Relator do TSE
surtou os militares ao condenar Bolsonaro
Principal
carrasco de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Benedito
Gonçalves gerou enorme irritação não só no ex-presidente, mas também em um
vespeiro brasileiro conhecido por Forças Armadas.
Fez
o magistrado muito bem.
Enfrentou
um problema que só o ministro da Defesa, José Múcio, tem encarado com devida
seriedade na Esplanada dos Ministérios de Lula.
É
que, para além de acusar o líder da extrema direita do golpismo (inerente a sua
pessoa, sabemos), Benedito Gonçalves apontou o dedo para as instituições que
mais conspiraram contra a democracia brasileira nos últimos 100 anos: Exército,
Marinha e Aeronáutica.
O
ministro não se fez de rogado e, ao votar pela ineligibilidade de Jair Bolsonaro,
afirmou que as Forças Armadas tiveram “papel central” na estratégia do político
contra o TSE, as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro como um
todo.
Está
certíssimo, mas – agora – militares de alta patente das Forças Armadas se
sentiram ofendidos.
Não
gostaram e estão alvoroçados desde então, continuando nesta quinta, 29.
Ora,
se comportem como democratas e essas acusações cessarão.
A
aliança golpista do comando militar com Bolsonaro é tão consolidada que, na
fatídica reunião com embaixadores, o ex-presidente mencionou as Forças Armadas
18 vezes.
“A
palavra democracia apareceu apenas quatro vezes e, em nenhuma delas, foi
reconhecida como valor associado ao processo eleitoral”, afirmou Benedito
Gonçalves, para quem o “conspiracionismo se conservou latente e foi acionado
com facilidade no ano eleitoral”. “Um significativo componente retórico é o uso
da primeira pessoa do plural para se referir às Forças Armadas.
O
primeiro investigado [Bolsonaro] enxergava-se como um militar em exercício à
frente das tropas”, disse o ministro em seu voto, acreditando haver, no líder
da extrema direita, uma “perturbadora interpretação das ideias de autoridade”.
Sim,
assim como há uma perturbadora subserviência do Exército, Marinha e Aeronáutica
a ele.
Ministro do TSE insinua quadrilha contra
a democracia
O
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recomeçou nesta quinta-feira o julgamento da
ação que pode tornar Jair Bolsonaro (PL) inelegível. Terceiro a votar, o
ministro André Ramos Tavares, assim como Floriano Marques, acompanhou o
relator, Benedito Gonçalves, e defendeu a condenação do ex-presidente por abuso
de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Já Raul Araújo
divergiu e votou pela absolvição.
—
Não apenas a mera falta de rigor em certas proclamações, mas a inequívoca
falsidade perpetrada nesse ato comunicacional, com invenções, distorções
severas da realidade, dos fatos e dos dados empíricos e técnicos, chegando
ainda a caracterizar uma narrativa delirante, com efeitos nefastos na democracia,
no processo eleitoral, na crença popular em conspirações acerca do sistema de
apuração dos votos — disse o ministro.
Na
ação, o PDT pede que Bolsonaro seja considerado inelegível por abuso de poder
político e uso indevido dos meios de comunicação. O partido afirma que o então
presidente criou um ambiente propício para a “propagação de toda sorte de
desordem informacional”. A legenda ressalta que, ao transmitir o discurso na TV
Brasil e em redes sociais, Bolsonaro teve “expressivo alcance na difusão de informações
falsas já reiteradamente desmentidas”.
Em
parecer lido na última quinta-feira, a Procuradoria-Geral Eleitoral defendeu
que o ex-presidente seja considerado inelegível, alegando que o discurso
“atacou as instituições eleitorais” e que isso contribuiu para “inquietar
ânimos pessimistas com relação à legitimidade do pleito”.
Além
da própria reunião, uma das principais provas é a justamente a minuta que
sugeria uma espécie de intervenção no TSE, encontrada na casa do ex-ministro
Anderson Torres. O PDT considera que a minuta era a “materialização da última
fase de um plano milimetricamente traçado para derrubar o Estado Democrático de
Direito”.
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Entenda em três ponto o voto do ministro André Ramos Tavares em julgamento no
TSE:
• Desvio de finalidade
Durante
a leitura de um resumo de seu voto, o ministro André Ramos Tavares destacou ter
havido desvio de finalidade na reunião promovida por Jair Bolsonaro, no Palácio
da Alvorada. Na reunião, foram convidados embaixadores e debatido temas que
colocaram em dúvida a segurança das urnas eletrônicas durante o processo
eleitoral brasileiro.
O
ministro destacou também “gravidade na conduta” de Bolsonaro no encontro e
disse que o conteúdo proferido pelo ex-presidente foi “permeado por informações
falsas” e “inequívocos ataques” a partidos, candidatos, ministros do STF e TSE.
• Críticas à Justiça Eleitoral
André
Ramos Tavares mencionou a divulgação de notícias falsas durante o encontro do
ex-presidente com os diplomatas.
—
Quero apontar que não se está aqui a julgar a existência de um mero grupo de
falácias contadas, mas sim uma estratégia política que depende da disseminação
de falsas informações pautadas por uma identidade política ou mesmo uma
etiqueta ideológico que não aceita ou não tolera aquele que não toma para si a
integralidade da agenda pautada por desinformação e alarmismo — ressaltou.
• Tática eleitoral contra a democracia
O
ministro ainda atribuiu ao ex-presidente uma “tática eleitoral contra a
democracia”, afirmando que houve manipulação de informações e tentativa de
utilizar o evento com os diplomatas para promover sua candidatura à reeleição:
—
Não se está aqui a julgar a existência de um mero grupo de falácias contadas,
mas sim uma estratégia política que depende da disseminação de falsas informações,
pautadas por uma identidade política ou mesmo uma etiqueta ideológica, que não
aceita, não tolera e relega como pária aquele que não toma para si a
integralidade da agenda pautada, de desinformação e alarmismo infundados.
• Floriano passou como trator em cima do
voto de Raul Araújo
O
colunista do UOL Wálter Maierovitch afirmou durante o UOL News desta
quinta-feira (29) que o ministro do TSE Floriano de Azevedo “passou como
trator” sobre o voto do ministro Raul Araújo, que optou por não deixar o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível. Floriano votou pela
inelegibilidade de Bolsonaro, deixando o julgamento em 2 a 1 contra o
ex-presidente. O voto é irrespondível. Um ponto importante desse voto é que o
ministro que votou anteriormente, o ministro Raul, despejou um monte de
jurisprudência. O que fez o ministro Azevedo Marques no seu lúcido voto? Ele
jogou uma só jurisprudência e acabou com todas as outras”. O colunista do UOL
concordou com Floriano de Azevedo quando mostrou a gravidade da reunião realizada
por Bolsonaro com embaixadores no ano passado.
Com
relação àquilo que o ministro Raul entendia não ter havido gravidade, o
ministro Azevedo Marques mostra um ponto de gravidade que sai do território
nacional e mostra essa gravidade do que aconteceu perante o mundo inteiro. O
Bolsonaro mostrou ou quis mostrar que o Brasil era uma república de bananas. Aí
está a enorme gravidade do acontecido”. “Azevedo Marques passou como um trator
por cima do voto do ministro Raul e ainda deu marcha ré para não deixar pedra
sobre pedra”, finalizou.
O
colunista do UOL Josias de Souza afirmou que o ministro Floriano de Azevedo
apontou em seu voto a favor da inelegibilidade de Jair Bolsonaro que, ao
absolver o ex-presidente, o tribunal estaria “condenando a si mesmo à desmoralização”.
Ele [Floriano] mencionou duas evidências: quando multou o Bolsonaro no ano
passado por mentir sobre o sistema eleitoral para os embaixadores estrangeiros,
o TSE já havia concluído que aquela reunião violou a legislação eleitoral.
Segundo ponto, se livrasse o Bolsonaro da pena de inelegibilidade, o TSE teria
de promover uma ação rescisória em favor do deputado estadual Fernando
Francischini”. Fernando Francischini teve o mandato cassado pelo TSE no ano
passado por por difundir vídeos sobre fraudes nas urnas. O ministro mostrou
que, para permitir que o Bolsonaro continuasse percorrendo a conjuntura
política impune, o TSE teria que desfazer a si mesmo.”
• Voto nonsense de Raúl Araújo será
aproveitado por Bolsonaro
De
acordo com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o voto do ministro do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Raul Araújo já garante recurso do julgamento
ao STF (Supremo Tribunal Federal).
A
estratégia jurídica será prolongar ao máximo um veredicto final sobre a
inelegibilidade do ex-mandatário e dar sobrevida ao seu capital político.
Segundo um interlocutor, Bolsonaro “fica vivo até o próximo cadafalso”.
Raul
votou de forma contrária à inelegibilidade e empatou o julgamento de ação
contra o ex-presidente na corte. Com a posição, garantiu que o veredicto, tido
como certo, não será unânime e, a partir da divergência, abre a possibilidade
para questionamentos posteriores à Suprema Corte.
Antes
disso, no entanto, ainda devem ser apresentados agravos ao próprio TSE.
Nesta
quinta-feira (29), Bolsonaro afirmou que o TSE comete uma injustiça com ele e
repetiu que não fez nada de concreto contra a democracia.
“É
uma injustiça comigo, meu Deus do céu. Me aponte algo de concreto que fiz
contra a democracia, joguei dentro das quatro linhas tempo todo”, disse, ao
embarcar para o Rio de Janeiro.
Ministro do TSE tietou Bolsonaro e depois
condenou
Aliado
de Alexandre de Moraes, o ministro André Ramos Tavares, do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) votou nesta quinta-feira (29) a favor da condenação de Jair
Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação
ao promover uma reunião no Palácio da Alvorada com embaixadores para atacar sem
provas as urnas eletrônicas.
O
placar do julgamento está em 3 a 1 pela condenação do ex-chefe do Executivo. O
julgamento será retomado nesta sexta-feira (30).
“O que se constata é a reverberação de fatos
inverossímeis, descontextualizados e despidos de mínima seriedade, inclusive
amplamente refutados publicamente, seja por meio de dados empíricos,
contraposição com os fatos, seja por meio de relatos e comprovações técnicas”,
disse Ramos Tavares.
“Não
houve um mero diálogo institucional, o que houve foi uma ação coordenada, a fim
de reforçar o engajamento de determinado público pela manipulação de mentiras
em benefício próprio.”
O
advogado foi nomeado por Bolsonaro ao TSE em novembro do ano passado, após um
impasse que se arrastou por cinco meses envolvendo uma lista tríplice para a
vaga de ministro substituto.
Em
plena campanha eleitoral, Ramos Tavares aproveitou um arraiá com advogados da
campanha de Bolsonaro em Brasília para tietar o então presidente da República –
e postar em suas redes sociais uma foto ao lado do próprio chefe do Executivo.
A
postagem publicou mal-estar à época, já que havia o risco de Ramos Tavares
acabar tendo de julgar Bolsonaro, como acabou ocorrendo.
O
jurista acabou efetivado como ministro titular do TSE em maio deste ano, por
escolha do presidente Lula, após uma ofensiva de Alexandre de Moraes para
ampliar sua influência sobre as decisões da Corte mesmo depois de deixar o
comando do tribunal, em junho de 2024.
Antes
de virar ministro substituto do TSE por decisão de Jair Bolsonaro, Ramos
Tavares havia sido preterido pelo ex-presidente numa lista tríplice para o
Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). O então chefe do Executivo
acabou escolhendo outro advogado, Marcio Kayatt, para o TRE paulista, em abril
do ano passado.
Ramos
Tavares já elaborou pareceres encomendados pelo PT defendendo Dilma Rousseff e
Luiz Inácio Lula da Silva em duas ocasiões críticas, conforme informou a equipe
da coluna em maio do ano passado.
A
primeira foi em outubro de 2015, quando ele escreveu, a respeito do processo de
impeachment: “Não haverá mais democracia no Brasil pós-1988 em virtude de
eventual sucesso na banalização do processo de impeachment, com sua abertura em
face da Presidente Dilma Rousseff”.
Em
agosto de 2018, ele fez um parecer favorável ao registro de candidatura de Lula
à presidência. Lula tinha sido enquadrado na Lei da Ficha Limpa após ser
condenado e preso no âmbito da Operação Lava Jato e foi considerado inelegível
pelo TSE.
Na
ocasião, o jurista afirmou que a manifestação do Comitê de Direitos Humanos da
ONU a favor do registro de Lula era suficiente para afastar a inelegibilidade.
Naquele julgamento, apenas Fachin concordou com a tese. A candidatura lulista
foi barrada por 6 votos a 1.
Mesmo
sendo professor da USP, Tavares não assinou a carta em defesa pela democracia
lida na porta da universidade.
O
advogado também já se posicionou contra a proposta de redução da maioridade
penal de 18 para 16 anos, uma das bandeiras políticas de Bolsonaro. Foi
integrante da Comissão de Ética Pública da Presidência entre 2018 e 2021.
Bolsonaro se queixa do voto de Raúl
Araújo
O
ex- presidente Jair Bolsonaro desembarcou às 10h20 desta quinta-feira no
aeroporto Santos Dumont, no Rio, e disse que passará o dia na casa de um de
seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, enquanto acompanha os desdobramentos
do seu julgamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em Brasília.
Bolsonaro, que chegou à capital fluminense durante o julgamento, lamentou que o
ministro Raul Araújo, que lia seu voto naquele momento, não tenha pedido vista
do processo.
Um
eventual pedido de vista poderia paralisar o julgamento por até 60 dias. Havia
expectativa sobre o posicionamento de Araújo, que já proferiu decisões que
agradaram a Bolsonaro na campanha de 2022.
Aliados
de Bolsonaro esperavam ganhar tempo para mobilizar uma narrativa de que a
reunião do então presidente com embaixadores, na qual fez ataques ao sistema
eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas, seria meramente uma tentativa de
debater aperfeiçoamentos nas eleições.
—
Eu gostaria (de um pedido de vista), não vou negar para você, porque dá mais
tempo. Eu venho demonstrando nas minhas redes sociais o que vem acontecendo
desde 1999 na questão do voto impresso – afirmou Bolsonaro.
O
ex-presidente declarou ainda que “sempre há” expectativa sobre um eventual
pedido de vista de outros ministros, mas evitou projetar qual será a postura do
ministro Kassio Nunes Marques. Indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em
2020, Nunes Marques é o único ministro da atual composição do TSE que passou
pelo crivo de Bolsonaro, e será o penúltimo a votar no julgamento que pode
tornar o ex-presidente inelegível por abuso do poder político e uso indevido
dos meios de comunicação.
Questionado
sobre um eventual sucessor caso seja julgado inelegível pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que será “talvez um bom
cabo eleitoral” caso seja condenado nesta quinta-feira.
Bolsonaro
evitou demonstrar preferência por nomes como o ex-ministro e atual governador
de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, e o da ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro, que contam com apoiadores dentro do PL, partido do ex-presidente.
—
Se eu estiver fora do jogo, vou ser talvez um bom cabo eleitoral. Tem vários
bons nomes por aí, mas acredito até o último segundo na isenção e em um
julgamento justo e sem revanchismo por parte do TSE — disse Bolsonaro, ao desembarcar
no Rio.
Fonte:
Veja/O Globo/UOL/FolhaPress
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