Secretaria de
proteção pessoal de Lula contradiz GSI sobre uso de carros blindados
Cabe
somente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomar uma decisão até a
próxima sexta-feira, 30 de junho: tornar a Secretaria Extraordinária de
Segurança Imediata do Presidente da República (SESP) permanente ou devolver sua
segurança pessoal para o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Segundo
a Agência Pública apurou,
essa decisão será tomada em meio a uma disputa entre Polícia Federal e
militares. Esse embate por protagonismo na segurança de Lula envolve a
utilização de uma frota de carros blindados e equipamentos de segurança.
A
SESP foi criada por decreto presidencial no dia 24 de janeiro, após os eventos
golpistas do 8 de janeiro. Lula tinha desconfianças em relação aos militares e
chegou a dizer publicamente que “muita gente” das Forças Armadas foi
“conivente” com a invasão aos Três Poderes, o que reflete em sua segurança
direta.
Mas
a disputa entre PF e o GSI se iniciou ainda na transição, quando a secretaria
extraordinária foi desenhada pela equipe liderada pelo atual diretor-geral da
PF, delegado Andrei Rodrigues.
Composta
em sua maioria por policiais federais, a SESP é a atual responsável pela
segurança imediata de Lula, aquela em que os agentes ficam ao seu lado,
dedicando-se também à proteção dos seus familiares e seu vice, Geraldo Alckmin.
Cabe à secretaria planejar, coordenar e executar a segurança do presidente e do
vice.
Ao
perder as atribuições da segurança presidencial imediata, o GSI ficou
responsável por outras duas camadas dos chamados “anéis de segurança”, a
aproximada e a afastada, sobretudo em eventos, estabelecendo parâmetros de
segurança em casos de emergência e fazendo a varredura do local onde está o
chefe do executivo.
Com
o decreto que criou a SESP prestes a expirar, a secretaria chefiada por
Alexsander Castro de Oliveira, delegado da PF que comandou a segurança de Lula
durante a campanha eleitoral, tenta manter a corporação com as suas atuais funções.
Entre os argumentos, está o fato de que governos democráticos teriam a
segurança realizada por civis e não militares.
Já
durante a posse, a Polícia Federal fez a segurança imediata de Lula e Janja
Em
abril, um seminário liderado pela SESP para debater formas de segurança
presidencial contou com representantes de países como Portugal, Argentina e
Alemanha, que também possuem civis no comando da proteção de autoridades.
Fontes
contaram à Pública que
o GSI estaria dificultando acesso a equipamentos e materiais de segurança que
seriam importantes no dia a dia dos agentes federais como, por exemplo,
empréstimo de rádios transmissores e até automóveis blindados para proteção da
comitiva presidencial. O GSI negou em resposta encaminhada à Pública.
O
órgão militar diz que foram realizadas “várias reuniões de coordenação,
envolvendo representantes da Casa Civil, do GSI, do Gabinete Pessoal do
Presidente da República e da SESP, para atendimento das necessidades apontadas
pela SESP para cumprimento de suas atividades” e afirma ainda ter destinado “5
milhões de reais para apoiar a SESP, que constaram então de uma solicitação
formal, tendo sido disponibilizados no dia 5 de junho de 2023, cuja
transferência encontra-se em processamento pela Secretaria de Orçamento Federal
(SOF)”.
·
O imbróglio dos carros blindados da presidência
Dois
pedidos de Lei de acesso à informação (LAI) foram realizados pela Pública para saber a destinação
atual de uma frota de ao menos 30 veículos Ford Fusion Titanium AWD Ecoboost,
12 deles blindados. A frota foi adquirida em 2019 pelo GSI, na gestão Jair
Bolsonaro, em licitação de R$5,8 milhões.
Em
geral, uma comitiva presidencial deve ser formada por, no mínimo, cinco
veículos idênticos, a fim de dificultar a identificação de qual deles carrega o
chefe do Executivo. Os modelos blindados do Ford Fusion têm capacidade de
resistir a tiros de submetralhadora, de calibre 9 milímetros e são todos
pretos.
As
respostas das LAIs revelaram informações contraditórias sobre a destinação dos
veículos. A resposta do GSI registra que todos os trinta carros Ford Fusion
Titanium AWD Ecoboost, “estão destinados às missões de Segurança Presidencial”.
Mas
a SESP contradiz o GSI, em informação também repassada via LAI. A Secretaria
criada por Lula afirmou que apenas dois dos 30 Ford Fusion estão em uso nas
atividades de segurança presidencial.
Segundo
a SESP, a atual frota empregada nas atividades de segurança imediata é
“composta por 5 (cinco) veículos”, sendo apenas “dois veículos blindados do
modelo Ford Fusion”. Outros três veículos blindados da Ford pertencentes ao
GSI, só que de modelo diferente (Ford Edge), também foram emprestados à SESP. O
restante da frota da secretaria utiliza carros da própria Polícia Federal.
Sobre
as viaturas adquiridas em 2019 via licitação, o GSI disse à Pública que o processo
licitatório previa sua utilização na segurança presidencial, “o que
efetivamente vem ocorrendo”, afirma. “Cabe lembrar que o Decreto no 4332,
de 12 de agosto de 2002, estabelece o Sistema de Segurança Presidencial, com os
círculos imediato, aproximado e afastado. Os anéis aproximado e afastado
continuam sob responsabilidade do GSI, além da segurança dos Palácios e
Residências Presidenciais, Sistema que emprega, diariamente, mais de 10 vezes a
quantidade de pessoal que o anel imediato e traz a necessidade da manutenção,
pelo GSI, dos meios necessários para cumprimento dessa missão. O GSI possui
hoje 30 veículos destinados ao cumprimento de todas as missões de segurança
presidencial atribuídas ao GSI pela Lei no 14.600, de 19 de
junho de 2023″.
Ainda
segundo o GSI, outra solicitação envolveu o pedido de 43 viaturas, entre
operacionais e administrativas. “As negociações a esse respeito finalizaram com
o acordo de fornecimento de 33 viaturas, além de 5 viaturas obtidas por meio de
comodato junto à empresa Ford do Brasil S/A. Essas eram as viaturas empregadas
no comboio do Presidente da República, que foram disponibilizadas no dia 25 de
janeiro de 2023.
“Para
a cessão das demais viaturas, seguiu-se extensa negociação sobre
responsabilidades civis, administrativas, criminais e orçamentárias decorrentes
do uso dessas viaturas em atividades de risco, incluindo a sub-rogação dos
contratos de comodato e de seguros. Quando essa negociação foi finalizada, já
se estava há pouco mais de um mês do último dia previsto em decreto para a
extinção da SESP, estando já essa Secretaria cumprindo suas missões com meios
da própria Polícia Federal, por praticamente todo o período previsto. Chegou-se
à conclusão que não seria mais oportuna a transferência patrimonial que, quando
estivesse concluída, poderia ter que ser imediatamente revertida”, diz o
órgão.
A
resposta do Gabinete de Segurança Institucional reforça o que fontes disseram à
reportagem sobre a situação dos carros ser parte de uma disputa que se arrasta
desde janeiro por espaço na segurança presidencial.
A
SESP teria apoio do Ministério da Justiça, de Flávio Dino e da primeira-dama,
Rosângela Silva, a Janja, para seguir na função de segurança imediata. Já o
GSI, sob o comando do general Marcos Antonio Amaro dos Santos, tem o apoio da
Casa Civil, de Rui Costa e do Ministério da Defesa, de José Múcio, para
reassumir a função exercida em governos passados.
O
próprio Rui Costa, no dia 20 de junho, disse que a segurança pessoal do presidente
ficará sob comando do GSI assim que expirar o prazo da SESP na próxima
sexta-feira. “É o GSI quem vai fazer e o presidente terá a liberdade de
convidar quem ele entender que deve compor, independentemente de ser policial
federal, policial militar ou membro das Forças Armadas. Será montado um modelo
híbrido, mas sob coordenação do GSI”, disse o ministro da Casa Civil dias
atrás. A situação, no entanto, ainda dependeria do aval de Lula, que pode
postergar a decisão mesmo com o fim do decreto presidencial.
Fonte:
Por Thiago Domenici, da Agencia Pública
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