Vírus Oz: Japão
confirma primeira morte pela infecção no mundo
O Japão confirmou a primeira morte no mundo
causada pela infecção pelo vírus Oz. O comunicado do Ministério da Saúde do
país asiático foi divulgado na sexta-feira (23).
A
mulher de 70 anos, da província de Ibaraki, tinha comorbidades, incluindo
hipertensão e altos níveis de gordura no sangue. A paciente, que não tinha
histórico de viagens ao exterior, apresentou mal-estar, perda de apetite,
vômitos, dores nas articulações e febre alta. Testes para coronavírus foram
negativos e ela foi medicada com antibióticos devido a suspeita de pneumonia,
sendo liberada para observação em casa.
No
entanto, a idosa voltou a ser internada em um hospital, com exames de sangue
mostrando diminuição de plaquetas, distúrbios no fígado e nos rins e reação
inflamatória intensa. Os médicos suspeitaram de infecção transmitida por
artrópodes devido à observação de picadas de carrapatos no momento da admissão.
Os testes foram negativos para infecção por bactérias riquétisias, como aquelas
responsáveis pela febre maculosa.
A
paciente apresentou problemas no coração e exames sugeriram um quadro de
miocardite, que consiste na inflamação do músculo cardíaco. Apesar dos
tratamentos, ela apresentou quadro súbito de fibrilação ventricular, que é um
ritmo cardíaco anormal, e não resistiu.
·
Sobre o vírus Oz
O
vírus Oz – chamado tecnicamente OZV – é um novo vírus do gênero Togotovírus, da
família Orthomyxoviridae. De acordo com o Ministério da Saúde japonês, ele foi
isolado e identificado em carrapato da espécie Amblyomma testudinarium no
país em 2018.
Pesquisas
de anticorpos no soro de animais no Japão detectaram anticorpos em algumas
espécies animais, como macacos japoneses, javalis e veados, no Oeste e Leste do
Japão, mas nenhum caso animal foi relatado até o momento.
Além
disso, embora a investigação em humanos seja limitada, dois indivíduos com
anticorpos foram encontrados em um estudo de 24 caçadores. Por outro lado, não
houve relatos de detecção de anticorpos no soro ou detecção de vírus em animais
ou humanos fora do Japão, segundo a pasta.
O
Ministério da Saúde do país asiático afirma que este é o primeiro caso de morte
pela infecção, associada ao quadro de miocardite. O diagnóstico foi confirmado
por testes conduzidos no Instituto Nacional de Doenças Infecciosas.
Outros
vírus pertencentes ao gênero Togotovírus incluem o vírus Bourbon (BRBV), o
vírus Dhori (DHOV) e o vírus Thogoto (THOV) 3). Muitos dos vírus deste gênero
foram detectados em carrapatos e acredita-se eles sejam os principais vetores
aos vertebrados.
Ø
Conheça
a história do homem imune a carrapatos
Há
mais de 30 anos, o professor Richard Ostfeld, do Cary Institute of Ecosystem
Studies, atua em pesquisas de campo e de laboratório sobre a ecologia de doenças
transmitidas por carrapatos.
Carrapatos em todo o
mundo são fontes importantes de agentes causadores de doenças em pessoas,
animais de estimação e da pecuária e animais selvagens. Uma vez que um
carrapato incorpora suas peças bucais em um hospedeiro, os microrganismos que
residem nele podem entrar no hospedeiro, provocando diferentes tipos de
doenças.
“Quando
os carrapatos picam alguns hospedeiros da vida selvagem, eles também podem
adquirir patógenos que podem transmitir posteriormente. Na América do Norte e
na Europa, os carrapatos são a fonte mais importante de doenças humanas
transmitidas por vetores, mais importantes que os mosquitos”, detalha o
professor à CNN.
Um
exemplo é o caso da febre maculosa, causada por
bactérias do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato-estrela.
Em 2023, o estado de São Paulo registrou 12 casos, incluindo seis mortes, duas
em investigação e quatro pacientes curados. No Brasil, este ano já foram
confirmados 53 casos da doença, dos quais oito resultaram em óbitos. A maior
concentração de casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, e de maneira
geral ocorrem de forma esporádica.
“Aqui no Nordeste dos Estados Unidos estamos no
epicentro de várias doenças transmitidas por carrapatos. Eu pesquiso os fatores
ecológicos que afetam o risco de exposição humana a essas doenças. Nós nos
concentramos na biologia de roedores, seus predadores, seus alimentos, reduções
de biodiversidade causadas pelo homem e clima. Prevemos com sucesso anos ruins
para a doença de Lyme, bem como lugares de risco na paisagem”, disse o
pesquisador.
Um
fato curioso envolve o pesquisador Richard Ostfeld: ele desenvolveu um tipo de
imunidade à picada de carrapatos.
“Quando sou picado por um carrapato, pareço
montar uma resposta imune rápida ao próprio carrapato, provavelmente aos
antígenos da saliva do carrapato. Isso resulta na morte do carrapato antes que
ele seja capaz de engolir meu sangue. Percebo uma tentativa de picada de
carrapato ao sentir uma coceira ou sensação de queimação no local da picada,
forte o suficiente para me acordar durante a noite, se ocorrer durante o sono”,
conta.
Ostfeld
conta que, ao remover o carrapato, geralmente ele está morto e não alimentado.
“Também formo um vergão no local da picada que pode durar vários dias, sugerindo
que a inflamação persiste. Apesar das inúmeras picadas de carrapatos, nunca fui
diagnosticado para a doença de Lyme ou qualquer outra doença transmitida por
carrapatos”, relata.
·
Resistência contra picadas de carrapatos
A
possibilidade de resistência de hospedeiros, incluindo pessoas, às picadas de
carrapatos é um contexto que requer estudos científicos mais abrangentes.
“Alguns
hospedeiros podem montar rapidamente uma resposta imune a proteínas, ou
antígenos, na saliva do carrapato, permitindo que eles ataquem e até matem o
carrapato. Se isso acontecer antes que os patógenos deixem o carrapato e entrem
no hospedeiro, o resultado pode ser proteção contra doenças. Parece que tal
resistência requer experiência prévia do sistema imunológico a esses antígenos,
de modo que a resistência é adquirida após picadas de carrapatos anteriores,
mas não em todos os hospedeiros”, explica Ostfeld.
O
pesquisador avalia que o estudo da resistência pode ajudar desenvolvimento de
potenciais vacinas.
“Se
os antígenos certos puderem ser identificados, é pelo menos teoricamente
possível projetar vacinas contra picadas de carrapatos. Como os carrapatos
podem transmitir tantos patógenos, agentes da doença de Lyme, babesiose,
anaplasmose, doença do vírus Powassan e mais, essa vacina poderia
potencialmente proteger contra muitas doenças”, explica.
“As
vacinas devem ser consideradas seguras e eficazes antes que seu uso seja
permitido, mas espero que tais estudos sejam vigorosamente prosseguidos”,
conclui.
Fonte:
CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário