Relator do TSE diz
que Bolsonaro pode ser preso
Ao
votar pela inelegibilidade por oito anos de Jair Bolsonaro (PL), o ministro
Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sugere a ampliação do
cerco sobre as condutas do ex-presidente. O relator determinou o envio imediato
ao Tribunal de Contas da União (TCU), à Procuradoria-Geral da República (PGR) e
a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) do voto lido na noite desta
terça-feira, 27.
Bolsonaro
é acusado de abuso de poder político ao buscar vantagem eleitoral em uma
reunião com diplomatas estrangeiros, realizada no dia 18 de julho de 2022. A
iniciativa de Gonçalves, mesmo que não seja seguida pelos demais integrantes da
Corte – ao todo, são sete magistrados no TSE –, abre caminho para uma eventual
cobrança de multa pelo TCU, uma nova investigação em esfera criminal sobre o
encontro e a ampliação do escopo de inquéritos em andamento no Supremo.
O
julgamento será retomado na manhã desta quinta-feira, 29, quando os ministros
vão dizer se acompanham ou não o voto de Gonçalves e suas recomendações. Nesse
primeiro processo de Bolsonaro em análise no TSE, o ex-presidente é acusado,
além de abuso de poder político, de uso indevido dos meios de comunicação pelo
fato de a TV Brasil ter transmitido a reunião com os embaixadores no Palácio do
Planalto. Na ocasião, ele atacou, sem provas, o sistema de votação brasileiro e
a Justiça Eleitoral.
No
voto, Gonçalves solicitou, por exemplo, que o TCU abra um processo e avalie se
Bolsonaro deve ressarcir os cofres públicos e sofrer outras punições
administrativas. A medida se justifica, segundo ele, em razão do “comprovado
emprego de bens e recursos públicos na preparação de evento em que se consumou
o desvio de finalidade eleitoreira”. A reunião com os diplomatas estrangeiros
foi realizada na residência oficial da Presidência da República.
Além
disso, Gonçalves sugere que a PGR analise se as ações de Bolsonaro naquele
encontro, assim como seu contexto e suas consequências, devem motivar um
processo. O ministro recomenda a “análise de eventuais providências na esfera
penal”. Na prática, o gesto impõe que a PGR faça uma nova análise do papel do
ex-presidente no encontro com os embaixadores, uma vez que a
subprocuradora-geral Lindôra Araújo já havia solicitado ao STF que fosse
arquivada uma investigação criminal sobre o evento.
Essa
ação no Supremo foi ajuizada por partidos de oposição no dia seguinte à
reunião. Em 19 de julho do ano passado, as legendas pediram a abertura de uma
investigação contra Bolsonaro por crime contra o estado democrático de direito.
O caso, para o qual Lindôra defendeu o arquivamento, está sob a relatoria do
ministro Luiz Fux. Gonçalves determina o envio de seu posicionamento ao
magistrado do STF.
Além
disso, entre as últimas providências do voto do ministro do TSE está uma outra
medida que pode impactar a situação do ex-presidente no Supremo. Gonçalves
determina o envio do voto a Alexandre de Moraes, que presidente a Corte
eleitoral e integra o STF. No Supremo, Moraes, que já foi alvo de ataques do
ex-presidente, conduz dois inquéritos para apurar as investidas
antidemocráticas de 7 de setembro de 2021, além dos referentes aos ataques de 8
de janeiro deste ano.
Gonçalves,
por ser o relator do caso, foi o primeiro ministro a votar no julgamento do
TSE, que avalia se houve abuso de poder político e vantagem eleitoral ilegal
nos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral perante diplomatas estrangeiros.
O caso começou analisado na quinta-feira, 22, com as sustentações de advogados
e do Ministério Público Eleitoral, além da leitura do relatório.
No
voto desta terça, Gonçalves defendeu a inelegibilidade de Bolsonaro porque
considerou que houve ganho eleitoral indevido no fato de ele ter convocado a
reunião, como presidente da República, para alegar que não seriam confiáveis os
resultados da eleição, em caso de sua derrota. O ministro destacou ainda que o
encontro com os diplomatas foi parte de uma escalada de ataques à democracia e
à Justiça Eleitoral.
“Os
ilícitos perpetrados pessoalmente pelo primeiro investigado, na condição de
presidente da República, chefe de Estado e candidato à reeleição em 2022,
esgarçaram a normalidade democrática e a isonomia”, afirmou o ministro, em seu
voto. O relator também ainda que Bolsonaro espalhou “mentiras atrozes” sobre o
TSE, fez “ameaças veladas” e instrumentalizou as Forças Armadas para investir
contra a Corte: “Flerte nada discreto com o golpismo”.
Na
quinta passada, o advogado Tarcísio Vieira, ex-ministro do TSE, tentou
convencer os magistrados que os ataques golpistas em Brasília, no dia 8 de
janeiro, nada têm a ver com o processo em curso na Corte nem foram incitados
por Bolsonaro. “A defesa entende que só pode ser apreciado o que constou no
processo até o despacho saneador em 8 de dezembro”, afirmou o advogado do
ex-presidente.
A
jornalistas, Vieira disse ainda que não havia motivo para pressa para a
conclusão do julgamento. “Não tem eleição neste ano. Tem no final do ano que
vem. O presidente não tem mandato. Ele vai ficar inelegível em relação ao quê?
A uma eleição que ocorra no ano que vem, daqui a três anos? Não há necessidade
de aceleração desse julgamento”, afirmou.
Ø Relator deixou brecha
para Bolsonaro voltar em 2030
Jair
Bolsonaro apostou tudo, inclusive o que não tinha — sorte. Gastou cerca de R$
300 bilhões além do limite orçamentário, entregou o governo ao Centrão, entrou
em confronto aberto com o Judiciário, convocou multidões às ruas e provocou
crise de hierarquia e disciplina nos quartéis.
Atravessou
o mandato de quatro anos numa espécie de cruzada contra uma miragem de fraude
eleitoral. Nunca apresentou uma única prova, mas isso, aparentemente, não tinha
a menor importância.
“Não
estava perdido em autoengano”, apontou Benedito Gonçalves, juiz-corregedor do
Tribunal Superior Eleitoral, acrescentando: “Estava fazendo política, estava
fazendo campanha. A recusa de valor ao conhecimento técnico a respeito das
urnas e a repulsa à autoridade do TSE foram manejadas como ferramentas de
engajamento”.
Gonçalves
votou na noite de terça-feira (27) pela condenação de Bolsonaro por crime de
abuso de poder em 18 de julho do ano passado, quando discursou diante de uma
plateia de diplomatas estrangeiros sobre supostas manipulações no sistema de
votação eletrônica.
Mais
uma vez, não tinha uma única prova para sustentar as acusações, mas divulgou a
versão ao vivo num comício transmitido pela televisão estatal e redes sociais,
“com uso da estrutura pública e das prerrogativas do cargo de presidente”.
Para
o juiz-corregedor, ele “é pessoalmente responsável pela preparação, execução e
transmissão do encontro e, sobretudo, pelos efeitos pragmáticos da mensagem que
deliberadamente difundiu”.
Gonçalves
isentou o candidato a vice-presidente Walter Braga Netto e propôs que Bolsonaro
fique fora de qualquer disputa eleitoral por oito anos “seguintes ao pleito de
2022”.
Isso
deixa uma fresta. Se for seguido pelos demais juízes do TSE, Bolsonaro tem
chances reais de disputar as eleições gerais de 2030, quando estará com 75 anos
de idade (Lula estará com 84). Oito anos de inelegibilidade, pela proposta de
Gonçalves, contam-se a partir do domingo 2 de outubro de 2022.
Mantida
a tradição, o primeiro turno eleitoral de 2030 acontecerá no domingo 6 outubro
– quatro dias depois do término da sentença. Até lá, Bolsonaro estará na
planície, sem sucessor ou legado. Manter aglutinados dos aliados de hoje será o
seu principal desafio. Raros são os políticos que sobreviveram ao naufrágio do
esquecimento.
Ø Bolsonarista do STF
ataca relator do TSE
O
ministro do STF André Mendonça disse hoje que espera que Jair Bolsonaro (PL)
tenha um julgamento justo no TSE. Ontem, o ministro Benedito Gonçalves votou
para tornar o ex-presidente inelegível por oito anos.
O
que ele disse:
“Vi
rapidamente pela imprensa um voto numa direção prejudicial ao ex-presidente.
Espero um julgamento justo”, disse o ministro a jornalistas durante
participação de um fórum em Portugal.
“Assim
como não queremos perseguição para um lado, não podemos por conveniência ou
circunstância, compactuarmos com atitudes que não garantam os mesmos direitos
de defesa e justiça para quem não pense ideologicamente como nós”, comentou.
Mendonça
foi indicado à Corte por Bolsonaro. Ele é ministro substituto do TSE, mas não
vota nesse julgamento. Relator no TSE votou para tornar ex-presidente
inelegível.
O
ministro Benedito Gonçalves considerou que o ex-presidente é integralmente
responsável pela reunião que fez com embaixadores no ano passado, em que mentiu
sobre as urnas eletrônicas e pôs dúvida sobre o processo eleitoral brasileiro.
Julgamento foi interrompido após o voto do ministro e será retomado na
quinta-feira (29).
Ø STF diz que
inelegibilidade de Bolsonaro é irreversível
Com
a perspectiva de derrota no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a defesa de Jair
Bolsonaro já traçou o próximo passo e vai apresentar um recurso para o Supremo
Tribunal Eleitoral (STF).
Ministros
da corte superior avaliam, no entanto, que a chance de a inelegibilidade ser
revertida, caso o TSE bata o martelo nessa decisão, é nula.
Um
dos principais argumentos dos magistrados é que o Supremo, geralmente, não
reforma decisões tomadas pelo TSE. Além disso, a tendência da maioria dos
ministros do STF é seguir o entendimento da corte eleitoral.
Três
dos sete membros do TSE são do Supremo, sendo eles Alexandre de Moraes, Cármen
Lúcia e Kassio Nunes Marques. A avaliação é que os dois primeiros votarão
contra Bolsonaro e o último, a favor do ex-presidente.
Entre
os ministros do Supremo também há a leitura de que a provável condenação e
perda de direitos políticos de Bolsonaro não trarão desgastes para a imagem do
tribunal. A avaliação é que a inelegibilidade do capitão já estaria
“precificada” pelos apoiadores do ex-presidente.
Na
noite de terça-feira, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, o ministro
Benedito Gonçalves votou pela inelegibilidade de Bolsonaro. Os demais
magistrados do TSE votarão na próxima sessão, marcada para a manhã desta
quinta-feira.
Ø Bolsonaro cogita
chapa com 2 mulheres em 2026
Com
a inelegibilidade nos calcanhares — e agora mais ainda depois do voto de ontem
de Benedito Gonçalves — Jair Bolsonaro parece ainda sem rumo sobre o seu papel
a partir de agora.
Às
vésperas da sessão que o tirará de qualquer disputa eleitoral até 2030, deu uma
entrevista a Mônica Bergamo, e não quis antecipar o nome do político a quem
apoiará à Presidência em 2026.
Deixou
no ar apenas uma dúvida ao dizer: “Tenho a bala de prata, mas não vou revelar”.
Uma frase de efeito, como tantas outras que diz. E que dá a oportunidade de
surgir quantas especulações puderem surgir.
Não
quis se comprometer com nome algum seja porque não sabe mesmo quem apoiará,
seja porque quer valorizar o seu único papel que terá na política pelos
próximos oito anos: o de cabo eleitoral.
Saiba
o porquê: Mal mudou, Bolsonaro está à procura de nova casa
Aproveitando o vácuo, um grupo em seu entorno já lançou a primeira
possibilidade. Seriam duas balas de prata. Ambas mulheres, uma para a presidência
e outra para compor como vice a chapa que disputará a próxima eleição: Tereza
Cristina e Michelle Bolsonaro.
A
ideia de juntar a ex-ministra da Agricultura e hoje senadora à ex-primeira-dama
incendeia a cabeça de alguns assessores próximos. Mas por enquanto esses e
outros nomes que possam surgir nos próximos meses não passam de balões de
ensaio.
A
outra possibilidade, muito mais óbvia, ou seja, Tarcísio de Freitas, foi
deixada de lado por enquanto por Bolsonaro, também por motivos óbvios: o
ex-presidente não quer fortalecer um nome já robusto por ser governador do
estado mais poderoso do país.
Por
enquanto, o fato mais cristalino é que Bolsonaro parece atordoado, tentando se
encaixar no figurino de político condenado à inelegibilidade por atentar contra
a democracia.
Fonte:
Agencia Estado/UOL/O Globo
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