Operação Lava Jato:
um grande “negócio de família” que prospera no rastro de Junho de 2013
Imagine
um rastilho de pólvora que, quando aceso, não se sabe onde vai parar e nem
deixa nada no lugar. Também é quase impossível prever o que vem depois dessa
explosão. A metáfora é ilustrativa para compreender o raciocínio do sociólogo
Ricardo Costa de Oliveira acerca das Jornadas de Junho de 2013. Para ele, o
evento é o rastilho de pólvora que leva tudo pelos ares, deixando espaço para
ascensão da extrema-direita no Brasil e da Operação Lava Jato. “Há sim uma
conexão entre os eventos, as Jornadas de Junho de 2013, o clima de ‘lawfare’, o
terrorismo jurídico-midiático, a Lava Jato, o golpe de Temer e o bolsonarismo.
O resultado foi uma década de retrocessos e deterioração em todos os
indicadores sociais”, observa.
Oliveira
possui estudos sobre a conformação da elite brasileira, uma classe de famílias
que seguem se perpetuando no poder desde os tempos de Brasil Colônia. Na
entrevista a seguir, concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos –
IHU, ele explica como a Lava Jato acaba sendo mais um instrumento para a
manutenção de uma elite que, para continuar garantindo seu quinhão no século
XXI, se converte à extrema-direita. “A Lava Jato sempre foi um grande negócio
de famílias político-jurídicas para a elevada lucratividade dos advogados
próximos aos operadores, quase todos de conhecidas famílias de elite de
Curitiba”, detalha.
Numa
linha do tempo, o sociólogo observa que Junho de 2013 abre um vazio que serve
muito bem para a reação aos chamados avanços progressistas iniciados em 2003.
“Junho de 2013 foi o deflagrar do ‘ovo da serpente’ da extrema-direita e de
ameaças fascistas. Os movimentos de Junho de 2013 não produziram novas
lideranças populares e nem de esquerda, não garantiram nenhuma pauta social
permanente, nenhuma vitória da agenda popular e foram movimentos logo
capturados pela direita e mesmo extrema-direita”, explica.
Assim,
para Oliveira, o que se promoveu mesmo foi o enfraquecimento do governo petista.
Nesta conjuntura desfavorável, engendra-se uma operação político-judicial a
partir de herdeiros de famílias curitibanas. “O grande objetivo sempre foi a
derrubada do governo Dilma, a criminalização da esquerda, do PT e a prisão do
ex-presidente Lula, tentando incapacitá-los politicamente”, dispara.
E,
por isso, conclui que “o lavajatismo sempre foi uma manifestação da
extrema-direita e de pessoas enganadas ou iludidas pela forte propaganda na
mídia. Com o tempo, muitos desinformados e ingênuos perceberam o tamanho do
golpe e se afastaram”. Mas, para Oliveira, é preciso seguir atento porque as
mesmas forças que se coadunaram na Lava Jato a partir das insatisfações geradas
em 2013 seguem à espreita, apesar da vitória de Lula em 2022. “A
extrema-direita sempre estará atenta para tentar novos botes e golpes contra a
democracia”, pontua.
Ricardo
Costa de Oliveira é professor de Sociologia na Universidade Federal do Paraná –
UFPR. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ, mestrado em Science in Urban Development Planning pela
University College London e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade
Estadual de Campinas – Unicamp.
Entre
seus livros, destacamos “Na teia do nepotismo: sociologia política das relações
de parentesco e poder político no Brasil” (Insight, 2012), “Família, política e
etnicidade” (LiberArs, 2020), “Família importa e explica: instituições
políticas e parentesco no Brasil” (LiberArs, 2018). O professor realizou
pesquisas acerca da Operação Lava Jato, que culminou no artigo “Prosopografia
familiar da operação Lava Jato e do ministério Temer” (Revista NEP – Núcleo de
Estudos Paranaenses da UFPR, v. 3, p. 1, 2017).
>>>>>
Confira a entrevista.
- Hoje, no
Brasil de 2023, que interpretação podemos fazer da Operação Lava Jato?
Ricardo
Costa de Oliveira – A Operação Lava Jato começou em 2014 e desde 2015 já
percebemos o caráter político, seletivo e manipulativo da operação, com
interesses claramente definidos na perseguição e “lawfare” contra alguns empresários
e políticos. O grande objetivo sempre foi a derrubada do governo Dilma, a
criminalização da esquerda, do PT e a prisão do ex-presidente Lula, tentando
incapacitá-los politicamente.
O
objetivo da luta contra a corrupção era um imaginário poupando todos doleiros e
empresários corruptos aliados e cúmplices da direita. A Lava Jato foi um
produto de ativistas de extrema-direita aparelhando por dentro o sistema
judicial, sempre produzidos e protegidos pela grande mídia brasileira, que
percebeu ser o caminho para reverter as derrotas eleitorais na presidência
desde 2002.
Hoje,
todo o enredo ficou bem claro e explícito quando o ex-juiz [Sergio] Moro se
tornou ministro do Bolsonaro e o ex-procurador Deltan Dallagnol assumiu o
próprio partidarismo.
- Como analisa as
reações à cassação de Deltan Dallagnol? O que esse episódio revela sobre o
significado da Lava Jato para a história política do Brasil?
Ricardo
Costa de Oliveira – A justa e legítima cassação de Deltan Dallagnol e a próxima
apuração sobre as graves acusações envolvendo Moro revelam o restabelecimento
da verdade, da legitimidade e da institucionalidade do sistema judicial
fraudado pela Lava Jato. As reações favoráveis e positivas à cassação de Deltan
foram majoritárias na sociedade. Isso até pela indignação causada por
irregularidades na própria candidatura do militante de extrema-direita incubado
na procuradoria, só fazendo politicagens, acusado de ser ainda mais suspeito ao
se afastar precocemente do Ministério Público, até para não responder ou não se
defender das graves acusações e processos por lá.
As
reações da militância de extrema-direita que apoia Deltan foram poucas e de
pequena expressão após a cassação. Deltan até viaja para os Estados Unidos, o
país que os lavajateiros sempre defenderam os interesses estrangeiros e
apoiaram.
Na
sociedade e no meio político há um cansaço das fraudes políticas dos
lavajateiros, a rejeição da direita na presidência e o esgotamento associado ao
próprio desgoverno de Bolsonaro, a quem sempre foram vinculados.
- Na atual
conjuntura, onde residem as forças que apoiaram a Lava Jato? Como o senhor
sinalizou, o “lavajatismo” não continua forte e coeso?
Ricardo
Costa de Oliveira – O lavajatismo sempre foi uma manifestação da
extrema-direita e de pessoas enganadas ou iludidas pela forte propaganda na
mídia. Com o tempo, muitos desinformados e ingênuos perceberam o tamanho do
golpe e se afastaram. A Lava Jato nunca foi contra a corrupção da direita, e
sim um produto dos grupos mais reacionários e golpistas no sistema judicial, uma
ação entre amigos de extrema-direita, com conexões pessoais e políticas a
partir da vara da justiça federal de Curitiba, o Tribunal Regional Federal da
4ª Região, o Superior Tribunal de Justiça – STJ e o Supremo tribunal Federal –
STF, um processo e um jogo com cartas marcadas e aceleradas.
Os
mesmos indivíduos formavam uma rede de operadores originários da conexão
político-jurídica da direita curitibana. Eram procuradores e magistrados
cúmplices, operando em rede e atravessando toda institucionalidade para
prenderem Lula, uma justiça de exceção golpista e reconhecidamente suspeita e
seletiva.
- O senhor
produziu vários estudos sobre a classe dominante tradicional. No que
consiste esse conceito e como podemos compreender a classe dominante
brasileira à luz desse conceito?
Ricardo
Costa de Oliveira – A classe dominante brasileira é uma formação social com
núcleos familiares e genealógicos muito antigos. Podemos analisá-la como uma
classe social histórica. Muitas genealogias desde o Período Colonial e Imperial
continuam na República. Para isso, basta pesquisar as origens sociais de muitas
famílias do empresariado, do agronegócio, da grande mídia, do capital
financeiro, dos escritórios jurídicos, dos poderes Judiciário, Legislativo,
Executivo, o nepotismo em todas instituições, muitas famílias militares e
também nos cartórios e tribunais de contas.
Esta
classe dominante tem base agrária nas grandes propriedades, continua por muitos
parlamentares, juízes, generais, empresários. Muitas vezes são todos parentes
em algum grau e os emergentes, quem sobe na economia e na política, geralmente
se casa com estas famílias e genealogias antigas.
É
o caso do Sergio Moro. A esposa, advogada e deputada federal Rosangela Moro, é
prima do prefeito de Curitiba, Rafael Greca de Macedo e os dois também são
primos do ex-governador e deputado federal Beto Richa, pelo lado da mãe dele.
Uma família da classe dominante tem uma antiga genealogia escravista nos
séculos passados, conta com muitos poderosos em várias carreiras, posições e cargos,
muitos desembargadores, prefeitos, deputados, parlamentares e magistrados ao
longo dos séculos, como muitos dos operadores da Lava Jato, muitos possuem
família na velha elite paranaense.
Outro
exemplo é Carlos Fernando dos Santos Lima, considerado um dos estrategistas da
Lava Jato, filho de um ex-promotor e deputado estadual, presidente da
Assembleia Legislativa do Paraná no auge da ditadura militar. Interessados em
mais detalhes podem ler nosso artigo sobre a “Prosopografia familiar da
Operação Lava Jato”, na Revista do Núcleo de Estudos Paranaenses.
- Como essa
classe dominante incide sobre a política nacional na atualidade? Podemos
compreender a Lava Jato, e consequentemente o lavajatismo, as eleições de
Sergio Moro e Deltan Dallagnol, como movimentos de resistência dessa
classe?
Ricardo
Costa de Oliveira – Sim, o próprio bolsonarismo foi um movimento social,
cultural e político reacionário dos setores mais atrasados da sociedade
brasileira. No início queriam se ocultar e esconder como “apartidários e antipolítica”,
quando sempre fizeram politicagens e esquemas de rachadinhas. O bolsonarismo é
uma grande rede de nepotismo, com filhos, mulheres, ex-mulheres, assessores,
milicianos e familiares, o que foi fartamente demonstrado pela imprensa. Só o
sistema judicial, com a sua conhecida morosidade, não vê.
Moro
e Dallagnol representam a extrema-direita paranaense, foram muito beneficiados
pela imensa exposição da grande mídia. Recomendo o livro de Tarcis Prado,
“Moro: o herói construído pela mídia” (Kotter Editorial, 2020). Da mesma
maneira, para as denúncias contra a família Dallagnol na Amazônia, podem
consultar o site De Olho nos Ruralistas, que apresenta uma detalhada
investigação dessa relação com o atraso e a concentração de terras no Brasil.
- Em outro de
seus estudos, o senhor trabalhou com a chamada “república de Curitiba”. A
partir deste caso, que culmina na Operação Lava Jato, como podemos
compreender a relação entre classe dominante tradicional, família
tradicional e elite política no Brasil?
Ricardo
Costa de Oliveira – A “República do Nepotismo de Curitiba” era a conexão
curitibana da classe dominante tradicional. Temos vários artigos sobre o tema.
Um deles se chama “Genealogias políticas do Judiciário”, também publicado na
Revista do Núcleo de Estudos Paranaenses. Trata-se da análise biográfica,
sociológica e política dessa rede de magistrados a partir de Curitiba, no TRF4,
STJ, STF, até Brasília.
Fizemos
o levantamento biográfico, sociológico e genealógico de todos os indivíduos na
operação, uma rigorosa pesquisa do quem é quem, das origens sociais,
educacionais, profissionais, das redes de nepotismo, de sociabilidade, das
cumplicidades e alianças políticas entre eles e com advogados nos escritórios
de justiça, muitos sócios e parentes.
A
Lava Jato sempre foi um grande negócio de famílias político-jurídicas para a
elevada lucratividade dos advogados próximos aos operadores, quase todos de
conhecidas famílias de elite de Curitiba.
- Faz dez anos
que o Brasil parou nas Marchas de Junho de 2013. Que conexões podemos
fazer entre Junho de 2013 e Operação Lava Jato?
Ricardo
Costa de Oliveira – Junho de 2013 foi o deflagrar do “ovo da serpente” da
extrema-direita e de ameaças fascistas. Os movimentos de junho de 2013 não
produziram novas lideranças populares e nem de esquerda, não garantiram nenhuma
pauta social permanente, nenhuma vitória da agenda popular e foram movimentos
logo capturados pela direita e mesmo extrema-direita.
A
burguesia e a grande mídia “sequestraram” politicamente a agenda das jornadas
de Junho de 2013 para atacarem o governo Dilma. A manipulação causou a queda de
popularidade e abriram as portas para as perseguições político-jurídicas,
tentando criminalizar a política e os partidos políticos para os substituírem
pelos quadros da direita golpista.
Há,
sim, uma conexão entre os eventos, as Jornadas de Junho de 2013, o clima de
“lawfare”, o terrorismo jurídico-midiático, a Lava Jato, o golpe de Temer e o
bolsonarismo. O resultado foi uma década de retrocessos e deterioração em todos
os indicadores sociais, econômicos, a concentração de renda e a diminuição dos
salários. Entre 2013 e 2023, a vida piorou para os jovens trabalhadores e
periféricos, ao contrário dos avanços entre 2003 e 2013, quando tudo melhorou.
- Socialmente
falando, como está o Brasil de 2023 comparado com 2013? Há algo em comum
no espírito anticorrupção que surgiu naquela época ou falamos de afetos e
intenções completamente diferentes?
Ricardo
Costa de Oliveira – A grande maioria já entendeu que as tais Jornadas de Junho
de 2013 jogaram o Brasil no caos e no imenso retrocesso político. O Brasil de
2023 é um país mais pobre, sem direitos trabalhistas, sem aposentadorias e com
a calamidade da pandemia conduzida pelos negacionistas da extrema-direita, como
os lavajateiros e outros bolsonaristas que tornaram o país ainda pior.
Infelizmente
o país engatou a marcha à ré desde 2013, gerando uma crise social, econômica,
cultural e sanitária, com uma pandemia e a crise política, crises que levaram à
derrota da direita nas eleições presidenciais de 2022. Quem afirmava ser contra
os partidos políticos já tinha preferência por um tipo de partido de inspiração
autoritária e mesmo fascista, de extrema-direita e tentaram o fracassado golpe
no dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Militantes de extrema-direita,
vândalos, alguns militares e os remanescentes dos lavajateiros foram
politicamente derrotados, em uma contínua luta pelas forças sociais que
defendem a democracia e a cidadania no Brasil.
- Em que medida
podemos compreender a classe dominante a partir dos episódios de
trabalhadores domésticos que são mantidos em situações análogas à
escravidão?
Ricardo
Costa de Oliveira – Sim, a grande desigualdade social brasileira possui fortes
raízes históricas. O Brasil foi a maior e mais longeva sociedade escravista no
mundo moderno. Ainda hoje temos sistemáticas denúncias de trabalho análogo à
escravidão, muitas denúncias também na Região Sul, muitos casos no Paraná,
Santa Catarina e no Rio Grande do Sul ganham a mídia nacional. Importantes
empresários são denunciados, inclusive desembargadores, políticos e até mesmo a
família do governador Ratinho, denunciados em fazendas pelo interior do país.
Desde
o golpe de 2016 contra a Dilma, a situação social piorou com a “deforma
trabalhista”, retirando direitos trabalhistas, retirando a Carteira de
Trabalho, uma conquista varguista, com isso precarizando os trabalhadores,
aumentando o desemprego e diminuindo os salários, bem como a “deforma da
Previdência”, que roubou anos de aposentadorias dos trabalhadores para aumentarem
a riqueza de poucos bilionários no capitalismo contemporâneo. A deterioração
trabalhista gera formas de “escravização”.
- Uma das
críticas dos antigos governos petistas está relacionado com alianças às
classes dominantes. Se o pobre ganhava mais era porque sobravam mais
migalhas da classe dominante, que faturava ainda mais. Hoje, pelos
movimentos que tem visto no governo Lula III, essa máxima foi rompida?
Ricardo
Costa de Oliveira – É muito difícil governar o Brasil porque a classe dominante
tradicional ocupa todos os poderes, mesmo perdendo a eleição presidencial. O
Congresso é dominado por famílias políticas e redes de nepotismo, como a do
deputado Arthur Lira, presidente da Câmara e do orçamento secreto. As castas
corporativas possuem muito poder, o sistema judicial, os militares e a grande
mídia hereditária.
Estes
setores políticos atrasados exercem vários poderes e ameaçam a realização da
democracia. Assim, a política no Brasil é uma arte de acordos e negociações,
até mesmo porque a esquerda e o Partido dos Trabalhadores possuem bancadas
minoritárias e devem aprovar as melhoras sociais possíveis. Por exemplo,
aumentar o Bolsa Família, aumentar a merenda escolar, aumentar as verbas para
políticas sociais, aumentar o salário-mínimo, as bolsas educacionais, um
reajuste salarial para os servidores públicos arrochados desde o golpe do
Temer, todas pautas sociais e econômicas importantíssimas que a Presidência
deve negociar com um Congresso mais conservador, quando não com bancadas
reacionárias e alguns golpistas a serem derrotados.
- No atual
governo, uma verdadeira luta é travada entre o Palácio do Planalto e o
Congresso, ou mais especificamente o centrão. Gostaria que explicasse
melhor esse poder do centrão, tendo em vista as classes dominantes e
elites políticas tradicionais da história do Brasil.
Ricardo
Costa de Oliveira – Boa parte do centrão é formado por famílias políticas e
redes de nepotismo, possuem muita força no poder local, operam de maneira
fisiológica e familiar no orçamento secreto e na alocação de recursos. Como
enfrentá-los na atual correlação de forças é o grande desafio para os
progressistas, os movimentos sociais e o governo Lula. Como avançar sem correr
riscos de crises e golpes da direita e da classe dominante? Estas são as atuais
questões da conjuntura.
A
nosso favor temos a imensa habilidade e experiência de Lula, que foi quem soube
derrotar Bolsonaro e a poderosa máquina política, empresarial e militar da
extrema-direita bolsonarista. O cenário internacional é muito favorável ao
papel histórico de Lula na presidência do Brasil, pois ele é considerado um dos
maiores líderes mundiais na contemporaneidade em várias causas sociais,
ambientais e políticas.
- Romper os
arranjos da classe dominante e reduzir as desigualdades no Brasil, hoje,
passa essencialmente pelo quê?
Ricardo
Costa de Oliveira – Passa pela mobilização, pelo fortalecimento das
instituições e dos sindicatos. E passa, também, pela inteligência política para
não errarem como erraram nas Jornadas de Junho, ao despertarem o ovo da serpente
do fascismo e do autoritarismo sempre presente em uma sociedade tão desigual e
com tantos reacionários como no Brasil.
A
extrema-direita foi derrotada em 2022 e no começo de 2023, mas sempre estará
atenta para tentar novos botes e golpes contra a democracia, contra os
movimentos populares e contra o governo Lula. A luta política também é
internacional porque todos os países enfrentam a crise do capitalismo e ameaças
de golpes. Mesmo os Estados Unidos, como vimos.
- Deseja acrescentar algo?
Ricardo
Costa de Oliveira – Precisamos estar atentos e fortes, conseguimos uma vitória
histórica contra a extrema-direita. Lembremos que há pouco Lula estava preso
ilegalmente, sequestrado e isolado em Curitiba. Os lavajateiros posavam de
heróis, Temer e depois Bolsonaro governavam comprando o Congresso, um governo
de latifundiários, empresários neoliberais, retirando direitos trabalhistas e
previdenciários.
Houve
as entregas das privatizações neoliberais, desnacionalizando empresas estatais,
militares bolsonaristas e militantes de direita passando a boiada na natureza,
nos povos indígenas, nos negros e nos trabalhadores, o retrocesso contra as
mulheres, ataques contra minorias, o negacionismo das vacinas e um governo em
que a educação e a ciência eram uma crise permanente, com maus pastores e as
bancadas do atraso, a bancada ruralista e da bala com projetos nacionais de
destruição, poluição, agrotóxicos, violência e armamentismo sem controle.
Enquanto isso, o desemprego, o arrocho salarial e a inflação saíram do controle.
Eles
foram derrotados em 2022, mas ainda deixaram herdeiros no Banco Central e a
política de juros altos. Mas as forças democráticas e progressistas no Brasil
souberam organizar uma Frente Ampla contra a extrema-direita e derrotamos o
bolsonarismo, uma tremenda vitória que mostra que a mobilização popular pode
avançar com cautela e responsabilidade na democracia.
Fonte:
Entrevista Ricardo Costa de Oliveira, para João Vitor Santos, em IHU
Nenhum comentário:
Postar um comentário