quarta-feira, 28 de junho de 2023

Guerra na Ucrânia: Putin está disposto a jogar 'roleta russa nuclear'?

A guerra da Ucrânia vai se tornar um guerra nuclear?

Muito antes do motim do grupo Wagner, que tomou o noticiário no fim de semana, essa já era a pergunta mais recorrente em todo o mundo desde que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou a invasão em grande escala na Ucrânia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não descarta que isso possa acontecer.

"Eu me preocupo com Putin usando armas nucleares táticas", disse o presidente americano nesta semana. Ele acredita que o perigo é "real".

Não sei se o presidente Biden lê a revista russa Profile - mas ela serve para entender as raízes dessa preocupação.

Na semana passada, o periódico publicou um artigo do proeminente especialista em política externa e de defesa da Rússia, Sergei Karaganov, que também é presidente honorário do Presidium do Conselho de Política Externa e de Defesa. Karaganov é próximo a muitos generais poderosos da Rússia.

Para ele, "para frear o Ocidente, a Rússia terá que tornar a discussão sobre armas um argumento convincente novamente, diminuindo o limite para o uso dessas armas".

"O inimigo deve saber que estamos prontos para desferir um ataque preventivo em retaliação a todos os seus atos de agressão atuais e passados, a fim de evitar uma guerra termonuclear global. Mas e se eles não recuarem? Nesse caso, teremos que atingir um monte de alvos em vários países para trazer à razão aqueles que perderam a cabeça”, escreveu Karaganov.

Desde o ano passado, o mundo se acostumou com Moscou falando novamente sobre armas nucleares.

E o presidente Putin confirmou que a Rússia já estacionou um primeiro lote de armas nucleares táticas na Bielorrússia.

Segundo ele, o objetivo do movimento é lembrar qualquer um que "pensa em nos infligir uma derrota estratégica".

Mas e discutir as vantagens de um ataque nuclear preventivo no Ocidente? Esse é um nível totalmente novo.

Claramente, nem todos na Rússia concordam com essa ideia.

Uma edição recente do jornal econômico Kommersant veiculou um artigo intitulado "A guerra nuclear é uma maneira ruim de resolver problemas".

O texto sugere que o debate interno na Rússia sobre o uso de armas nucleares na guerra na Ucrânia já começou.

·         Consequências imprevistas

Escrito por outro grupo de especialistas em política externa e de defesa de Moscou, o artigo do Kommersant explica por que eles acreditam que Sergei Karaganov estava "perigosamente errado."

"A ideia de que o uso de armas nucleares pode interromper a escalada e resolver problemas estratégicos que os meios militares convencionais falharam é extremamente duvidosa e, provavelmente, equivocada", escrevem Alexei Arbatov, Konstantin Bogdanov e Dmitry Stefanovich, membros do Centro de Segurança Internacional — parte de um think tank da Academia Russa de Ciências.

"Na história moderna, há muitos exemplos de operações militares que levaram a consequências imprevistas. Mas elas ocorreram sem o uso de armas nucleares. Um ataque nuclear elevaria o conflito a um nível totalmente novo de imprevisibilidade e aumentaria muitas vezes as apostas do confronto”, escreveram.

"As ruínas radioativas de uma 'roleta nuclear' provavelmente são a pior base para um futuro brilhante. Os fãs de ideias sensacionalistas e jogos de azar perigosos devem se lembrar disso."

O que nos leva a outra pergunta que temos feito desde o início da guerra da Rússia na Ucrânia: o que está acontecendo?

É possível que a proposta de Karaganov para um ataque nuclear preventivo tenha sido tão chocante que outros acadêmicos russos acharam que não podiam ficar calados.

Em caso afirmativo, isso mostra que, embora o cenário da mídia russa seja agora fortemente controlado pelo Estado, mesmo dentro dos limites atuais, ainda há espaço em algumas plataformas para debate e discussão sobre determinados tópicos. Especialmente tópicos cruciais como a guerra nuclear.

Ou pode ser que todo esse debate seja planejado para chamar a atenção do Ocidente, para fazer o presidente Putin parecer um "bom policial".

Afinal, o próprio líder do Kremlin não pediu um ataque nuclear preventivo contra o Ocidente. E assim — continua o argumento — é melhor sentar e fazer as pazes com ele, antes que os generais linha-dura pressionem o botão nuclear.

Uma coisa é certa: com a retórica anti-Ocidente crescendo na Rússia e com a contra-ofensiva do Exército ucraniano em andamento, a questão nuclear não vai desaparecer do debate tão cedo.

 

Ø  EUA não veem informações indicando a intenção da Rússia de usar armas nucleares

 

Os Estados Unidos não veem nenhuma informação que indique a intenção da Rússia de usar armas nucleares na Ucrânia, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, em um briefing nesta segunda-feira (26).

"Estamos observando a situação de perto e não vemos nenhuma evidência de que o senhor [Vladimir] Putin pretenda usar armas nucleares na Ucrânia ou em qualquer outro lugar", disse Kirby.

Ele se recusou a responder à questão hipotética se os eventos de sábado (24) aumentaram o risco de um conflito nuclear. Kirby ressaltou que Washington está observando de perto a situação na Rússia, mas considera isso um assunto interno e não interfere nele.

Sobre isso também falou ontem o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em entrevista à RT. Ele destacou, após conversa com embaixadora dos EUA em Moscou, Lynne Tracy, que "foi especialmente enfatizado: os EUA assumem que tudo é um assunto interno da Federação da Rússia".

Na noite de sábado (24) na cidade russa em Rostov-no-Don, a sede do Distrito Militar do Sul foi tomada pelas forças e equipamentos do Grupo Wagner. Grupos de homens armados atravessaram a cidade, e bloqueios de estradas foram montados nas entradas e saídas.

Isso aconteceu no contexto das declarações de Yevgeny Prigozhin sobre os supostos ataques de mísseis e bombas das Forças Armadas russas contra os campos do Grupo Wagner, tendo tanto o Ministério da Defesa da Rússia quanto o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia negado isso.

O presidente russo, Vladimir Putin, fez um discurso televisionado à nação no sábado (24), no qual descreveu as ações do Grupo Wagner como um motim armado e traição, e prometeu medidas duras contra os insurgentes.

No final do dia, o gabinete presidencial belarusso disse que Prigozhin havia concordado com a proposta do presidente belarusso Aleksandr Lukashenko de interromper o movimento das tropas de Wagner na Rússia e tomar novas medidas para acalmar a situação.

Ø  Ucrânia muda líderes da indústria de defesa após fracasso em programa de mísseis, diz mídia

O portal Defence Blog relatou que o governo ucraniano reorganizou os dirigentes de alto escalão de sua indústria de defesa estatal, nomeando um novo chefe da corporação Ukroboronprom.

De acordo com a mídia, a nomeação de um novo líder estaria ligada a uma falha no programa de mísseis do país.

A mídia também ressalta que, de acordo com os novos planos ucranianos, ao presidente Vladimir Zelensky havia sido prometido que o sistema de mísseis táticos Sapsan destruiria infraestruturas militares da Rússia no território russo, contudo a empresa falhou e não conseguiu cumprir sua promessa.

Anteriormente, a revista Defense Express informou que o progresso no desenvolvimento do sistema de mísseis ucranianos está entre 65% e 70%.

O portal indica que o primeiro protótipo de bateria de um sistema de míssil balístico de curto alcance deve contar com dois veículos lançadores e carregadores, bem como dois veículos de comando e pessoal.

·         'Criaram um monstro': nos EUA revelam terrível erro da Casa Branca na Ucrânia

A Casa Branca ainda se recusa a admitir que os Estados Unidos transformaram a Ucrânia em um monstro e que são incapacitados de lidar com isso, afirmou no canal do YouTube Judging Freedom o ex-assessor do Pentágono, o coronel Douglas Macgregor.

De acordo com ele, é por causa da impossibilidade de admitir o fracasso das autoridades dos EUA que o apoio público ao regime de Kiev continua, assim como o secretário de Estado, Antony Blinken.

"Isso tudo é besteira, mas o que vocês esperam desse homem? Ninguém em Washington vai se apresentar e dizer: 'Oi, cometemos um erro terrível e criamos um monstro muito maior e mais poderoso do que as forças que pensávamos que poderíamos vencer'", declarou Macgregor.

Ao mesmo tempo, ele notou que a comunidade russa no contexto da crise ucraniana era mais durável do que a americana.

"A Rússia está agora mais unida do que poderia ter sido em décadas, e as Forças Armadas da Rússia são maiores e mais fortes, e sua vontade de vencer é mais forte do que nunca. E eu gostaria muito de ter a mesma coesão nos EUA", lamentou.

 

Ø  Coreia do Norte: 'EUA têm motivo sinistro ao voltar à UNESCO'; mídia americana cita China como razão

 

De acordo com Pyongyang, governo Biden vê na organização "uma janela para concretizar a estratégia de hegemonia" e não tem interesse de "cooperação". Já o Wall Street Journal afirma que a principal intenção do retorno é barrar o crescimento da China dentro da agência da ONU.

O governo norte-coreano criticou nesta terça-feira (27) o fato de os Estados Unidos quererem voltar à agência cultural da ONU, a UNESCO, classificando a investida americana como "sinistra".

"Clara é a motivação sinistra dos EUA de apressar a reentrada na organização [...] os EUA têm um histórico inglório de terem se retirado não apenas da UNESCO, mas também da OMS, do Conselho de Direitos Humanos e de outras organizações internacionais. É para aproveitar a organização internacional como um teatro de confronto entre campos e uma janela para concretizar a estratégia de hegemonia, não de cooperação e promoção internacional", afirmou um comunicado da Coreia do Norte citado pela Reuters.

A agência da ONU, com sede em Paris, anunciou este mês que Washington pretende voltar em julho, chamando isso de "ato de confiança na UNESCO e no multilateralismo". Segundo a mídia, espera-se que a medida seja aprovada pela maioria de seus 193 Estados-membros.

Os Estados Unidos ingressaram inicialmente na UNESCO em sua fundação em 1945, se retiraram em 1984 e retornaram em 2003. Após 15 anos, em 2018 sob o governo Trump, o país se retirou do organismo novamente.

De acordo com o The Wall Street Journal a estratégia por trás do retorno é uma tentativa de conter a crescente influência da China e de outros adversários na organização cultural e patrimonial das Nações Unidas.

O jornal relata que Pequim se tornou um dos maiores doadores da UNESCO. O segundo funcionário da organização agora é chinês, posicionando a China com luz verde para ajudar a orientar as discussões na organização sobre questões que vão desde a liberdade de imprensa até a educação na Ucrânia e em outros países devastados pela guerra.

No dia 8 de junho, uma delegação de diplomatas dos EUA entregou uma carta à diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, solicitando readmissão no próximo mês à organização sediada em Paris.

 

Ø  Diplomata: Rússia e China podem frustrar planos da OTAN de dividir Eurásia em blocos militares

 

Rússia e China são capazes de frustrar os planos da OTAN de dividir o espaço euroasiático comum (pan-euroasiático) em uma rede de "clubes exclusivos" e blocos militares, disse na terça-feira (27) o embaixador russo na China, Igor Morgulov.

"A crise ucraniana não é a única manifestação das aspirações hegemônicas dos EUA e seus satélites. A Organização do Tratado do Atlântico Norte, liderada por Washington, está tentando globalizar suas atividades buscando penetrar na região da Ásia-Pacífico em um esforço para dividir o espaço euroasiático comum em uma rede de 'clubes exclusivos' e blocos militares", declarou o diplomata durante o seu discurso na 8ª Conferência Internacional "Rússia e China: cooperação em uma Nova Era".

Morgulov ressaltou que "estes são planos muito perigosos, mas estou convencido de que a Rússia e a China são capazes de frustrar conjuntamente esses planos perigosos".

"Neste contexto, o estreitamento da coordenação da política externa sino-russa permanece altamente relevante", disse o embaixador russo em Pequim.

Em maio, vários veículos de imprensa revelaram que a Aliança Atlântica, pretendia abrir uma representação no Japão. Do país asiático foi confirmada uma negociação com a organização militar para a abertura de um escritório de ligação em Tóquio, que seria o primeiro da região.

 

Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil

 

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