quarta-feira, 28 de junho de 2023

Bolsonaro pede para si benefício que negou a Lula

Desde que passou a ser alvo de uma ação que pode torná-lo inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro deu uma série de declarações sobre o assunto, passando pela descrença sobre ter seus direitos políticos cassados, por reclamações sobre estar sendo injustiçado e, mais recentemente, flertando com a aceitação de um possível desfecho negativo aos seus planos de concorrer ao cargo novamente em 2026.

O TSE volta a se reunir nesta quinta-feira para julgar o processo que pode determinar a inelegibilidade do ex-presidente. O colegiado vai analisar uma ação movida pelo PDT por questionamentos feitos pelo ex-mandatário ao processo eleitoral, sem apresentar provas, em uma reunião com embaixadores realizada em julho de 2022.

Confira as principais falas de Bolsonaro sobre a possibilidade de ficar inelegível:

•        14 de março

Ainda nos Estados Unidos, ele reconheceu a possibilidade de ficar fora de eleições por oito anos:

—Infelizmente, em alguns casos no Brasil você não precisa ter culpa para ser condenado. Então existe essa possibilidade de inelegibilidade, sim. A questão de prisão, só se for uma arbitrariedade.

•        30 de março

Em entrevista à Jovem Pan, disse que não considerava a hipótese de avanço do processo:

—O advogado do partido está tratando desse assunto. Eu não vejo materialidade em nada. A ação mais forte contra mim é uma reunião com embaixadores em meados do ano passado. Por quê? A política para tratar com embaixadores é prerrogativa minha. Não vejo motivo para me julgar inelegível por isso.

•        14 de junho

Às vésperas do julgamento, Bolsonaro disse estar preparado para “aconteça o que acontecer”. Na ocasião, ele participou do evento de filiação do ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga ao PL.

—A gente sabe como é a política brasileira, e já sabemos também como é a Justiça aqui no Brasil. Então a gente se prepara para que aconteça o que acontecer, a gente se prepara para buscar alternativas. Acredito em Deus, acredito neste país.

•        21 de junho

Na véspera do julgamento, o ex-presidente expressou um tom de desânimo e reconheceu que as chances de ser condenado são grandes.

—Hoje em dia, é quase uma unanimidade que vou perder a ação. Essa é uma verdade— disse à CNN Brasil.

•        22 de junho

No dia seguinte, chamou de “afronta” a possibilidade de ficar inelegível:

—Na minha idade, eu gostaria de continuar 100% ativo na política. Tirando os seus direitos políticos, que, ao meu ver, é uma afronta, você perde um pouquinho desse gás— afirmou à Folha de S. Paulo.

•        23 de junho

Na sexta-feira, em Porto Alegre, Bolsonaro afirmou que não quer perder os direitos políticos e levantou a hipótese de se candidatar novamente:

—Lógico que eu não quero perder meus direitos políticos. Até eu falei outro dia, né: estou pensando em ser candidato a vereador no Rio de Janeiro. Qual o problema? Não há demérito nenhum. Até vou me sentir jovem, porque geralmente a vereança é para a garotada, para os mais jovens, é o primeiro degrau da política. Em 2026, se estiver vivo até lá, e também elegível, se essa for a vontade do povo, a gente vai. Disputo novamente a presidência.

•        25 de junho

No domingo, Bolsonaro chamou o julgamento de “politiqueiro”, mas ponderou que um possível resultado negativo “não será o fim do mundo

—É um julgamento politiqueiro, não era nem para ter sido recepcionada a ação. Por ter me reunido com embaixadores. É brincadeira. E tem uma jurisprudência de 2017, julgamento da chapa Dilma-Temer, que simplesmente deixou de existir agora para esse julgamento meu. Então, a gente vai ver o que acontece, eu não vou adiantar o resultado aqui, mas não será o fim do mundo — afirmou à Rádio Bandeirantes.

•        26 de junho

Na segunda-feira, o ex-presidente afirmou ser “injusto” alegar que ele atacou a democracia ao reunir embaixadores em Brasília para deslegitimar o processo eleitoral brasileiro.

— É justo cassar os direitos políticos de alguém que se reuniu com embaixadores? Não é justo falar “atacou a democracia”. Ninguém é insubstituível. O que acontece no momento é que tem muita gente aqui, muito mais competente do que eu, mas não tem o conhecimento nacional que eu tenho. E eu consegui o carinho de uma parte considerável da população — disse.

 

       Bolsonaro diz que ser presidente facilitaria dar golpe

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu que a tendência é se tornar inelegível no julgamento que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma nesta quinta-feira. O colegiado volta a analisar uma ação movida pelo PDT por questionamentos feitos pelo ex-mandatário ao processo eleitoral, sem apresentar provas, em uma reunião com embaixadores realizada em julho de 2022.

Em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Bolsonaro diz nunca ter atacado o sistema de votação do país. Segundo ele, adversários querem puni-lo “pelo conjunto da obra”.

— A tendência, o que todo o mundo diz, é que eu vou me tornar inelegível. Eu não vou me desesperar. O que que eu posso fazer? Eu sou imbrochável até que se prove o contrário. Vou continuar fazendo a minha parte — disse.

Na entrevista, Bolsonaro considerou “absurdo” a inclusão, na ação do TSE, dos acontecimentos de 8 de janeiro, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, e negou ter incentivado um golpe de Estado para continuar no poder.

— Se fala em golpe no Brasil desde 1964. Não é de agora. Sempre alguém fala que tem que ter medida de força, tem que ter não sei o que lá. Mas, quando acabaram as eleições, eu mergulhei. Se alguém acreditou [que seria dado um golpe]… Porque qualquer medida de força, você tem que pensar no “after day” [no dia seguinte ao golpe]. A coisa mais fácil é tomar alguma coisa [o poder] estando no governo. Mas e o “after day”? — disse o ex-presidente.

Na entrevista, Bolsonaro chamou de “imbecil” o trio acusado de planejar um atentado com explosivo perto do aeroporto de Brasília e disse nunca ter apoiado a depredação do patrimônio público na capital federal. A despeito das conclusões da Procuradoria-Geral da República, que denunciou 1.390 bolsonaristas pelo 8 de janeiro, ex-presidente atribuiu os atos de vandalismo a apoiadores do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

— Tem certos absurdos. Botaram na ação do TSE até o 8 de janeiro, que ainda está em investigação, inclusive em uma CPI. Agora na Rússia teve um levante, do grupo Wagner. Foram dezenas de milhares de homens armados para um lado e para o outro, com tanques nas ruas. No Brasil o golpe foi de senhorinhas com uma Bíblia debaixo do braço. De senhorzinhos com a bandeira do Brasil nas costas — destacou Bolsonaro.

Questionado sobre a reportagem do Financial Times sobre uma atuação do governo americano, nos bastidores, em defesa da democracia do Brasil, Bolsonaro disse que nunca recebeu recado e que falava em voto impresso desde 2010. O ex-presidente negou que a reunião com os embaixadores, pela qual agora é alvo da ação no TSE, tivesse como objetivo apontar a possibilidade de fraude na eleição.

— Quando me reuni com os embaixadores, falei que deveríamos manter um sistema [eleitoral] transparente. Porque a pior coisa que pode acontecer é acabar uma eleição e existir uma suspeita. Ninguém falava em fraude — pountou o ex-presidente, que voltou a lançar dúvidas sobre a atuação de ministros da Corte eleitoral durante o pleito. — Agora, qual foi o comportamento do Tribunal Superior Eleitoral durante as eleições?

Na entrevista, Bolsonaro disse que o ministro Alexandre de Moraes “teria já enquadrado todo mundo para não pedir vista” da ação do TSE.

Ao ser perguntado se ainda achava que teria ganhado as eleições do ano passado, Bolsonaro disse que o caso é “página virada”. Ao jornal, o ex-presidente disse que “não vai se desesperar” com o resultado do julgamento no TSE e que será possível reverter um eventual condenação.

— Olha, eu conheço a composição das cortes superiores. Que é possível, é. Agora, quando a gente fica sabendo que uma autoridade importante —usando um pleonasmo abusivo aí—bate no peito e fala: “Salvamos a democracia ano passado”… se salvou foi com interferência.

Bolsonaro disse à “Folha de S. Paulo” que pode deixar o país após o julgamento do TSE.

— Eu tenho um convite para trabalhar nos Estados Unidos. Lá vivem, eu calculo, 1.4 milhões de brasileiros. Não sei o número exato. Fui convidado para ser garoto propaganda lá. De venda de imóveis — contou Bolsonaro, que relatou ter movimentado estabelecimentos comerciais de Orlando, na Flórida, quando lá esteve, em janeiro. — Fui numa hamburgueria e encheu de gente. Eu enchi a pança e não paguei nada. [risos]. O meu cachê foi comer de graça.

No entanto, ele disse que pretende continuar na vida pública, diante do que viu, em março, durante o Conservative Political Action Conference (CPAC), evento que reúne lideranças da direta global.

— Eram mais de mil pessoas, o Trump estava. Quem ficou na frente inclusive pagou US$ 5.000. Eu não paguei porra nenhuma [risos]. Falei de improviso. Daí um macho lá gritou: “Eu te amo”. Na terceira vez que ele gritou, eu falei: “Eu sou o ex mais amado do Brasil, sabe” [risos].

Durante a entrevista, Bolsonaro diz que a mulher, Michelle Bolsonaro, tem feito “um trabalho fantástico” e “aprendeu” a discursar em eventos políticos.

— Eu não conhecia esse lado dela. Na convenção do PL no ano passado [Michelle discursou], todo mundo se assustou. Ela não foi treinada, nada — afirmou o ex-presidente, que comentou a possibilidade de Michelle ser candidata. — Se ela quiser, ela pode sair candidata. Mas o que eu converso com a Michelle é que ela não tem experiência. Para ser prefeito de cidade pequena já não é fácil. Lidar com 594 parlamentares [entre deputados e senadores] não é fácil também. Eu acredito que ela não tem experiência para isso. Mas é excelente cabo eleitoral.

Bolsonaro também comentou o processo sobre as despesas de Michelle, que eram pagas pelo coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência. Ele disse que a mulher sacava dinheiro da conta pessoal dele e rebateu por que não fazia os pagamentos diretamente.

— É manicure, é não sei o quê, umas frescuradas todas. Então era para não entrar meu nome lá e não ficar toda hora usando o meu cartão. Daqui a pouco eu tô pagando algo para um cara que tem problema. Se eu boto Pix para um cara que cuida de cachorro, por exemplo, mas está também na boca de fumo? — disse.

Questionado sobre a possibilidade de candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), Bolsonaro disse que o ex-ministro é “excelente gestor”, mas evitou firmar apoio a ele.

— Pode ser. Teria que conversar com ele — destacou. — Por enquanto… Eu tenho a bala de prata, mas não vou te dizer, para você não ficar perturbando, no bom sentido. Eu tenho a bala de prata, mas não vou revelar.

 

       Bolsonaro diz que reuniu embaixadores para “aperfeiçoar” eleições

 

Um dia antes da sessão do Tribunal Superior Eleitoral que pode decidir seu futuro político, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, esperar um “julgamento justo” da Corte, que pode torná-lo inelegível por oito anos. Ele também negou que, em 18 de julho do ano passado, tenha reunido embaixadores no Palácio do Planalto para atacar o sistema eleitoral, as urnas, o TSE e a democracia — razão da ação julgada pelo tribunal. Segundo ele, o objetivo do evento com os representantes diplomáticos era para o “aperfeiçoamento” de todo o processo.

“É justo cassar os direitos políticos de alguém que reuniu embaixadores? Não é justo falar em atacar a democracia. Aperfeiçoamento, buscar colocar camadas de proteção, é bom para a democracia. Não podemos aceitar passivamente no Brasil que possíveis críticas ou sugestões de aperfeiçoamento do sistema eleitoral seja tido como ataque à democracia”, disse, após o encontro com deputados federais e estaduais do PL. Da reunião na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), para fechar a estratégia do partido nas eleições municipais de 2024, também participou o presidente do partido, Valdemar Costa Neto.

Bolsonaro cobrou que o TSE dê a ele uma decisão na linha daquela que, seis anos atrás, julgou a impugnação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. “Esperamos que sigam a jurisprudência de 2017, onde não se aceitou agregar mais nenhuma prova sobre a original. Espero que isso aconteça”, afirmou, referindo-se à minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, agregada ao processo.

Na semana passada, o ex-presidente havia afirmado esperar que o ministro Raul Araújo peça vista da ação, ou seja, mais tempo para analisar o processo. Se isso acontecer, os autos devem ser devolvidos em até 60 dias. Caso esse prazo seja ultrapassado, a ação deve ser julgada automaticamente, de acordo com as regras do tribunal.

O TSE começa, nesta terça-feira, a votar a ação que acusa Bolsonaro de abuso político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação do governo. Na última quinta-feira, foi lido o relatório do ministro Benedito Gonçalves, além de ter havido a manifestação dos advogados de acusação e defesa.

O Ministério Público Eleitoral (MPE) se posicionou pela condenação do ex-presidente, apontando que “estão estampados” elementos que justificam afastar Bolsonaro das eleições, como desvio de finalidade, busca de vantagem na disputa eleitoral de 2022, além da gravidade da conduta. O processo é movido pelo PDT.

A sessão está prevista para começar às 19h. Depois da votação de Benedito Gonçalves, votam os ministros Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques, André Ramos Tavares, Cármen Lúcia, Nunes Marques e, por último, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

Para a advogada Paula Bernardelli, especialista em direito eleitoral, a situação de Bolsonaro é delicada por conta das falas do ex-presidente na reunião com os embaixadores. “As manifestações já eram questionáveis do ponto de vista legal, considerando que o ex-presidente utilizava espaços e recursos públicos, bem como sua função como chefe de Estado para disseminar a ideia de descredibilidade do sistema. Além de inflamar seus apoiadores contra um eventual resultado desfavorável nas urnas”, analisou.

Já a advogada eleitoral Izabelle Paes considera claro o uso indevido da máquina pública, na reunião com os embaixadores, para a promoção política. “Logicamente que, em termos práticos, a disputa nunca será igualitária em absoluto. Contudo, o uso da estrutura de governo em favor de um candidato não pode ser admitida. Daí a importância das ações voltadas a coibir o abuso de poder”, ressaltou.

 

Fonte: O Globo/Metrópoles

 

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