quarta-feira, 28 de junho de 2023

Conversas de investigados implicam ainda mais Lira

A investigação mais explosiva da Polícia Federal de Lula, que envolve o braço direito do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), promete subir ainda mais de temperatura. Quem conhece os detalhes da apuração garante que existem áudios e mais áudios comprometedores de conversas entre os investigados.

No Planalto, a investigação é tratada publicamente com discrição. Mas nos bastidores há alívio. Sem base para controlar o Congresso, o governo estava até agora nas mãos de Lira. A PF tratou de inverter o jogo para o presidente Lula.

Ninguém mais acredita que o presidente da Câmara voltará a ameaçar o governo, que agora tem a carta mais alta do jogo nas mãos.

Como informou o Blog do Fausto, a Polícia Federal (PF) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a investigação sobre fraudes e desvios de R$ 8 milhões na compra de kits de robótica para escolas de Alagoas com verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O inquérito atinge aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que não foi alvo da primeira fase da investigação.

Um deles é o assessor Luciano Cavalcante, auxiliar de Lira que estava lotado na liderança do PP da Câmara e foi exonerado após a operação. Os policiais encontraram anotações manuscritas de uma série de pagamentos a “Arthur”. Os registros somam cerca de R$ 265 mil, como revelou a revista Piauí.

•        Partido de Lira faz pagamentos à madrasta dele

Com recursos públicos do Fundo Partidário, o diretório do PP em Alagoas paga aluguel à madrasta do presidente da Câmara, Arthur Lira. Todos os meses, Tereza Palmeira recebe R$ 5,6 mil da legenda, controlada pelo marido dela, o prefeito Benedito de Lira, pai do deputado. A madrasta é proprietária do ponto comercial onde funciona a sede estadual da sigla no bairro Jatiúca, na região central de Maceió.

No ano passado, o diretório alagoano do partido recebeu R$ 6,8 milhões do fundo. Os dados foram informados pela própria sigla ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Até 2 de dezembro de 2019, o imóvel era cedido gratuitamente ao partido. Naquela data, Tereza Palmeira e o marido Biu de Lira, prefeito de Barra de São Miguel (AL), firmaram um acordo pelo qual ela informava que deixaria de ceder o ponto. “O cedente, por não possuir mais interesse na cessão gratuita do imóvel, decidiu desistir da continuidade do contrato até agora vigente”, registrou o contrato.

No dia seguinte, o casal acertou um contrato que valeria por um ano, com a possibilidade de “ser prorrogado sucessivamente, por simples aditivo”. O acordo foi firmado, de um lado, por Tereza e, de outro, por Biu de Lira.

Em 2020, o PP de Alagoas começou a pagar R$ 4,5 mil mensais pelo imóvel da madrasta de Arthur Lira. O valor do aluguel foi reajustado em março de 2021, quando o partido passou a desembolsar R$ 5,6 mil por mês. Até o fim do ano passado, a legenda já havia desembolsado R$ 191,9 mil com os aluguéis da madrasta.

Biu e Tereza estão juntos há mais de duas décadas e registram o relacionamento nas redes sociais. Em 1.º de maio, a madrasta de Lira celebrou o aniversário do marido, a quem se refere como um “ser especial” e uma “pessoa que nos inspira todos os dias”.

O prefeito homenageou a mulher no início de janeiro de 2021 com uma fotografia. “À minha querida esposa Tereza Palmeira, há tantos anos me acompanhando e me aconselhando em todas as situações, minha eterna e devotada gratidão”, escreveu, na ocasião.

O diretório alagoano paga os aluguéis mensais com cheques assinados por Benedito de Lira e endereçados à mulher. O pagamento é depositado pelo secretário-geral do PP, Tadeu das Chagas Ferreira. O partido não começou a entregar ao TSE a prestação de contas deste ano. Portanto, não há registros de pagamento de aluguéis em 2023.

A reportagem buscou o endereço em cartórios de imóveis de Maceió. O cartório que deveria ser responsável pela área onde está o escritório informou que não localizou documentos referentes ao imóvel. Com isso, não foi possível certificar que o imóvel alugado está em nome de Tereza nem quando ou de quem ele foi adquirido.

O setor financeiro do PP de Alagoas é tocado, desde de junho de 2021, por outro parente de Arthur Lira. O tesoureiro-geral do diretório é Mac Merrhon Lira Paes, primo do presidente da Câmara e sobrinho de Biu de Lira. A sala comercial da agremiação fica em um dos melhores bairros da região central de Maceió. A fachada do diretório é ornada com a identificação do partido. Na rua, há outros endereços comerciais.

A reportagem pediu que Arthur Lira e o diretório do PP comentassem o assunto, mas não obteve retorno. Biu de Lira e Teresa também foram procurados e evitaram falar.

No domingo, 25, o Estadão revelou que Lira emprega ao menos dez parentes e aliados em postos-chave da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Os cargos na “estatal do Lira”, como a empresa tem sido chamada em Brasília, rendem R$ 128 mil, por mês, só em salários ao grupo. A enteado do deputado ganha por mês R$ 9.255,01. Procurados, Lira e a CBTU não se manifestaram.

A CBTU administra trens urbanos em cinco capitais e tem orçamento de R$ 1,3 bilhão. Com capilaridade e fora dos holofotes das principais empresas públicas, a estatal costuma ser usada por políticos para acomodar aliados e levar serviços a bases eleitorais. Lira tinha o controle dos cargos na gestão Jair Bolsonaro (PL) e o manteve no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

 

       Assessor investigado sobre o ‘kit robótica’ paga “farras” de Lira

 

Uma lista encontrada pela Polícia Federal indica que Luciano Cavalcante, um dos mais próximos assessores de Arthur Lira (PP-AL), realizava pagamentos relacionados a várias instâncias da vida pessoal e política do presidente da Câmara.

O documento em posse dos investigadores da operação Hefesto inclui compras de bebidas, como vinhos e uísque, gastos com preparativos de festas, consertos de carros e até a compra de um chuveiro.

A PF encontrou com Luciano documentos com citações a Lira e ao menos uma lista de pagamentos atrelados ao nome de “Arthur”. A ação foi um dos desdobramentos das investigações sobre supostos desvios em contratos para compra de kits de robótica com dinheiro público.

O caso foi enviado para o STF (Supremo Tribunal Federal) após a PF encontrar as citações ao presidente de Câmara. O material apreendido, como mostrou a Folha, lista ao menos R$ 834 mil em valores pagos de dezembro de 2022 a março de 2023. Desse total, ao menos R$ 650 mil tem à frente do valor o nome “Arthur”.

A lista indica que Luciano trabalhava ativamente para Lira, apesar de não estar vinculado a seu gabinete. Ele estava lotado na Liderança do PP, mas foi exonerado logo após ser alvo de operação da PF.

Na primeira manifestação após a ação da PF no início do mês, Lira disse que cada um era “responsável pelo seu CPF”.

Em nota enviada à Folha no domingo (25), Lira respondeu por meio da sua assessoria que as transações encontradas com Luciano e com apontamento do seu nome são referentes a seus ganhos como parlamentar ou na atividade rural.

“Toda movimentação financeira e pagamentos de despesas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria, tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e na remuneração como deputado federal”, afirma nota enviada pela assessoria.

Em abril de 2022, a Folha mostrou que o governo Jair Bolsonaro (PL) destinara R$ 26 milhões para sete cidades alagoanas comprarem kits robóticas apesar de sofrerem com graves deficiências de infraestrutura. Todas as cidades tinham contrato com a mesma empresa, a Megalic, de Edmundo Catunda e Roberta Lins, próximos de Lira.

Os recursos federais, liberados e transferidos em velocidade incomum, eram das chamadas emendas de relator, parte bilionária do orçamento da União controlada por Lira.

A PF rastreou transferências e saques suspeitos de dinheiro dos sócios da Megalic e também de pessoas e empresas ligadas aos dois sócios. Foi a partir deste trabalho que a polícia chegou, por exemplo, a Luciano, conhecido em Brasília e Alagoas por ser um dos principais auxiliares de Lira.

Nesta segunda-feira (26), a Folha mostrou que Luciano Cavalcante e Edmundo Catunda, da Megalic, estiveram, em 2021, juntos no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). O órgão do MEC (Ministério da Educação) responsável pelas transferências de recursos sob investigação.

No documento com lista de gastos encontrado com Luciano, há R$ 30,3 mil em pagamentos relacionados a vinhos, cervejas, uísque, champanhe, licor e bebidas não identificadas. No dia 31 de janeiro deste ano, consta que Luciano comprou R$ 8.570,04 em “vinhos”, em 3 vezes no seu cartão, segundo as anotações.

Anotações relacionadas aos últimos dias de 2022 relatam compras a ingressos e preparativos para o Réveillon em um total de R$ 64 mil. Constam itens descritos, por exemplo, como “Banda Reveillon” (R$ 11 mil), “Som Reveillon” (R$ 3 mil), “Vinhos e Champagnes [sic]” (R$ 6.300,00), além de um “chuveiro” (R$ 24,00).

Em janeiro deste ano, há um item de R$ 144,90 relacionado à frase “Leite Bil”. O pai do presidente da Câmara, o também político Benedito Lira (PP-AL), é conhecido como Bil e há outras duas anotações relacionadas a ele, que seriam pagamentos de fisioterapia.

Outra anotação indica gastos pessoais de Lira, como uma no valor de R$ 10.378,21 para pagamento de “impostos”, com o nome “Arthur” ao lado.

Também consta na lista um pagamento de R$ 4.500 atrelado a “Arthur” para “revisão Hilux”. Como mostrou a Folha, a campanha de Lira usou na eleição de 2022 uma mesma picape Hilux utilizada para entregar dinheiro em Maceió.

No ano passado, quando Lira disputou a eleição para renovar o mandato deputado, Luciano cedeu um carro seu —um VW Amarok— para ser usado na campanha. Nas anotações obtidas pelos investigadores, há descrição de gastos para revisão de um Amarok em fevereiro deste ano.

Também há anotação de compra de pneus para um veículo Saveiro. Lira declarou possuir uma Saveiro em sua prestação de bens à Justiça Eleitoral nas últimas eleições.

Os gastos relacionados à Residência Oficial do presidente da Câmara, anotados com a sigla “RO”, somam ao menos R$ 60 mil. Em algumas delas, também consta que Luciano teria pago com seu cartão.

Desse total, pouco mais de R$ 24 mil foram anotados entre 29 e 30 de março deste ano. Lira promoveu uma festa na Residência Oficial no dia 29 de março deste ano, quando recebeu dezenas de políticos.

Dois pagamentos têm como referência, por exemplo, as frases “Bebidas, Jantar, Prefeitos” e, ao lado, “RO, cartão Wanderson”. Wanderson de Oliveira é o motorista de Luciano.

A PF também encontrou anotações de valores relacionados ao nome “Arthur” com esse motorista, caso revelado pela revista piauí que aponta para 11 pagamentos com total de cerca de R$ 265 mil entre abril e maio de 2023.

Os maiores valores de operações no documento obtido pela Folha são de R$ 100 mil: são quatro operações com esse valor cada, todas em março deste ano. Em dois pagamentos aparece apenas o nome “Arthur” repetido duas vezes e nas outras o nome “Arthur” vem acompanhado de “Galego Casa Fazn”.

O advogado André Callegari, que defende Luciano, diz que não “teve acesso integral aos autos do inquérito e diligências já realizadas, o que impede qualquer manifestação, vez que não se sabe a motivação da operação deflagrada”.

O monitoramento dos investigadores chegou a um casal de supostos operadores. A PF filmou saques de dinheiro e entrega dos valores em várias cidades. Em 17 de maio deste ano, os policiais filmaram uma entrega de dinheiro em um hotel de Brasília utilizado por Luciano.

A sequência de imagens obtidas pelos investigadores mostra desde a saída de Luciano do hotel, o retorno de seu motorista com o Corolla utilizado por ele, a chegada do casal e a entrega dentro de valores dentro da garagem.

Antes, em janeiro, os investigadores chegaram a Luciano após o casal apontado como entregadores de dinheiro ir para capital alagoana. Em Maceió, eles estiveram na casa de Luciano e utilizaram a picape Hilux.

O veículo está em nome de Murilo Nogueira Júnior, também alvo da investigação, mas fica na residência de Luciano na capital alagoana.

Luciano ainda integrava grupo de WhatsApp do qual fazia parte a sócia da Megalic. A apuração policial ainda descobriu que o dono da empresa repassou R$ 550 mil à construtora da casa de Luciano.

 

Fonte: FolhaPress/Agencia Estado

 

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