quarta-feira, 28 de junho de 2023

Cassação de Bolsonaro é tudo que os evangélicos sonham para pularem no colo de Lula

A possível cassação dos direitos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderá ser a onda que faltava para uma boa parcela dos evangélicos no Congresso surfar em direção ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Esperamos uma palavra de paz e amor do presidente Lula. Uma palavra que até agora ele não se dispôs a nos dar”, diz o deputado e pastor Cezinha de Madureira (PSD-SP).

O movimento entre uma parte dos evangélicos descontentes com o radicalismo bolsonarista não é novo. O problema é que setores do PT rejeitam com fervor religioso qualquer aproximação com as igrejas em cujos templos Bolsonaro colheu 70% dos votos do setor, contra 30% dados a Lula na eleição. Para aceitar a convivência com os evangélicos – que já estiveram ao seu lado em seus outros mandatos –, Lula terá de ultrapassar a resistência de parceiros e aliados mais à esquerda no partido.

Embora tratados com certo desdém, na opinião do cientista político Antonio Lavareda, os evangélicos, se considerarmos as três maiores forças nas quais o bolsonarismo e os conservadores preservam uma maioria – o agronegócio e setores militares –, seriam o espaço onde Lula poderia obter os melhores resultados em um menor espaço de tempo. Parte dos militares, nas três Forças, se mantém fiel ao ex-presidente. O agro tem um DNA conservador. Os evangélicos, provavelmente, seriam os mais facilmente resgatáveis.

“Na última pesquisa divulgada (Quaest), Lula tem no total 56% de aprovação, mas apenas 44% entre os evangélicos, que somam cerca de 30% da população. Então, se ele crescer 15 pontos nesse segmento, atingirá 60%, marca que praticamente nenhum outro presidente ou primeiro-ministro detém hoje no mundo, com exceção do indiano Narendra Modi”, exemplifica Lavareda.

O raciocínio não se baseia apenas no fato de que os evangélicos já estiveram com Lula. Mas, se o presidente não patrocinar a tese do aborto e a descriminalização das drogas, como não o fez até agora, a tendência é que sua aprovação cresça no segmento, fortalecendo uma nova aproximação com o grupo. Pesquisas, como a Quaest, divulgada na semana passada, apontam que o índice de aprovação do presidente no grupo evangélico, entre abril e junho, subiu de 39% para 44%, portanto acima da margem de erro, de 2,2 pontos porcentuais.

Diferentemente dos outros setores, o voto evangélico – cerca de 30% do eleitorado brasileiro – é um dos mais orgânicos no País. Bispos e pastores têm grande influência junto aos fiéis que costumam seguir as orientações dos líderes na hora de escolherem seus candidatos. E alguns desses pastores já trabalham pelo apoio há muitos meses por uma reaproximação a Lula, como Paulo Marcelo, também da Assembleia de Deus de Madureira. “Há uma corrente ideológica no PT que não quer nos ver junto com Lula. Mas creio que o presidente não irá nos fechar essa porta”, diz ele.

O pastor Paulo Marcelo carrega um projeto que ele define como de longo prazo para uma nova relação entre o governo e os evangélicos. Toda a estratégia se baseia numa conta de que existiriam 157 mil templos no Brasil e 78 mil seriam igrejas independentes que podem atuar, segundo ele, como braços do Estado em suas comunidades. Afinal, explica o pastor, elas já agem dessa forma quando amparam a mulher que apanhou do marido e aconselham a família em que um membro se envolve com drogas ou enfrenta problemas financeiros.

A ideia de Paulo Marcelo, que, segundo conta sem muitos detalhes, já foi apresentada a Lula e teria sido elogiada, faria com que as igrejas ajudassem na implementação de políticas públicas para suas respectivas comunidades. O trabalho poderia ser custeado com a concessão de algum benefício governamental aos financiadores.

Pastores como ele dizem acreditar que somente chegando perto dos rebanhos será possível diminuir o peso da forte corrente evangélica que demoniza a esquerda, dando mais solidez ao discurso de apoio a Lula. Até agora, votos a favor do governo na Câmara e ideias não conseguiram abrir as portas do Palácio do Planalto, como eles gostariam. Mas, se o resultado do julgamento do pedido de cassação dos direitos políticos de Bolsonaro que está sendo votado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) for a favor da perda, a onda pode virar um tsunami.

 

       Defesa de Bolsonaro mente ao TSE

 

Na ação que pode tornar Jair Bolsonaro (PL) inelegível em razão de mentiras e distorções sobre o sistema eleitoral em encontro com embaixadores, a defesa do ex-presidente diz que não houve ilícito, mas se omite em demonstrar que as falas no evento teriam embasamento em evidências.

Entre outras afirmações já desmentidas (e ignoradas por seus advogados nas alegações finais do processo), Bolsonaro afirmou na ocasião que o próprio TSE (Tribunal Superior Eleitoral) disse que os resultados de 2018 podem ter sido alterados e que não é a corte quem faz a contagem dos votos.

O discurso de Bolsonaro no evento é caracterizado pela defesa com expressões como “ponto de vista”, “dúvidas legítimas” e “tentativa de exposição de aprimoramento do processo eleitoral”.

Na ocasião, entretanto, Bolsonaro não disse que estava dando sua opinião. Pelo contrário, logo no início do evento, afirmou que basearia sua fala em uma investigação da Polícia Federal sobre um ataque hacker ao TSE.

“Tudo que vou falar aqui, está documentado, nada da minha cabeça”, disse aos embaixadores. “Tudo que eu falo aqui ou é conclusão da PF ou é diretamente informações prestadas pelo TSE”, completou.

“Nós não podemos enfrentar umas eleições sob o manto da desconfiança. Nós queremos ter a certeza de que, para quem o eleitor votou, o voto vai exatamente para aquela pessoa. O próprio TSE diz que em 2018 números podem ter sido alterados”, afirmou.

A apuração citada por Bolsonaro teve início em novembro de 2018 após o tribunal acionar a PF. Trechos desse mesmo inquérito tinham sido lidos por Bolsonaro quase um ano antes, em agosto de 2021, em entrevista à Rádio Jovem Pan e divulgados em suas redes sociais.

A Folha entrou em contato com a defesa de Bolsonaro questionando o motivo de a defesa não ter buscado demonstrar o embasamento das afirmações do então presidente na reunião com embaixadores, mas não obteve resposta até a publicação do texto.

Entre as provas inseridas na ação do TSE, mas sem acesso público, está o inquérito policial sobre o referido ataque hacker.

Nesta segunda-feira (26), após uma reunião com deputados do PL na Assembleia Legislativa de São Paulo, Bolsonaro disse “não ser justo falar em ataque à democracia” para descrever o encontro. Também se referiu a suas falas como “críticas ou sugestões de aperfeiçoamento do sistema eleitoral”.

O julgamento no TSE teve início na última quinta-feira e será retomado nesta terça (27), com o voto do relator, a partir das 19h.

Em seu parecer, o vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, afirma que Bolsonaro descontextualizou as informações do inquérito da PF, ignorando contestações já feitas pelo próprio TSE sobre o assunto.

“Não houve alusão a essas contestações no discurso aos embaixadores, tendo sido apresentados como fatos certos o que eram especulações sem base idônea, sabidas inverdades ou conclusões desavindas do seu contexto”, diz.

Ainda em 2021, o tribunal divulgou nota em que afirmava que o ataque investigado “não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018”. Além disso, o delegado Victor Campos, até então responsável pela investigação, respondeu em depoimento não ter identificado nos autos qualquer elemento que permitisse afirmar que houve manipulação de votos ou fraude em qualquer eleição.

Também ao falar de transmissões de 2021, Gonet, do Ministério Público Eleitoral, diz que “a partir da ocorrência de um fato verdadeiro [houve um ataque de hacker ao TSE, embora desvinculado de finalidade eleitoral], o investigado extrai o que dele não se deduz”.

O parecer menciona que Bolsonaro fez menção a documento do então secretário de Tecnologia e Informação do TSE, Giuseppe Dutra Janino, com confirmação da ação do invasor, mas deixa de lado a ressalva feita por ele de que a invasão foi limitada, não atingindo o sistema de votação, apuração e totalização dos votos.

No discurso aos embaixadores, Bolsonaro também tirou de contexto e distorceu a fala de um servidor do TSE sobre as eleições de 2020, para afirmar que não seria a corte quem totaliza os votos. “Não é o TSE quem conta os votos, é uma empresa terceirizada. Acho que nem precisava continuar essa explanação aqui”, disse o então presidente.

A totalização dos resultados é realizada pela corte, assim como o desenvolvimento do sistema de totalização. A empresa Oracle é contratada para fornecer o servidor (supercomputador), que fica fisicamente no TSE, e o sistema de gerenciamento de bancos de dados, que é administrado por equipe do TSE.

“A afirmação de que uma empresa terceirizada faz a contagem dos votos é simplesmente falsa e somente compreensível num contexto de propósito de abalar a credibilidade do processo eleitoral”, escreveu Gonet em seu parecer.

Os advogados do ex-presidente sustentam que, na reunião, Bolsonaro “expôs, às claras, sem rodeios, em linguagem simples, fácil e acessível, em rede pública, quais seriam suas dúvidas e os pontos que –ao seu sentir– teriam potencial de comprometer a lisura do processo eleitoral”.

Também afirma que o então presidente “possui dúvidas legítimas acerca da segurança do processo eleitoral, fundamentadas em documentação que lhe foi entregue”, fazendo menção a relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre auditoria do processo eleitoral.

No capítulo das alegações finais que trata sobre a reunião com os embaixadores especificamente, essa é a única referência a documentação externa para buscar justificar a fala de Bolsonaro. O trecho citado, contudo, não tem relação com as afirmações de Bolsonaro apontadas como falsas ou descontextualizadas.

Já em um outro capítulo das alegações, a defesa aborda a entrevista à Jovem Pan e as outras duas lives de 2021 que foram adicionadas à ação por decisão do relator da ação no TSE, o corregedor-geral eleitoral Benedito Gonçalves.

A defesa rebate que tenha havido “divulgação de informação falsa”, mas se restringe a citar trecho de relatório do inquérito que, em resumo, reconhece a ocorrência do ataque hacker, sem dar sustentação contudo às conclusões e ilações que Bolsonaro faz a partir do episódio.

 

       AMB diz que quase metade das fake news vêm de Bolsonaro

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) consta como “parte” ou “envolvido” em 45% das decisões e acórdãos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em ações relativas a fake news e desinformação.

O levantamento, feito pelo Centro de Pesquisas Judiciais (CPJ) da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), em parceria com a Unesco, compreende o período entre o início do governo Bolsonaro (1º de janeiro de 2019) e a data do segundo turno da eleição presidencial (30 de outubro do ano passado).

Neste intervalo Bolsonaro, foi mencionado em 80 dentre 179 decisões, de acordo com o estudo “O que é desinformação no Judiciário brasileiro? Uma análise da jurisprudência dos tribunais superiores sobre as fake news”.

Bolsonaro e aliados foram investigados ao longo de seu mandato em inquéritos sobre fake news e milícias digitais. O ex-presidente deve ser declarado inelegível pelo TSE por espalhar desinformação a respeito das urnas eletrônicas em uma reunião com embaixadores estrangeiros no ano passado.

 

       Bolsonaro insiste em mentir e diz que “está provado” que petistas fizeram 8/1

 

A narrativa mentirosa, absurda e leviana (faltam adjetivos) de Jair Bolsonaro sobre os atos terroristas de 8 de janeiro continua.

Na entrevista para Mônica Bergamo, o ex-presidente afirmou que “está mais do que comprovado que o quebra-quebra foi do pessoal deles [apoiadores do governo Lula]”.

“O quebra-quebra não foi feito pelo pessoal que estava acampado [no QG do Exército em Brasília]. Uns cem ônibus chegaram na cidade naqueles dias, e alguns vieram com esse intuito de quebra-quebra”, completou.

Para o ex-presidente – o líder da extrema-direita brasileira criador de Fake News em série – a esquerda aproveitou para “posar de democrata”.

Não, não é fácil ser jornalista no Brasil. Jair Bolsonaro quer manter a mentira como trampolim para achincalhar a política brasileira – mesmo quando sabe-se com toda certeza que propaga Fake news.

O ex-presidente ainda teve a pachorra de reclamar da divulgação da pior imagem do vandalismo bolsonarista no fatídico 8 de janeiro: a do seu fiel apoiador Antônio Cláudio Ferreira destruindo o relógio que pertenceu a Dom João VI no Palácio do Planalto.

A insubstituível peça foi um presente do rei Luís XIV, da França. Veio para o Brasil junto com a família real portuguesa, em 1808. “Aquela imagem do cara com a minha camisa quebrando um relógio no Palácio do Planalto, por exemplo: a informação que chegou para mim é que foi o núcleo lá do Lula que mandou divulgar aquela cena”.

Sendo por ordem de Lula ou não, tinha mais era que divulgar mesmo. É importante para mostrar ao mundo o que Jair Bolsonaro semeou no país.

 

       Mensagens à esposa complicam coronel golpista

 

Mensagens enviadas no ano passado pelo ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal, Jorge Eduardo Naime, desmontam a versão que ele apresentou em seu depoimento da CPMI do 8 de janeiro nesta segunda-feira (26/6). Naime alega que sua suposta fuga após a invasão da sede dos Três Poderes foi inventada por sua ex-esposa porque, na versão dele, ela ainda seria apaixonada e não aceitaria o fim do relacionamento.

Prints de conversas de WhatsApp apensados em uma queixa-crime e obtidos pela coluna, contudo, mostram que, mesmo casado com a ex-servidora do Ministério da Justiça Mariana Fiuza, Naime dizia à ex-mulher, Tatiana Lima Beust, ter “saudade” dela. A queixa-crime foi apresentada contra o ex-comandante em março, como antecipado pela coluna.

“Estou na sua antiga cidade, lembrando de você”, disse ele em 9 de março de 2022. Duas semanas depois, ele escreveu: “apesar da sua indiferença, sinto saudades”.

Meses antes, em novembro de 2021, Naime disse que “não conseguia esquecer” a ex-esposa e que, se ela quisesse, ele ainda estaria com ela.

Os prints das conversas foram anexados à queixa-crime que Beust entrou contra Naime em março deste ano, após o depoimento do ex-comandante à CPI do 8/1 da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Beust alega que Naime contou supostas mentiras em seu depoimento, mesma versão que repetiu nesta segunda-feira a deputados e senadores.

No dia 9 de janeiro, a ex-esposa de Naime registrou uma ocorrência na Polícia Civil do DF afirmando que ele, com medo de ser preso, teria planos de fugir para a Bahia com sua atual mulher e os filhos que ele teve com ela no primeiro casamento. O plano foi interrompido, segundo o depoimento de Lima, após um dos filhos do casal ter contado para a mãe sobre a viagem às pressas. A criança, de 8 anos, contou também que a madrasta, Mariana Fiuza, teria ameaçado bater neles “de cinto” caso contassem para alguém sobre a fuga.

Em seus depoimentos à CPI do 8/1 do DF e do Congresso Nacional, Naime negou que tivesse tentado fugir, alegou que teria resolvido fazer uma “viagem rápida” com os filhos e acusou Lima de não ter superado o fim do casamento. O coronel disse ainda que a ex-mulher teria invadido sua casa e agredido sua atual esposa.

Na queixa-crime, consta o depoimento de uma testemunha próxima ao casal Naime e Fiuza, no qual a pessoa afirma que o coronel iria fugir com os filhos do primeiro casamento. O documento apresenta também um laudo de exame de corpo de delito comprovando que Lima foi agredida. Segundo seu depoimento à polícia em janeiro, a atual mulher de Naime a teria agredido com uma barra de ferro.

 

Fonte: Agencia Estado/FolhaPress/Veja/Metrópoles

 

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