Lula sobe tom ao
falar sobre UE-Mercosul: 'É preciso ser sério para exigir seriedade dos outros'
Presidente
indagou quem dos europeus cumpriu as metas do Acordo de Paris "mais do que
o Brasil" e questionou novamente as exigências europeias que apontam para
uma cobrança unilateral.
Nesta
terça-feira (27), durante evento de lançamento do Plano Safra, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva relembrou a ação votada pelo parlamento da França
neste mês, na qual a Casa aprovou que "não vai querer fazer acordo"
porque acha que o Brasil não pode cumprir as metas do Acordo de Paris.
Lula
então questionou "quem deles cumpriu alguma meta mais do que nós
[Brasil]?", segundo o jornal O Globo
"Vocês
viram agora que o Congresso francês aprovou que não vai querer fazer acordo com
o Mercosul porque eles acham que o Brasil pode não cumprir as metas [do Acordo]
de Paris. E quem cumpre? Quem deles cumpriu alguma meta agora mais do que nós?
Quem deles cumpriu? É importante que a gente seja sério para que a gente possa
exigir seriedade dos outros para conosco", afirmou o mandatário.
No
dia 13 de junho, a Assembleia Nacional da França estabeleceu condições para
aprovar um eventual acordo UE-Mercosul, pedindo ao presidente, Emmanuel Macron,
que faça oposição ao pacto comercial.
Os
parlamentares também propuseram uma cláusula no pacto que diga que se o Acordo
de Paris for violado, o pacto UE-Mercosul deve ser desfeito, conforme
noticiado.
Durante
sua viagem a Paris na semana passada, Lula disse que "está doido para
fechar o acordo", mas que as últimas exigências dos parceiros europeus
soavam como "ameaças".
No
início do mês, durante encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula
von der Leyen, Lula também deixou claro sua insatisfação com um trecho do
acordo que fala sobre compras governamentais, o qual permitiria o mesmo
tratamento dado a empresas brasileiras e europeias em licitações públicas
federais.
EUA perdem espaço na Amazônia com
parceria militar entre Brasil e Colômbia, diz analista
Escola
Superior de Guerra da Colômbia visita o estado do Amazonas para estreitar laços
com as Forças Armadas Brasileiras. Especialista ouvida pela Sputnik Brasil explica
os objetivos da Colômbia na Amazônia e se a influência dos EUA sobre Bogotá
representa um risco para o Brasil.
No
dia 23 de junho, integrantes da Escola Superior de Guerra da Colômbia (ESG Col)
visitaram o Comando de Fronteira Solimões, em Tabatinga (AM). Os militares
visitantes avaliaram as atividades do Batalhão e do Exército brasileiros na
região, próximo à fronteira brasileira com Colômbia e Peru, reportou o Defesa
em Foco.
Governados
por presidentes de esquerda, Brasil e Colômbia apostam na cooperação na área de
Defesa para estimular os laços bilaterais. Logo após a eleição de Luiz Inácio
Lula da Silva no Brasil, em outubro de 2022, o presidente colombiano, Gustavo
Petro, anunciou a intenção de construir “relações estreitas” com o Brasil, com
foco na defesa da Amazônia.
Para
a professora do curso de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ,
Adriana Marques, o Brasil tem muito a ganhar em uma parceria com seu vizinho
amazônico.
"O
Brasil já tem processo de cooperação em defesa com a Colômbia em estágio mais
avançado do que com os demais países amazônicos, a exemplo da Comissão
Binacional Fronteiriça [COMBIFRON]", disse Marques à Sputnik Brasil.
Criada
em 2012, a COMBIFRON tem focado seus esforços na manutenção da ordem e combate
ao crime organizado. Em 2023, no entanto, Brasil e Colômbia querem inovar ao
dar ênfase na defesa da biodiversidade e do meio ambiente.
"A
Colômbia vive um novo momento político. Durante muito tempo, suas Forças
Armadas estavam focadas na questão do narcotráfico e no combate às [Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia] FARC", notou Marques. "Nos
últimos anos, Bogotá tem investido na proteção ambiental, montando estruturas
militares e batalhões dedicados a essa questão."
O
Brasil de Lula tem o intuito de seguir a mesma linha, ao "considerar os
assuntos ambientais como tema transversal, incluído na agenda do Ministério da
Defesa", disse a professora da UFRJ.
Segundo
ela, a cooperação na área de defesa poderá, inclusive, contribuir para a
retomada de projetos como o Conselho de Defesa Sul-Americano, que funcionava
sob os auspícios da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e da Organização do
Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
• A sombra dos EUA
A
cooperação militar entre Brasil e Colômbia na Amazônia soa alarmes para
especialistas preocupados com a influência dos Estados Unidos no território da
floresta. Historicamente, as Forças Armadas dos EUA têm na Colômbia um forte
aliado no continente sul-americano.
"As
relações [entre Bogotá e Washington] remontam à década de 1940 e são muito
próximas", considerou Marques. "Os militares colombianos são ainda
mais ligados aos norte-americanos do que os brasileiros."
No
entanto, a cooperação com o Brasil diminui a influência dos EUA sob o governo
de Bogotá, o que afasta o fantasma do intervencionismo norte-americano sobre a
Amazônia.
"A
influência dos EUA na região é inversamente proporcional à cooperação dos
países amazônicos para protegerem sua soberania. A cooperação entre Colômbia e
Brasil fortalece o poder sul-americano e diminui a influência dos EUA",
concluiu a especialista.
Brasil
e Colômbia compartilham extensa fronteira amazônica, de cerca de 1.642,5 km. A
cooperação militar entre os países vizinhos é regulada pelo Acordo de
Cooperação em Matéria de Defesa, assinado em 2008, e tem na Comissão Binacional
Fronteiriça (COMBIFRON) um de seus projetos mais exitosos.
Ø
MEIO AMBIENTE: As
incertezas da COP28. Por Carlos Bocuhy
Apesar
do estado conflagrado da emergência climática global, consenso entre os
principais analistas do setor, as mesas de discussão nas conferências do clima,
como ocorreram nas últimas COPs, patinam na
instabilidade geopolítica global, alimentada pelo retorno da guerra
fria.
Ativistas
apontam que as conferências estão se tornando “palco de atitudes pouco
cooperativas, com desfile de posições defensivas e diversionistas”. Os países
ricos recuam em relação a qualquer sacrifício de recursos, do PIB ou de
autossuficiência energética. De outro lado, observa-se aumento da corrida
armamentista protagonizada pelas nações mais poderosas, preocupadas com sua
hegemonia geopolítica. Coincidentemente, as nações mais ricas são as mesmas que
figuram entre os maiores emissores de gases efeito estufa (GEE).
A
Conferência de Bonn, na Alemanha, ocorrida entre os últimos dia 5 e 15 de
junho, sinalizou claramente o que deverá ser a COP28 que ocorrerá em dezembro
nos Emirados Árabes Unidos. Bonn sedia anualmente reuniões preparatórias para
as COPs, para alinhavar posições preparando terreno para as cúpulas climáticas anuais.
Os
documentos resultantes assemelham-se mais à memória de reunião, destinados à
informalidade, relatando posições não consensuadas. Nada mais eficaz para
postergar quaisquer compromissos. A proatividade cooperativa ocorre geralmente
da parte dos países menores, enquanto os mais ricos mantêm-se na
defensiva.
Como
consequência, Bonn está legando para discussão na COP28 a íntegra dos temas da
agenda herdada das reuniões anteriores: mitigação, adaptação, perdas e danos e
transição justa.
Desenha-se
uma COP28 assemelhada a um campo minado. Além do desalento global em função da
instabilidade geopolítica, os trabalhos em Dubai serão conduzidos pelo líder
petroleiro Sultão Ahmed al-Jaber, CEO da ADNOC, maior empresa de petróleo dos
Emirados Árabes Unidos. O fato caracteriza insuperável conflito de
interesses.
Na
contramão dos objetivos das conferências climáticas, al-Jaber declarou
recentemente a intenção da ADNOC em aumentar substancialmente a exploração de
petróleo até 2030. Após a sinalização ocorrida em Bonn, a COP28 promete ruas
vazias e coreografia nas mesas. O país possui regime autoritário e repressivo
com fortes pendências na área de direitos humanos.
O
momento é grave. O prognóstico climático futuro é considerado por especialistas
como incerteza radical, que é diferente de risco, porque a série histórica não
nos fornece parâmetro nenhum para saber o que ocorrerá, mas “é possível em
cenário otimista esperar uma crise muito grave e em cenário pessimista que
vamos para a extinção”, afirma Marcelo Medeiros, da Columbia University.
A
obra Incerteza radical, dos economistas Frank Knight e John Maynard
Keynes, traz a distinção entre conceitos de risco e de incerteza. O risco
estaria restrito a situações em que possíveis desfechos futuros e suas
respectivas probabilidades fossem previamente conhecidos, enquanto a incerteza
ficaria referida a situações em que não se conhecem as probabilidades nem mesmo os
possíveis desfechos futuros
relevantes.
A
busca de maior certeza dos efeitos climáticos sobre a humanidade tem sido
objeto dos relatórios do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas
(IPCC), que agrega centenas de especialistas de mais de cem países. Os riscos
que a humanidade corre em não conter a temperatura abaixo de 1,5 ºC tem sido
objeto de tentativa de prognósticos visando mitigação e adaptação. Os
relatórios, grosso modo, afirmam que a velocidade do aquecimento está acima do
esperado e que as consequências estão se mostrando piores do que o
previsto.
As
causas são conhecidas e a resposta ao desequíbrio climático é urgente. Em maio
de 2022, o secretário-geral das Nações Unidas Antonio Guterrez dirigiu-se a
jovens universitários norte-americanos da Seton Hall University de New Jersey
convocando-os para “não trabalharem para os destruidores do clima”, em referência à
indústria do petróleo.
Guterrez
também defendeu, em Davos, a responsabilização do setor petrolífero por mentir
sobre seus impactos no clima planetário. Durante a COP27 do Egito, propôs forte
taxação sobre os polpudos lucros recheados de carbono. O setor fatura ainda
mais em função de subsídios superiores a US$ 1 trilhão anual, valor próximo ao
pleiteado desde 2009 no acordo por perdas e danos, que deveria estar sendo
aportado pelos países ricos para salvaguardar os países mais pobres.
O
transtorno de insegurança que assola países preocupados com a hegemonia
política global faz sentido quando olhamos para as consequências assemelhadas
do clima e da guerra, com fortes impactos de migração forçada. Patrícia Cohen,
correspondente do Times em Londres, afirmou em artigo recente que as
condições naturais e os campos produtivos arrasados da Ucrânia, a
infraestrutura de abastecimento, saneamento e moradias, relembram ao mundo
sobre a extensão dos impactos das guerras do século XX. A reconstrução do país
arrasado volta às mesas de discussão, com estimativa inicial do Banco Mundial
orçada em US$ 411 bilhões.
Desenha-se
novamente no cenário climático global uma reedição de Bretton Woods, ocorrida
em 1944 em New Hampshire (USA), onde se discutiu a reconstrução econômica dos
países destruídos pela Segunda Guerra Mundial. Durante os dias 23 e 24 de
junho, líderes mundiais, banqueiros e ativistas climáticos debateram em Paris
os perigos da desigualdade social no contexto das mudanças
climáticas.
O embaixador
francês no Canadá, Michel Miraillet, afirma: “Devemos juntos
impulsionar a mudança em nosso sistema financeiro global para torná-lo mais
responsivo, justo e inclusivo, e para combater as desigualdades, financiar a
transição climática e a proteção da biodiversidade e nos aproximar do alcance
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas”.
Há
também fortes apelos por medidas estruturais de contenção dos combustíveis
fósseis. “O financiamento climático é ótimo, mas se não pararmos a indústria de
combustíveis fósseis, então é apenas uma solução de Band-Aid”, afirma Mitzi Jonelle Tan, ativista de
justiça climática das Filipinas, um país regularmente atingido por tufões.
“Cresci com medo de me afogar no meu próprio quarto.”
A
perspectiva de que as negociações climáticas possam retirar subsídios avaliados
em US$ 1 trilhão anuais e taxar lucros das Big Oil está gerando reações do
setor. As mesas climáticas estão começando a ser invadidas por lobistas das
empresas petrolíferas. A última conferência do clima, a COP27 (Egito), recebeu
25% mais representantes do setor petrolífero do que a anterior.
Dentro
do contexto de instabilidade global e do absurdo subsídio para as Big Oil, a
ONU precisa imediatamente criar salvaguardas para o conflito de interesses que
se configura com a presença de representantes da indústria do petróleo nos
processos decisórios das COPs. Depois dos Emirados Árabes, que é o reino do
petróleo, seguem os trabalhos para a COP29, que será realizada na Austrália,
umbilicalmente ligada à produção de carvão, um dos piores contribuintes para o
caos climático.
Há
muitas lacunas a sanear: o cômputo das emissões nacionais necessita
urgentemente de melhorias em sua metodologia para identificar, de forma mais
precisa, o volume total das emissões globais. A contabilidade apresenta falhas
metodológicas que subestimam emissões causadas por
meios naturais como incêndios, assim como outras inconsistências para cálculo
mais preciso de emissões líquidas nacionais.
Apesar
da coreografia ensaiada dos poluidores, a reação da sociedade caminha a passos
largos. O estado de Oregon, nos Estados Unidos, processou no dia 22 de junho as
empresas Exxon Mobil, Shell e British Petroleum, entre outras, em
função da “cúpula de calor” que se abateu sobre a região em 2021 e matou 91
pessoas. O processo visa indenização de US$ 1,5 bilhão, alegando que as
alterações climáticas regionais não teriam ocorrido sem a queima de
combustíveis fósseis. Casos semelhantes tramitam nos tribunais de Nova York,
Massachussets e Rhode Island e podem ir a julgamento ainda em 2023. Em 2022,
dezesseis municípios de Porto Rico, estado norte-americano, processaram
empresas de combustíveis fósseis por danos causados por furacões em
2017.
É
preciso criticidade suficiente para fugir das armadilhas cosméticas e manter o
foco em mudanças estruturais. Thomas Friedman, jornalista do New York
Times, afirma que “se você conscientiza as pessoas, os cidadãos acabam
trocando as lâmpadas e as lixeiras. Contudo, não são as lâmpadas ou as lixeiras
que precisam ser substituídas, mas os líderes. Se os governos quiserem, a
crise climática será mitigada”.
A
COP28 dos Emirados Árabes Unidos é motivo de preocupação e incerteza. A reunião
preparatória de Bonn sequer conseguiu pautar a discussão sobre trocas de
lâmpadas, lixeiras ou líderes. No entanto, os indicadores globais, a ciência,
as mobilizações sociais e a sede por justiça apontam que, na medida que o mundo
esquentar, a fritura estará à espera das empresas de combustíveis fósseis e de
seus parceiros governamentais.
Fonte:
Sputnik Brasil/Le Monde
Nenhum comentário:
Postar um comentário