Conversas de
investigados implicam ainda mais Lira
A
investigação mais explosiva da Polícia Federal de Lula, que envolve o braço
direito do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), promete
subir ainda mais de temperatura. Quem conhece os detalhes da apuração garante
que existem áudios e mais áudios comprometedores de conversas entre os
investigados.
No
Planalto, a investigação é tratada publicamente com discrição. Mas nos
bastidores há alívio. Sem base para controlar o Congresso, o governo estava até
agora nas mãos de Lira. A PF tratou de inverter o jogo para o presidente Lula.
Ninguém
mais acredita que o presidente da Câmara voltará a ameaçar o governo, que agora
tem a carta mais alta do jogo nas mãos.
Como
informou o Blog do Fausto, a Polícia Federal (PF) enviou ao Supremo Tribunal
Federal (STF) a investigação sobre fraudes e desvios de R$ 8 milhões na compra
de kits de robótica para escolas de Alagoas com verbas do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). O inquérito atinge aliados do presidente da
Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que não foi alvo da primeira fase da
investigação.
Um
deles é o assessor Luciano Cavalcante, auxiliar de Lira que estava lotado na
liderança do PP da Câmara e foi exonerado após a operação. Os policiais
encontraram anotações manuscritas de uma série de pagamentos a “Arthur”. Os
registros somam cerca de R$ 265 mil, como revelou a revista Piauí.
• Partido de Lira faz pagamentos à
madrasta dele
Com
recursos públicos do Fundo Partidário, o diretório do PP em Alagoas paga
aluguel à madrasta do presidente da Câmara, Arthur Lira. Todos os meses, Tereza
Palmeira recebe R$ 5,6 mil da legenda, controlada pelo marido dela, o prefeito
Benedito de Lira, pai do deputado. A madrasta é proprietária do ponto comercial
onde funciona a sede estadual da sigla no bairro Jatiúca, na região central de
Maceió.
No
ano passado, o diretório alagoano do partido recebeu R$ 6,8 milhões do fundo.
Os dados foram informados pela própria sigla ao Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
Até
2 de dezembro de 2019, o imóvel era cedido gratuitamente ao partido. Naquela
data, Tereza Palmeira e o marido Biu de Lira, prefeito de Barra de São Miguel
(AL), firmaram um acordo pelo qual ela informava que deixaria de ceder o ponto.
“O cedente, por não possuir mais interesse na cessão gratuita do imóvel, decidiu
desistir da continuidade do contrato até agora vigente”, registrou o contrato.
No
dia seguinte, o casal acertou um contrato que valeria por um ano, com a
possibilidade de “ser prorrogado sucessivamente, por simples aditivo”. O acordo
foi firmado, de um lado, por Tereza e, de outro, por Biu de Lira.
Em
2020, o PP de Alagoas começou a pagar R$ 4,5 mil mensais pelo imóvel da
madrasta de Arthur Lira. O valor do aluguel foi reajustado em março de 2021,
quando o partido passou a desembolsar R$ 5,6 mil por mês. Até o fim do ano
passado, a legenda já havia desembolsado R$ 191,9 mil com os aluguéis da
madrasta.
Biu
e Tereza estão juntos há mais de duas décadas e registram o relacionamento nas
redes sociais. Em 1.º de maio, a madrasta de Lira celebrou o aniversário do
marido, a quem se refere como um “ser especial” e uma “pessoa que nos inspira
todos os dias”.
O
prefeito homenageou a mulher no início de janeiro de 2021 com uma fotografia.
“À minha querida esposa Tereza Palmeira, há tantos anos me acompanhando e me aconselhando
em todas as situações, minha eterna e devotada gratidão”, escreveu, na ocasião.
O
diretório alagoano paga os aluguéis mensais com cheques assinados por Benedito
de Lira e endereçados à mulher. O pagamento é depositado pelo secretário-geral
do PP, Tadeu das Chagas Ferreira. O partido não começou a entregar ao TSE a
prestação de contas deste ano. Portanto, não há registros de pagamento de
aluguéis em 2023.
A
reportagem buscou o endereço em cartórios de imóveis de Maceió. O cartório que
deveria ser responsável pela área onde está o escritório informou que não
localizou documentos referentes ao imóvel. Com isso, não foi possível
certificar que o imóvel alugado está em nome de Tereza nem quando ou de quem
ele foi adquirido.
O
setor financeiro do PP de Alagoas é tocado, desde de junho de 2021, por outro
parente de Arthur Lira. O tesoureiro-geral do diretório é Mac Merrhon Lira
Paes, primo do presidente da Câmara e sobrinho de Biu de Lira. A sala comercial
da agremiação fica em um dos melhores bairros da região central de Maceió. A
fachada do diretório é ornada com a identificação do partido. Na rua, há outros
endereços comerciais.
A
reportagem pediu que Arthur Lira e o diretório do PP comentassem o assunto, mas
não obteve retorno. Biu de Lira e Teresa também foram procurados e evitaram
falar.
No
domingo, 25, o Estadão revelou que Lira emprega ao menos dez parentes e aliados
em postos-chave da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Os cargos na
“estatal do Lira”, como a empresa tem sido chamada em Brasília, rendem R$ 128
mil, por mês, só em salários ao grupo. A enteado do deputado ganha por mês R$
9.255,01. Procurados, Lira e a CBTU não se manifestaram.
A
CBTU administra trens urbanos em cinco capitais e tem orçamento de R$ 1,3
bilhão. Com capilaridade e fora dos holofotes das principais empresas públicas,
a estatal costuma ser usada por políticos para acomodar aliados e levar
serviços a bases eleitorais. Lira tinha o controle dos cargos na gestão Jair
Bolsonaro (PL) e o manteve no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Assessor investigado sobre o ‘kit
robótica’ paga “farras” de Lira
Uma
lista encontrada pela Polícia Federal indica que Luciano Cavalcante, um dos
mais próximos assessores de Arthur Lira (PP-AL), realizava pagamentos
relacionados a várias instâncias da vida pessoal e política do presidente da
Câmara.
O
documento em posse dos investigadores da operação Hefesto inclui compras de
bebidas, como vinhos e uísque, gastos com preparativos de festas, consertos de
carros e até a compra de um chuveiro.
A
PF encontrou com Luciano documentos com citações a Lira e ao menos uma lista de
pagamentos atrelados ao nome de “Arthur”. A ação foi um dos desdobramentos das
investigações sobre supostos desvios em contratos para compra de kits de
robótica com dinheiro público.
O
caso foi enviado para o STF (Supremo Tribunal Federal) após a PF encontrar as
citações ao presidente de Câmara. O material apreendido, como mostrou a Folha,
lista ao menos R$ 834 mil em valores pagos de dezembro de 2022 a março de 2023.
Desse total, ao menos R$ 650 mil tem à frente do valor o nome “Arthur”.
A
lista indica que Luciano trabalhava ativamente para Lira, apesar de não estar
vinculado a seu gabinete. Ele estava lotado na Liderança do PP, mas foi
exonerado logo após ser alvo de operação da PF.
Na
primeira manifestação após a ação da PF no início do mês, Lira disse que cada
um era “responsável pelo seu CPF”.
Em
nota enviada à Folha no domingo (25), Lira respondeu por meio da sua assessoria
que as transações encontradas com Luciano e com apontamento do seu nome são
referentes a seus ganhos como parlamentar ou na atividade rural.
“Toda
movimentação financeira e pagamentos de despesas do presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira, seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria,
tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e na remuneração como deputado
federal”, afirma nota enviada pela assessoria.
Em
abril de 2022, a Folha mostrou que o governo Jair Bolsonaro (PL) destinara R$
26 milhões para sete cidades alagoanas comprarem kits robóticas apesar de
sofrerem com graves deficiências de infraestrutura. Todas as cidades tinham
contrato com a mesma empresa, a Megalic, de Edmundo Catunda e Roberta Lins,
próximos de Lira.
Os
recursos federais, liberados e transferidos em velocidade incomum, eram das
chamadas emendas de relator, parte bilionária do orçamento da União controlada
por Lira.
A
PF rastreou transferências e saques suspeitos de dinheiro dos sócios da Megalic
e também de pessoas e empresas ligadas aos dois sócios. Foi a partir deste
trabalho que a polícia chegou, por exemplo, a Luciano, conhecido em Brasília e
Alagoas por ser um dos principais auxiliares de Lira.
Nesta
segunda-feira (26), a Folha mostrou que Luciano Cavalcante e Edmundo Catunda,
da Megalic, estiveram, em 2021, juntos no FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação). O órgão do MEC (Ministério da Educação)
responsável pelas transferências de recursos sob investigação.
No
documento com lista de gastos encontrado com Luciano, há R$ 30,3 mil em
pagamentos relacionados a vinhos, cervejas, uísque, champanhe, licor e bebidas
não identificadas. No dia 31 de janeiro deste ano, consta que Luciano comprou
R$ 8.570,04 em “vinhos”, em 3 vezes no seu cartão, segundo as anotações.
Anotações
relacionadas aos últimos dias de 2022 relatam compras a ingressos e
preparativos para o Réveillon em um total de R$ 64 mil. Constam itens
descritos, por exemplo, como “Banda Reveillon” (R$ 11 mil), “Som Reveillon” (R$
3 mil), “Vinhos e Champagnes [sic]” (R$ 6.300,00), além de um “chuveiro” (R$
24,00).
Em
janeiro deste ano, há um item de R$ 144,90 relacionado à frase “Leite Bil”. O
pai do presidente da Câmara, o também político Benedito Lira (PP-AL), é
conhecido como Bil e há outras duas anotações relacionadas a ele, que seriam
pagamentos de fisioterapia.
Outra
anotação indica gastos pessoais de Lira, como uma no valor de R$ 10.378,21 para
pagamento de “impostos”, com o nome “Arthur” ao lado.
Também
consta na lista um pagamento de R$ 4.500 atrelado a “Arthur” para “revisão
Hilux”. Como mostrou a Folha, a campanha de Lira usou na eleição de 2022 uma
mesma picape Hilux utilizada para entregar dinheiro em Maceió.
No
ano passado, quando Lira disputou a eleição para renovar o mandato deputado,
Luciano cedeu um carro seu —um VW Amarok— para ser usado na campanha. Nas
anotações obtidas pelos investigadores, há descrição de gastos para revisão de
um Amarok em fevereiro deste ano.
Também
há anotação de compra de pneus para um veículo Saveiro. Lira declarou possuir
uma Saveiro em sua prestação de bens à Justiça Eleitoral nas últimas eleições.
Os
gastos relacionados à Residência Oficial do presidente da Câmara, anotados com
a sigla “RO”, somam ao menos R$ 60 mil. Em algumas delas, também consta que
Luciano teria pago com seu cartão.
Desse
total, pouco mais de R$ 24 mil foram anotados entre 29 e 30 de março deste ano.
Lira promoveu uma festa na Residência Oficial no dia 29 de março deste ano,
quando recebeu dezenas de políticos.
Dois
pagamentos têm como referência, por exemplo, as frases “Bebidas, Jantar,
Prefeitos” e, ao lado, “RO, cartão Wanderson”. Wanderson de Oliveira é o
motorista de Luciano.
A
PF também encontrou anotações de valores relacionados ao nome “Arthur” com esse
motorista, caso revelado pela revista piauí que aponta para 11 pagamentos com
total de cerca de R$ 265 mil entre abril e maio de 2023.
Os
maiores valores de operações no documento obtido pela Folha são de R$ 100 mil:
são quatro operações com esse valor cada, todas em março deste ano. Em dois
pagamentos aparece apenas o nome “Arthur” repetido duas vezes e nas outras o
nome “Arthur” vem acompanhado de “Galego Casa Fazn”.
O
advogado André Callegari, que defende Luciano, diz que não “teve acesso
integral aos autos do inquérito e diligências já realizadas, o que impede
qualquer manifestação, vez que não se sabe a motivação da operação deflagrada”.
O
monitoramento dos investigadores chegou a um casal de supostos operadores. A PF
filmou saques de dinheiro e entrega dos valores em várias cidades. Em 17 de
maio deste ano, os policiais filmaram uma entrega de dinheiro em um hotel de
Brasília utilizado por Luciano.
A
sequência de imagens obtidas pelos investigadores mostra desde a saída de
Luciano do hotel, o retorno de seu motorista com o Corolla utilizado por ele, a
chegada do casal e a entrega dentro de valores dentro da garagem.
Antes,
em janeiro, os investigadores chegaram a Luciano após o casal apontado como
entregadores de dinheiro ir para capital alagoana. Em Maceió, eles estiveram na
casa de Luciano e utilizaram a picape Hilux.
O
veículo está em nome de Murilo Nogueira Júnior, também alvo da investigação,
mas fica na residência de Luciano na capital alagoana.
Luciano
ainda integrava grupo de WhatsApp do qual fazia parte a sócia da Megalic. A
apuração policial ainda descobriu que o dono da empresa repassou R$ 550 mil à
construtora da casa de Luciano.
Fonte:
FolhaPress/Agencia Estado
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