quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Marcos de Oliveira: Inflação cede, e não há mais desculpa para juros altos

A inflação oficial (IPCA) em janeiro de 2025 recuou para 0,16%, a menor taxa para um mês de janeiro desde o início do Plano Real, em 1994.

O INPC, que mede a inflação das famílias com renda de até 5 salários mínimos, não variou (0%).

Os resultados não serviram para aplacar a sede de sangue (do governo Lula) do mercado financeiro, ou melhor, a sede de juros altos.

Os analistas financeiros se dividiram, uns vendo baixa nos preços dos alimentos, mas se alarmando com os serviços, enquanto outros observaram justamente o oposto.

Apesar de o índice, no acumulado em 12 meses, ter ficado bem próximo do teto da meta de inflação, em 4,56%, o mote no mercado financeiro – repercutido, por óbvio, na mídia – é de que o caos se aproxima.

Na economia real, a situação é diferente. Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), comemora a menor inflação para janeiro desde 1994.

“Isso é um motivo de comemoração. Mostra que o índice oficial tem desacelerado a inflação, convergindo para o centro da meta, e a combinação de diferentes instrumentos tende a contribuir com a melhora do quadro inflacionário, não apenas a calibragem periódica da taxa de juros”.

Ele reconhece que o grupo de alimentos ainda tem uma pressão inflacionária forte, marcada pelos fatores climáticos, pelo câmbio e pela conjuntura de produção e de colheita no mundo.

“Porém, a nossa expectativa é que haja uma desaceleração nos próximos meses, motivada inclusive por um câmbio mais favorável. Durante o último bimestre do ano, nós sofremos uma pressão altista na taxa de câmbio, que consequentemente produz um efeito em cascata sobre os demais preços da economia. Com um processo de desaceleração ou redução gradual da taxa de câmbio, consequentemente, a pressão inflacionária sobre produtos ‘tradeables’, que são negociados internacionalmente, tende a diminuir. Então, a nossa expectativa é que a inflação se mantenha nessa tendência acomodatícia nos próximos meses”, enfatiza Queiroz.

A menor pressão inflacionária “abre espaço para uma taxa básica de juros menos ortodoxa, como está sendo adotada ao longo dos últimos meses. Ou seja, nós temos um descompasso entre a inflação real e a taxa de juros da economia”.

E ensina: “Aumentar a taxa de juros não produz um efeito direto sobre esses itens, que são muito voláteis, mas acaba produzindo um efeito negativo sobre a economia, impedindo que a capacidade produtiva do país seja aumentada, se expanda e tenhamos a possibilidade de ter um crescimento econômico com menor pressão inflacionária no médio e longo prazo.”

“Então, só com os juros mais civilizados nós teremos a capacidade de competir internacionalmente em melhores condições e ter uma economia que cresça sem os gargalos estruturais. Nesse sentido, nós entendemos que há espaço para um processo mais acomodatício da taxa básica de juros, ao invés do que o mercado financeiro anda projetando com taxa de juros acima de 15% neste ano”, espeta o economista-chefe da Apas.

 

¨      Nelice Pompeu: Tem gente com saudades de comer osso?!

Em 2022 minha imagem viralizou, por conta da sacola que eu usava , com os dizeres: “Tá tudo caro! Culpa do Bolsocaro”

Era uma forma de protestar contra a alta absurda dos preços, a falta de comida na mesa do brasileiro e a volta do Brasil no mapa da fome.

Não podemos ter memória curta! O (des)governo Bolsonaro colocou o nosso povo na fila do osso!

Nessa época a fome esteve mais presente do que nunca, muitos dependiam de doações para comer.

A gasolina beirando os 8 reais, o gás passou a ser luxo e a cesta básica consumia o salário do trabalhador.

Mas a esperança venceu o medo!

Hoje o Brasil saiu do mapa da fome, há programas de segurança alimentar, temos o menor índice de desemprego e ninguém mais na fila do osso para sobreviver!

Não podemos permitir qualquer retrocesso e acreditar naqueles que queriam que o nosso povo morresse de fome!

O Brasil que queremos é dos brasileiros, com comida na mesa e esperança no olhar!

 

¨      Governos que venceram e governos que perderam a batalha da carestia. Por Jeferson Miola

Após a pandemia da covid-19 houve forte disparada dos preços de itens essenciais como alimentos, moradia, energia, transporte, armazenamento, logística, medicamentos, combustíveis.

Com o aumento do custo de vida, os governos nacionais passaram a enfrentar ameaças inflacionárias corrosivas. Devido ao abalo na popularidade, no ano de 2024 uma série de governantes amargaram derrotas nas eleições presidenciais disputadas.

O caso mais notório é dos Estados Unidos, em que a candidata democrata Kamala Harris, pressionada pela carestia e pela inflação dos produtos básicos de consumo, sofreu uma derrota acachapante, a despeito dos indicadores econômicos do seu governo melhores que aqueles herdados da administração Trump.

Esse fenômeno também foi observado em outros países, onde os governantes foram castigados por não terem conseguido conter o estouro do custo de vida.

No Reino Unido os conservadores levaram uma surra eleitoral do Partido Trabalhista, numa derrota histórica. No Japão, o Partido Liberal Democrata teve o segundo pior desempenho da sua história. E, na Índia, o Partido do Povo Indiano [Bharatiya Janata Party Indian], do primeiro-ministro Narendra Modi, perdeu a maioria absoluta no Parlamento.

Essas derrotas e reveses eleitorais confirmam a “percepção de longa data de acadêmicos que estudaram a história da inflação: picos de preços em itens essenciais podem derrubar governos. Quando as pessoas descobrem que, sem culpa própria, os bens sem os quais não conseguem viver de repente se tornam dramaticamente mais caros, elas perdem a confiança no sistema. [E então] Elas se voltam contra o status quo”.

Quem descreve o fenômeno de “governos punidos por não lidar com a inflação” é Isabella M. Weber, economista alemã, professora da Universidade de Massachusetts e autora do livro Como a China escapou da terapia de choque. Ela escreveu a esse respeito no artigo sobre Os governos que sobreviveram à inflação [Foreing Affairs, 15/1].

Isabella destaca que “até recentemente, a natureza politicamente explosiva da inflação tinha sido esquecida em países ricos. Ela era frequentemente descartada como um problema que afligia democracias menos maduras e países em desenvolvimento. No entanto, a inflação acabou sendo o calcanhar de Aquiles […] e afundou a tentativa dos democratas de manter o poder em 2024”.

A autora entende que “os democratas falharam em [não] reconhecer a profundidade da crise e se esquivaram de adotar totalmente políticas que poderiam ter aliviado a pressão sobre os americanos comuns”.

Isabella destaca que “entre aqueles que relataram dificuldades severas causadas pela inflação, 75% votaram em Trump, assim como a maioria daqueles que alegaram dificuldades moderadas. […] Trump se beneficiou da crise do custo de vida, garantindo uma vitória no voto popular pela primeira vez em suas três disputas presidenciais”.

A derrota de governos pressionados pela inflação e pela carestia dos alimentos está longe de ser uma fatalidade inevitável.

A economista afirma que “outros partidos no poder tiveram sucesso em vencer as eleições em 2024”, como no México e na Espanha, “porque adotaram medidas ousadas, incluindo controles de preços, subsídios, cortes e aumentos de impostos”.

Para Isabella, Andrés Manuel Lopez Obrador, no México, e Pedro Sánchez, na Espanha, “pensaram fora da caixa” neoliberal, resistiram à ortodoxia econômica, e “foram vistos [pela população] como salvadores em tempos de crise”.

Ela diz que “enquanto o presidente Biden apenas criticou as empresas por explorar crises para aumentar os preços e impulsionar os lucros, o governo mexicano agiu”.

López Obrador “lançou um ambicioso pacote de políticas com o objetivo de estabilizar os preços de bens dos quais as pessoas e as empresas não podem prescindir”, afirma.

O presidente mexicano reuniu numa mesa os setores [em grande medida oligopolizados] de produção de alimentos e gêneros de primeira necessidade e produziu “um acordo para fixar o preço de uma cesta de 24 itens essenciais em 1.039 pesos. A maioria dos itens eram alimentos básicos, incluindo quantidades definidas de arroz, óleo vegetal, peixe enlatado, carne fresca, frutas e vegetais de acordo com os hábitos de consumo semanal de uma família mexicana média. A cesta também incluía itens essenciais de higiene, como papel higiênico e sabão. As empresas tinham permissão para decidir como atingir o teto geral de preço, distribuído entre todos os produtos, mas eram obrigadas a não exceder o preço total da cesta. Em troca, o governo renunciou a certas tarifas de importação, congelou as taxas de transporte ferroviário e facilitou os requisitos regulatórios”.

Isabella esclarece que “a estratégia de combate à inflação do México foi abrangente. Medidas adicionais incluíram o apoio a pequenos agricultores, garantindo preços mínimos para alimentos básicos como milho, feijão, arroz e leite para incentivar a produção doméstica e criar estoques de emergência. O governo limitou os preços da gasolina, do diesel e do gás liquefeito de petróleo, bem como os preços da eletricidade para as famílias, por meio de subsídios que foram pagos em parte pelas altas receitas da empresa estatal de petróleo, PEMEX, em 2022. O custo total das políticas de inflação do México foi de 1,4% do PIB naquele ano, ou cerca de US$ 20,4 bilhões, de acordo com estimativas do governo”.

O êxito no controle dos preços e no combate à carestia rendeu ao MORENA, partido de López Obrador, a eleição consagradora de Claudia Scheinbaum com 60% dos votos e maioria no Congresso.

Claro que, para esse resultado formidável, também pesou muito o desempenho do conjunto do governo de López Obrador, como a estratégia de comunicação, com destaque para o programa diário de entrevistas do presidente – Las mañaneras.

Na Espanha, em decorrência da explosão de preços na Europa com a guerra na Ucrânia que fez o preço do gás multiplicar por dez, Pedro Sánchez “rapidamente promulgou medidas para proteger cidadãos e empresas de choques de preços em produtos essenciais”.

Também “pensando fora da caixa” neoliberal, o primeiro-ministro espanhol adotou uma série de medidas heterodoxas, como o teto de preço para o gás usado na geração de energia, a proibição de aumento de aluguéis em mais de 2%, a redução dos custos do transporte público e a eliminação temporária do imposto sobre valor agregado em itens alimentares essenciais.

Além disso, diz Isabella, Sánchez também “criou o Business Margins Observatory (um projeto conjunto de ministérios, a autoridade tributária e o banco central) para monitorar os lucros corporativos e introduziu impostos sobre lucros inesperados em empresas de energia e bancos. A taxa de inflação da Espanha caiu antes que os preços começassem a se estabilizar no resto da zona do euro, e a economia do país superou consistentemente o crescimento do PIB de todos os outros países da zona do euro. Em 2022, o PIB da Espanha cresceu 6,2%, em comparação com a média da zona do euro de 3,5%”.

A atuação eficaz “para combater a inflação nos preços dos itens essenciais rendeu frutos eleitorais e serviu como um baluarte contra a extrema direita. Em uma eleição antecipada em 2023, o partido de centro-esquerda governante de Sánchez, o PSOE, obteve seu melhor resultado desde 2008, ganhando um milhão de votos adicionais, enquanto o partido de extrema direita Vox –para grande surpresa de muitos comentaristas– perdeu 19 de suas 52 cadeiras no Congresso”, afirma Isabella.

No Brasil, o governo Lula enfrenta o mais baixo nível de aprovação popular, realidade derivada da percepção da população sobre o alto custo de vida. O resultado exitoso do aumento da massa de renda vinculada ao trabalho acaba neutralizado pelo efeito deletério da carestia.

O governo Lula aposta na contenção do dólar e na safra deste ano, que se anuncia recorde.

No entanto, os ministros do governo escapam da discussão de outras medidas adicionais, de recorte heterodoxo, para não melindrar o mercado e seus dogmas ultraliberais.

Se essas escolhas darão certo ou não, só o tempo dirá. Logo em seguida saberemos, na eleição de 2026.

 

¨      Inflação nos EUA dispara no primeiro mês de Trump

A inflação nos EUA aumentou mais do que o esperado no mês passado, com os preços mais altos de ovos e energia contribuindo para elevar o custo de vida dos americanos.

A inflação subiu para 3% em janeiro, a taxa mais alta em seis meses, acima dos 2,9% esperados pelos economistas.

Segundo a BBC, esse aumento ocorre semanas após o banco central dos EUA decidir manter as taxas de juros, citando incertezas significativas sobre a direção da economia.

Isso representa um desafio para o presidente dos EUA, Donald Trump, que fez do combate à inflação um ponto central de sua campanha eleitoral no ano passado, mas propôs políticas, como tarifas mais altas sobre importações, que, segundo economistas, podem pressionar os preços para cima.

Ryan Sweet, economista-chefe da Oxford Economics, disse que o relatório mais recente pode pressionar Trump a reconsiderar esses planos, que aumentariam os impostos sobre produtos que entram no país.

“As tarifas ainda podem ser usadas como uma ferramenta de negociação para obter concessões de outros países, mas o impacto político de exercer até mesmo uma pequena pressão de alta nos preços ao consumidor por meio de tarifas não seria bom para o governo Trump”, escreveu ele.

O aumento dos preços no mês passado foi amplo, afetando seguros de carro, passagens aéreas, medicamentos e outros itens básicos.

Os preços dos alimentos subiram 0,5% no mês, em comparação com 0,3% em dezembro, com os preços dos ovos disparando mais de 15% devido à escassez causada por surtos de gripe aviária.

Esse foi o maior aumento mensal em quase uma década, segundo o Departamento do Trabalho.

Em contraste, os preços de roupas caíram, enquanto aluguéis e outros custos relacionados à habitação subiram 4,4% no último ano, o menor aumento em 12 meses desde janeiro de 2022.

A inflação básica, que exclui alimentos e energia e é vista pelos analistas como uma medida melhor das tendências subjacentes, foi de 0,4% no mês, o ritmo mais rápido desde março.

“Este não é um bom número”, disse Brian Coulton, economista-chefe da Fitch Ratings.

“Isso ilustra como o [Federal Reserve] não concluiu o trabalho de reduzir a inflação justamente quando novos riscos inflacionários – de aumentos de tarifas e uma pressão sobre o crescimento da oferta de mão de obra – começam a surgir.”

O Federal Reserve aumentou as taxas de juros de forma acentuada a partir de 2022, na esperança de que os custos de empréstimos mais altos esfriassem a economia e aliviassem as pressões que estavam elevando os preços.

Ele começou a cortar as taxas em setembro, afirmando que queria evitar um resfriamento adicional da economia.

Mas sinais de inflação persistente acima da meta de 2% do banco nos últimos meses o levaram a manter as taxas de juros inalteradas em janeiro.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse ao Congresso na terça-feira que o banco não tem pressa para cortar as taxas de juros ainda mais.

Ele observou que ainda não está claro como os planos de tarifas de Trump moldarão as políticas do Fed, já que as medidas podem provocar uma desaceleração da economia, juntamente com um aumento nos preços.

Na quarta-feira, Trump pediu que o Fed reduzisse as taxas de juros para trabalhar “em conjunto” com as tarifas.

Mas alguns analistas disseram após o relatório que não esperam mais cortes nas taxas de juros este ano.

No início das negociações, os principais índices de ações dos EUA abriram em queda, enquanto as taxas de juros sobre a dívida do governo americano subiram, com os investidores apostando que os custos de empréstimos permanecerão altos por mais tempo.

 

Fonte: Viomundo/O Cafezinho

 

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