Grandes municípios
vivem movimento inédito de perda de população para entorno, revela Censo
Grandes
municípios brasileiros estão vivendo um movimento inédito de perda de população
para municípios do entorno, ou uma moderação maior no ritmo de crescimento
populacional, movimento limitado até então a pequenas cidades. Os dados são do
Censo Demográfico 2022, divulgados nesta quarta-feira, 28, pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“No contexto de crescimento populacional cada
vez mais baixo vivido pelo País, um fato a ser destacado é que o fenômeno da
redução da população, antes bastante presente entre os municípios pequenos,
passa também a ser cada vez mais observado entre os municípios maiores”,
apontou a publicação dos primeiros resultados do Censo 2022.
No
ano passado, cerca de 29,0% da população brasileira vivia nos 41 municípios com
mais de 500 mil habitantes, que representam apenas 0,74% do universo de 5.570
municípios existentes do País. No entanto, entre os dez municípios mais
populosos, cinco perderam população em relação ao Censo de 2010: Rio de Janeiro
(-1,7%), Fortaleza (-1,0%), Salvador (-9,6%), Belo Horizonte (-2,5%), Recife
(-3,2%).
“Esse
é o fato novo dessa divulgação desse Censo sim: os municípios núcleos das
concentrações urbanas, especialmente daquelas metropolitanas, perdendo
dinâmica, ou crescendo muito pouquinho, ou mesmo diminuindo população. No
Brasil isso é um fato novo, apesar de não ser um fato novo em concentrações
metropolitanas mundo afora. Mas agora essa é uma novidade desse Censo”,
ressaltou o diretor de Geociências do IBGE, Claudio Stenner.
Entre
os 319 maiores municípios do Brasil, que superam a marca de 100 mil habitantes,
39 deles apresentaram diminuição populacional entre os Censos de 2010 e 2022,
incluindo algumas capitais, “algo inédito dentro dos censos demográficos
recentes”, frisou o IBGE.
“A
gente não tem evidente no momento a explicação do por quê disso, mas parte é o
próprio esgotamento territorial mesmo do município, que já está completamente
ocupado em muitos deles. Então essa expansão da população se dá nos municípios
vizinhos e não mais, ou muito menos, no município núcleo da concentração
urbana”, avaliou Stenner.
Na
direção oposta, entre os 20 municípios com mais de 100 mil habitantes que
apresentaram maior crescimento populacional, o destaque foi Boa Vista (RR), a
única capital de Estado e único município que supera os 300 mil habitantes
nesse grupo, “crescimento influenciado pela presença de imigrantes
venezuelanos”, justificou o instituto.
Cerca
de 44,8% dos municípios brasileiros tinham até 10 mil habitantes, mas reuniam
apenas 6,3% da população do País, o equivalente a 12,8 milhões de pessoas
vivendo em cidades desse porte.
Já
as concentrações urbanas, arranjos populacionais acima de 100 mil habitantes
com forte integração da população, abrigavam 124,1 milhões de pessoas em 2022,
61,1% dos habitantes do País.
·
5%
das cidades brasileiras concentram 56% da população
Pouco
mais de 5% das cidades
brasileiras concentram mais da metade da população do país, segundo dados do
Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados
nesta quarta-feira (28). Ao todo, 115,6
milhões de pessoas, ou 56,95% da
população, vivem em apenas 319 cidades.
O
Censo do IBGE aponta que o Brasil tem 203.062.512 habitantes, o que representa um crescimento
de 6,43% da população,
em comparação com 2010. Os números representam uma fotografia do país em agosto
de 2022.
Atualmente,
o Brasil tem mais de 5,5 mil municípios, sendo que 41 deles têm mais de 500 mil
habitantes. Essa faixa concentra 58,8
milhões de pessoas. Outras 278 cidades têm entre 100 mil e 500 mil
moradores. Somadas, elas possuem uma população de 56,7 milhões de pessoas.
Por
outro lado, mais de dois terços das cidades brasileiras (69%) têm até 20 mil
habitantes. Esses municípios concentram pouco mais de 15% da população (32 milhões de
pessoas).
·
Comparação com 2010
Em
comparação com o Censo de 2010, a concentração populacional em cidades de maior
porte se manteve praticamente estável, com leve queda entre os municípios com
mais de 500 mil habitantes.
Cidades
com entre 100 mil e 500 mil habitantes passaram a concentrar mais moradores. Em
2010, tinham 25,4% da população. Já em 2022, concentravam 27,96% do total. Essa
foi a única faixa que ganhou espaço, segundo o IBGE.
A
faixa que mais perdeu espaço foi a das cidades com entre 10 mil e 20 mil
habitantes. Esses municípios representavam 10,31% da população, em 2010. Agora,
concentram 9,47% do total.
·
taxa
de crescimento anual da população brasileira atinge menor nível da história
A taxa média de crescimento anual da população
brasileira atingiu, entre os anos de 2010 e 2022, o menor nível da série
histórica iniciada há 150 anos. É o que mostram dados do Censo 2022, divulgados nesta
quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De
acordo com o levantamento, o
avanço no número de habitantes no país foi de apenas 0,52% por ano ao longo dos
últimos 12 anos. Até então, o menor crescimento anual havia sido
registrado entre os anos 2000 e 2010, quando o índice ficou em 1,17%.
Os
dados do Censo 2022 também mostram como a taxa média de crescimento anual da
população brasileira vem diminuindo ao longo das últimas décadas. Isso significa que a população brasileira tem
aumentado, mas em ritmo cada vez mais lento.
Desde
o levantamento realizado pelo IBGE entre os anos de 1950 e 1960, já foram seis quedas seguidas no índice. Em
2022, também foi a primeira vez que a taxa de crescimento populacional ao
ano foi inferior a 1% (veja no gráfico abaixo).
Pelo
menos a partir da década de 1990, a desaceleração desse indicador vem ocorrendo em todas as regiões do país. Proporcionalmente,
as que mais diminuíram seus ritmos de crescimento populacional nesse período
foram o Norte e o Sudeste.
Em
2022, a menor taxa média de crescimento anual da população foi registrada no
Nordeste do Brasil, com avanço de 0,24% no indicador, seguido pelo Sudeste, que
avançou 0,45%.
Perguntado
pelo g1 sobre os possíveis
motivos para essa desaceleração no crescimento populacional, o IBGE disse que
"os dados dessa divulgação se resumem apenas à população dos
municípios".
Afirmou
ainda que, quando forem divulgadas "outras variáveis do Censo 2022, como
os dados de migração, idade e sexo, renda e aglomerados subnormais", o
instituto terá "mais condições de explicar as variações
populacionais".
Sobre
possíveis mudanças na estimativa do IBGE para o crescimento da população
brasileira nos próximos anos, a instituição disse que essa projeção será
divulgada após análise feita com base nos dados do próprio Censo 2022. A última
divulgação do instituto prevê 228.286.347
pessoas até 2060.
Em
números absolutos, o Brasil tem,
atualmente, 203.062.512 habitantes — uma alta de 12,3 milhões em
relação aos 190.755.799 registrados em 2010.
Ø Fuga da crise e
força do agro: o que explica a migração interna
Os
números do Censo Demográfico 2022 surpreenderam: o Brasil tem cerca de 203 milhões de
habitantes, um número bem menor do que as projeções do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontavam. O país também registrou a sua menor taxa de crescimento
populacional da história, com um aumento de 0,52% por ano, em média, desde
2010.
O
detalhe que mais chama a atenção de economistas ouvidos pelo g1,
no entanto, é que essa taxa de crescimento caiu muito mais em algumas regiões
do que outras. Enquanto a taxa anual do Nordeste recuou de 1,07% em 2010 para
0,24% em 2022, por exemplo, o Centro-Oeste (região que mais cresceu) teve uma
queda menos expressiva, passando de 1,90% para 1,23%.
A
mesma dinâmica aconteceu com estados dentro de uma mesma região. Foi o caso do
Rio Grande do Sul, que cresceu apenas 1,74% em 12 anos, enquanto a população de
Santa Catarina disparou 21,78%.
O
próprio IBGE ainda deve processar mais dados coletados pelo Censo para explicar
com propriedade o que justifica a dinâmica da população nos últimos 12 anos.
Mas, segundo os especialistas, a principal razão de migração interna é a busca
de melhores condições econômicas. Mas deve-se dar destaque para dois pontos
específicos:
- os estados com
os menores crescimentos ou até quedas na população são, também, os que
mais têm passado por dificuldades financeiras; e
- os estados e
regiões com crescimentos mais expressivos têm uma forte ligação com o
agronegócio.
<<< Fuga de crises financeiras
De
acordo com Alexandre Pires, professor de economia do Ibmec, os estados com os
percentuais mais baixos de crescimento populacional são justamente aqueles que,
na última década, vêm passando por problemas econômicos.
"Há
uma relação muito direta entre os locais com os maiores desafios econômicos e a
estagnação populacional, o que mostra que as crises econômicas estão levando a
uma realocação das pessoas em território nacional, na busca por melhores
condições de trabalho e de vida", comenta Pires.
Carla
Argenta, economista-chefe da CM Capital, compartilha do mesmo ponto de vista e
destaca os exemplos do Sul e Sudeste. Embora essas tenham sido as regiões
que puxaram, em números absolutos, o crescimento populacional do Brasil, as altas foram
bem mais expressivas em alguns estados do que outros.
No
Sudeste, Carla destaca o exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro: "embora São
Paulo já seja um estado extremamente populoso, continuou ganhando habitantes, enquanto
o Rio de Janeiro teve uma estagnação."
Em
São Paulo, a população cresceu 7,65%, em mais de 3 milhões de pessoas, enquanto
no Rio o aumento foi de 0,40%, com menos de 65 mil novos habitantes.
A
economista explica que isso pode estar relacionado a uma manutenção da economia
de São Paulo como a principal do país, enquanto o Rio de Janeiro passou por
sérios problemas financeiros nos últimos anos, mostrando uma insustentabilidade
das contas públicas.
Essa
é a mesma situação, segundo Carla, de Santa Catarina (21,78%), que tem mostrado
uma "economia pujante", e Rio Grande do Sul (1,78%), que passou por
problemas semelhantes aos do Rio. A mesma tendência ocorreu em todo o Nordeste.
Neste
contexto, a economista pontua que as pessoas passam a buscar novos locais para
viverem, com custos de vida mais baixos e melhores oportunidades de receber
bons salários.
·
A força do agronegócio
Ao
mesmo tempo em que há uma estagnação em alguns estados e regiões, outros
registram um crescimento mais expressivo e o grande destaque é o Centro-Oeste,
sob forte influência do agronegócio.
As
populações de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul cresceram 20,55%, 14,55%
e 12,56%, respectivamente, todas entre as 10 maiores altas do
país. Ao todo, a região cresceu 15,86%.
Pires,
do Ibmec, destaca que o agronegócio é uma grande força econômica brasileira e
relembra que, no primeiro trimestre deste ano, o
setor disparou 21,6%,
puxando todo o resultado do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) do período.
"Ainda
falta olhar para os próximos dados do Censo que serão divulgados, mas já dá
para dizer sim que, nos últimos anos, houve uma forte migração para o
Centro-Oeste em busca dessas oportunidades com o agronegócio", afirma.
O
professor ainda pontua que "o agro se tornou muito dinâmico" e, além
do próprio Centro-Oeste, estados de outras regiões conseguiram se beneficiar
dessa influência. "Quando falamos de agro, esquecemos que ele também
envolve toda uma cadeia industrial, de processamento, e as exportações".
Nesse
sentido, Pires considera que São Paulo consegue se manter bastante relevante em
toda a cadeia econômica — e, consequentemente, atraindo habitantes — porque o
estado é "um grande corredor para o agronegócio" e é um espaço com
grande conectividade internacional. Santa Catarina vive situação semelhante.
·
Baixo crescimento populacional e impactos para a
previdência no futuro
O
IBGE ainda não divulgou os dados do Censo referentes à pirâmide etária da
população brasileira, mas Carla, da CM, afirma que já é possível perceber no país uma desaceleração da taxa de natalidade.
De
acordo com a economista, isso pode estar ligado, também, aos períodos de crise
econômica que o Brasil atravessou, que levam muitas pessoas a optarem por ter
menos filhos e adaptarem seus estilos de vidas, mas o principal motivo é a mudança geracional,
que trouxe novas perspectivas de arranjos familiares, levando a essa
redução da natalidade em todo o mundo.
O
maior problema disso, explica, está relacionado à manutenção da previdência
social. No modelo atual, as pessoas em idade produtiva trabalham e pagam por
quem já se aposentou. Mas, com a queda da natalidade, logo pode haver uma
incompatibilidade entre o número de trabalhadores e o número de aposentados.
"Os
dados escancaram que o movimento populacional está mudando e acendem um alerta
para a sustentabilidade do atual esquema de previdência que temos, já abrem
precedentes para uma nova reforma", comenta.
Fonte:
IstoÉ/IBGE/FolhaPress/g1
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