Microplásticos:
saiba quais são os prejuízos causados à saúde
Nos
últimos anos, várias pesquisas científicas fizeram alertas sobre a disseminação
dos microplásticos na natureza. Os pedacinhos do material, com menos de 5
milímetros, são formados a partir da decomposição de peças maiores e já foram
encontrados nas profundezas do oceano, no intestino dos peixes, no alto do Everest, em aves, em
desertos e até no centro da Amazônia.
Porém,
o problema também
atinge humanos.
Uma pesquisa feita pela Aalborg University, da Dinamarca, publicada na revista Scientific Reports, do grupo
Nature,
mostra que inalamos 16,2 bits de microplásticos por hora. Em uma semana, a
quantidade equivale ao necessário para fabricar um cartão de crédito.
O
levantamento mostra que pedaços maiores ficam presos normalmente nas vias
aéreas superiores, como a cavidade nasal ou a garganta. Os menores, vão parar
nos pulmões.
Além
disso, estamos ingerindo microplásticos com comida. Eles estão na água que
bebemos, nas frutas, nos frutos do mar e até na maquiagem do dia a dia.
Pesquisadores já encontraram os pedacinhos no
cérebro, na corrente
sanguínea, na placenta e no fundo
dos pulmões humanos. Apesar disso, as pesquisas sobre os impactos do produto na
nossa saúde ainda são limitadas.
O
que sabemos sobre o efeito dos microplásticos na saúde humana?
“É
muito complicado mostras os efeitos diretos dos microplásticos porque os
estudos epidemiológicos demoram muito tempo. Por enquanto, temos evidências que
eles estimulam proteínas inflamatórias nas células e, nos pulmões, podem desencadear
uma desregulação do sistema imune”, explica a professora Thais Mauad, do
Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(USP).
Ela
aponta que ainda não se sabe qual a quantidade de plástico ou a concentração
considerada tóxica, se há alguma substância pior do que outra, nem quais são os
aditivos utilizados na fabricação dos produtos. “A palavra microplástico foi
usada pela primeira vez em 2004, e não faz mais de 15 anos que percebemos
a presença deles em
todos os cenários possíveis“, conta a professora.
“Pesquisas
mostram que a exposição de humanos aos microplásticos pode levar ao estresse
oxidativo, danos ao DNA e inflamação, entre outros problemas de saúde.
Particularmente, quando a inflamação se torna crônica”, escreveu o pesquisador
iraniano Ahmad k. Jassim, em artigo publicado na revista científica Advances and Challenges in
Microplastics.
Uma
outra pesquisa da Nanjing University (China), publicada em 2022 na revista científica ASC
Publications,
mostra que pessoas com doença inflamatória intestinal têm uma concentração
maior de microplásticos nas fezes do que indivíduos considerados saudáveis.
Os
microplásticos também podem influenciar no metabolismo de animais, uma vez que
são capazes de alterar enzimas atrapalhando o equilíbrio de energia do corpo.
Em
ratos, um estudo de maio de 2022 publicado no Journal of Hazardous Materials,
mostra que a exposição ao material afetou a capacidade de aprendizado e memória
dos animais.
Outro
problema já observado em peixes e aves é que os microplásticos se acumulam no
estômago, dando uma falsa sensação de saciedade e causando, a longo prazo,
quadros de desnutrição.
·
É
possível evitar os microplásticos?
“É
algo muito grave, que está matando a fauna marinha e contaminando humanos de
uma forma que não temos noção. É uma partícula estranha dentro do corpo, e em
grande quantidade. Nós precisamos parar de usar plástico”, alerta a professora
da USP.
Cerca
de 40% dos plásticos que estão flutuando por aí nos oceanos ou espalhados pela
terra provém de descartáveis. E desses, 40% são embalagens — se cada pessoa
mudar a relação com os plásticos, o impacto será enorme. “A gente se acostumou
a viver com plástico, e as pessoas não percebem a gravidade”, afirma Thais.
A
Organização das Nações Unidas (ONU) elenca o excesso de plástico descartado na
natureza como o principal desafio ambiental do século. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) já fez alertas sobre a presença de microplásticos na água potável.
A
indústria de plástico também precisa entrar na conversa e a comunidade
internacional deve pressionar não só para a diminuição da quantidade de
plástico utilizada, mas também para que haja algum controle nos aditivos e
substâncias tóxicas usados na fabricação de plásticos. “A comunidade científica
está atenta, mas a sociedade, ainda não”, lamenta a professora da USP.
Ø Microplásticos
invadem cérebro duas horas após ingestão, aponta estudo
Cientistas
da Universidade de Viena, na Áustria, comprovaram que microplásticos cada vez mais
são fonte de problemas para os animais e os seres humanos.
Um
estudo, publicado recentemente na revista científica Nanomaterials, mostrou que
fragmentos deste material quase onipresente podem chegar ao cérebro de roedores
adultos duas horas após a ingestão, e lá aumentam o risco de inflamação.
Os
pesquisadores austríacos ficaram surpresos com a capacidade de nanopartículas de
plástico romperem
a barreira hematoencefálica e, como consequência, invadirem o cérebro.
No
entanto, a questão não é inédita, quando se analisa o cérebro de roedores. Em
outra pesquisa, cientistas chineses já haviam descoberto que partículas de
microplástico podem chegar ao
cérebro de fetos.
O
fato de dois estudos diferentes indicarem evidências semelhantes apenas
reforça, desta forma, o risco que, em tese, o material representa à saúde.
·
Ratos
alimentados com plástico
Neste
trabalho mais recente, os pesquisadores analisaram especificamente o risco de
invasão do cérebro pelo poliestireno (PS), material presente em copos
descartáveis, brinquedos, seringas, escovas de dente e outros.
Os
cientistas foram ao extremo para comprovar a teoria, e, literalmente, alimentaram seis ratos com uma solução aquosa contendo
partículas de nanoplástico. As cobaias foram mortas em até quatro horas depois,
para que os cérebros fossem analisados.
A
conclusão deles foi que duas horas são suficientes para que o microplástico
rompesse a barreira hematoencefálica.
“No
cérebro, as partículas de plástico podem aumentar o risco de inflamação,
distúrbios neurológicos ou mesmo doenças neurodegenerativas, como Alzheimer ou
Parkinson”, relatou, em comunicado, Lukas Kenner, um dos autores do estudo.
A
equipe deve seguir pesquisando para descobrir se o mesmo comportamento ocorre
em seres humanos.
Fonte:
Metrópoles
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