sábado, 15 de fevereiro de 2025

Luís Pellegrini: Ostracismo. O grande terror de Trump

Tenho sérias dúvidas se todo esse blábláblá que a mídia mundial está produzindo a respeito de Donald Trump seja a melhor forma de fazê-lo baixar a crista de bravatas narcísicas que insiste em desferir. Parece bem evidente que o novo presidente norte-americano exibe muitos traços associados ao narcisismo. Vários especialistas em saúde mental já levantaram a hipótese de que ele pode ter um Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Mas, é claro, um diagnóstico formal só poderia ser feito por um profissional que o avaliasse diretamente.

Com base em seu comportamento público – como o exibido no show de horrores que foi seu discurso na recente cerimônia de posse -Trump demonstrou tantas características típicas do narcisismo exacerbado que a gravação dessa fala deveria ser conservada para todo o sempre nos anais da patologia psicológica e psiquiátrica. Alguns itens a ressaltar: Como sempre fez, desde que despontou no cenário do mundo dos negócios e da política, Trump exibiu um sentimento exagerado de grandiosidade. Ele se apresentou, o tempo todo, como o melhor em tudo, o centro do mundo, uma espécie de sol ao redor do qual tudo e todos devem girar e permanecer submissos.

Nada de novo no front: Como todo narcisista-padrão, ele demonstra uma necessidade extrema de admiração. Busca elogios e lealdade absoluta de aliados e seguidores.

Trata-se de uma pessoa destituída de empatia. Demonstra insensibilidade ao sofrimento dos outros, principalmente quando isso não lhe traz benefício. Exemplo? Apenas um dos mais recentes: o tratamento que dispensa aos imigrantes. E alguém se lembra do programa de televisão “The Apprentice” (O Aprendiz) em 2004, onde Donald Trump dizia “You're fired!” (Você está demitido!) No programa, os participantes competiam em desafios de negócios para conseguir um cargo executivo em uma das empresas de Trump. O bordão “You're fired!” se tornou uma das marcas registradas de Trump e reforçou sua imagem de empresário implacável antes de sua entrada na política.

# Exploração dos outros: trata-se de um dos traços mais evidentes de Trump, manifestado ao longo de toda a sua vida. Ele usa pessoas para seus objetivos e descarta quem não o serve mais.

# Reatividade a críticas: Trump responde com raiva ou ataques a quem questiona sua imagem, capacidade ou talento.

# Mentiras e distorção da realidade: Exagera conquistas e nega evidências que não favorecem sua narrativa.

# Comportamento impulsivo e busca por controle: Quer sempre dominar o ambiente e tomar decisões sozinho.

Foi exatamente por manifestar reiteradamente esses comportamentos compatíveis com o Transtorno de Personalidade Narcisista que tantos especialistas já emitiram o diagnóstico de TPN em relação a ele. Embora se trate de um diagnóstico muito difícil, devido ao fato de ainda não haver provas formais de que seu comportamento narcísico tenha provocado sofrimento intenso em outra pessoa ou grupo de pessoas.

Além disso, Trump teve muito sucesso financeiro e político e, como se sabe, infelizmente, parte da opinião pública e do eleitorado tende a considerar que só por isso trata-se de uma pessoa de grande valor, força, coragem, audácia. Em resumo, um herói, um líder, um mito.

Mas, repito, vários especialistas argumentam que ele pode se encaixar melhor em um perfil de narcisismo maligno, um padrão psicológico que combina narcisismo extremo com traços antissociais, maquiavélicos e até paranoicos. De qualquer forma, seu comportamento público sugere um perfil altamente narcisista e, possivelmente, manipulador.

Nestes dias, muitos discutem a teoria de que Donald Trump teria vestido sua esposa Melania de preto usando um chapéu que cobria metade do seu rosto e a “escondido” durante a cerimônia de posse, por medo de ser ofuscado por sua beleza. Esta é uma interpretação simbólica que circula em algumas análises psicológicas e de linguagem corporal. Mas não há provas concretas de que essa tenha sido sua intenção consciente.

Na cerimônia de posse, Melania podia até estar elegante, gosto não se discute – em seu figurino que parecia inspirado na Maga Patológika, personagem da Disney - mas seu comportamento chamou atenção: parecia distante, e pouco envolvida, especialmente em comparação com outras primeiras-damas em ocasiões similares. Baixava com frequência a cabeça, o que, combinado ao efeito tapador do chapéu, acabou por esconder-lhe totalmente o rosto.

Se analisarmos Trump sob a ótica do narcisismo, é plausível que ele não gostasse da ideia de sua esposa receber mais atenção do que ele. Narcisistas frequentemente veem seus parceiros como extensões de si mesmos, não como indivíduos independentes. Eles podem querer que sua beleza os complemente, mas nunca os ofusque. Assim, embora não haja evidências de que Trump tenha “vestido” Melania de negro ou tentado escondê-la na posse, o comportamento do casal naquele dia, aliado à dinâmica narcisista que ele demonstra publicamente, levanta a possibilidade de que ele não queira dividir os holofotes – nem mesmo com a própria esposa.

Gente narcísica costuma ser partidária daquele velho ditado: “Falem mal, mas falem de mim”. Para eles, pouco ou nada importa o conteúdo do comentário, seja ele bom ou ruim, positivo ou negativo. Interessa apenas o ruído. Sem o alarido que eles mesmos provocam com suas atitudes extremadas, se sentem diminuídos e enfraquecidos. Simplesmente porque não sabem de onde tirar mais energia para fazer o circo continuar a pegar fogo.

Mas há, por sorte, uma ação capaz de neutralizar a exibição narcísica: o ostracismo. Ser ignorado ou excluído socialmente é um dos maiores temores de uma pessoa com traços narcisistas, especialmente aquelas com Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Isso ocorre porque os narcisistas dependem excessivamente da validação externa para sustentar sua autoimagem grandiosa.

Quando são ignorados ou excluídos, eles podem sentir uma intensa ferida narcísica, que pode se manifestar em raiva, ressentimento ou desespero. A falta de atenção os confronta com sua própria insegurança e vazio interno, algo que tentam evitar a todo custo.

Além do ostracismo, existem outras coisas que costumam aterrorizar um narcisista. Entre elas estão:

Críticas ou rejeição – Especialmente se questionam sua grandiosidade. Fracasso ou humilhação pública – Perder status ou ser visto como inferior. Perda de controle sobre os outros – Narcisistas gostam de manipular e influenciar. Indiferença – Preferem até atenção negativa a serem ignorados.

Se você estiver lidando com um narcisista – e parece que, no momento, em nível mundial, todos nos estamos, a melhor estratégia pode ser justamente o “silêncio cinza” ou o “contato zero”, pois sem combustível emocional, eles tendem a perder o interesse.

Não devemos esquecer que o ostracismo pode ser usado como arma política poderosa. Ele tem sido usado ao longo da história para enfraquecer adversários, silenciar vozes dissidentes e consolidar o poder de determinados grupos ou líderes.

>>>> Estes são modos de como o ostracismo é usado na política:

<><> Exclusão de opositores

Governos autoritários e até democráticos podem marginalizar figuras políticas ao ignorá-las, dificultar sua presença na mídia ou excluí-las de processos decisórios. Exemplo: Líderes políticos são “apagados” da história ou afastados de cargos sem violência direta, mas por meio de isolamento.

<><> Boicote midiático

Controlar a narrativa ao impedir que um oponente tenha espaço na mídia ou nas redes sociais. Exemplo: Bloqueio de perfis, censura de discursos e retirada de entrevistas de circulação.

<><> Cancelamento social e político

Criar um ambiente onde um político ou figura pública se torne “tóxico” para alianças, forçando-o ao exílio político ou social. Exemplo: Partidos políticos deixam de apoiar uma figura por pressão pública, tornando-a irrelevante.

<><> Exílio e banimento

Em regimes mais extremos, líderes políticos usam o ostracismo para afastar críticos fisicamente, forçando-os ao exílio ou proibindo sua participação na política. Exemplo: Na Grécia Antiga, o ostracismo era literalmente um mecanismo legal para exilar figuras vistas como ameaças à democracia.

<><> Isolamento dentro do próprio governo

Um líder pode esvaziar o poder de um rival dentro de sua administração, ignorando suas opiniões ou retirando suas funções, sem demiti-lo diretamente. Exemplo: Presidentes que reduzem a influência de ministros indesejados, deixando-os “de lado”.

Esses seriam recursos usados apenas no passado, na época de Maquiavel e dos seus príncipes autocratas? De jeito nenhum, o ostracismo é largamente usado como estratégia política hoje. No mundo moderno, o ostracismo político ocorre com frequência, muitas vezes disfarçado de decisões administrativas, narrativas midiáticas ou pressão social. Redes sociais e grandes plataformas também são usadas para tornar invisíveis certos discursos e fortalecer outros.

O ostracismo é uma arma eficaz porque não exige confronto direto—em vez de destruir um oponente, ela simplesmente o torna irrelevante. Não será chegada a hora de aplicarmos essa vacina anti narcisismo a políticos como Trump e assemelhados?

¨      Estarão os 'poderosos' EUA se transformando no Império Choramingas?

Washington parece ter adotado um novo hábito – fazer birra sempre que fica para trás em certas áreas. Quando é que a "grandeza dos EUA" se transformou em choraminguices incessantes?

O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou mais uma vez os países do BRICS com imposição de tarifas de 100% se eles ousarem criar uma nova moeda – apesar do presidente russo Vladimir Putin já ter esclarecido que o assunto da criação de uma moeda unificada do BRICS nem está em cima da mesa.

<><> DeepSeek: o mais recente escândalo de tecnologia 'roubada' dos EUA

Trump declarou nesta terça-feira (28), que o sucesso de mercado da plataforma chinesa DeepSeek, que fez cair a pique as ações de algumas empresas tecnológicas na bolsa de valores de empresas de alta tecnologia Nasdaq, "deve ser um chamado de alerta para nossas indústrias em que devemos estar totalmente focados para competir e ganhar".

Por sua vez, no dia seguinte o candidato de Trump para o cargo de secretário do Comércio, Howard Lutnick, afirmou imediatamente que o poderoso modelo de IA da China foi desenvolvido com base em tecnologia "roubada" dos EUA e semicondutores avançados.

<><> Armas hipersônicas: a Rússia 'roubou' essas também?

Anteriormente, o recém-eleito presidente dos EUA alegou, sem fornecer quaisquer provas, que a Rússia havia "roubado" projetos de mísseis hipersônicos dos EUA durante o governo Obama. Ele fez a mesma afirmação em 2020, novamente em 2023 e agora em 2025. Moscou tem consistentemente rejeitado e zombado dessas acusações.

<><> China 'roubou' empregos dos EUA

Trump tem repetidamente acusado a China de "roubar" empregos da indústria americana. No entanto, foram as empresas norte-americanas que ansiosamente se precipitaram para a China na década de 1980 após suas reformas econômicas sob Deng Xiaoping.

<><> TikTok sempre no centro das atenções de Trump

"Essencialmente, com o TikTok, eu tenho o direito de vendê-lo ou fechá-lo", declarou o chefe da Casa Branca em 20 de janeiro. Washington tentou repetidamente banir o popular aplicativo de mídia social chinês – que é usado por pelo menos um terço dos adultos dos EUA – e pressionar a China para forçar a venda das operações do TikTok nos EUA.

¨      Imigrantes são “sacos de lixo” para o governo Trump. Por Pedro Paiva

Para cumprir a promessa de campanha de realizar a maior deportação em massa da história dos Estados Unidos, o governo Donald Trump aumentou nos últimos dias a pressão sobre ICE (Fiscalização Imigratória e Aduaneira, na sigla em inglês), a polícia migratória.

Desde sábado passado foram estipuladas metas: ao menos 1.200 imigrantes devem ser presos por dia, sendo cada escritório ICE responsável por atingir uma cota mínima de 75 detidos. A maioria desses imigrantes entram na categoria de “remoção acelerada” decretada pela Casa Branca, sem direito sequer a uma audiência perante um juiz antes da deportação em si.

Apoiadores de Donald Trump afirmam que o foco do governo são imigrantes que cometeram crimes nos Estados Unidos, como roubo, fraude, estupro ou assassinato. A realidade, porém, não é bem assim. Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca, já deixou claro: para a nova administração, o simples fato de um imigrante estar em situação irregular no país já é um crime.

Para bater a meta estipulada no fim de semana, a imigração sob o governo Trump opera de forma diferente do que vinha acontecendo durante a administração Joe Biden. O foco segue sendo criminosos, mas agora o ICE é incentivado a fazer prisões colaterais, ou seja, prender todo e qualquer imigrante indocumentado que seja encontrado na mesma casa ou prédio no qual a operação seja realizada.

Em resumo: um imigrante que vive há décadas nos EUA, construiu uma vida no país, paga seus impostos em dia e nunca sequer recebeu uma multa, corre o risco de ser preso e deportado pelo simples fato de ter um vizinho que tenha cometido algum crime.

As operações acontecem em todo o país, mas a prioridade da Casa Branca parece ser as grandes cidades de maioria democrata. No domingo, foi Chicago. Nesta terça-feira, Nova York.

As primeiras ações da imigração em Nova York aconteceram em bairros de maioria latina absoluta: Highbridge, na região do Bronx, e Washington Heights, no norte de Manhattan - o bairro predominantemente dominicano onde eu vivo há quase 3 anos. Em ambos os casos, a motivação das operações era prender líderes de gangues, o que não impede os agentes de prender mais imigrantes no objetivo de bater a meta diária.

Nas ruas do meu bairro, é possível ver uma mudança no humor das pessoas que caminham pelas ruas. Muitos dos imigrantes que vivem aqui já se legalizaram. A primeira onda de dominicanos que chegaram ao bairro veio nos anos 1970 e se beneficiaram do perdão concedido pelo governo Ronald Reagan. Seus filhos e netos são cidadãos americanos apesar de manterem vivo o espanhol, que falo mais do que o inglês no comércio local. Muitos outros, porém, vivem em situação irregular. Alguns há poucos anos, outros há décadas. Todos, porém, conhecem alguém (um tio, um amigo, um namorado…) que está sob o risco de deportação e o medo é visivelmente generalizado.

Ao comentar sobre as blitz da imigração em Nova York, a nova Secretária do Departamento de Segurança Nacional, Kristi Noem, afirmou que o governo está “limpando as ruas da cidade desses sacos de lixo”. Para a extrema-direita, os imigrantes são isso: lixo. O lixo que, nas palavras de Donald Trump durante a eleição do ano passado, vem “sujando o sangue americano”.

 

Fonte: Brasil 247/Sputnik Brasil

 

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