz da pré-campanha do
empresário afirmou que “quase 20 milhões de dólares foram arrecadados nas
últimas três semanas. Nesse período, Trump não só foi fichado na Geórgia como
também formalmente indiciado na esfera federal por instigar a invasão do
Capitólio por uma turba de extremistas, em 6 de janeiro de 2021.
Segundo sua pré-campanha, porém, as doações
receberam um impulso com a divulgação da fotografia. Foram “7,1 milhões de
dólares desde quinta-feira” e “4,18 milhões de dólares” no sábado, configurando
a maior arrecadação de fundos “em um dia, em toda a campanha”, escreveu o porta-voz
Steven Cheung. A informação não pôde ser verificada de forma independente. Na
plataforma X, Cheung pediu à mídia que “continue mostrando” a foto, adicionando
uma versão da imagem em maior resolução.
Os crescentes problemas do ex-presidente na Justiça
por enquanto tampouco conseguiram prejudicar sua posição nas primárias
presidenciais republicanas. Na maioria das pesquisas, ele aparece bem à frente
de seus rivais, com 30 a 50 pontos de vantagem.
Trump descreveu sua aparição na cadeia do condado
de Fulton, em Atlanta, na Geórgia, como uma “experiência terrível” e afirmou
que posar para a fotografia na ficha policial “não foi uma sensação
confortável”. Além de Trump, outros 18 acusados de atuar como cúmplices foram
fichados na mesma semana, incluindo o ex-prefeito de Nova York Rudolph
Giuliani.
Trump não chegou a ser preso. Ele já havia
negociado com os procuradores uma fiança no valor de 200 mil dólares para
responder ao processo em liberdade. Todo o processo de apresentação na cadeia,
registro da ficha e fotografia durou cerca de 20 minutos.
·
Exemplo de Bolsonaro
Trump não é o único político da extrema-direita
mundial que tem instrumentalizado seus problemas na Justiça para pedir doações
ou lançar merchandising. No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro conta com um
site para vender produtos que exploram sua imagem, como calendários, cadernos e
canecas. Na “Bolsonaro Store”, uma caneca com a frase “Brasil acima de tudo” é
vendida por R$ 49,90
Mas Bolsonaro não tem faturado apenas com a venda
bugigangas; no fim de julho, um relatório do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, mostrou que nos
primeiros seis meses de 2022 ele recebeu R$ 17,2 milhões em sua conta pessoal,
via pix.
O documento do Coaf avaliou que os valores eram
“atípicos” e se referiam “provavelmente” à campanha de arrecadação promovida
por aliados do ex-presidente, cujos valores seriam supostamente usados para
quitar multas processuais acumuladas por Bolsonaro.
Antes da elaboração do documento, a chave Pix de
Bolsonaro foi divulgada nas redes sociais por ex-ministros da sua administração
e alguns parlamentares do PL, como os deputados Mário Frias e Nikolas Ferreira.
A campanha foi lançada após a Justiça determinar um bloqueio de R$ 87 mil nas
contas do ex-mandatário pelo não pagamento de multas aplicadas contra ele em
São Paulo durante a pandemia, em 2021, por promover aglomerações e não usar
máscara.
Bolsonaro ainda não prestou contas a seus
apoiadores dos valores da “vaquinha”. Em meados de agosto, um assessor seu
disse que ele pagara uma série de multas somando R$ 913 mil. Por sua vez, o
restante dos milhões aparentemente foi investido pelo ex-presidente.
Ø Justiça no Irã condena EUA por tentativa de golpe de Estado em 1980
Um tribunal iraniano anunciou neste sábado (26/08)
uma sentença na qual condena os Estados Unidos por sua cumplicidade com os
insurgentes que tentaram realizar um golpe de Estado no país entre os dias 9 e
10 de julho de 1980, com o objetivo de tentar derrubar o novo governo da
República Islâmica do Irã.
A república islâmica foi instalada em fevereiro de
1979, com a revolução que colocou fim ao regime do Xá Mohammad Reza Pahlavi,
que era apoiado pelos Estados Unidos, e iniciou um novo sistema cujo líder
supremo era o aiatolá Ruhollah Khomeini.
Em julho de 1980, um grupo de defensores do antigo
regime tentaram realizar um golpe de Estado. O plano envolvia oficiais da força
aérea e do serviço de inteligência do exército iraniano e consistia em manter
centenas de soldados sequestrados e sob ameaça de morte na Base Aérea de Nojeh,
perto da cidade iraniana de Hamedan.
A insurgência durou apenas dois dias (9 e 10 de
julho), até ser controlada pelo grupo de militares leais à República Islâmica.
Em 2017, o Centro de Documentação da Revolução
Islâmica revelou um documento baseado em confissões feitas por Nasser Rokni, um
piloto que colaborou com o grupo insurgente, dizendo que a ação em Nojeh contou
com forte apoio dos Estados Unidos, que auxiliaram na concepção e implementação
da tentativa de golpe.
Com base nessas confissões e em depoimentos dos
sobreviventes do sequestro e de familiares dos soldados que foram executados
naquela ocasião, a Justiça iraniana decidiu considerar o governo dos Estados
Unidos como coautor da tentativa de golpe.
A sentença estabeleceu que Washington deve pagar
US$ 30 milhões (cerca de R$ 146,21 milhões) pelos “danos materiais e morais”
causados, e mais US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,46 bilhão) em “danos
punitivos”.
Fonte: rfi/Deutsche Welle/Opera Mundi
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