sábado, 15 de fevereiro de 2025

Julimar Roberto: A política de juros altos sufoca o Brasil

Mais uma vez, o Banco Central decidiu aumentar a taxa básica de juros, a Selic, agora para 13,25% ao ano. Sob o comando de Gabriel Galípolo, a expectativa era de uma mudança de postura, mas a alta seguiu o mesmo receituário da gestão anterior. A justificativa? O controle da inflação. No entanto, essa abordagem já se mostrou equivocada e prejudicial para a economia, o emprego e o bem-estar social.

Lamentavelmente, o Brasil segue refém de um modelo de política monetária ultrapassado, que trata a inflação com um único remédio que são os juros altos. O problema é que esse remédio tem efeitos colaterais graves. Empresas investem menos, consumidores perdem poder de compra e o crescimento econômico é sufocado. Enquanto isso, os verdadeiros beneficiários dessa política são os rentistas e o sistema financeiro, que lucram com títulos da dívida pública e investimentos de baixo risco.

A inflação brasileira, longe de estar descontrolada, poderia ser combatida com medidas mais inteligentes. Um dos principais fatores que pressionam os preços são os alimentos e o dólar. Em vez de elevar os juros, o Banco Central poderia atuar mais fortemente no câmbio, estabilizando a moeda e reduzindo impactos inflacionários. Além disso, medidas como a criação de fundos estabilizadores para produtos essenciais poderiam evitar aumentos excessivos nos preços sem comprometer o crescimento econômico.

O presidente Lula demonstrou paciência e confiança no novo comando do Banco Central, ciente das dificuldades de mudar a direção dessa política monetária de uma hora para outra. No entanto, a pressão precisa continuar para que a Selic caia e o Brasil possa retomar um ciclo virtuoso de crescimento. Manter os juros elevados apenas atende aos interesses do setor financeiro, enquanto a maioria dos brasileiros paga a conta.

Estamos andando na contramão no desenvolvimento. A alta do emprego e da renda deveria ser motivo de comemoração, mas a resposta do Banco Central tem sido punir a economia real com taxas proibitivas. Enquanto a Selic continuar nesse patamar insustentável, o país ficará preso a um modelo que inibe investimentos e mantém milhões de brasileiros e brasileiras à margem da dignidade.

 Não basta trocar o comando do Banco Central, é preciso mudar a mentalidade que guia suas decisões. O Brasil precisa de uma política monetária alinhada com os interesses do povo, que promova o crescimento sustentável e combata a inflação sem estrangular o desenvolvimento. A alta dos juros não pode ser um dogma intocável. É hora de romper esse ciclo vicioso e abrir caminho para um futuro de mais oportunidades para todos, todas e todes.

 

¨      O predomínio absoluto da posição dos especuladores no debate sobre juros e inflação. Por José Álvaro de Lima Cardoso

Em 29 de janeiro de 2025, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, pela quarta vez consecutiva, colocando-a em 13,25% ao ano. A inflação está em 4,5% nos últimos anos e a elevação da Selic seria para conter a demanda e, indiretamente, segurar ou suavizar o aumento de preços. Como se sabe, o aumento da taxa de juros encarece o crédito ao consumidor (que já é o mais elevado do mundo), impactando sobre consumo e investimentos, “esfriando” assim a economia, e, supostamente, contendo a elevação de preços.

O aumento estava cantado em prosa e verso antes da reunião, dentre outras razões, porque, em seu encontro de dezembro de 2024, o Copom, além de ter elevado a Selic em 1 ponto percentual, apontou a possibilidade de novos aumentos também de 1 ponto percentual nas reuniões subsequentes, agendadas para janeiro e março de 2025. Com taxa nominal Selic em 13,25% o Brasil manteve a segunda posição no ranking mundial de juros reais, atrás apenas da Argentina. Com a nova taxa, o juro real projetado para o Brasil é de 9,18%, enquanto na Argentina é de 9,36%. A Argentina, é bom lembrar, tem uma inflação anual de 117,8%, conforme dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC). Aliás, com certeza a inflação no país vizinho não é de demanda, visto que 52,9% da população argentina está em situação de pobreza, o que corresponde a aproximadamente 15,7 milhões de pessoas, segundo o mesmo INDEC.

Não custa lembrar que a condição do Brasil, de segunda maior taxa de juros do planeta, se refere a taxa básica de juros na economia. No varejo, para as transações do dia a dia, os juros cobrados no país são, de longe, os mais elevados do mundo. Segundo o Banco Central, o juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito estava, em novembro, em 445,8% ao ano. A taxa do parcelado estava em 183,3% ao ano, no mesmo mês. Não há nada parecido em todo o mundo. A taxa máxima de juros no rotativo, ao ano, em alguns países é: EUA (17,03%); Turquia (24,27%); Rússia (27,9%); Índia (30%). Mesmo na Argentina, cuja economia está sendo arrebentada por um enviado do inferno, essa taxa é menor que a do Brasil: 53,2% ao ano.

Os membros do Copom alegam que a medida é necessária porque o cenário internacional, no que diz respeito à inflação, se deteriorou, havendo mais fatores que podem provocar uma alta dos preços. Basicamente, a tese defendida aqui é a de que o aumento da demanda, acima da capacidade de oferta, ou seja, o desequilíbrio entre oferta e demanda, provoca um aumento de preços, que pode contaminar outros setores, levando ao aumento da inflação. Mas será que essa tese é correta, a inflação no Brasil, essencialmente, decorre de um excesso de demanda por bens e serviços?

O aumento generalizado de preços (também conhecido como inflação) é um fenômeno multicausal, ou seja, possui inúmeras causas, que variam, conforme o espaço e o tempo em que o fenômeno se manifesta. Por exemplo, a inflação na Argentina, que é a mais elevada do mundo, nada tem a ver com excesso de demanda. Nesse caso específico, uma razão central e direta da inflação foi a retirada de subsídios fundamentais, pelo governo de Javier Milei, às tarifas de água, gás, luz, transporte público etc. Como se trata de serviços essenciais, dos quais ninguém pode prescindir, o efeito multiplicador da medida sobre o conjunto dos preços é enorme.

Certamente a redução da oferta de determinados produtos, em relação à demanda, aumenta os preços desses produtos. Na cesta básica de alimentos, os bens que dependem do ciclo agrícola são casos típicos de elevação de preços em decorrência da menor oferta do produto. Mas tais desequilíbrios são pontuais tanto no tempo, quanto em relação ao conjunto dos produtos afetados. É exatamente pela sazonalidade dos produtos, pelos eventos climáticos extremos, e outros problemas, que é recomendável que os países tenham políticas agrícolas eficazes. O Brasil dispõe, por exemplo, da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), empresa pública que opera na gestão de políticas agrícolas e de abastecimento, e que, dentre outras, tem as funções de manter o abastecimento interno e atenuar as oscilações de preços decorrentes dos problemas apontados acima.

O Brasil atravessa um problema de aumento dos preços dos alimentos. Aumentos em 2024: carne, 20,8%; café, 39,6%; laranja (até 91,03%; Leite (18,8%). Pelo que se pode ler e ouvir dos especialistas, esses aumentos estão ligados a problemas climáticos, como secas, queimadas e geadas. Aumentos como esses, que devem ser enfrentados com energia e celeridade, porque compõem a cesta básica da população, nada têm a ver com excesso de demanda. Portanto, não adianta aumentar as taxas de juros. É possível, inclusive, que a super safra prevista para este ano mude esse quadro, sem a menor ajuda do aumento de juros. Pelo contrário, juros escorchantes inibem investimentos na produção agrícola, piorando o problema.

O raciocínio básico da defesa dos juros altos para controle da inflação é o de que juros altos encarecem o custo do dinheiro, o custo do crédito. Isso estimularia empresas e famílias a adiarem o consumo e investimentos, reduzindo a demanda por bens e serviços, esfriando um pouco a economia. Mas será que a maioria da população brasileira, ou pelo menos uma parte expressiva, estaria consumindo em excesso, a ponto de a elevação dos juros ter o efeito de reduzir substancialmente o consumo? Não pode ter excesso de demanda um país no qual quase 30% da população tem seu rendimento referenciado no salário-mínimo e cerca de 54 milhões de pessoas (acima de 1/4 da população) dependem do programa Bolsa Família para não passar fome.

Para evitar desequilíbrios entre oferta e demanda no Brasil - se esse fosse o caso - seria muito mais lógico aumentar a oferta através da elevação dos investimentos. Fator esse que é diretamente impactado pelos aumentos dos juros, já que os capitalistas sabem que dificilmente irão obter uma taxa de retorno do seu capital, comparável aos juros reais básicos da economia brasileira, que são os segundos maiores do mundo (9,18%). Além disso, sendo a economia brasileira, dominada por grandes grupos econômicos (boa parte estrangeiros), a relação entre preços e juros não é uma relação direta. Os setores estratégicos da economia são dominados por oligopólios (poucas empresas que controlam o mercado), que trabalham em regime de cartelização, ou seja, há uma combinação, mais ou menos dissimulada, de preços. Essa é uma realidade da economia no mundo todo, talvez com exceção da China.

Por essas questões, o debate predominante nos grandes meios de comunicação, sobre inflação e juros, acaba ocorrendo com base em pressupostos que mais escondem do que esclarecem os problemas. Toda a discussão nesses meios é realizada com base no mito absoluto de que as variações de preços são definidas pela oferta e demanda, que funcionariam tal como no capitalismo do século XIX. Como é conhecido, há uns 150 ano, as chamadas commodities, essenciais para a economia mundial (energia, minerais, alimentos), são dominados por grandes oligopólios, ou monopólios, que definem os preços através de mecanismos especulativos e políticos. O poderio dessas imensas transnacionais, que obtém lucros superiores à produção de riqueza da maioria das economias do mundo, os países não têm como enfrentar individualmente. Os governos até podem enfrentar alguns fenômenos (como o aumento excessivo da carne), mas de forma superficial, não estrutural.

Todo o debate sobre inflação e juros, em um país subdesenvolvido e dependente como o Brasil, é dominado pelos interesses desses grandes grupos econômicos, que operam a partir de uma estratégia mundial. Esses grupos exercem influência vital sobre o Congresso Nacional, sobre o aparato jurídico do país, sobre a mídia, sobre os governos e - muito fortemente - sobre o Banco Central “independente”.

 

¨      'Distribuição de riqueza é o que está fazendo a economia brasileira surpreender', diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (14), em entrevista à Rádio Clube do Pará, que a chave para o crescimento da economia brasileira nos últimos anos está atrelada à distribuição de riqueza, um modelo que, segundo ele, tem desafiado as previsões dos analistas econômicos e das grandes instituições financeiras internacionais. O chefe do Executivo ressaltou que, ao contrário do que sugeriam projeções pessimistas, a economia brasileira registrou um crescimento de 3,2% em 2023, superando as expectativas iniciais de 0,8%. Para o presidente, o Brasil está em um ciclo de recuperação que deve continuar a surpreender, com previsões de crescimento de 3,7% para 2024 e mais de 3% nos anos seguintes.

Lula compartilhou, um episódio que exemplifica sua visão sobre a recuperação econômica do país. "Quando tomei posse, logo em janeiro fui a Hiroshima, no Japão, no encontro do G7. Lá encontrei a diretora-geral do FMI que veio me cumprimentar e dizer que lamentava profundamente que o Brasil ia crescer somente 0,8%. E eu disse para ela: ‘você não conhece o Brasil e o meu governo. Nós vamos crescer mais do que isso’. E o que aconteceu? Nós crescemos 3,2%, quase quatro vezes aquilo que ela previa", declarou. Ele ressaltou que, apesar das previsões do mercado e dos analistas, o Brasil está apresentando resultados econômicos muito mais robustos.

Ao comentar sobre o resultado em 2024, Lula foi enfático: "O pessoal começou a dizer que em 2024 iríamos crescer 1,5% no máximo. Vamos crescer 3,7%. E começa agora outra vez ‘o Brasil vai diminuir’. Vai crescer mais." Para o presidente, essas análises falham em entender o que realmente está impulsionando o crescimento no Brasil, que, segundo ele, não pode ser explicado apenas pela macroeconomia, como é comum entre os economistas tradicionais e os formuladores de políticas monetárias.

Em sua análise, Lula deu destaque à microeconomia, afirmando que o principal motor da economia brasileira é o dinheiro que circula nas mãos da população mais pobre. "O que vale para mim na economia é a quantidade de dinheiro que está circulando no bolso do povo pobre, trabalhador, pequeno proprietário rural. E esse dinheiro está crescendo. Quando o dinheiro está na mão do povo, circulando, o cara que pega R$ 200, R$ 300, R$ 500, ele não vai comprar dólar, não vai aplicar em títulos do governo. Ele vai comprar o que comer, vestir, material escolar, um chinelo, um sapato. Ou seja, esse dinheiro volta imediatamente para o mercado", explicou.

Para o presidente, essa dinâmica faz com que o dinheiro que circula entre a população seja reinvestido no mercado, gerando novos empregos e ampliando o consumo. "Ele [o dinheiro] voltando, alguém vai ter que contratar mais um emprego. Aí o mercado contrata da fábrica e a fábrica vai ter que contratar mais um emprego, pagar mais um salário, e vai ter mais um consumidor. É isto que está fazendo a economia brasileira surpreender", afirmou. Lula criticou também a visão dos analistas econômicos que, segundo ele, se concentram apenas nas previsões negativas e raramente reconhecem o impacto positivo das políticas de distribuição de renda.

Lula também destacou as iniciativas do seu governo para promover a recuperação e o crescimento contínuo da economia, como o programa Nova Indústria Brasil, que visa investir mais de R$ 1 trilhão em seis áreas estratégicas da economia nos próximos anos, e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que envolve R$ 1,8 trilhão em investimentos públicos e privados.

"Temos um programa de recuperação da indústria, o Nova Indústria Brasil, que ataca seis áreas da economia, que está crescendo com mais de R$ 1 trilhão de investimentos para os próximos anos. Temos o PAC, que envolve R$ 1,8 trilhão que está sendo investido entre poder público, financiamentos dos bancos públicos e privados e iniciativa privada", afirmou.

 

Fonte: Brasil 247

 

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