Marcos de
Oliveira: Inflação cede, e não há mais desculpa para juros altos
A
inflação oficial (IPCA) em janeiro de 2025 recuou para 0,16%, a menor taxa para
um mês de janeiro desde o início do Plano Real, em 1994.
O
INPC, que mede a inflação das famílias com renda de até 5 salários mínimos, não
variou (0%).
Os
resultados não serviram para aplacar a sede de sangue (do governo Lula) do
mercado financeiro, ou melhor, a sede de juros altos.
Os
analistas financeiros se dividiram, uns vendo baixa nos preços dos alimentos,
mas se alarmando com os serviços, enquanto outros observaram justamente o
oposto.
Apesar
de o índice, no acumulado em 12 meses, ter ficado bem próximo do teto da meta
de inflação, em 4,56%, o mote no mercado financeiro – repercutido, por óbvio,
na mídia – é de que o caos se aproxima.
Na
economia real, a situação é diferente. Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação
Paulista de Supermercados (Apas), comemora a menor inflação para janeiro desde
1994.
“Isso
é um motivo de comemoração. Mostra que o índice oficial tem desacelerado a
inflação, convergindo para o centro da meta, e a combinação de diferentes
instrumentos tende a contribuir com a melhora do quadro inflacionário, não
apenas a calibragem periódica da taxa de juros”.
Ele
reconhece que o grupo de alimentos ainda tem uma pressão inflacionária forte,
marcada pelos fatores climáticos, pelo câmbio e pela conjuntura de produção e
de colheita no mundo.
“Porém,
a nossa expectativa é que haja uma desaceleração nos próximos meses, motivada
inclusive por um câmbio mais favorável. Durante o último bimestre do ano, nós
sofremos uma pressão altista na taxa de câmbio, que consequentemente produz um
efeito em cascata sobre os demais preços da economia. Com um processo de
desaceleração ou redução gradual da taxa de câmbio, consequentemente, a pressão
inflacionária sobre produtos ‘tradeables’, que são negociados
internacionalmente, tende a diminuir. Então, a nossa expectativa é que a
inflação se mantenha nessa tendência acomodatícia nos próximos meses”, enfatiza
Queiroz.
A
menor pressão inflacionária “abre espaço para uma taxa básica de juros menos
ortodoxa, como está sendo adotada ao longo dos últimos meses. Ou seja, nós
temos um descompasso entre a inflação real e a taxa de juros da economia”.
E
ensina: “Aumentar a taxa de juros não produz um efeito direto sobre esses
itens, que são muito voláteis, mas acaba produzindo um efeito negativo sobre a
economia, impedindo que a capacidade produtiva do país seja aumentada, se
expanda e tenhamos a possibilidade de ter um crescimento econômico com menor
pressão inflacionária no médio e longo prazo.”
“Então,
só com os juros mais civilizados nós teremos a capacidade de competir
internacionalmente em melhores condições e ter uma economia que cresça sem os
gargalos estruturais. Nesse sentido, nós entendemos que há espaço para um
processo mais acomodatício da taxa básica de juros, ao invés do que o mercado
financeiro anda projetando com taxa de juros acima de 15% neste ano”, espeta o
economista-chefe da Apas.
¨ Nelice Pompeu:
Tem gente com saudades de comer osso?!
Em 2022 minha imagem viralizou, por
conta da sacola que eu usava , com os dizeres: “Tá tudo caro! Culpa do
Bolsocaro”
Era uma forma de protestar contra a
alta absurda dos preços, a falta de comida na mesa do brasileiro e a volta do
Brasil no mapa da fome.
Não podemos ter memória curta! O
(des)governo Bolsonaro colocou o nosso povo na fila do osso!
Nessa época a fome esteve mais
presente do que nunca, muitos dependiam de doações para comer.
A gasolina beirando os 8 reais, o gás
passou a ser luxo e a cesta básica consumia o salário do trabalhador.
Mas a esperança venceu o medo!
Hoje o Brasil saiu do mapa da fome,
há programas de segurança alimentar, temos o menor índice de desemprego e
ninguém mais na fila do osso para sobreviver!
Não podemos permitir qualquer
retrocesso e acreditar naqueles que queriam que o nosso povo morresse de fome!
O Brasil que queremos é dos
brasileiros, com comida na mesa e esperança no olhar!
¨
Governos que
venceram e governos que perderam a batalha da carestia. Por Jeferson Miola
Após a
pandemia da covid-19 houve forte disparada dos preços de itens essenciais como
alimentos, moradia, energia, transporte, armazenamento, logística,
medicamentos, combustíveis.
Com o
aumento do custo de vida, os governos nacionais passaram a enfrentar ameaças
inflacionárias corrosivas. Devido ao abalo na popularidade, no ano de 2024 uma
série de governantes amargaram derrotas nas eleições presidenciais disputadas.
O caso
mais notório é dos Estados Unidos, em que a candidata democrata Kamala Harris,
pressionada pela carestia e pela inflação dos produtos básicos de consumo,
sofreu uma derrota acachapante, a despeito dos indicadores econômicos do seu
governo melhores que aqueles herdados da administração Trump.
Esse
fenômeno também foi observado em outros países, onde os governantes foram
castigados por não terem conseguido conter o estouro do custo de vida.
No
Reino Unido os conservadores levaram uma surra eleitoral do Partido
Trabalhista, numa derrota histórica. No Japão, o Partido Liberal Democrata teve
o segundo pior desempenho da sua história. E, na Índia, o Partido do Povo
Indiano [Bharatiya Janata Party Indian], do primeiro-ministro Narendra Modi,
perdeu a maioria absoluta no Parlamento.
Essas
derrotas e reveses eleitorais confirmam a “percepção de longa data de
acadêmicos que estudaram a história da inflação: picos de preços em itens
essenciais podem derrubar governos. Quando as pessoas descobrem que, sem culpa
própria, os bens sem os quais não conseguem viver de repente se tornam
dramaticamente mais caros, elas perdem a confiança no sistema. [E então] Elas
se voltam contra o status quo”.
Quem
descreve o fenômeno de “governos punidos por não lidar com a inflação” é
Isabella M. Weber, economista alemã, professora da Universidade de
Massachusetts e autora do livro Como a China escapou da terapia de
choque. Ela escreveu a esse respeito no artigo sobre Os
governos que sobreviveram à inflação [Foreing
Affairs, 15/1].
Isabella
destaca que “até recentemente, a natureza politicamente explosiva da inflação
tinha sido esquecida em países ricos. Ela era frequentemente descartada como um
problema que afligia democracias menos maduras e países em desenvolvimento. No
entanto, a inflação acabou sendo o calcanhar de Aquiles […] e afundou a
tentativa dos democratas de manter o poder em 2024”.
A
autora entende que “os democratas falharam em [não] reconhecer a profundidade
da crise e se esquivaram de adotar totalmente políticas que poderiam ter
aliviado a pressão sobre os americanos comuns”.
Isabella
destaca que “entre aqueles que relataram dificuldades severas causadas pela
inflação, 75% votaram em Trump, assim como a maioria daqueles que alegaram
dificuldades moderadas. […] Trump se beneficiou da crise do custo de vida,
garantindo uma vitória no voto popular pela primeira vez em suas três disputas
presidenciais”.
A
derrota de governos pressionados pela inflação e pela carestia dos alimentos
está longe de ser uma fatalidade inevitável.
A
economista afirma que “outros partidos no poder tiveram sucesso em vencer as
eleições em 2024”, como no México e na Espanha, “porque adotaram medidas
ousadas, incluindo controles de preços, subsídios, cortes e aumentos de
impostos”.
Para
Isabella, Andrés Manuel Lopez Obrador, no México, e Pedro Sánchez, na Espanha,
“pensaram fora da caixa” neoliberal, resistiram à ortodoxia econômica, e “foram
vistos [pela população] como salvadores em tempos de crise”.
Ela
diz que “enquanto o presidente Biden apenas criticou as empresas por explorar
crises para aumentar os preços e impulsionar os lucros, o governo mexicano
agiu”.
López
Obrador “lançou um ambicioso pacote de políticas com o objetivo de estabilizar
os preços de bens dos quais as pessoas e as empresas não podem prescindir”,
afirma.
O
presidente mexicano reuniu numa mesa os setores [em grande medida
oligopolizados] de produção de alimentos e gêneros de primeira necessidade e
produziu “um acordo para fixar o preço de uma cesta de 24 itens essenciais em
1.039 pesos. A maioria dos itens eram alimentos básicos, incluindo quantidades
definidas de arroz, óleo vegetal, peixe enlatado, carne fresca, frutas e
vegetais de acordo com os hábitos de consumo semanal de uma família mexicana
média. A cesta também incluía itens essenciais de higiene, como papel higiênico
e sabão. As empresas tinham permissão para decidir como atingir o teto geral de
preço, distribuído entre todos os produtos, mas eram obrigadas a não exceder o
preço total da cesta. Em troca, o governo renunciou a certas tarifas de
importação, congelou as taxas de transporte ferroviário e facilitou os
requisitos regulatórios”.
Isabella
esclarece que “a estratégia de combate à inflação do México foi abrangente.
Medidas adicionais incluíram o apoio a pequenos agricultores, garantindo preços
mínimos para alimentos básicos como milho, feijão, arroz e leite para
incentivar a produção doméstica e criar estoques de emergência. O governo limitou
os preços da gasolina, do diesel e do gás liquefeito de petróleo, bem como os
preços da eletricidade para as famílias, por meio de subsídios que foram pagos
em parte pelas altas receitas da empresa estatal de petróleo, PEMEX, em 2022. O
custo total das políticas de inflação do México foi de 1,4% do PIB naquele ano,
ou cerca de US$ 20,4 bilhões, de acordo com estimativas do governo”.
O
êxito no controle dos preços e no combate à carestia rendeu ao MORENA, partido
de López Obrador, a eleição consagradora de Claudia Scheinbaum com 60% dos
votos e maioria no Congresso.
Claro
que, para esse resultado formidável, também pesou muito o desempenho do
conjunto do governo de López Obrador, como a estratégia de comunicação, com
destaque para o programa diário de entrevistas do presidente – Las
mañaneras.
Na
Espanha, em decorrência da explosão de preços na Europa com a guerra na Ucrânia
que fez o preço do gás multiplicar por dez, Pedro Sánchez “rapidamente
promulgou medidas para proteger cidadãos e empresas de choques de preços em
produtos essenciais”.
Também
“pensando fora da caixa” neoliberal, o primeiro-ministro espanhol adotou uma
série de medidas heterodoxas, como o teto de preço para o gás usado na geração
de energia, a proibição de aumento de aluguéis em mais de 2%, a redução dos
custos do transporte público e a eliminação temporária do imposto sobre valor
agregado em itens alimentares essenciais.
Além
disso, diz Isabella, Sánchez também “criou o Business Margins Observatory (um
projeto conjunto de ministérios, a autoridade tributária e o banco central)
para monitorar os lucros corporativos e introduziu impostos sobre lucros
inesperados em empresas de energia e bancos. A taxa de inflação da Espanha caiu
antes que os preços começassem a se estabilizar no resto da zona do euro, e a
economia do país superou consistentemente o crescimento do PIB de todos os
outros países da zona do euro. Em 2022, o PIB da Espanha cresceu 6,2%, em
comparação com a média da zona do euro de 3,5%”.
A
atuação eficaz “para combater a inflação nos preços dos itens essenciais rendeu
frutos eleitorais e serviu como um baluarte contra a extrema direita. Em uma
eleição antecipada em 2023, o partido de centro-esquerda governante de Sánchez,
o PSOE, obteve seu melhor resultado desde 2008, ganhando um milhão de votos
adicionais, enquanto o partido de extrema direita Vox –para grande surpresa de
muitos comentaristas– perdeu 19 de suas 52 cadeiras no Congresso”, afirma
Isabella.
No
Brasil, o governo Lula enfrenta o mais baixo nível de aprovação popular,
realidade derivada da percepção da população sobre o alto custo de vida. O
resultado exitoso do aumento da massa de renda vinculada ao trabalho acaba
neutralizado pelo efeito deletério da carestia.
O
governo Lula aposta na contenção do dólar e na safra deste ano, que se anuncia
recorde.
No
entanto, os ministros do governo escapam da discussão de outras medidas
adicionais, de recorte heterodoxo, para não melindrar o mercado e seus dogmas
ultraliberais.
Se
essas escolhas darão certo ou não, só o tempo dirá. Logo em seguida saberemos,
na eleição de 2026.
¨ Inflação nos EUA dispara no primeiro mês de Trump
A inflação nos EUA aumentou
mais do que o esperado no mês passado, com os preços mais altos de ovos e
energia contribuindo para elevar o custo de vida dos americanos.
A inflação subiu para 3% em
janeiro, a taxa mais alta em seis meses, acima dos 2,9% esperados pelos
economistas.
Segundo a BBC, esse aumento ocorre semanas após o banco central dos EUA decidir
manter as taxas de juros, citando incertezas significativas sobre a direção da
economia.
Isso representa um desafio
para o presidente dos EUA, Donald Trump, que fez do combate à inflação um ponto
central de sua campanha eleitoral no ano passado, mas propôs políticas, como
tarifas mais altas sobre importações, que, segundo economistas, podem
pressionar os preços para cima.
Ryan Sweet, economista-chefe
da Oxford Economics, disse que o relatório mais recente pode pressionar Trump a
reconsiderar esses planos, que aumentariam os impostos sobre produtos que
entram no país.
“As tarifas ainda podem ser
usadas como uma ferramenta de negociação para obter concessões de outros
países, mas o impacto político de exercer até mesmo uma pequena pressão de alta
nos preços ao consumidor por meio de tarifas não seria bom para o governo
Trump”, escreveu ele.
O aumento dos preços no mês
passado foi amplo, afetando seguros de carro, passagens aéreas, medicamentos e
outros itens básicos.
Os preços dos alimentos
subiram 0,5% no mês, em comparação com 0,3% em dezembro, com os preços dos ovos
disparando mais de 15% devido à escassez causada por surtos de gripe aviária.
Esse foi o maior aumento
mensal em quase uma década, segundo o Departamento do Trabalho.
Em contraste, os preços de
roupas caíram, enquanto aluguéis e outros custos relacionados à habitação
subiram 4,4% no último ano, o menor aumento em 12 meses desde janeiro de 2022.
A inflação básica, que
exclui alimentos e energia e é vista pelos analistas como uma medida melhor das
tendências subjacentes, foi de 0,4% no mês, o ritmo mais rápido desde março.
“Este não é um bom número”,
disse Brian Coulton, economista-chefe da Fitch Ratings.
“Isso ilustra como o
[Federal Reserve] não concluiu o trabalho de reduzir a inflação justamente
quando novos riscos inflacionários – de aumentos de tarifas e uma pressão sobre
o crescimento da oferta de mão de obra – começam a surgir.”
O Federal Reserve aumentou
as taxas de juros de forma acentuada a partir de 2022, na esperança de que os
custos de empréstimos mais altos esfriassem a economia e aliviassem as pressões
que estavam elevando os preços.
Ele começou a cortar as
taxas em setembro, afirmando que queria evitar um resfriamento adicional da
economia.
Mas sinais de inflação
persistente acima da meta de 2% do banco nos últimos meses o levaram a manter
as taxas de juros inalteradas em janeiro.
O presidente do Federal
Reserve, Jerome Powell, disse ao Congresso na terça-feira que o banco não tem
pressa para cortar as taxas de juros ainda mais.
Ele observou que ainda não
está claro como os planos de tarifas de Trump moldarão as políticas do Fed, já
que as medidas podem provocar uma desaceleração da economia, juntamente com um
aumento nos preços.
Na quarta-feira, Trump pediu
que o Fed reduzisse as taxas de juros para trabalhar “em conjunto” com as
tarifas.
Mas alguns analistas
disseram após o relatório que não esperam mais cortes nas taxas de juros este
ano.
No início das negociações,
os principais índices de ações dos EUA abriram em queda, enquanto as taxas de
juros sobre a dívida do governo americano subiram, com os investidores
apostando que os custos de empréstimos permanecerão altos por mais tempo.
Fonte: Viomundo/O
Cafezinho
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